Carous 09/02/2021GATILHOS: Suicídio, abuso de substâncias ilícitas, aborto, estupro de vulnerável, assédio sexual, violência doméstica
Eu tenho plena consciência que este livro tem suas falhas na narrativa e não merecia uma tão alta. A nota ideial é 3,5, e compreendo inclusive quem não gostou tanto assim da leitura.
A historia é batida, não há surpresas no enredo e as revelações pouco surpreendem, mas eu fiquei vidrada neste livro e só larguei quando acabei.
Não quero desmerecer o trabalho de Kara Thomas, nem a competência dela, mas talvez por não ter costume de ler thrillers YA que esses livros ainda chamam minha atenção e fisgam meu interesse. Mesmo quando adivinho os desdobramentos da historia, como aconteceu aqui.
Aqui temos uma trama bem simplória, contada linearmente. Tem até bastante acontecimentos, mas são mostrados sem suspense algum. Não espere altas emoções e aventuras. A vida desses personagens é tão pacata quanto a história e o desenrolar de tudo. Mesmo que há cinco anos, a tragédia tenha atingido cinco famílias.
Não desmereço as escolhas que a autora fez para criar seu livro. Acho que funcionaram muito bem. Tudo o que acontece aqui literalmente poderia ocorrer com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Não é um thriller exagero, que pesa a mão no drama e nas viradas de eventos para prender a atenção do leitor (isso até funciona, mas no fundo a gente sabe que só em ficção para acontecer
tanta coisa assim).
Quando você escreve sobre adolescentes, você precisa ter pé no chão. Eles não podem zanzar livremente por aí como se fossem soltos no mundo.
Acho que muitos autores esquecem disso e preferem desenhar que os responsáveis adultos dos personagens adolescentes são relapsos a se esforçar mais.
Toda vez que Monica estava em um lugar que não fosse a escola ou sua casa, mexendo no celular ou fora das aulas, havia uma nota explicando onde estavam seus pais ou por que a direção da escola não notou a ausência de uma aluna e essas coisas. Achei bacana.
Aliás, Monica é uma boa protagonista. Não é burra nem ingênua demais. Seu comportamento era mesmo de adolescente, incluindo com dramas pequenos permeando seu dia a dia que faz qualquer adulto revirar os olhos. Gostei de uma informação sobre ela, que é spoiler e envolve um tabu. Nunca li um livro em que a personagem estivesse na mesma situação e fosse trabalhado desta forma.
E apesar de ser durona, gostei que a autora não minimizou o que aconteceu com ela, ainda que a própria não veja a situação com a gravidade que merece.
"I am a victim, whether or not I feel like one."
Porém não vi finalidade nos capítulos que mostram a perspectiva de Jennifer. Eles deviam preencher lacunas da historia, mas não acrescentaram nada novo. Só confirmavam as informações que sua irmã sabia ou descobriu durante a investigação. Sua única utilidade foi esclarecer o suicídio da personagem. Foi um acerto da autora porque a explicação foi sensata, mas ela poderia encontrar outro meio pra isso sem ser por capítulos sem propósito.
Eu senti pena do Ethan. Senti que ele foi um personagem injustiçado pelos outros e pela autora. Merecia mais. Não sei o que se passou pela cabeça de Kara, se ela manteve as informações sobre ele vagas e dúbias para que o leitor suspeitasse da inocência dele, desconfiasse de tudo que ele dizia. O que eu vi foi um garoto inofensivo e introvertido que sofria bullying na escola, um quadro familiar infeliz, tinha poucos amigos e gostava de se enfiar em bosques e caminhar pelo bairro.
Que seus colegas de classe fossem meio babacas, eu entendi. Adolescentes, né? Mas ver o tratamento dos adultos com ele me deixou irritada.
Este livro contou com algumas críticas sociais e nem todos os personagens eram brancos e héteros. Embora fossem apenas personagens secundários e às vezes nem isso.
As críticas apareciam em momentos pertinentes. Não sei se serviram só para a autora ficar bem na fita ou foram genuínas, que ela enxerga que o mundo é diverso e desigual.
Após esta leitura, penso em dar uma chances aos livros mais aclamados da autora. Espero que minha experiência seja positiva também.