Gênero e desigualdades

Gênero e desigualdades Flávia Biroli




Resenhas -


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Luiza 24/02/2024

O livro tem uma proposição pertinente a respeito dos limites da democracia na concretização de direitos às mulheres. A autora apresenta a crítica da democracia feita pelas Teorias Feministas da política, que apontam que as relações de poder nos espaços privados e a vida doméstica não são levadas em consideração como “temas da democracia”, mas apenas como preocupações das mulheres. Assim, temáticas feministas acabam sendo relegadas ao âmbito privado e tratadas como “problemas particulares”, de forma que perdem relevância política, peso e legitimidade no debate público.
Como consequência, garantias fundamentais para a transformação das dinâmicas domésticas – que notadamente oneram as mulheres – não são colocadas em disputa na política institucional, como a criação de vagas em creche ou a responsabilização coletiva do cuidado com os vulneráveis. Em um ciclo, a manutenção da ordem prejudicial às mulheres (com a vigente divisão sexual do trabalho e repasse da função do trabalho de cuidado) restringe a participação das mulheres na política institucional, vez que elas têm restrições no acesso a recursos políticos fundamentais como tempo livre, renda e rede de contato.
Achei interessante a forma como a autora explicou este problema e demonstrou como a democracia atual é incapaz de solucioná-lo, inclusive por seus próprios princípios de universalidade, individualidade e existência de atores autônomos. Essas ideias abstratas, provenientes da maioria das teorias democráticas, acabam por ignorar hierarquias da vida privada, a dependência entre indivíduos e o trabalho cotidiano para lidar com ela, e até mesmo ignora as diferenças inerentes entre as pessoas que vão justificar o estabelecimento de direito ao aborto para as mulheres e direitos sexuais para pessoas LGBT.
Outros pontos que achei interessante no livro foram as críticas feministas ao Estado de Bem Estar Social e às políticas de redistribuição de renda, que podem aprofundar as convenções de gênero; a discussão sobre a separação das esferas “pública” e “privada” se originar da ascensão da burguesia como classe hegemônica e servir como distinção entre ela e as outras classes excluídas da esfera pública; o debate entre feministas que pontuavam a ideia de família como controle ou como privilégio; a necessidade de deslocar a definição de família das relações consanguíneas para as de cuidado de forma a fortalecer a responsabilidade coletiva pelos vulneráveis; a exposição das bases eugênicas das propostas que flexibilizaram as proibições contra o aborto na América Latina e das políticas de esterilização do século XX que tinham como alvo mulheres pobres, negras e indígenas; e a história recente dos avanços e recuos dos movimentos feministas no Brasil, após a redemocratização.
No entanto, achei a experiência de leitura em si um pouco cansativa e difícil. Alguns argumentos aparecem de forma muito repetitiva, como a importância da interseccionalidade, e as discussões filosóficas ficavam por vezes obscuras ou confusas. Muitas vezes senti que a autora poderia dar mais exemplos para tornar as suas ideias mais claras ou até mesmo para melhor retratar um acontecimento citado, como as ações do Vaticano na América Latina contra os direitos sexuais e reprodutivos a partir da década de 70, que foram mencionadas mas não aprofundadas. Foi um livro com pontos muito importantes, mas uma experiência complicada de leitura, demorei muito para terminar e tinha pouca vontade de retornar toda vez que eu parava. Penso que seja mais recomendável a quem já tem familiaridade com o tema e facilidade com a escrita acadêmica do texto.
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Gustavo 15/03/2022

Leitura mais complexa
Assim como o Racismo estrutural do Sílvio de Almeida, achei uma leitura muito rica, no entanto requer atenção.
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Flá 14/01/2022

Ótimo para insights!
A autora Flávia Biroli, no livro ?Gênero e Desigualdades: limites da democracia no Brasil? aborda questões fundamentais para a democracia e a justiça analisando cinco temáticas (que como ela própria explica na introdução, correspondem a cada um dos cinco capítulos do livro).
1º Divisão Sexual do Trabalho: onde é abordado de maneira crítica a posição desigual de mulheres e homens no âmbito privado e consequentemente no âmbito público, produzindo o que é entendido por gênero e dando forma à dualidade feminino-masculino que perpetua essa posição de desvantagem das mulheres, sobretudo das pobres e negras;
2º Cuidado e Responsabilidades: capítulo maravilhoso que da continuidade e, ao mesmo tempo, aprofunda a temática anterior de uma maneira esclarecedora e interessante, evidenciando uma problemática que é tratada como questão individual mas é claramente objeto de preocupação e obrigação coletiva. Capítulo perfeito para insights.
3º Família e Maternidade: onde se discute as configurações das relações familiares e o interesse político em se manter a ordem vigente;
4º Aborto, Sexualidade e Autonomia: temas de grande relevância para a construção de uma sociedade justa e democrática, a autora apresenta dados (históricos e estatísticos) em conjunto com um debate teórico que possibilita a reflexão crítica sobre a temática.
5º Feminismos e Atuação Política: arrematando os capítulos anteriores, a autora discute neste capítulo os obstáculos à participação política das mulheres, sem deixar de valorizar suas conquistas e atuação efetiva na história recente do país.
É importante destacar que Biroli trás, ao longo de toda a obra, dados estatísticos e históricos que vêm ao encontro de sua narrativa, reforçando e ao mesmo tempo justificando sua construção teórica.
Leitura densa em alguns momentos, mas fundamental e de grande importância para estudos voltados às teorias feministas e afins.
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fev 13/01/2021

Em Gênero e Desigualdades a autora, Flávia Biroli, discute o quanto a falta de participação das mulheres na política afeta o progressismo e as pautas que abracem as minorias. Mais especificamente pautas feministas. E como a sociedade patriarcal dificulta a inserção da mulher no campo político.

A autora perpassa por temas já recorrentes ao feminismo como desigualdade no mercado de trabalho, políticas sobre saúde feminina e o mais polêmico (quando esbarra nos conservadores) aborto. Um dos capítulos que mais gostei e que não tinha visto nenhuma perspectiva foi quanto aos cuidados. Cuidado privado e cuidado público. A falta de políticas que pensam no coletivo e no cuidado público que afetam diretamente as mulheres. Sem a ajuda do governo a mulher não tem tempo para se dedicar aos estudos e movimentos para ingressar na política. Há sempre um subemprego, filhos ou familiares que precisam de cuidados, além da terceira jornada que mulheres se dedicam quando chegam em casa. Ao homem cabe apenas trabalhar para sustentar. Não há divisão em trabalho em casa.

Outros temas bastantes relevantes são o familismo e o maternalismo que cresceram com o advento da política neoliberal e conservadorismo. A autora exemplifica o quanto isso afeta as políticas minoritárias não só no Brasil, mas em toda a América Latina. O moralismo conservador sexual age de maneira perigosa quando propostas que discutem pautas sobre sexualidades. Isso tudo também interfere nas medidas contra o aborto, mas não na esterilização compulsória de mulheres negras e pobres. O que demonstra a hipocrisia dos políticos brasileiros.

O último capítulo é um dos mais importantes. A autora faz um histórico de como as feministas brasileiras lutaram para que pautas sobre mulheres entrassem no campo político. Demonstra o que a luta não é novidade. Elas existem há muito tempo. As feministas agiram no campo político lutando e conseguindo conquistar inúmeros objetivos para a vivência das mulheres. No entanto, também foram derrubadas e passadas para trás em vários momentos. Inclusive por aqueles que se diziam progressistas.

O recorte de gênero é o que dá sustentação a proposta que o livro pretende discutir, mas Biroli trabalha com recorte racial e de classe. O que faz da pesquisa mais interessante e mais importante. Excluir mulheres negras e pobres de um texto como esse seria leviano. É importante fazer recortes para que haja credibilidade. Até porque é a classe trabalhadora e a população negra que carrega o país nas costas.

Super recomendo.
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Gabi 06/09/2020

Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil
Ao tratar da divisão sexual do trabalho, observa-se a contribuição desse processo na construção social da noção de gênero e seu caráter fundamental na formação de uma hierarquia entre homens e mulheres, por intermédio de uma responsabilização desigual no que tange ao trabalho não remunerado ou "doméstico". Nesse cenário, tem-se uma separação entre esferas da vida, pública e privada, conforme os tipos de tarefas exercidas. Assim, Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil demonstra como essa divisão, do trabalho e das esferas sociais, conduz a uma menor participação feminina na dimensão política.


site: https://frases-perdidas.blogspot.com/2020/07/genero-e-desigualdades-limites-da.html
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