otxjunior 10/08/2012Como Era Verde Meu Vale, Richard LlewellynA narração em primeira pessoa e o tom saudoso e intimista que o autor utiliza para retratar o cotidiano de uma família de mineiros do País de Gales, nos anos de 1870, dão pistas que nos permite atribuir a esta obra características de uma autobiografia. Muito provavelmente, Richard Llewellyn viveu em um vale no sul do País de Gales no fim do século XIX. Brincou, estudou, lutou, amou, trabalhou, assim como o protagonista, Huw Morgan. Pois é nítida a propriedade e o realismo com que ele descreve os personagens e o ambiente e tempo em que estes estão inseridos, em todos os seus aspectos: políticos, sociais, religiosos, ambientais, econômicos, educacionais, culturais e até gastronômicos.
O realismo, porém, em Como era Verde meu Vale, é poético. E é aí que reside o destaque desta obra. Trechos em que o narrador expõe seu deslumbramento pela natureza ou conclui valores morais do cerne da família ou ainda a descoberta do amor são marcados pelo lirismo e voz poética. Até mesmo descrições de seu estado de espírito vêm com aquela naturalidade que torna fácil a identificação com a personagem. Por outro lado, a trama nunca empolga.
Somos apresentados a uma série de anedotas que vão sendo rememoradas pelo protagonista, no momento em que este decide partir do lugar onde sempre viveu. Portanto, acompanhamos a infância, adolescência e parte da vida adulta de Huw Morgan e, no processo, passamos a conhecer seus familiares e pessoas próximas, sempre sob seu ponto de vista e numa ordem particular, ao passo em que as memórias fluem: uma história puxa a outra. Então não se espante se algumas situações não foram bem esclarecidas ou devidamente concluídas, ou personagens apenas esboçados. Pois esses pormenores também são ignorados pelo narrador por uma razão ou outra. Haja realismo! E se, embora os episódios conseguem manter o interesse, a falta de uma trama principal atrapalha o andamento da leitura. Certas cenas são lamentavelmente lentas no seu desenrolar.
Ainda assim, é válido o conhecimento desse clássico universal, principalmente pelo seu valor social e sua humana poesia.