Bano 18/11/2010
Nascidos para a vida eterna
Se você não gosta de espiritismo, Chico Xavier e de pessoas choramingando por terem perdido entes amados, então é bom passar bem longe deste livro.
Eu gosto do assunto (nos últimos 18 meses só tenho lido livros espirituais), creio que isso explica porque li este livro em dois dias — há pessoas que devem ter lido num dia, ou numa noite. Contudo, devo confessar que fiquei meio decepcionado com o trabalho do autor Marcel Souto Maior. Esperava mais, uma literatura mais rica, arrebatadora. Até o final me deixou um pouquinho decepcionado. Por quê? Porque Marcel demonstra — depois de tudo que leu, viu e ouviu — ainda não estar convencido de que existe vida após a morte do corpo físico.
Quando afirmo que o livro poderia ser melhor é porque, durante a leitura, fiquei comparando o estilo literário de Marcel com o de outro jornalista: Clementino de Alencar, correspondente do jornal "O Globo", que foi pesquisar a mediunidade de Chico Xavier, em 1935. Marcel reproduz (como na página 51) alguns trechos do primoroso texto de Clementino.
Há um pequeno trecho no meio do livro que achei meio cansativo, e a descrição que Marcel faz sobre a choradeira de mães e pais enquanto esperam ser atendidos pelos médiuns, só não chegam a ser entediantes porque ele permeia a narrativa com algumas pitadas de humor — claro que sempre sem o desejo de zombar da situação descrita. Um ótimo exemplo desse humor está descrito no seguinte diálogo:
Médium: — Quem é Neguinha? Fusquinha? Pituquinha?
Consulente: — São meus gatinhos.
Médium: — E o José Luís?
Consulente: — Meu galo.
Médium: — Estão todos aqui.
Um trecho curioso é uma mensagem enviada pelo espírito da mãe do presidente Lula. Ela revela que, quando menino, Lula gritava: "Um dia o Brasil vai viver sem fome e dirá: Foi o Lula que nos salvou". Parece que Lula sempre desejou chegar à presidência, e conseguiu. Pena que esqueceu as promessas que fez quando jovem, pois o povo ainda passa fome e continua ignorante. Ele só conseguiu controlar a inflação.
Outra curiosidade é quando o autor conta um dos encontros que teve com um médium (ele pediu para Marcel não divulgar seu nome) de Brasília. O médium entra em transe e quando o jornalista pergunta com quem fala, demora para entender: "Sou a individualidade espiritual que, por enquanto, não falará de nomes passados. Sou aquele que vós conheceis, nesta encarnação, pelo nome de [nome do médium]. Sou a consciência ampliada de outras experiências que vão além da atual". Ou seja, o espírito do próprio médium resolveu esclarecer as dúvidas do jornalista. Se Marcel ficou surpreso, eu também fiquei ao ler esse trecho. Pois pensei que quando o espírito ainda está encarnado, ele só conseguisse se manifestar através de projeção da consciência (viagem astral).
Eu torcia, ainda no início do livro, para que Marcel seguisse uma linha de pesquisa mais científica, como ele conta nos capítulos em que descreve seus encontros com o psiquiatra Sérgio Felipe de Oliveira, o físico Alexandre Fontes da Fonseca, e o médico projeciologista Waldo Vieira. Mas não foi assim, em vez do assunto complexo, Marcel preferiu as amenidades das choradeiras dos pais.
Apesar das ressalvas, ainda assim eu recomendo a leitura deste livro. Porém, faço um alerta: não duvide, acredite — por mais difícil que seja —, você é imortal. Seu corpo físico morrerá um dia, mas sua consciência, o ser inteligente jamais perecerá. Tenha uma feliz jornada eterna!
P.S.: veja este vídeo: http://video.google.com/videoplay?docid=-7197128954993375060#