fev 13/01/2021#BingoLitNegra #LeiaNegros #MulheresParaLer #LeiaMulheres
Fome é um livro super forte. Roxane Gay foi extremamente corajosa em expor a sua história e falar sobre o seu corpo de forma tão explícita. Compartilhar-se dessa forma requer muito desprendimento. Se mostrar sem máscaras e segredos atinge um patamar muito grande de vulnerabilidade, eu mesmo não sei se conseguiria.
Roxane Gay compartilha a história de como tornou-se uma mulher gorda. Quais os caminhos que fizeram com que ela chegasse até ali. Primeiro a destruíram quando ela sofreu um estupro coletivo e depois começou se autodestruir por acreditar que dessa forma estaria se protegendo. Criando uma redoma que afastaria todos aqueles que poderiam lhe maltratar.
Não tem como sentir empatia por tudo que Gay passou. É muito sofrimento. Durante a leitura alternei entre tristeza, choque, raiva e me perguntava o motivo dela não ter tido um momento de coragem antes e ter contato tudo o que aconteceu para os pais. Mas é bem aí que está o X da questão. Eu não sei, por mais empatia que tenha, como uma pessoa (no caso uma criança) estuprada se sente. Como esse ato perverso, machista e representação do poder do patriarcado pode afetar a cabeça e o corpo de qualquer pessoa que seja. É simplesmente horrível.
Ler e visualizar como isso tudo afetou Gay é chocante demais. Ela começa a comer e comer e comer e comer pensando isso iria protegê-la, mas também porque lhe dava conforto. Mas isso não foi bem o que aconteceu. E por ela ser retraída e introspectiva só fez que as coisas piorarem. Se tornar uma mulher obesa afetou todas as áreas da vida dela. A relação com a família, as relações amorosas, o trabalho e tudo mais. E isso só aumentar o sofrimento dela.
Gay diz que não quer só ser reconhecida pela o corpo grande que ela possui, mas nós, a sociedade em geral, não lidamos bem com pessoas iguais a ela. Parte do sofrimento dela é porque nós impomos um padrão e acreditamos que pessoas gordas não devem ser quem elas são. A compulsão, a tristeza, a revolta não é culpa só que ela sofreu, mas também do que o mundo impõe.
Fome é um livro sobre tristeza, maldade, gordofobia, estupro, compulsão alimentar. É uma obra humana, corajosa e sobre ser vulnerável. Recomendadíssimo.
O único incomodo foram os capítulos muitos curtos. Fiquem cientes aos gatilhos de estupro e compulsão alimentar.