Luan.NietzsChe 19/04/2024
Auto da Barca da Moralidade
Adorei este livro, o autor, Gil Vicente, conseguiu discutir sobre a moral de uma forma muito genial, aproveitou a sua incrível habilidade na escrita.
A estória se passa entre duas barcas, uma, do Diabo, que vai direto para o inferno, a outra, do Anjo, que vai ao céu. Vão chegando aqueles que morreram, ansiosos para saberem em qual barca hão de navegar, curiosos de seu destino. Basta saberem para negá-lo. O Diabo, querendo convencê-los de que são pecadores sem salvação, expondo seus gozos pelos seus erros e que deveriam subir à barca em direção ao inferno; os pecadores, negando tal destino, partiam para a barca do Anjo, onde obviamente eram negados.
Não me chamou tanto a atenção quando o Tolo foi salvo, e sim quando o anjo aceitou o Ladrão na barca da salvação. O que o tornou ladrão? O que o fez furtar? Justamente aqueles que usavam seus palavreados latinosos, como o Juiz, que roubava, mesmo tendo, como o Fidalgo, que argumentou o merecimento de sua redenção pelo que é, pela sua classe.
O Ladrão sendo salvo, fez-me lembrar da situação em que vivemos hoje, com o bordão "bandido bom é bandido morto". Nessa questão, o "bandido" só é bom morto quando o bandido não é branco e de alta classe. Uma hipocrisia descarada. A partir desta reflexão, é possível ver de onde esta mazela se origina e ao mesmo tempo pode ser resolvida ? dentro do mesmíssimo lugar ?, lá no fundo da educação, onde a grande maioria não consegue enxergar, pois é escuro demais e nem todos possuem uma potente lanterna.