Cia do Leitor 28/02/2018
As Crônicas de Marte
As Crônicas de Marte é uma coletânea de contos sobre o planeta vermelho que busca resgatar aqueles saudosos clássicos da ficção científica. Eu não sei vocês, mas me lembro que lia e curtia muito aqueles antigos livros, comprados em sebos, com páginas amareladas e com estórias fantásticas sobre planetas distantes. Antigamente a tecnologia não era tão avançada e Marte ainda era um grande mistério. E por isso mesmo tais narrativas era tão sedutoras.
Hoje em dia a ficção tem de ir mais além do nosso Sistema para que tenhamos uma sensação de “já pensou se esse planeta realmente existir” e outros pensamentos que seguem essa linha, todos "e se". Com tantos avanços, Marte ficou esquecido, obsoleto, para a literatura sci-fi.
Mas não mais. Como eu disse, Martin e Dozois reuniram nesse livro diversos contos de ótimos autores, alguns internacionalmente consagrados, sobre o planeta vermelho, nos levando de volta para uma época já quase esquecida. Esqueça as sondas da Nasa, esqueça o que cientistas lhe dizem sobre Marte. Esqueça tudo e volte no tempo, volte para o tempo dos mistérios. Encarando Marte ainda como uma incógnita, os autores conseguiram me levar para diversas versões de Marte, uma melhor do que a outra.
"Ele às vezes se perguntava se Deus e Lúcifer tinham feito um pacto. Deus governaria a Terra e o diabo ficaria com Marte."
E o que não falta nesse livro realmente são versões desse planeta. São 15 contos de autores diferentes, sobre Martes diferentes. Esses contos tem em médias umas 30 páginas cada um, alguns são um pouco maiores e outros são bem menores. Mas devido a quantidade de contos e o tamanho, de forma geral, pequeno, não seria possível eu descrever cada um deles. Então vou falar do livro como um todo, sobre suas diversas versões de Marte, com os seus pontos fortes e fracos.
Uma parte bem impressionante sobre essa coletânea é que, embora todas tenham Marte como tema, ainda assim as estórias conseguem ser completamente diferentes umas das outras. Todo autor conseguiu dar um toque de originalidade, abordando o planeta de forma bem distintas. A começar pela viagem até o planeta. A princípio eu diria que a única forma dos seres humanos chegarem lá seria através de naves…. bem, não para todos os autores. Foi maravilhoso ver as diferentes formas de viagens que os autores conseguiram criar. Sim, ainda temos viagens com “naves”, mas devo dizer que as versões alternativas de viagens roubaram a cena.
"Só porque você faz uma pergunta, não quer dizer que exista uma resposta."
Outro destaque muitíssimo interessante foram justamente os marcianos. Eles vieram em diversos tipos, desde insectoides até criaturas marítimas. E não foram só os marcianos, alguns contos expandem o universo, por assim dizer, nos brindando com outras raças, com habitantes de outros planetas e luas do nosso Sistema. A cultura marciana também foi muito explorada nos contos e mais uma vezes o que não faltou foi distinção entre os autores. Cada conto teve uma abordagem única e em alguns casos a cultura, assim como a religião, dos marcianos foi o foco do conto.
Houveram também outros focos nos contos. Seja a exploração do planeta, a descoberta de antigos segredos, cultura perdida, guerras ou até mesmo a própria viagem até o planeta. Cada um dos contos se desenvolveu no seu próprio ritmo, com suas narrativas nos levando para aventuras incríveis. Desde piratas navegando mares de areia até uma aventura à la Indiana Jones. Marte sem dúvidas foi retratado como um planeta surpreendente, para nós e também para os personagens.
"Honra é um fardo que deve ser esquecido ou abandonado. É a bondade, penso eu, que não deixa escapatória."
O meu conto favorito foi “Nas Tumbas dos Reis Marcianos”, esse é o conto com um toque de Indiana Jones. Essa minha preferência provavelmente se deve ao fato de desde criança eu querer adentrar tumbas perdidas de antigos faraós. Agora você pega essa vontade e eleva ao nível Marciano. Esse autor soube como me conquistar, hahaha. Esse conto é literalmente uma aventura em busca de uma antiga tumba, um mito marciano que corresponde às Minas do Rei Salomão. O personagem principal desse conto é uma espécie de mercenário que acaba sendo contratado por estudioso marciano que diz saber a localização de tal tumba, mas que teme por sua vida justamente por causa desse conhecimento. É claro que o caminho até essa tumba é recheado de armadilhas e que eles não tem sossego durante toda a jornada. Mais do que isso eu não posso revelar, senão eu conto tudo.
Embora a maioria dos contos tenham sido ótimos, eu não posso dizer que gostei de todos. O conto que eu menos gostei foi justamente o mais curto, “Os manuscritos do fundo do mar morto”. Também não gostei muito do conto “O patinho feio”. Um dos pontos fracos dessa coletânea foi justamente o tamanho dos contos. Achei que alguns tiveram um fim abrupto. Eles me conquistaram e me abandonaram com um gostinho de quero mais. Foi algo que realmente me deixou frustada em alguns casos.
Sobre a edição do livro, eu não tenho reclamações. A capa está lindíssima, com uma textura bem diferente. As páginas são amareladas e a fonte está em ótimo tamanho. Consegui ler sem problemas durante horas sem me cansar.
"Em Marte todas as coisas que podem dar errado dão, e as que não podem também.*"
De forma geral, eu acabei dando 4 estrelas para o livro. Não consegui dar 5 devido ao fato de alguns contos não serem tão bons e a minha frustração com os finais abruptos de outros. Mas não tenho a menor dúvida ao recomendar esse livro. Principalmente se você for fã de literatura sci-fi. Se você for alguém que nunca leu nenhum dos clássicos marcianos, esse livro pode ser a sua porta de entrada, pode ser aquele livro que irá te fazer ir atrás das estórias que inspiraram esses autores. Então, não deixem de embarcar nessa viagem para o planeta mais icônico que existe.
*Nota de rodapé da resenhista: Seria o Brasil uma sucursal terráquea de Marte?
Resenha de Patrícia Paiva do blog Cia do Leitor
site: http://www.ciadoleitor.com/2018/02/resenha-as-cronicas-de-marte-organizado.html