Ana 06/02/2013Fugir para esquecerEmbora possa parecer um romance "água com açúcar" no início, "O Véu Pintado" logo se mostra uma obra para reflexões mais profundas. Entre tantas, a que me chamou mais a atenção foi a mensagem passada de que o meio, muito mais do que a nossa real personalidade, é o que conduz as nossas ações. E a única forma de mudá-las é fugindo desse meio.
Kitty foi criada para ser uma excelente esposa de um excelente marido. Influenciada por sua mãe, procurou encontrar o marido desejado, mas sem conseguir, acabou resignando-se a Walter. Porém, presa a um casamento sem sabor, envolve-se com um galanteador profissional. Quando seu marido descobre, acredita ela que sua única opção - depois de ser abandonada pelo amante - é ir com ele para uma região tomada pela cólera. Primeira fuga.
Lá, conhece um outro mundo, onde a caridade e o amor ao próximo são mais valiosos que a vida frívola e se questiona como pode envolver-se com o amante, dono de tão poucas qualidades. Quando seu marido morre vitimado pela cólera, Kitty retorna à cidade em que morava. Segunda fuga.
Embora estando magoada com o amante e sendo hóspede de sua esposa, Kitty, mais uma vez, volta a agir como o meio a incentiva: falando de outras pessoas, deleitando-se com o conforto e deitando-se com o amante que antes a abandonou em uma situação difícil. Horrorizada com sua própria mesquinhez e falta de palavra, toma a decisão de voltar correndo para a casa dos pais. Terceira fuga.
Por fim, grávida, pede ao pai que a leva às Bahamas, para onde ele irá assumir um cargo. Segundo ela, deseja ser mãe de uma menina, para que possa criá-la de forma diferente da que ela própria foi criada. Quarta fuga.
Com uma certa amargura, o autor mostra-nos que é impossível mudar uma situação apenas por nós mesmos. Dependemos de toda uma cadeia de acontecimentos. E, se os ventos não sopram a favor da mudança, somos condenados a estacionarmos no mesmo lugar.