Luciano Luíz 14/11/2022
THE GHOST IN THE SHELL 2 - MANMACHINE INTERFACE de MASAMUNE SHIROW é uma quase continuação do volume anterior. Quase porque muitos aspectos do enredo foram alterados. Aqui temos algo totalmente novo apesar de algumas raras menções e a participação da protagonista do volume 1.
É uma ficção científica pesada no quesito conteúdo técnico. Ou seja, nem mesmo seu professor de informática vai conseguir se encontrar aqui e te explicar (quase) tudo que é apresentado. O autor tem um domínio absurdo sobre hardware e sotware além do cyberespaço. Físico e virtual se mesclam num roteiro simples, mas que aos olhos da maioria dos leitores parece extremamente complexo devido a linguagem das personagens.
Aqui há dois paralelos narrativos: a história principal que fica praticamente oculta a maior parte do tempo e as demais que se desenvolvem como contos. Mais precisamente ligadas a terrorismo cibernético e sobre Inteligência Artificial e como os seres humanos tendem a se atualizar em meio às máquinas.
Aqui vemos a Matrix e todas as suas possibilidades, e claro, o que mais ocorre são crimes, principalmente relacionados a informações, tanto políticas quanto industriais.
As personagens não dispensam um único momento de trocar dados para obter vantagens e se aprofundar cada vez mais não somente no universo digital, mas em mergulhar até mesmo no cérebro humano e dissecar o que pode talvez não apenas fundir carne e máquina como ver o próximo passo da civilização rumo ao desconhecido dentro e fora da rede.
Ou seja, o volume 2 se comparado ao primeiro acaba indo para outras direções e isso de um jeito que o autor quis de todas as formas deixar o mais difícil possível. Algo semelhante a trilogia NEUROMANCER de WILLIAN GIBSON onde temos um cenário virtual fantástico, mas com um enredo e diálogos que não conseguem se destacar. Já aqui a coisa anda melhor nesse sentido.
Em se tratando de visual é algo curioso. Há páginas coloridas e em preto e branco com tons de cinza. O padrão do quadrinho japonês em sua maioria é ter pouca cor e muita retícula. Aqui temos algo inverso. São poucas páginas em PB. Os cenários em PB e o visual das personagens é mais atraente e interessante. Já nas páginas coloridas os cenários em diversos momentos mais parecem lugares reais e isso fica um tanto estranho. As personagens não parecem ter a mesma qualidade em suas roupas quando com todas aquelas cores.
Falando em personagens, mais precisamente as garotas, o autor procura ao máximo colocá-las em poses sensuais, sexy, mostrando a bunda, calcinha sempre em uma cena e outra, geralmente em cenas de ação ou quando elas estão flutuando pela rede. Então temos algo assim: conversa, bunda, diálogo, calcinha, luta, calcinha, mais luta, bundinha, troca de olhares e outros detalhes das partes íntimas. É algo que deixa muitos leitores e leitoras um tanto desconfortáveis. Ou seja, aqui não há o politicamente correto no sentido feminino visual.
É verdade que há poucos anos o volume 1 sofreu uma censura onde uma página dupla foi alterada e outras duas páginas inteiras foram removidas por causa de uma cena de sexo com lésbicas (ainda que sejam máquinas). Tem quem diz que foi ideia do autor, mas a verdade é que a gente nunca vai saber de fato. Não altera a história, mas pouco depois umas coisas aqui e ali deixam de fazer sentido...
Aqui no volume 2 aparentemente não existe nenhuma censura, corte ou alteração. Mas é muito comum as reclamações de pessoas que leem de que as meninas do mangá de GHOST IN THE SHELL 2 são sexualizadas demais. Algo tipo abusivo.
Na minha opinião isso é uma identidade de MASAMUNE SHIROW (ou SHIROW MASAMUNE) e deixar de fazer como sempre fez seria um ato retrógrado e uma renúncia a sua arte. E convenhamos, em meio a tanta mudança social e cultural sobre sexualidade, ter um trabalho de arte senquencial assim é muito bem-vindo. Enquanto eu faço essa resenha, o autor deve ter enquadrado outra bunda e sua calcinha...
Aliás, o visual das personagens de certa maneira, seus rostos é bem básico. Quase todas tem o mesmo rosto, exceto pelo tipo de olhar e personalidade. Mas o uso de roupas com poucos ou muitos detalhes (fora as roupas que simulam pele dando a impressão de que as garotas estão peladinhas) também dão um toque aparentemente difícil de digerir por alguns leitores.
Ah, um detalhe sobre qual não curti foi a inclusão de muitos, mas muitíssimos textos em formato de nota em quase todas as páginas. Alguns são informações técnicas, outros sobre o enredo e claro, tem também sobre o humor... Mas, o tamanho das letras é minúsculo, e olha que o volume é de tamanho grande. Essas notas ficariam melhor no final num tamanho decente. Há alguns diálogos que infelizmente estão em caixas de texto miseravelmente pequenas...
O papel é pólen e isso quer dizer que as páginas coloridas perdem muita qualidade. Tanto definição do traço quanto cores ficam decepcionantes. As páginas em PB estão boas. Algo semelhante acontece no quadrinho americano TOKYO GHOST onde as cores vivas ficaram totalmente desbotadas... devia ser ao menos papel LWC ou couchê em ambas as obras.
Aqui em GHOST IN THE SHELL ainda contamos com a sobrecapa que dá um visual mais atraente ao volume. A capa cartão interior é de um cinza bastante caprichado.
Enfim, GHOST IN THE SHELL 2 talvez não seja um leitura que vá agradar uma quantidade muito grande de leitores, seja por seu conteúdo difícil de tecnologia de mastigar, seja pelos enquadramentos sexuais das moças (com os rapazes isso não acontece, até porque eles quase nem tem destaque...), mas assim mesmo vale dar uma fuçada.
Mas caso você não tenha aptidão pro que comentei acima, ignore tudo e procure apenas pelo volume 1 (que aliás tem um longametragem - animê - dos anos 90 e um filme em live action lançado há poucos anos. Uma adaptação muito boa que mais se parece com uma cópia da animação).
Ah, e tem o volume 1.5 que contém histórias que segundo o autor deveriam ter sido inclusas no volume 2. Porém, daí saiu em separado... Sobre esse não sei do conteúdo, pois não li. Mas a capa não tem garotas como os outros. Chega a ser um pecado...
L. L. Santos
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