Retipatia 05/11/2018
Bem-vindxs à Névoa!
Um casal de forasteiros chega a Névoa, perdidos do caminho real que desejavam realizar. Mesmo com a aparente ausência de hospitalidade dos moradoras da vila, decidem ficar e desbravar a floresta adjacente, chamada pelos moradores de Floresta Morta.
Desaparecidos.
Anos iriam se passar até que a história volte à cena.
Em uma aventura pueril, cinco jovens amigos decidem entrar na Floresta Morta e, de lá, apenas quatro saem com vida. Quinze anos seriam necessários para que John, Bruce e Alan retornassem ao lugarejo ao qual partiram, quando são todos cientificados do desaparecimento de Lílian, a única que permaneceu vivendo em Névoa.
O passado de cada um deles se entrelaça: não apenas querem respostas do que aconteceu há quinze anos e os fez abandonar a vila, após a morte de Dave na Floresta, como também querem saber o que aconteceu com Lílian.
O principal problema que enfrentam é que os membros da vila não estão nem um pouco dispostos a ter suas vidas investigadas, os três são vistos como forasteiros e precisam tomar cuidado com o Conselho, responsável pelas decisões e ordem do local.
Quanto mais investigam, mais descobrem sobre o passado das pessoas, do lugar e sobre os mistérios que rodeiam a Floresta, assim como o enigmático evento que levou a morte de Dave. Mas a Floresta Morta têm vida própria e, além dos membros da vila que os desejam fora das terras que já lhes fora lar, os três amigos precisam lidar com acontecimentos que vão além da razão humana...
O gênero mistério, levemente regrado ao terror, nunca teve presença marcante nas minhas leituras. Névoa foi uma das primeiras experiências e, que leitura! Do começo ao fim do livro, a história manteve-se interessante, cheia de mistérios a serem desvendados, pistas que nos levam a várias suposições, revelações surpreendentes e um final que não poderia ter sido melhor articulado.
A história de Névoa é bem trabalhada, há todo um passado sobre o local que nos faz perseguir os rastros e imaginar quantas coisas já não se passaram naquele pedaço de terra que, apesar de se chamar Floresta Morta, dá indícios de ser um ser autônomo e vivo. Um personagem-figura-de-linguagem perfeito.
A narrativa também não deixa a desejar, tem fluidez e, sem procurar rebuscar o texto de maneira desnecessária, dá tom às conversas de maneira verdadeira e faz com que detalhes sejam imaginados com precisão e dão ótima ambientação ao local e a cada personagem.
Em falando dos personagens, são todos enigmáticos à sua maneira. O trio de amigos, um deles se tornou padre, o outro famoso historiador e terceiro uma espécie de aventureiro errante. Os acontecimentos de quinze anos atrás não permaneceram no passado, seguiram como uma corda amarrada à Névoa, que, uma hora acabaria por encurtar e levá-los de volta.
Mas há também aqueles que nos são apresentados por suas vidas em Névoa: o caçador renegado, a garota aparentemente arrogante, os chefes do Conselho... todos vivendo em uma espécie de teia que é alimentada para sobrevivência da vila e, ao mesmo tempo, enveredada de segredos e mentiras.
Além das revelações que a história traz, há muitas nuances dos personagens, ora se apostando em que sejam uma coisa, para então, se revelarem algo totalmente diferente. E há ainda o elemento fantástico de toda a história, a vida sublime que parece permear na Floresta, que causa sérias confusões nos sentidos de quem se atreve a adentrá-la.
Mais que um livro de mistério, Névoa trabalha a ideia de acreditar, de lucidez, do imaginário, do poder do conhecimento, da verdade, da manipulação. Fala do próprio poder. Das ações impensadas, da perda e de quem nós somos. Mas, principalmente, sobre medos, sobre o passado, sobre o que nos prende à ele.
Depois que finalizei a leitura, por vários dias me pegava pensando no desfecho, nas possibilidades a partir dali, e no próprio destino de cada um dos personagens. E, durante a própria leitura, tive momentos de raiva, angústia e surpresa. Sim, quis xingar e bater no autor em alguns momentos (ahaha), mas como adoro histórias que não se enquadram na melhor definição de 'e viveram felizes para sempre', tudo valeu a pena, especialmente porque a história encontra, na profundidade que proporciona, uma mensagem bem maior que o simples entretenimento.
Lenmarck me ganhou como leitora fã pela criatividade, perspicácia e surpresas que conseguiu imprimir à Névoa, mas também por todos os pequenos detalhes que fazem do romance um livro completo. A leitura é mais que recomendada e, em especial para quem quer experimentar o gênero e não curte livros longos, Névoa é um livro curto e é garantia de ótimo entretenimento.
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