Queria Estar Lendo 19/01/2019
Resenha: Lute como uma Garota
Lute Como Uma Garota - 60 Feministas que Mudaram o Mundo, de Laura Barcella e Fernanda Lopes, publicado pela editora Cultrix, é um compilado dos perfis de famosas e influentes feministas do mundo e também do Brasil, que apresenta muitas mulheres que não chegamos a ouvir sobre - e também que nunca pensamos como divulgadoras do movimento.
Comprei Lute como Uma Garota assim que o vi pela primeira vez, no estande do Grupo Editorial Pensamento na Bienal. A principio, pensei que ele seria um livro muito básico e talvez até raso. Cheio de informações que eu já tinha. Mas foi muito diferente disso.
Na primeira parte, o livro nos apresenta 45 mulheres ao redor do mundo (em grande maioria americanas e britânicas) que influenciaram, divulgaram e ofereceram sua plataforma para falar de feminismo e igualdade de gênero e racial. Entre elas temos estudiosas e ativistas como Angela Davis, Florynce Kennedy e bell hooks, e também temos artistas como Yoko Ono, Madonna e Beyonce.
Com um pequeno perfil nos explicando suas conquistas, suas origens e seu legado, Lute como uma Garota nos apresenta mulheres que não se deixaram abater pelo machismo e o sexismo e o patriarcado em suas áreas de atuação, e lutaram e escreveram e dominaram o mundo com a sua arte, provando o valor das mulheres e ajudando-nos a conquistar importantes direitos que (muitas de nós) hoje tomamos por garantidos e cotidianos - como o direito de não ser uma propriedade dos homens de nossa família, o direito de ter uma propriedade, trabalhar fora, votar, nos separar, estudar, entre outros.
E foi incrível conhecer mulheres que, eu aposto, levaria anos para descobrir se não fosse esse livro, como foi o caso de Amy Jacquer Garvey, líder radical do movimento feminista comunitário e do movimento pan-africano da década de 20; Shirley Chrisholm, a primeira mulher negra parlamentar nos EUA e a primeira mulher negra a concorrer a presidência; Judy Chicago, educadora, escritora e artista feminista que dedicou a vida a promover as mulheres no mundo da arte; e Shirin Ebadi, primeira pessoa no Irã e primeira muçulmana a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, uma famosa juíza, ativista e advogada dos direitos humanos no Irã.
Mas a parte que mais gostei foi, definitivamente, conhecer as 15 feministas do Brasil que estão incluídas na sessão final do livro. Especialmente porque muito da referência, seja ela teórica ou não-acadêmica que eu tenho do feminismo, parte de mulheres não brasileiras (e mesmo não latinas) e sinto que perco um pouco com isso. Cada país tem sua especifidade de leis e direitos garantidos as mulheres, cada país representa um número em uma estatística diferente sobre violência de gênero e desenvolvimento humano, e por isso é necessário conhecermos as vozes que temos - e tivemos - no Brasil que ajudam a combater o machismo, sexismo e o patriarcado aqui dentro.
Embora eu tenha sentido que poderiam ter buscado mais feministas ativas ainda hoje, ou ainda ter incluído algumas artistas diferentes que fizeram tanto ou mais pelo feminismo (vale notar que o livro nem chega a mencionar nossa primeira presidente mulher), conhecer a história do movimento no país, que começou lá no século XIX com Nísia Floresta, foi muito importante. Francisca Senhorinha, Bertha Lutz e Adalzira Bittencourt, por exemplo, são nomes que eu nunca tinha ouvido e que tiveram contribuições enormes no país.
Francisca Senhorinha foi de extrema importância para o jornalismo feminino no Brasil - especialmente para a divulgação das ideias feministas e de emancipação feminina - com um jornal chamado O Sexo Feminino, que teve tiragem de 4 mil exemplares só nas suas primeiras 10 edições, e até Dom Pedro II e a Princesa Isabel recebiam ele.
Enquanto Bertha Lutz lutou por anos, e com afinco, pelo sufrágio feminino no Brasil - um movimento que conheceu ao estudar na Europa e tratou de trazer ao Brasil. Já Adalzira Bittencourt foi pioneira do registro da memória da mulher brasileira, começando a desenvolver o Dicionário Bio-bibliográfico de Mulheres Ilustreis, Notáveis e Intelectuais do Brasil. Embora só tenha conseguido publicar as letras A e B do dicionário, passou a vida divulgando a capacidade das mulheres de realizarem feitos valorosos, dignos e desafiadores. Ela também é autora de livros de ficção como: Sua Excelência: A Presidente da República de 2500, uma utopia/ficção científica na qual o feminismo venceu e livrou o país dos infortúnios causados pelos homens - obra que estou atrás até agora e, infelizmente, está difícil achar.
Como um todo, Lute como uma Garota é um excelente livro para quem está começando - ou já começou no feminismo - e quer conhecer mais das mulheres que vieram antes de nós e daquelas que estão lutando ao nosso lado para alcançar uma sociedade mais justa e igual.
Com nomes fortes e de peso no âmbito de pesquisadoras e divulgadoras - como Simone de Beauvoir, bell hooks, Audre Lorde, Angela Davis, Mary Wollstonecraft, Roxanne Gay, Djamila Ribeiro, Nísia Floresta, Sueli Carneiro - é, inclusive, um ponto de partida para conhecer a obra dessas mulheres e se aprofundar ainda mais na base, teoria e fundamentos do movimento feminista.
É uma leitura leve, rápida e de fácil compreensão, com notas de rodapé e uma bibliografia para que você mesma possa conduzir suas pesquisas quando terminar a leitura. Indico Lute como uma Garota para todos as mulheres, pois precisamos conhecer o nosso passado para formular o nosso futuro.
site: http://www.queriaestarlendo.com.br/2019/01/resenha-lute-como-uma-garota-60.html