spoiler visualizarflaflozano 30/07/2018
The best part
À MEDIDA que o semestre de Nora progredia, desenvolvemos uma rotina.
Normalmente, eu acordava antes dela e participava de uma sessão de
treinamento com os meus homens. Quando voltava, ela estava acordada e
tomávamos café da manhã. Depois, eu ia para o escritório enquanto Nora
passeava com Rosa e ouvia às aulas on-line. Depois de algumas horas, eu
voltava para a casa e almoçávamos juntos. Em seguida, eu voltava para o
escritório e Nora se encontrava com Monsieur Bernard para as aulas de arte ou
juntava-se a mim, estudando em silêncio enquanto eu trabalhava ou participava
de reuniões. Apesar de ela parecer não prestar atenção naqueles momentos, eu
sabia que ela prestava, pois frequentemente me fazia perguntas sobre os
negócios durante o jantar.
Eu não me importava com a curiosidade dela, apesar de saber que ela
silenciosamente me condenava. A ideia de que eu fornecia armas para
criminosos e os métodos frequentemente brutais que usava para manter controle
sobre os negócios eram condenáveis para Nora. Ela não entendia que, se eu não
fizesse isso, alguém mais faria. E o mundo não seria necessariamente mais
seguro ou melhor. Chefes de drogas e ditadores conseguiriam as armas de uma
forma ou de outra. A única pergunta era quem lucraria com isso... e eu preferia
ser essa pessoa.
Eu sabia que Nora não concordava com aquele argumento, mas não
importava. Eu não precisava da aprovação dela... só precisava dela.
E eu a tinha. Ela ficava tanto comigo que comecei a esquecer como era não
a ter ao meu lado. Raramente ficávamos longe um do outro por mais do que
algumas horas e, quando isso acontecia, eu sentia tanta falta dela que era como
uma dor física no peito. Eu não sabia como conseguira deixá-la sozinha na ilha
por dias ou até mesmo semanas. Agora, eu não gostava nem de ver Nora sair
para uma corrida sem mim e fazia o possível para acompanhá-la quando ela
corria pela propriedade no fim da tarde.
Eu fazia isso porque queria a companhia da minha esposa, mas também
para garantir que estivesse segura. Apesar de meus inimigos não poderem roubála
de lá, havia cobras, aranhas e sapos venenosos na área. E, na floresta tropical
próxima, havia jaguares e outros predadores. A chance de que ela fosse picada
ou ferida gravemente por um animal selvagem era pequena, mas eu não queria
arriscar. Não conseguia aguentar a ideia de que ela se machucasse. Quando Nora
tivera apendicite, eu quase enlouquecera por causa do pânico... e isso fora antes
de meu vício por ela ter chegado àquele novo nível insano.
Meu medo de perdê-la começava a beirar o patológico. Eu reconhecia isso,
mas não sabia como controlá-lo. Era uma doença que não parecia ter cura. Eu
me preocupava com Nora de forma constante e obsessiva. Queria saber onde ela
estava a cada momento do dia. Ela raramente ficava longe das minhas vistas,
mas, quando isso acontecia, eu não conseguia me concentrar. Minha mente
conjurava acidentes fatais que poderiam ocorrer com ela, além de outros
cenários assustadores.
— Quero colocar dois guardas para seguir Nora — disse eu a Lucas uma
manhã. — Quero que a sigam sempre que andar pela propriedade para que
garantam que nada aconteça a ela.
— Está bem. — Lucas nem piscou ao ouvir meu pedido incomum. —
Falarei com Peter para liberar dois dos nossos melhores homens.
— Ótimo. E quero que eles me enviem um relatório a cada hora.
— Pode deixar.
Os relatórios dos guardas mantiveram meus medos controlados por algumas
semanas... até que recebi um e-mail que virou meu mundo de cabeça para baixo.