Floresta escura

Floresta escura Nicole Krauss




Resenhas - Floresta Escura


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Paulo Sousa 27/09/2021

Leitura 23/2021

Floresta escura [2017]
Orig. Forest Dark: A Novel
Nicole Krauss (Nova Iorque, 1974-)
Companhia das Letras, 2018, 304p
Trad. Sara Grünhagen
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?Em nossa visão das estrelas, encontramos uma medida de nossa própria incompletude, de nosso estado ainda inacabado, ou seja, de nosso potencial para mudar, ou mesmo de nos transformar. O fato de nossa espécie se distinguir das outras por nossa fome e capacidade de mudança tem tudo a ver com também sermos capazes de reconhecer os limites de nossa compreensão e de contemplar o insondável. Mas, em um multiverso, os conceitos de conhecido e desconhecido se tornam inúteis, pois tudo é igualmente conhecido e desconhecido? (Posição Kindle 593).
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Se eu buscar na memória por romances que falam de fugas e reencontros, facilmente vou encontrar ali a fuga e a tragédia de Coelho Angstrom - o sublime personagem de John Updike, ao se deparar com a própria derrocada e seu mudo desespero ante a falha do corpo que tanto fez por si; ou o autoexílio ao qual se impôs Nathan Zuckerman, o sublime alter ego de Roth, e que o levou a viver longe da Manhattan caótica e sexualmente atraente que por anos o absorveu.
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Essa digressão me assaltou várias vezes enquanto lia ?Floresta Escura?, um notável romance da lavra da escritora americana Nicole Krauss. Nele, também encontramos doses cavalares de fuga mas também de transformação e recomeço ao contar, num misto de duas vozes, as trajetórias do advogado sessentão Jules Epstein e da própria autora, que se emula na trama para descrever a crise conjugal e criativa pela qual está passando.
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Entre essa duas linhas, uma terceira emerge: Kafka,o grande Kafka, não teria falecido ainda jovem, como todos sabemos, mas, secretamente se mudado para Israel, onde em kibutzes e aldeias pode viver sua nova vida bucólica. Desse emaranhado, o leitor como que é inserido numa espécie de bifurcação onde, como uma das opções seguir e aceitar a realidade como é ou, na escolha do sentido inverso, o da tentativa de encontrar o que se está oculto nessa - como escreveu Krauss - ?expansão infinita de incompreensão que cerca a minúscula ilha daquilo que conseguimos compreender?.
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Essa frase potente me levou a outro livro lido recentemente (é maravilhoso como a boa literatura te leva a outras leituras e a outras possibilidades de leitura): ?O Castelo?, romance inacabado de Kafka onde somos mergulhados num mar de devaneio, absurdo sob um enevoado cenário em torno da vila que rejeita K em seu inabalável anseio de conhecer Klamm, misterioso senhor daquelas terras surreais. No livro nada é entregue facilmente. Kafka usa um discurso aparentemente singelo para materializar um pano de fundo imerso em fumaça, uma cortina que por mais que tentemos apreender, mais obtusamente cegos nos tornamos, caso utilizemos as lentes erradas. Muitas vezes pensei em como foi Kafka foi maldoso nas páginas de ?O Castelo?. Sobretudo pelo absurdo exacerbado a que o leitor é exposto enquanto tenta entender porque K não consegue chegar ao interior do Castelo. Até entender que o escritor queria, na verdade, que puséssemos os olhos não no objeto em si, mas nas ferramentas para sua compreensão.
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É basicamente, penso eu, o que ?Floresta Escura? intenta: levar o leitor a uma gradual expansão das fronteiras herméticas da forma, sobretudo no que se refere a vida como a conhecemos e entendemos e, a partir desse exercício epistemológico, perceber que as ilusões que porventura enxergamos pode muito bem ser a ante-sala daquilo que exatamente estamos vendo. Não à-toa o próprio Roth tenha se referido a este livro como ?um romance brilhante?. Porque, de fato é!
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Julinho 19/06/2021

Uma delícia de livro
Nicole Krauss moldou a trama de "Floresta Escura" recheada em temas denso como a diáspora judaica, a filosofia metafísica da cabala, a vida e obra do escritor Kafka, crise de identidade e as dificuldades com a escrita. No entanto não é um livro pesado ou difícil de ler, truncado - a escrita e carpintaria da autora são muito delicadas, a narrativa é deliciosa mesmo bastante reflexiva. Além da trajetória da narradora-autora e suas reminiscências sobre a escrita e deu casamento em crise, os capítulos finais com os bastidores de um filme como pano de fundo foram um deleite adicional. Amei muito essa experiência de leitura.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 10/11/2019

Nicole Krauss - Floresta Escura
Editora Companhia das Letras - 304 Páginas - Tradução de Sara Grünhagen - Lançamento: 2018

A escritora norte-americana de ascendência judaica Nicole Krauss é reconhecida pela crítica como um nome de destaque na literatura contemporânea em língua inglesa. No seu quarto romance, Floresta Escura, ela apresenta uma curiosa reflexão sobre perda e transformação. Em narrativas paralelas e capítulos alternados, descreve a saga de dois protagonistas que não têm nada em comum, exceto o desconforto com suas vidas atuais. Jules Epstein é um advogado de 68 anos que decide doar grande parte de sua riqueza, após a morte dos pais e o seu processo de divórcio. Já Nicole (sem sobrenome), é uma personagem que evidencia um mecanismo claro de metaficção, ela é uma autora com a carreira já consolidada, mas que passa por um bloqueio criativo para escrever o próximo romance.

A narrativa tem início com o desaparecimento de Jules Epstein em Tel Aviv, com a família e amigos perplexos diante da mudança de comportamento de um homem que sempre havia demonstrado uma personalidade forte. Em uma narrativa conduzida em terceira pessoa, o leitor vai reconstituindo aos poucos a trajetória de Epstein em Tel Aviv, resultado de uma viagem que tinha o objetivo inicial de escolher um projeto para patrocínio em homenagem à memória dos pais e assume um caráter totalmente novo por influência de um estranho rabino que pretende reunir os descendentes do rei Davi, incluindo o próprio Epstein.

"Nos últimos meses, tornara-se difícil entrar em contato com Epstein. Suas respostas não chegavam mais de supetão, não importava mais a hora do dia ou da noite. Ele sempre tivera a última palavra porque nunca deixava de responder. Mas, aos poucos, suas mensagens foram se tornando cada vez mais escassas. O tempo se expandia entre elas porque havia se expandido nele: as vinte e quatro horas que Epstein antes preenchia com tudo o que havia debaixo do sol foram substituídas por uma escala de milhares de anos. A família e os amigos se acostumaram com seus silêncios irregulares; por isso, na primeira semana de fevereiro, quando ele deixou de dar sinal de vida, ninguém se alarmou de imediato. [...]" (p. 14)

As partes do romance que descrevem as ações de Nicole são feitas em primeira pessoa, ampliando o caráter de metaficção. Aos trinta e nove anos, ela toma uma decisão intempestiva ao viajar para Tel Aviv e se hospedar no hotel HIlton, onde lembra de ter passado bons momentos na sua infância, acreditando que lá poderá encontrar a inspiração para o novo romance. Com um afastamento cada vez mais evidente em seu próprio casamento, Nicole deixa o marido e os dois filhos em Nova York para se dedicar a uma busca pessoal que representará muito mais do que um simples tema para o próximo livro.

"Então ele me perguntou como estavam as coisas comigo e o que eu andara fazendo desde que partira. Essa simples pergunta, tão raramente feita, me pareceu vasta naquele momento. Respondê-la era tão impossível quanto lhe dizer o que eu tinha feito e como as coisas se passaram comigo durante a década em que estávamos casados. Esse tempo todo nós tínhamos trocado palavras, mas em dado momento as palavras pareceram ter perdido seu poder e propósito, e agora, como um navio sem velas, não pareciam mais nos levar a lugar algum: as palavras trocadas não nos aproximavam, nem um do outro nem de qualquer tipo de entendimento. As palavras que queríamos usar, não podíamos usar – a rigidez causada pelo medo as impedia –, e as palavras que podíamos usar eram, para mim, irrelevantes." (p. 140)

Não fica claro para o leitor se Nicole e Epstein viajam para Israel na mesma linha do tempo porque, na verdade, não há conexão entre as suas histórias de vida anteriores ou em Tel Aviv, exceto o fato de hospedarem-se no mesmo hotel Hilton. Um terceiro personagem certamente surpreenderá o leitor, ninguém menos que Franz Kafka. Nicole é convidada por um professor de literatura local para um projeto irrecusável: terminar uma peça inacabada de Kafka e ter acesso a obras inéditas do autor de Metamorfose que não teria morrido de tuberculose antes da guerra, mas sim viajado para Israel e permanecido incógnito por muitos anos.

"'Quanto à publicação das ditas obras incabadas', continuou Friedman, 'não percebe quão brilhante foi isso? Pense só: que escritor não ia querer que seus contos, livros e peças fossem publicados sob a alegação de que permaneceram inacabados? De que ele morreu, ou então foi impedido, antes de poder deixá-los no estado de perfeição que imaginara, que existia dentro dele, e que ele teria podido revelar em sua obra se ao menos tivesse tido mais tempo?' [...] Perguntei onde Kafka tinha morado, e Friedman me disse que, logo que chegou, ele ficou hospedado numa casa perto dos Bergmann. Sua saúde foi melhorando de maneira progressiva ao longo do verão. O sigilo era primordial e, fora do pequeno círculo cabalístico diretamente envolvido, a única pessoa que sabia era a irmã de Kafka, Ottla. No instante em que desembarcou do navio em Haifa, ele já não era mais o escritor Kafka. Era um simples judeu magro e debilitado de Praga, convalescendo no clima quente de seu novo país." (p. 204)
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Suzy 28/08/2019

Floresta Escura
Este foi o segundo livro que linda autora. Comecei bastante empolgada, o livro trazia muitas reflexões pertinentes ao momento. Mas confesso que a leitura ficou pesada e um pouco arrastada. Mas indico muito a leitura!
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Biblioteca Álvaro Guerra 23/07/2019

Um romance belo e original sobre transformação pessoal que entrelaça as histórias de dois indivíduos — uma escritora e um advogado — que não aparentam ter muito em comum.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/978-85-359-2389-6
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Mila F. @delivroemlivro_ 09/08/2018

Uma história muito boa, mas... infelizmente li no tempo errado e não me conectei
Floresta Escura: Romance (Forest Dark: A Novel,2017) foi escrita pela norte-americana Nicole Kraus, também autora de A História do Amor (2006) e A Memória de Nossas Memórias (2012) já publicados no Brasil pela Companhia das Letras.

Confesso que nunca tinha ouvido falar da escritora, talvez por pura ignorância e desconhecimento não conheci os livros anteriores de Nicole, mas quando vi a divulgação de Floresta Escura e já sabendo que Nicole Krauss é apontada pela crítica como um dos destaques da nova ficção americana, resolvi não perder a oportunidade de ler.

Floresta Escura é um livro bom, foi desenvolvido de forma incrível, traz uma cultura e um país pouco conhecidos por mim: sobre Israel, traz, também, reflexões pertinentes e incríveis para a vida, algo como contexto histórico e costumes, mas por alguma razão - talvez uma ressaca literária - a leitura não se desenvolveu como eu ansiava, foi arrastado, espinhoso e só consigo pensar que também posso ter lido este livro num momento todo errado e por isso não me envolvi, não me apeguei.

Quando não há envolvimento e apego a leitura se arrasta, é espinhosa, mesmo que eu também acredite que Floresta Escura é um daqueles livros que exigem um ritmo próprio para a leitura, mas eu não me apeguei.

Não consegui me apegar aos personagens e suas crises existenciais. As partes que achei melhores foi quando entrava em contato com a cultura judaica e com algumas teorias bem interessantes e reflexivas, mas nem isso fez com que a leitura não fosse um fiasco.

Aqui vamos acompanhar intensamente os personagens Jules Epstein (de 68 anos) e Nicole, que não se conhecem, mas ambos estavam vivendo crises existenciais intensas em relação suas vidas e decisões tomadas.

Jules Epstein é um rico advogado aposentado que sumiu misteriosamente em Tel Aviv, mas antes ele já vinha tendo comportamentos excêntricos, pois estava doando todos os seus bens e dinheiro para instituições de caridade, num surto de filantropia.

Por outro lado, temos Nicole uma escritora nova iorquina presa em duas crises: seu casamento está desmoronando e está sofrendo um bloqueio criativo, sem conseguir escrever. No entanto, uma ideia não sai de sua mente: o Hotel Hilton de Tel Aviv e ela sente que precisa fazer essa viagem para começar a escrever uma nova estória.

Dito isso, em Floresta Escura iremos acompanhar a trajetória desses dois personagens que estão buscando se encontrar e vão descobrir muito a respeito de si mesmos e sua religião judaica durante essa viagem.

Não tenho ideia se os dois personagens chegaram a se conhecer ou mesmo se essa viagem que ambos fizeram foi simultânea, pois é uma narrativa um tanto confusa e vaga nesse aspecto, mas o fato é que são levantadas muitas teorias sobre a filosofia da vida, sobre Deus e a própria literatura que são intensamente interessantes e bastante profundas.

Realmente gostaria de ter me envolvido mais com Floresta Escura mas não consegui, sinto que li a obra num momento errado e pretendo reler num futuro, quando eu sentir que é o tempo certo e assim poder apreciar bem mais as reflexões propostas.

Sem dúvida Floresta Escura é um livro bem escrito, bem fundamentado, mas é de difícil leitura, pois não existe momentos de ação que deixem o leitor ansioso ou realmente preso ao que está sendo contado, trata-se de um livro mais filosófico e reflexivo, e isso pode se torná-lo cansativo, arrastado e entediante em vários momentos.

site: www.delivroemlivro.com.br
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Camila Faria 28/05/2018

Duas pessoas em fases completamente diferentes de suas vidas: Jules, um advogado aposentado, se desfazendo de todos os bens materiais que conquistou ao longo da vida e Nicole, uma jovem romancista, no meio de um bloqueio criativo e de uma crise no casamento. Mesmo não se conhecendo, os dois compartilham o desejo de auto-conhecimento e um questionamento profundo a respeito da sua própria existência ~ além de histórias que se cruzam no hotel Hilton de Tel Aviv. Um dos aspectos mais interessantes desse romance é que a vida da personagem Nicole tem um paralelo inegável com a vida da autora. Além de compartilharem o mesmo nome, elas também “dividem” alguns elementos-chave de suas vidas: ambas passaram por extensos bloqueios criativos (Floresta Escura é o primeiro romance de Nicole Krauss em sete anos) e por crises no casamento (a autora se divorciou do escritor Jonathan Safran Foer há alguns anos). Nicole brinca com essa questão da identidade durante todo o livro, reforçando um dos seus temas centrais: como estar em dois lugares ao mesmo tempo. O resultado é um romance complexo e bem-humorado sobre desconexão e metamorfose. E com pitadas de cultura judaica, o que é sempre muito interessante, especialmente para não-entendidos no assunto, como eu. Recomendo.

site: http://naomemandeflores.com/os-quatro-ultimos-livros-21/
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