Luis 12/06/2016
Lições de desenvolvimento
Confesso que nunca tinha ouvido falar de Cathie Black até me deparar com essa obra, oferecida como penca de bananas, a míseros cinco reais, em uma feira de livros montada na Cinelândia.
Praticamente uma compra impulsiva, “Rumo ao Topo” (Globo, 2008) tem tudo para ser mais um daqueles best sellers caça niqueis que pregam que o sucesso está alcance de qualquer pessoa, bastando ao incauto que leia o livro e saia aplicando a torto e a direito os conceitos apregoados pelo autor. Não por acaso, geralmente uma celebridade milionária muito em função da venda desse mesmo livro...A despeito das aparências, elas enganam, como bem cantou Elis Regina.
Embora divida a prateleira com os milhares de títulos que se penduram no mesmo gênero, “Rumo ao Topo” tem sim alguns atrativos que o tornam um tanto diferente. Primeiramente, o fato de ter sido escrito por uma mulher, prova irrefutável da atual dinâmica do mundo corporativo. Mais até do que isso, Cathie Black assume uma perspectiva feminina para abordar os dilemas do desenvolvimento pessoal e profissional, o que, ainda que a princípio assuste os leitores homens, traz uma visão extremamente enriquecedora.
A experiência da autora, basicamente como executiva sênior de grandes editoras americanas, concede também um charme ao volume, já que os cases comentados se aplicam a interface entre negócios e tendências de comportamento, em suma, um retrato de como as empresas que se julgam (ou almejam) ser capazes de soarem modernas devem incluir entre suas preocupações vitais a capacidade de ler as constantes transformações da sociedade moderna e traduzi-las em serviços e produtos. Do ponto de vista do mercado de jornais e revistas, pode-se dizer que Cathie passou a vida fazendo isso.
É claro que o livro cede a alguns clichês a fim de facilitar a vida do leitor médio de auto ajuda. A divisão em capítulos curtos e esquemáticos, aliada a uma extensa lista de “conselhos” para diversas ocasiões, reforçam essa característica. O subtítulo escolhido (Autobiografia ensina com crescer na carreira- e na vida também) deixa ainda mais clara essa preocupação.
Dentre os vários aspectos abordados, provavelmente o mais valioso é uma espécie de “guia de construção de imagem” que foca principalmente em medidas concretas que o faça ser percebido pelos outros mais por suas fortalezas em detrimento às limitações. Há capítulos específicos para a elaboração de currículos, comportamento em entrevistas, montagem de apresentações, feedbacks e relacionamento com pares e superiores. Um manual útil, sobretudo para o momento em que vivemos.
Em relação aos estudos de caso, o mais relevante é o que trata do lançamento da revista The Oprah Magazine. Ideia criada e coordenada por Cathie, após uma ampla e exaustiva negociação com a apresentadora mais badalada da TV americana. Todo o desenvolvimento do projeto, passando pela apresentação da iniciativa junto ao staff de Oprah Winfrey, culminando com o processo de “convencimento” da então cética celebridade, são quase como uma aula de persistência e resiliência diante de cenários hostis.
Em resumo, pode-se dizer que no mix entre velhos chavões e abordagens inovadoras, “Rumo ao Topo” tem um saldo positivo capaz de auxiliar aos incansáveis operários do dia a dia a conseguirem manter a cabeça fora de água, mesmo diante da descrença e dos numerosos obstáculos. Esse que vos digita que o diga.