Pandora 22/04/2020
"Lugar Nenhum" é uma das minhas histórias favoritas do Neil Gaiman. Nela se narra a história de como Richard Mayhew, jovem funcionário de uma empresa aleatória, encontra Lady Door, moça misteriosa, em seu pior momento e descobre que Londres é maior e mais profunda do que ele pensa.
Acompanhando Richard descobrimos duas Londres: a de cima cuja vida acontece a luz do dia e é tudo que vemos nos cartões postais e filmes e livros sobre a cidade; e a Londres de Baixo, um submundo de excluídos, magia e perigos.
As duas cidades se repelem, se encontram, dialogam e guardam perigos e segredos. Aquilo que na Londres de Cima é metáfora na Londres de Baixo é concreto. As regras de um espaço não existem, ou existem de forma diferente, no outro e vice-versa.
O livro "Lugar Nenhum" é fleumático, escrito sem pressa ou pretensão de se torna um dos mais vendidos do ano. Amo toda a narrativa, o clima da história, a Door , o Marquês de Carabas e me identifico loucamente com o Richard.
Recebi com alegria a adaptação roteirizada pelo Mike Carey e ilustrada pelo Glenn Fabry. A HQ é uma aventura gostosa de ler numa tarde morna ou numa noite vazia de obrigações. Flui bem, é colorida e dinâmica como inclusive o texto original não é.
No entanto, apesar de ter gostado da adaptação, para mim, faltou a ela algumas coisas como por exemplo: lentidão. Não encontrei no roteiro aquela capacidade de se deter na periferia das coisas tão característica do Gaiman, narrador de construções minuciosas dos tipos humanos e lentidão no roteiro do arco "principal". As histórias de Gaiman fluem de forma lenta, ele não escreve trailers de suspense, ele escreve histórias para ouvir com calma.
E em relação a arte, para mim faltou um pouquinho de delicadeza e sutileza. Apesar de ter amado como Hunter e Richard foram desenhados e ter achado as capas lindíssimas. "Lugar Nenhum" é uma história na qual os protagonistas são o de menos, o melhor dela é Londres de Baixo e seus sujeitos e faltou mais disso na adaptação focada em Richard e Door e na dinâmica da aventura deles. A história ganhou velocidade, perdeu beleza.