Tampa

Tampa Alissa Nutting




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Sabrina758 25/05/2023

Um livro extremamente perturbador e cru sobre uma sociopata e pedófila que abusa de alunos na escola em que trabalha, inspirado em um caso real que aconteceu em Tampa, na Flórida. A autora conseguiu explorar perfeitamente a mentalidade de alguém cujo senso de moralidade é inexistente. Mesmo se tratando de um assunto delicado, que embrulha o estômago, a escrita é viciante.

Celeste é jovem, bonita, inteligente, casada e extremamente sedutora e convincente, como a maior parte dos sociopatas. Sabe circular pelos lugares e ciclos sociais bem o suficiente para garantir que as coisas que ela quer se realizem. A sua vida adulta toda foi planejada para o momento que ela começasse a trabalhar na escola e ter acesso a tantos adolescentes quanto possíveis. Ela escolhe sua vítima e começa seu jogo de gato e rato.

Enquanto isso, os pensamentos e sentimentos da Celeste, os mais podres possíveis, vão sendo revelados ao leitor, enquanto acompanhamos ela ganhar a confiança e coração de todos ao seu redor. O seu casamento de fachada também é escancarado quando ela deixa claro o nível de nojo que tem de seu marido, Ford, um homem bem mais velho que ela, que possui todas as características que ela mais tenta fugir, deixando claro que a relação não passa de um interesse financeiro de sua parte.

Quando ela começa a se envolver com Jack, seu aluno de 14 anos, as coisas ficam bem pesadas. O gaslighting, controle e violações que acontecem, sem que ele, obviamente, perceba que está sendo manipulado, é perturbador de ler. Entendo as avaliações mistas desse livro, pois acredito que não precisávamos de descrições detalhadas do que acontecia para entender.

A questão é que quanto mais ela conseguia o que queria, mais perdia para os próprios impulsos e senso de julgamento, passando a ser descuidada e começando a gerar suspeita. Uma coisa que chama atenção aqui é o quanto a sua beleza fazia com que ela se safasse de coisas inapropriadas, inclusive comportamentos suspeitos, mas acabava sendo cantada pelos pais dos alunos.

Se envolvendo cada vez mais fundo, de uma maneira que não tinha volta, depois de se safar de milhares de coisas impune e fazer mais uma vítima, Celeste finalmente é descoberta. A mídia, o dinheiro e a corrupção do sistema faz com que, mais uma vez, Celeste saia vencendo, apesar de tudo. A cobertura midiática, extremamente fútil, questiona se uma mulher tão bonita e jovem realmente seria capaz de cometer as atrocidades que ela fez. Será que ela realmente era uma desviante? ou os adolescentes foram culpados por quererem se relacionar com uma "professora gostosa"? É bizarro pois isso realmente aconteceu no caso real.

Não é uma leitura fácil e agradável, mas escancara a realidade e abre os olhos para uma coisa pouco discutida: mesmo que em minoria, mulheres também abusam. Existe uma subnotificação de casos onde meninos são vítimas de abuso e mulheres que abusam, por uma questão cultural. Abusador não tem rosto, a beleza jamais deveria ser relativizada como fator de descredibilidade de um crime seríssimo como um estupro de vulnerável. Eu odiei o final, justamente pelo quão real ele é: a falha do Estado em proteger crianças e adolescentes. Penas completamente irrisórias, abusadores saindo quase impunes e, posteriormente, fazendo mais vítimas. Infelizmente, é a realidade, e Tampa questiona e cutuca uma ferida que permanece aberta.
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