Ladyce 21/02/2018
Amantes modernos -- Não se seduza pelo título, se há amor, está morno. Certamente não há paixão. E há quase nada de moderno. A trama é dedicada à crise de meia idade de três amigos: Elizabeth, Andrew e Zoe. Na juventude, haviam sido quase bem sucedidos no grupo de rock, Kitty's Mustache, cuja cantora principal, Lydia, mais tarde alcançou algum sucesso cantando solo, mas morreu jovem, de overdose. Passada a juventude, cada qual toma seu caminho longe da música, mas eles se mantêm em contato, morando próximos uns dos outros. Andrew e Elizabeth se casam e tem um filho Harry; Zoe casa com Jane, juntas abrem o restaurante Hyacinth, e têm uma filha, Ruby. Andrew não precisa trabalhar, vem de família rica. Elizabeth, não querendo ser dependente, descobre sua verdadeira vocação e abraça com ardor a corretagem de imóveis. Por isso somos frequentemente lembrados das vantagens do Brooklyn. Emma Straub com a profissão de Elizabeth tem a liberdade de descrever, idealizar e colocar no mapa não só o Brooklyn pós gentrificação, como dar a nova-iorquinos o tentador quebra-cabeças de localizar nas ruas descritas em Ditmas Park, o comércio e os pontos de interesse do local citados no livro; preocupações relevantes unicamente para os leitores familiarizados com a vida do burgo adjacente à Manhattan.
O ponto de conflito ostensivo da trama é gerado por uma produtora que procura permissão de Elizabeth e Andrew para usar a música de maior sucesso de Lydia, em um filme sobre a cantora. A música é de autoria de Elizabeth, que está pronta para permitir seu uso no filme, mas Andrew não acha uma boa ideia. Na mesma rua, mais adiante, onde moram Jane e Zoe, tudo parece indicar que está na hora de um divórcio, porque o relacionamento entre as duas está morrendo. Não há mais eletricidade entre elas. Zoe procura por uma nova moradia e incumbe Elizabeth de achá-la. Neste meio tempo os filhos de ambos os casais começam um caso de amor e sexo. Ruby mais experiente do que Harry apresenta-o às delícias do sexo. Mas o ponto de conflito emocional vem de outras fontes: uma delas é perceber que já não se é tão jovem, quando os filhos aparecem, como se fosse do nada, prontos para a vida adulta. Crises de meia-idade se estabelecem. O mais radicalmente afetado é Andrew que procura consolo no centro de ioga recém estabelecido em Ditmas Park, que entre meditação e ioga, oferece rituais, massagens e sucos revigorantes de origem duvidosa. Mas Andrew permanece fiel a Elizabeth, apesar de rodeado pela tentação de jovens de corpos nus à sua volta e do desejo de se sentir jovem.
São muitos os problemas da trama. O ritmo é lento, muito lento. E a escrita é rasa. Problemas triviais que não merecem uma segunda análise abundam. Há detalhes realçando situações comezinhas, muitas dúvidas e resoluções corriqueiras que não merecem atenção. Há uma dezena de pormenores descartáveis, entre eles, o gato chamado Iggy Pop (mesmo nome de um cantor de rock) que aparece com o objetivo de colocar este livro dentro da cena nova-iorquina em voga, de 2016, ano de publicação do livro e também do lançamento do álbum Post Pop Depression do roqueiro. É uma obra cheia de referências locais, do cenário glamoroso de Manhattan e adjacências.
Não é porque os personagens levam uma vida inexpressiva, não é porque o romance entre Ruby e Harry segue os parâmetros normais do final da adolescência que este livro é maçante. Há, na verdade, uma tradição enorme, na língua inglesa, na Inglaterra, de livros em que muito pouco acontece a pessoas bastante comuns com problemas delineados como corriqueiros. Amantes modernos, no entanto, dedica-se à repetição desses momentos, em infinitas variedades, retrata a incapacidade de personagens resolverem ou aceitarem seus problemas, sem oferecer maior clareza à condição humana como fazem os escritores ingleses dedicados ao gênero como Barbara Pym, Penelope Fitzgerald, Penelope Lively, Anita Brookner entre outros.
Com a leitura de Amantes modernos volto a questionar se editores brasileiros leem o que publicam. Este é um livro medíocre, com personagens inexpressivos e trama ordinária. Dedicado a seduzir nova-iorquinos no verão. Já recebeu aplausos variados nas publicações locais e em algumas nacionais. A autora é filha do conhecido escritor de livros de horror Peter Straub. Fato que deve ter contribuído para seu sucesso. Não gostei. E nem deveria ter feito uma resenha. No entanto, este foi o livro escolhido para leitura em fevereiro por um dos meus grupos de leitura. A maioria não gostou. Mas, devo ressaltar que as psicólogas presentes na discussão gostaram bastante da obra e duas outras leitoras se juntaram a elas defendendo o texto como extremamente realista.
Dou duas estrelas no máximo, de cinco possíveis. Elas entre três e quatro.