spoiler visualizarGabi 02/04/2013
Virtudes são raridades! São como pedras preciosas, difíceis de encontrar e conservar, pois requerem trabalho, persistência e controle. O autor separou 18 e passou a explanação de cada uma delas. Segue comentários e trechos a respeito:
• Polidez = para o autor não se trata de virtude e sim etiqueta, deu exemplo dos nazistas: “... aquela Alemanha, que tocava Beethoven nos lager e assassinava as criancinhas!” Não gostei da comparação dos seres gentis às crianças, “os certinhos”, aos quais ‘faltara-lhe a adolescência’. Gentileza é bem vista em qualquer idade, é tão melhor conviver com uma pessoa razoável, não hipócrita, mas verdadeira e que preza a educação;
• Fidelidade = tema tão discutido e valorizado, principalmente pelas mulheres, nesse mundo são liberal, onde ser moderno é ter uma vida sexual com vários parceiros, sem culpa, sem responsabilidade e sem fidelidade é claro. “Todo mundo é de todo mundo”, soa infantil e hipócrita ao mesmo tempo. Antes de sermos fiéis aos outros devemos ser fieis as nossas palavras e promessas. Não digo que mudar de opinião seja um erro, somos seres mutáveis, porém discordo de: “Por que eu manteria minha promessa da véspera, já que não sou mais o mesmo hoje?”. Manteria pela fidelidade a sua promessa. Não uma frase dita ao “calor da emoção”, mais com sinceridade, firmando um compromisso não de momentos mais de uma vida, de uma comunhão que extrapola limites e situações. É tão fácil dizer: Eu te amo. Porém não deve ser apenas uma frase sem profundo significado para que fale e para quem ouve. Deve estar incutida de verdade e maturidade;
• Prudência = Prudentia vem de providere que significa tanto prever como prover. “Não se pode chegar ao prazer pelo caminho mais curto.” Discordo. A busca do prazer é um dos objetivos mais valorizados. O prazer sem responsabilidade é o caminho mais curto para a ruína: doenças, indiferença e sofrimento;
• Temperança = “Como seríamos felizes uma vez que somos insatisfeitos? E como seríamos satisfeito uma vez que nossos desejos não têm limites?” Concordo. A felicidade é uma busca constante do homem e não é plena nessa natureza. “Ser temperante é poder contentar-se um pouco; mas não é o pouco que importa: é o poder, e é o contentamento.” “Não têm vontade de fazer amor? Alguma revista pornográfica dará um jeito de pôr a máquina para funcionar de novo... Sem dúvida, mas para quê? E a que preço? Ei-los prisioneiros do prazer, em vez de serem libertados dele... É que eles querem mais, sempre mais, e não sabem se contentar, nem mesmo com o excesso!” “Mas quem sabe se contentar com o necessário?”;
• Coragem = Eis uma virtude apreciada por todos: “... a mais universalmente admirada.” “... a coragem supõe sempre uma forma de desinteresse, de altruísmo ou de generosidade. Ela não exclui, sem dúvida, uma certa insensibilidade ao medo, até mesmo um certo gosto por ele. Mas não os supõe necessariamente. Essa coragem não é a ausência do medo, é a capacidade de superá-lo, quando ele existe, por uma vontade mais forte e mais generosa.” “... sem a coragem não se poderia resistir ao pior em si ou em outrem.” “Foi o que Jankélévitch bem viu: a coragem não é um saber, mas uma decisão, não é uma opinião, mas um ato.” “Pode ser que seja preciso ter coragem para se suicidar, e sem dúvida sempre é preciso.” Discordo. Coragem não é fugir do problema, mas enfrentá-lo. “... é necessário ser corajoso, sobretudo, quando falta esperança; e o verdadeiro herói será aquele que for capaz de enfrentar não apenas o risco, que risco sempre há, mas, se preciso, a certeza da morte ou, mesmo, pode acontecer, da derrota final.” Curiosidade: andreia significa coragem em grego;
• Justiça = É fácil exigir justiça e ser justo? “Um comprador se apresenta você lhe mostra a casa. Deverá dizer-lhe que o vizinho é um bêbado que berra depois da meia noite? Que as paredes são úmidas no inverno? Que o madeiramento está comido pelo cupim? A lei pode ordenar essa informação ou ignorar o problema, conforme os casos; mas a justiça sempre manda fazê-lo.” “A justiça é a igualdade. Não entendo com isso uma quimera, que existirá, talvez algum dia” – Alain;
• Generosidade = “... que porcentagem de sua renda você consagrar a ajudar os mais pobres ou mais infelizes que você?” “Nós amamos o amor e não sabemos amar. A moral nasce desse amor e dessa impotência.” “O mundo é um teatro, a vida é uma comédia, em que, no entanto, nem todos os papéis se equivalem, e nem todos os atores.”;
• Compaixão = “Compaixão de Cristo por seus carrascos; de Buda pelos maus. Esses exemplos nos esmagam? Por sua elevação, sem dúvida, mas e assim que a percebemos. A compaixão é o contrário da crueldade, que se regozija com o sofrimento do outro, e do egoísmo, que não se preocupa com ele.” “Para que acumular tristeza sobre tristeza, infelicidade sobre infelicidade?” Para sermos humanos, de carne e osso. Para enxergar que somos seres limitados e mortais. Para agir com generosidade é necessário sermos tocados profundamente e essa profundidade é a compaixão, já que não somos capazes de amar como convém;
• Misericórdia = O retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde: “Os filhos começam por amar os pais; quando crescem, julgam-nos; às vezes, perdoam-nos.” “É por isso mesmo que precisamos tanto de misericórdia! Não porque o amor está presente, mas porque não está, porque só há ódio, porque só há cólera!”;
. Gratidão = “A gratidão é nisso o segredo da amizade, não pelo sentimento de uma dúvida, pois nada se deve aos amigos, mas por superabundância de alegria comum, de alegria recíproca, de alegria partilhada.”;
• Humildade = “A humildade é virtude lúcida, sempre insatisfeita consigo mesma, mas que o seria mais se não o fosse. É a virtude do homem que não sabe ser Deus.”;
• Simplicidade = “O simples é aquele que não simula que não presta atenção (em si, na sua imagem, na sua reputação), que não calcula que não tem artimanhas nem segredos, que não tem segundas intenções, programa, projeto...” Isso é ser simples ou sem objetivo na vida? Uma pessoa sem segredos e projetos?
• Tolerância = “Se devemos tolerar a Bíblia, por que não Mein Kampf?” Que comparação! “Tolerância não é passividade” Verdade! “Pode-se impedir um indivíduo de exprimir o que crê, mas não de pensa-lo.” Os pensamentos são ilimitados;
• Pureza = “Amar, amar de verdade, amar puramente não é tomar: amar é olhar, é regozijar-nos com o que não podemos possuir, é regozijar-nos com o que nos falta...” Tá em falta essa “pureza” no amor;
• Doçura = “A doçura é uma virtude feminina. É por isso, talvez, que ela agrada, sobretudo, nos homens.” A mulheres conseguem muito com essa doçura no falar e agir. Nada de pieguice, autenticidade! “Devemos então, por doçura, pregar a não-violência? ...Quem não lutaria para salvar uma criança? Quem não se envergonharia de não o fazer?... Isso quer dizer que a escolha não é de princípio, mas de circunstância.”
• Boa-fé = “É crença fiel, e fidelidade no que se crê. Pelo menos enquanto se crê que seja verdade.” “Trata-se de viver e de pensar, tanto quanto possível, em verdade, ainda que à custa da angústia, da desilusão ou da infelicidade. Fidelidade ao verdadeiro, antes de mais nada: mais vale uma verdadeira tristeza do que uma falsa alegria.” Poderia acrescentar que mais vale um sorriso verdadeiro que uma risada forçada;
• Humor = “Sim. Mas e se não houver nada a compreender? Resta rir – não contra (ironia), mas de, mas como, mas no (humor).” Como sorrir se não compreendeu? Rir é mais difícil que chorar;
• Amor = “É ao anoréxico que falta alguma coisa, não ao que come com apetite!” Porém o anoréxico não entende que lhe falta o alimento, já ao que tem prazer sim. O amor é uma mistura de faltas e excessos, percas e ganhos. Não se tem a possessão ou fundição na pessoa amada. Amor é liberdade não escravidão. Eu te amo porque escolhi compartilhar esse sentimento com você. Não é algo científico ou que se aplica a todos. Flui apenas. Um amor simplesmente pelo prazer é um amor mutável, finito e egoísta. “Estar apaixonado é ter falta, quase sempre, é querer possuir, é sofrer se não for amado, é temer não o ser mais, é esperar a felicidade unicamente do amor do outro, da presença do outro, da posse do outro.” Quantos confundem a paixão com o amor! O amor não acaba com o tempo, apenas amadurece. Falar que amor acabou é o mesmo que dizer que nunca existiu, que foi um engano, que houve arrependimento e desperdício na vida. “A paixão feliz: a primavera dos casais, sua juventude, essa alegria ávida dos namorados que se beijocam nos bancos das ruas, como dizia Bassens, e que são, comoventes, por essa mescla de entusiasmo e tolice... Mas como isso poderia durar?” Já li ou vi em algum lugar que a paixão dura, em média, 2 anos e meio. O amor não é baseado em agarramentos e indecências. O cara que faz isso nitidamente quer aproveitar. O pior é que a menina, não se toca, acha que seu entusiasmo é proporcional ao amor, se deixa levar, ser enganada, usada, mal falada e descartada. “Não fazemos filhos para possuí-los, para guardá-los: nós os fazemos para que partam, para que nos deixem, para que amem alhures e de outro modo, para que façam filhos que, por sua vez, os deixarão, para que tudo morra, para que tudo viva, para que tudo continue...” “Nenhum amor humano, sem dúvida, é totalmente desprovido de cobiça. Mas às vezes a cobiça reina sozinha..., e então o amor, mesmo intenso, está em seu nível mais baixo.”
“Primeiro amamos apenas a nós mesmos: o amante se lança sobre a amada como o recém-nascido sobre o peito, como o lobo sobre o cordeiro. Falta: concupiscência. A fome é um desejo, o desejo, uma fome. É o amor que toma, o amor que devora. Eros: egoísmo. Depois, aprendemos (na família, no casal) a amar um pouco o outro por ele mesmo também: alegria, amizade, benevolência. É passar do amor carnal, como diz são Bernardo, ao amor espiritual, do amor a si ao amor ao outro, do amor que toma ao amor que dá, da concupiscência à benevolência, da falta à alegria, da violência à doçura – de êros a phialia...”
“Cristo existiu mesmo?... Lendas demais, distâncias demais.” Não apenas existiu. Ele está vivo – ressuscitou. Quanto ao fato do autor achar que a Bíblia é “lendas” mostra seu desconhecimento em fatos comprovados historicamente e através de testemunhas oculares, que deram sua própria vida, pela propagação do evangelho.
“... o amor que não duplica o amor a si, mas que o compensa ou o dissolve, amor que não conforta o ego mas liberta dele, amor desinteressado, o amor gratuito, o puro amor... a amor que dá ( o que já era philia), mas que dá um pura perda, e não a seu amigo (dar a um amigo não é perder: é possuir de outro modo, é desfrutar de outro modo), mas ao estranho, mas ao desconhecido, mas ao inimigo....” O amor que somente Deus poderia mostrar, pois Ele é o Amor.
“O amor que Deus tem por nós, segundo o cristianismo, é ao contrário, perfeitamente desinteressado, perfeitamente gratuito e livre: Deus nada tem a ganhar com ele, já que é infinito e perfeito, mas ao contrário se sacrifica por nós, se limita por nós, se crucifica por nós e sem outra razão a não ser o amor, sem outra razão a não ser ele mesmo renunciando a ser tudo. De fato, Deus não nos ama em função do que somos, que justificaria esse amor, porque seríamos amáveis, bons, justos (Deus também ama os pecadores, foi inclusive por eles que deu seu filho), mas porque ele é amor, em todo caso esse amor, não necessita de justificação.” E o autor ainda é ateu! Não basta apenas a letra é necessário aceitar essa maravilhosa loucura!
“A agapé é um amor criador. O amor divino não se dirige ao que já é em si digno de amor; ao contrário, ele toma como objeto o que não tem nenhum valer em si e lhe dá um valor... O homem amado por Deus não tem nenhum valor em si; o que lhe dá um valor é o fato de Deus amá-lo.” - Nygren.