Lud @quoteseplots
28/12/2018Pior livro que eu li da Julia Quinn até hojeQuando li a nota inicial, eu quis dar uma chance mesmo assim. A Julia começa falando sobre amor a primeira vista (que é algo que não costumo gostar em histórias), mas pensei: "Por que não? Deve ser um livro bem fofo."
Que engano, meus irmãos. Que engano. Eu deveria saber que era um sinal.
O livro pode até ter começado fofo, mas depois vem um show de horrores.
Eu até comecei a escrever essa resenha antes de terminar a leitura, para não me esquecer de todos os detalhes passei raiva no processo.
Robert e Victoria se apaixonam a primeira vista. Ele, um conde. Ela, a filha de um vigário. Estava na cara que ia dar merda, não é? Dito e certo. Os pais armam para eles ficarem separados e blá blá blá... aí não foi o problema. Eu até entendo a reação dele depois, imaginando que ela era uma vigarista querendo apenas o seu dinheiro. Mas nada (foco no... NADA) justifica a forma que ele a tratou depois.
Se ele fosse uma pessoa realmente boa, não armaria uma vingança baixa e horrível para ela. As trocas de farpas eu até engolia, mas o resto... as propostas indecorosas, foi tão baixo nível que sinceramente... A gente tenta justificar as atitudes dos homens por causa de um coração partido, mas nota-se que pessoas realmente boas não agem dessa forma.
PAREM DE PASSAR PANO PARA PERSONAGEM POR CAUSA DE DORES DO PASSADO, POR FAVOR.
Se isso tudo fosse justificativa, então por que a Victoria não fez o mesmo? Aí você pode notar a diferença da índole das pessoas. Victoria também tinha todos os motivos para ter ódio, se vingar e querer o mal dele. Mas a única coisa que ela quer é seguir a sua vida independente e ser feliz.
Estão vendo a diferença?
Agora, até esse momento, onde o passado não estava esclarecido, eu fiquei brava, mas tentava relevar. Respirava fundo e seguia em frente. No entanto, foi depois que todas as mentiras e armações são postas a luz, que realmente decidi que esse era o piro livro da Julia Quinn.
O Robert não dá sossego para a menina nem por um segundo. O que ele pensa? Que pode tratá-la mal e quando descobrir a verdade é só pedir desculpas que as feridas que causou vão ser curadas milagrosamente?
A Victoria, depois de passar poucas e boas por culpa do Robert, dá a volta por cima, consegue seu emprego, está vivendo pela primeira vez fazendo algo que curte, está feliz e sentindo o gosto da independência. Aí o que o macho quer? Tirar ela disso tudo porque ela será (na visão dele) muito mais feliz casada com ele, afinal, eles se amam né?
Mas não, ela não quer passar por isso de novo. Ela foi machucada por ele duas vezes e tudo o que ela quer e continuar sentindo o gostinho da independência dela, trabalhando, fazendo seu próprio dinheiro, sendo respeitada, etc.
"Tudo o que eu queria era ter um pouco de controle sobre a minha vida"
Aí vocês me perguntam: Ah, Lud, então ele entendeu, né? Porque claro que ela precisa de um tempo e as coisas não se corrigem da noite para o dia. Então ele deu o espaço para ela, não é?
NÃO!
O que o cara faz? Me perdoem o spoiler que vai vir, se quiser, parem por aqui, mas preciso falar.
Ele vai e SEQUESTRA ela.
Sim, vocês leram direito.
ELE. SEQUESTRA. ELA.
Eu não sei que merda essas autoras tem na cabeça de romantizar a perseguição e o sequestro. Um cara te seguir por todos os cantos que você vai NÃO É LEGAL. Não importa a justificativa. Não importa que ele esteja com medo do lugar perigoso ou que caralho a quatro ele está dizendo.
Era escolha dela morar ali, era escolha dela ter o próprio emprego, era escolha dela ter sua própria vida. Ele tinha mil outras maneiras para contornar isso se quisesse ajudar e optou pela pior delas.
DE. MANEIRA. NENHUMA. ELE. TEM. O. DIREITO. DE. TOMAR. A. LIBERDADE. DELA.
Estão lendo, meninas?
A escolha é de vocês.
"Tem alguma ideia do que é alguém tirar de você o poder de decisão?"
Aí, para ajudar a ambientação e a justificativa romântica no meio disso tudo, o que acontece? Quando ela tenta fugir dele... uns caras atacam ela. Ou seja, a autora provando que realmente faz super sentido o sequestro e Victoria tem que ficar com o cara mesmo se não coisas como essa vão acontecer.
Eu sei que naquela época a mulher não tinha vez e eu sei que o abuso era algo comum (na verdade, até os dias de hoje, não é?) Mas eu achei horrível toda a forma como isso acontece. Não precisava de nada disso na história. A Julia Quinn perdeu a chance de escrever o seu lindo Romeu e Julieta e me construiu um livro onde um homem é controlador, machuca sentimentalmente a mocinha e acha que tudo pode ser resolvido da maneira dele.
Não acho isso certo e nunca vou achar. Não é porque o contexto é histórico que precisamos endossar a imagem da mocinha que tem que ser dependente e o cara que pode machucar, perseguir e sequestrar e ainda sair de herói.
"- Você precisa de mim.
- Ah, por favor.
- Precisa. Precisa de mim de todas as maneiras que uma mulher precisa de um homem".
Eu nunca vou gostar desse tipo de abordagem. E me desculpem quem não concorda, mas acho que a Julia Quinn escorregou feio nesse livro.
Vejam outra cena ridícula e que só descaracteriza essa ceninha romântica que o cara quer se mostrar: Quando ela tenta fugir, ele a obrigada ficar no mesmo quarto que ele. Ela diz que quer ficar no quarto dela, mas ele fala que não confia nela e que acha que ela vai tentar fugir de novo. Depois ele meio que seduz ela e joga que a decisão de ter sexo é dela, que não ia tomar essa decisão dela, já que ela sempre reclama que ele faz isso. Aí quando ela não sabe se é isso que ela quer, o que ele faz? Fica bravo, manda ela se decidir, fica mais bravo ainda quando ela não sabe o que responder e MANDA ELA SUMIR DA VISTA DELE, AGARRA ELA PELO BRAÇO E JOGA PRA FORA DO QUARTO.
MAS UAI, QUERIDO??!! NÃO ERA VOCÊ QUE ESTAVA COM MEDO DELA FUGIR? TÁ BRAVINHO QUE FOI NEGADO??
Gente, que ódio. Meu deus! Respira Ludmila, conta até dez...
Depois a protagonista ainda se sente culpada por não ter se decidido.
Mas a verdade é que ela não tem culpa e nem precisa se sentir mal por isso. Ele feriu-a, magoou-a, sequestrou-a.
Tudo bem ela não saber se quer transar com ele. Na verdade, se eu fosse amiga dela, eu diria: sai fora.
Mas aí, como sempre, a culpa cai na mulher. A mulher que é indecisa, a mulher que é cheia de mimimi. A mulher que não sabe o que é melhor para ela. A mulher que não consegue enxergar e o homem que tem a visão muito acima dela.
Autoras, por favor, parem de reforçar essa ideia machista em seus livros, mesmo que seja ambientado em uma época mais machista ainda.
Retornando... claro que depois tudo fica bem, né? Até hoje nunca li um romance de Ficção histórica que não tivesse um final que o casal não ficasse juntos. Enfim...
Espero que esse desabafo sirva para abrir os olhos de quem quer que leia. Não falo nem para não ler o livro, leiam se quiser. Mas analisem, chega da gente passar pano em tudo que acontece e justificar todos os atos dos personagens. Vamos pensar um pouco, vamos refletir. Sabendo que até as nossas autoras preferidas podem nos decepcionar.
Beijos e Luz.