Dani do Book Galaxy 22/11/2018O verdadeiro Choque foi o Robin Cook ter escrito esse livroRobin Cook é um dos meus autores preferidos da vida. Eu estava com bastante expectativas para esse livro, afinal, de todos os livros que li do mestre Cook, acho que não teve nenhum que não tenha gostado até então.
Mas aí veio a decepção.
O verdadeiro “choque” foi a qualidade da narrativa
Robin Cook é um mestre do suspense médico. Assim como Tess Gerritsen, ele tem uma habilidade formidável de inserir detalhes técnicos sobre medicina no meio da narrativa, através de diálogos, pensamentos dos personagens e descrições. Isso é feito de forma sutil, e a leitura não se torna cansativa apesar desses detalhes. Essa é uma das coisas que adoro na escrita de Cook, e (Graças a Deus) isso se manteve em “Choque”.
Infelizmente, acho que essa foi a única coisa boa que posso dizer sobre a narrativa.
Essa é a primeira vez que não gostei de um livro do Robin Cook, e o ritmo da história contribuiu fortemente para isso. Diferentemente de outros livros de Cook (principalmente os que fazem parta de série de Jack Stapleton & Laurie Montgomery), não há em “Choque” um enredo com início, meio e fim bem definidos. O que temos é uma ideia que claramente não foi bem trabalhada, e o livro se arrasta ao redor dessa ideia.
O problema de personagens forçadas
O estilo de Robin Cook é bem marcado pela presença de personagens – principalmente femininas – fortes, decididas, curiosas e impulsivas. Geralmente, são personagens humanas, que cometem erros e até tomam algumas decisões que causam aflição no leitor, mas que no geral são sempre carismáticas. Num geral, é impossível não simpatizar com alguma dar personagens de Cook.
Em “Choque”, porém, essa “espontaneidade” das personagens principais – Deborah e Joanna – foi um tiro pela culatra.
Ambas me soaram extremamente forçadas, principalmente a Deborah. Sabe aquela personagem engraçadinha demais, que toma algumas atitudes que deviam fazê-la parecer destemida e espontânea, mas que na verdade a transformam em uma chata? Eis Deborah. Em algumas passagens, ela é tão forçada que senti que aquilo não parecia coisa do Robin Cook.
A outra personagem, Joanna, veio em contraponto à Deborah, sendo mais sensata e pé no chão. Porém, esse jogo de “os opostos se atraem” pretendido por Cook com duas personagens tão antagônicas deixou a narrativa cansativa. Existem diversas passagens longas em que as personagens discutem por bobeiras, sem acrescentar nada à história. Fiquei muito surpresa por encontrar personagens tão ruins em um livro do Robin Cook.
Um tema bom desperdiçado em uma história ruim
Como podemos conferir na sinopse, o tema principal da história é a aventura dessas duas amigas após fazer uma doação de óvulos em uma clínica de fertilidade meio suspeita. O tema levantado por Cook para essa trama é interessantíssimo, e traz muitas questões éticas sobre as clínicas que fazem trabalho com fertilização artificial. Cook é conhecido por abordar temas polêmicos em seus livros, geralmente com respaldo em casos reais (como em Coma), então fiquei interessada para saber mais sobre os assuntos que ele menciona ali.
Infelizmente, esse tema tão bacana é pouco explorado na trama, dando espaço para acontecimentos desnecessários que arrastaram a história para um desfecho um tanto decepcionante.
Sinceramente, senti que “Choque” se distancia de forma gritante de todos os outros livros (que já li) de Cook, a ponto de parecer ter sido escrito por outra pessoa. Terminei a leitura com a sensação de que o autor o escreveu por obediência a um contrato com uma editora ou algo assim.
Sinto muitíssimo, sr. Cook, mas não deu pra engolir “Choque”, não.
Veredito final
Nota 2,5 de 5
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