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13/01/2021Em Gênero e Desigualdades a autora, Flávia Biroli, discute o quanto a falta de participação das mulheres na política afeta o progressismo e as pautas que abracem as minorias. Mais especificamente pautas feministas. E como a sociedade patriarcal dificulta a inserção da mulher no campo político.
A autora perpassa por temas já recorrentes ao feminismo como desigualdade no mercado de trabalho, políticas sobre saúde feminina e o mais polêmico (quando esbarra nos conservadores) aborto. Um dos capítulos que mais gostei e que não tinha visto nenhuma perspectiva foi quanto aos cuidados. Cuidado privado e cuidado público. A falta de políticas que pensam no coletivo e no cuidado público que afetam diretamente as mulheres. Sem a ajuda do governo a mulher não tem tempo para se dedicar aos estudos e movimentos para ingressar na política. Há sempre um subemprego, filhos ou familiares que precisam de cuidados, além da terceira jornada que mulheres se dedicam quando chegam em casa. Ao homem cabe apenas trabalhar para sustentar. Não há divisão em trabalho em casa.
Outros temas bastantes relevantes são o familismo e o maternalismo que cresceram com o advento da política neoliberal e conservadorismo. A autora exemplifica o quanto isso afeta as políticas minoritárias não só no Brasil, mas em toda a América Latina. O moralismo conservador sexual age de maneira perigosa quando propostas que discutem pautas sobre sexualidades. Isso tudo também interfere nas medidas contra o aborto, mas não na esterilização compulsória de mulheres negras e pobres. O que demonstra a hipocrisia dos políticos brasileiros.
O último capítulo é um dos mais importantes. A autora faz um histórico de como as feministas brasileiras lutaram para que pautas sobre mulheres entrassem no campo político. Demonstra o que a luta não é novidade. Elas existem há muito tempo. As feministas agiram no campo político lutando e conseguindo conquistar inúmeros objetivos para a vivência das mulheres. No entanto, também foram derrubadas e passadas para trás em vários momentos. Inclusive por aqueles que se diziam progressistas.
O recorte de gênero é o que dá sustentação a proposta que o livro pretende discutir, mas Biroli trabalha com recorte racial e de classe. O que faz da pesquisa mais interessante e mais importante. Excluir mulheres negras e pobres de um texto como esse seria leviano. É importante fazer recortes para que haja credibilidade. Até porque é a classe trabalhadora e a população negra que carrega o país nas costas.
Super recomendo.