Caverna 26/05/2018
Emika Chen precisa arranjar dinheiro. Aos 18 anos e sozinha, já que o pai falecera há pouco tempo, deixando nas suas costas as dívidas que acumulara, Emika trabalha numa lanchonete, mas ainda assim o dinheiro não é suficiente nem mesmo para pagar o aluguel do apartamento pequeno em que está morando e dividindo com sua colega.
A fim de conseguir mais dinheiro, ela vai atrás de bandidos para capturá-los, o que lhe daria alguns créditos. Isso é possível somente por conta do Warcross, um jogo interativo de realidade virtual que conquistou toda a população. Pessoas de diversos países acessam o jogo, e através da tecnologia sofisticada, é possível utilizar os óculos do jogo na vida real, enxergando as coisas ao seu redor de uma forma diferente. Como a polícia está sobrecarregada, a proposta que levantaram foi que pessoas comuns seguissem os rastros de bandidos que andavam roubando dinheiro pelo jogo, e entregá-los à polícia, o que resultaria numa recompensa financeira.
Essas eram as duas formas de ganha-pão diário de Emika. Fora isso, ela era como as demais pessoas: viciada em Warcross, se conectando sempre que possível. Acontece que Emika também é uma ótima hacker, graças ao seu pai, e por conta disso, ela está numa fase bem abaixo do esperado, já que ela usa um escudo que permite com que ela esconda suas informações e se infiltre nas profundidades do jogo. Nisso, durante uma das partidas mais famosas do jogo, ela testa um hack para ver se conseguiria um Power-up raro, de forma que conseguiria depois vendê-lo por uma grana alta, e no fim não apenas o hack dá certo, como seus escudos são afetados e sua imagem aparece no meio do jogo ao qual milhões de pessoas estão assistindo.
Após a sua exposição, Emika entra em pânico. Uma das regras do jogo é que o personagem seja idêntico à pessoa real, o que significa que todos agora sabem sua identidade. Não demora para que Emika apareça nos jornais e nas redes sociais, e só o que se fala na mídia, é sobre a menina que conseguiu hackear o tão grandioso Warcross. Afinal, será que o jogo seria tão seguro assim? Não deveria ser impenetrável?
Mesmo assustada e temendo que a qualquer momento a polícia viesse prendê-la, Emika decide que precisa seguir em frente e voltar a trabalhar, já que as contas não se pagariam sozinhas, e ela estava prestes a ser despejada. No entanto, pra surpresa de Emi, o que se sucede é justamente o contrário: Hideo Tanaka, o jovem criador de Warcross, entra em contato com Emi e pede para que ela se encontre com ele, pois ele possui uma oferta de emprego pra ela. Além disso, suas contas foram todas pagas, e um valor extraordinário surge em sua conta bancária. Atordoada, Emika aceita, mesmo desconfiando de estarem pregando uma peça nela. Seus receios são afastados quando o próprio avião do senhor Tanaka a leva para Tókio e quando, enfim, se vê cara a cara com Hideo, o homem mais famoso do planeta, em quem ela já pensou tanto, sério e completamente profissional.
Hideo anuncia então que precisa da ajuda de Emika. Alguém está ameaçando Warcross, e Emika com sua grande capacidade hacker precisará encontrar o jogador que tem intenções de destruir o jogo. Pra isso, ela seria introduzida em uma das equipes do jogo, e participaria direto das partidas. Agora seria mais do que uma espectadora, seria uma jogadora e espiã. Será que Emika aceitaria a proposta? E esse tal jogador, o quão perigoso poderia ser?
Duas coisas haviam me despertado a curiosidade com Warcross: O tema, já que adoro histórias que retratam realidades alternativas a partir de jogos, e a autora, já que vi muitas resenhas elogiando sua escrita em outras obras. Posso dizer à vocês que minhas expectativas foram totalmente alcançadas! Warcross é espetacular.
De início, eu não sabia muito bem o que esperar da obra. Aos poucos, as peças vão se encaixando, e passamos a conhecer melhor os personagens e seus objetivos. Marie Lu possui uma escrita fluida e de certa forma jovem, o que faz com que a história não fique pesada ou sobrecarregada. Embora tenham descrições e muitas informações acerca do jogo e de seu funcionamento, é algo de fácil compreensão, e logo nos vemos no meio do jogo e das missões de Emika.
A história é sustentada pelas partidas dos jogos, pelo desenvolvimento da relação de Emika com os demais jogadores da equipe, e também com Hideo e sua investigação pelo misterioso jogador. Temos até um leve romance, a parte que muitos chamariam de clichê, mas não reclamo, já que sou a louca dos romances, então isso pra mim serviu só de gás pra seguir o livro com mais afinco. Acima de tudo, percebemos que a obra traz pontos relevantes que aplicamos diariamente em nossas vidas, como por exemplo em quem confiar, e como a tecnologia nos influencia. Será que somos indiretamente manipulados por ela? Será que abriríamos mão do próprio livre arbítrio, só para continuar tendo a internet e, no caso deles, a realidade virtual em mãos?
Quando a história se encaminha pro fim, temos uma reviravolta inesperada e muitas surpresas que dão gancho pro segundo volume da série. O evento final é do tipo que dá um nó no nosso cérebro e nos deixa dividido sobre gostar da tática da autora, ou querer que não fosse verdade, que ela desse outra explicação.
De qualquer forma, Warcross é um livro repleto de ação, tecnologia e mistérios que faz com que você desconfie de todos os personagens e ao mesmo tempo torça por eles. Mal vejo a hora de ler a continuação!
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