spoiler visualizarWilson.Oliveira 23/07/2023
O que você sabe sobre Filinto Müller? Ele é um sujeito histórico, cuja presença na história é resumida à repressão policial durante o Estado Novo brasileiro e, talvez, ao personagem medíocre, interpretado pelo ator Floriano Peixoto, no filme "Olga". Um patife vingativo e sádico, responsável pelas torturas que levaram o agente comunista Arthur Ewert à demência e pela extradição de Olga Benário Prestes, guarda-costas e amante do revolucionário Luís Carlos Pretes, certo? Assunto encerrado, não é mesmo?
Não para R. S. Rose, que questionou a memória e a história acerca de Filinto Müller. Os resultados são apresentados e discutidos no livro "O homem mais perigoso do país", uma biografia detalhada e contextualizada a respeito de Müller, sustentada por inúmeras fontes primárias e secundárias.
A minúcia do autor chega a tal ponto que, nos capítulos 9 e 10, respectivamente, "A CPI" e "Senador" chega a cansar o leitor.
Porém, a obra vale cada página lida, pois além da excelente contextualização histórica, os fatos vão sendo separados do joio da memória, basicamente negativa a respeito do biografado. Afinal, durante a Primeira República, Filinto Müller foi um militar rebelde que se envolveu com o Tenentismo. Durante a Era Vargas, foi Chefe de Polícia. Para piorar, arranjou encrenca com Chatô, cujo resultado foi uma biografia sensacionalista escrita por David Nasser, que acabou ganhando peso de verdade histórica. Para finalizar, Müller foi líder político da ARENA, durante os governos militares. Uma carreira que, para um país que lida tão mal com sua história, só poderia resultar na condenação pura e simples pela memória e por uma historiografia que não se importou em checar os fatos e as narrativas a seu respeito.
"Então, qual é o lugar de Filinto Müller na história brasileira?", pergunta retoricamente o autor, em suas considerações finais. Para Rose, não se trata de afirmar se Müller era um sádico degenerado, um defensor do autoritarismo e ponto final. Mas, de compreender o seu grau de participação nas experiências políticas autoritárias brasileiras do século XX e da complexa relação que foi estabelecida entre Müller e o devir histórico em que ele estava inserido.
Mas, vou parar por aqui. Se você quiser saber mais, leia a obra, pois não irá se arrepender.