Kelly Oliveira Barbosa 31/05/2021Canção de Ninar (Chanson Douce, 2016) chegou ao Brasil em 2018 pelo selo Tusquets da editora Planeta. É um romance da escritora e jornalista franco-marroquina Leïla Slimani. Ganhador do prêmio mais importante da língua francesa, o Goncourt.
Bom e o que falar dele, difícil. Esse livro envolve a gente de tal forma. É tão perturbadoramente atual. Que só lendo para entender. Mas vamos tentar.
Nas primeiras páginas do livro nos é apresentada a terrível tragédia que acaba de acontecer no apartamento dos Massé. Os dois filhos pequenos do casal Myriam e Paul, foram brutalmente atacados. O menininho faleceu e a menininha não irá resistir aos ferimentos. A babá, Louise, ao que tudo indica tentou suicídio, mas irá sobreviver.
Numa narrativa que incrivelmente te prende do começo ao fim, a autora desenvolve sua história que é muito mais, como alguns leitores comentaram, sobre o “porquê” do que sobre “o quê” aconteceu.
A mãe e a babá, Myriam e Louise, são as protagonistas. E a temática, ou melhor o conflito e drama da maternidade no “caos do mundo contemporâneo” é explorada. Uma mãe que não precisa trabalhar realmente para se sustentar; que sacrifica o cuidado dos filhos na verdade, porque a maternidade lhe é insuportável. Uma babá estrangeira, que todos dizem perfeita, pois vai muito além da função de cuidar carinhosamente das crianças e, lava, passa e cozinha sem cobrar nada a mais por isso; aquela que todos julgam “ser” e “estar” ótima, mas que guarda dentro de si seus traumas, seus pensamentos tenebrosos.
E os outros personagens. O pai das crianças, Paul; aquele que achou muito legal ser pai, mas afirmou para todos no trabalho que não queria que sua vida mudasse; aquele que não queria que a esposa trabalhasse, mas não tinha nenhuma ajuda ou apoio a oferecer a não ser a do próprio dinheiro; aquele que foi o primeiro talvez a perceber algo estranho com a babá, mas não fez nada para proteger a família. As próprias crianças, as maiores vítimas nisso tudo…
Esse é um livro que com certeza não vou me esquecer tão cedo. Um livro que mexeu comigo e mesmo considerando que eu não seja mãe. Acontece que é assustador pensar que muito do que é narrado aqui, falo do cotidiano dessas personagens, é mesmo a realidade de pessoas de qualquer grande cidade. A verdade é que a leitura me deixou melancólica. Melancolicamente reflexiva.
Canção de Ninar não é um livro de entretenimento. Longe disso, é um livro para pensar como estamos vivendo a vida nesse… no que chamo caos do mundo contemporâneo. Além da maternidade, o livro explora temas como: a relação patrão e empregado, imigração, criação de filhos e outros. Recomendo demais!
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