A PEQUENA VOZ INTERIOR & OUTROS COMÍCIOS DO VENTO

A PEQUENA VOZ INTERIOR & OUTROS COMÍCIOS DO VENTO Luís Augusto Cassas




Resenhas - A PEQUENA VOZ INTERIOR & OUTROS COMÍCIOS DO VENTO


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Taitsuki 13/06/2022

Não tenho muito o que falar sobre esse livro, é um livro de poesias que estão dívidas por temas, não tenho o costume de ler poesia então muitas das poesias do livro eu não consegui compreender.
É um livro que eu li apenas por curiosidade e só terminei por ter começado.
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Krishnamurti 26/03/2018

A voz interior de toda uma vida
Em “A pequena voz interior & outros comícios do vento” – poesias (Editora Penalux), do poeta maranhense radicado em São Paulo, Luís Augusto Cassas o leitor encontrará uma pérola de pura poesia. Com orelhas escritas por Frei Betto e Bel César, Prefácio redigido por Contador Borges a obra é dividida em seis livros. I – As horas, II – As epifanias do humano, III – A pequena voz interior, IV – As cintilações do mundo, Livro V – Os pavilhões azuis e finalmente o sexto livro. A respiração da noite.
Embora o autor tenha uma visão poética que abarca uma temática variada que vai do amor à paixão, do mitológico à crua realidade cotidiana, da cidade ao prosaico das ruas, da crítica da sociedade de consumo à delicia da simplicidade, não há por onde escapar. A espiritualidade latente aflora arrebatadora. Que bom! Aleluia! Ainda há poetas verdadeiros, ou melhor, os há ainda cada vez mais lúcidos. Em frente para vermos porque, não sem antes referirmos fato importante que deve ser lembrado para aqueles que apreciam a poesia e querem encontrar sólidos referenciais desse autor na poesia brasileira contemporânea. Cassas conseguiu notável feito infelizmente alcançado por pouquíssimos poetas em vida. Reunir toda sua obra, anterior a esse “A pequena voz interior...”, em belíssima edição da Editora Imago, sob o título de “A poesia sou eu” (2012). Alentada edição em dois volumes e quase 1.400 páginas a reunir 16 de seus livros publicados durante mais de trinta anos, além de quatro inéditos. Voltemos ao “A pequena voz interior & outros comícios do vento”.
Todo espírito ou alma (como queira a eterna dissensão infantil), possui não somente uma centelha da inteligência divina; desfruta de uma parcela do poder criador, poder que ele é chamado (e se tem ouvidos ouve), a manifestar mais e mais no decorrer de sua evolução. Viver é sempre subir, sempre crescer, sempre acrescentar em si o sentimento e a noção do belo e quanto mais a inteligência se apura, se aperfeiçoa e se eleva, mais se impregna da ideia do belo porque se abre às concepções vastas e profundas. E o poeta de elevado grau de maturidade traduz o símbolo de sua elevação através de sua própria poética quando afirma que as poesias são:
“portadoras das mensagens dos deuses / transmitem o recado das estrelas: / ‘nada está concluído’ ‘a vida é mais alta e mais além” – Poema “Arte da Poesia”.
A arte, sob forma de inspiração, faz parte desse todo maravilhoso que compõe o Universo. É o relâmpago, ou antes, é a centelha que estabelece a relação entre Deus e suas criaturas. Nesse poeta às vezes somos tomados de um espanto. Parece que a inspiração em certos poemas lhe vem como que irrupção súbita, uma invasão cerebral, um sopro que passa sobre sua fronte e o agita fortemente.

“Algo muito grande”
“Algo muito grande / está se aproximando
vem que vem vindo / sol em chamas
a toda velocidade / com a força da gravidade
ameaçando explodir meu / mundo e suas janelas
algo muito grande / vai acontecer
sabem-no os ventos / as rosas amarelas
Outras vezes escutamos a voz interior, tão nítida, tão clara que parece vir de fora para nos falar de coisas graves e profundas, senão leia-se no poema “O irmão” os versos:

“a vida foi uma droga / companheiro em queda / de elevado netuno / o álcool o batizou / a maconha o incensou / a droga o consagrou / a vida foi uma droga”.
Em outros poemas investiga a fundo “A condição humana”

“agora viajo em círculos / buscando o infinito / e quando encontro comigo / sou apenas o exílio / de um planeta escondido”.

“Café da livraria cultura (Conjunto Nacional São Paulo)”, traduz perfeitamente a quantas o poder financeiro virou exclusiva moeda de vida e no que vamos nos transformando. Trecho:

“aqui / executivos c/ serpentes / enroladas nos pescoços / corretores viciados em língua virtual / extraviados do câmbio / gigolôs do dióxido de carbono / desocupados & lúdicos / confabulam negócios c/ cláusulas / de letrinhas miúdas (entre goles de café a 40 graus Celsius & pães de queijo assados nos fornos crematórios da civilização)”. Mas então pergunta-se o bardo: Por que e,

“Pra que poetas em tempo / de esgotamento de utopias? / Sugerir peregrinações de sentido / regar o jardim interno do verbo / suscitar a beleza do simples / acender sutilezas ante as máquinas / soprar o cisco do olho da vida / recuperar o brilho da magia?” – Poema “Holderliana”. Em “A grande maçã” a eterna dúvida:

“o todo / apenas / um sonho de Deus / captado / nos laboratórios / quânticos / da grande arte?
A parte / esboços / de plenitude / partículas / interativas / sonhando / fusões/uniões / catarses?”... e mais adiante... “mas/ existe o todo? / mas existe a parte”?

No livro III do volume, sob o título de– A pequena voz interior , há uma espécie de prefácio assinado pelo autor em que narra brevemente a enfermidade que o acometeu e, procurando mais adiante, encontramos em forma de poesia, como ele a recebeu e o que dela fez afinal. Que exemplo de vida nos dá!. Vejamos um trecho do Prefácio: “A voz interior, a imperceptível voz que vem de dentro, sonhada, guardada, pronunciando-se, ofertada. Para ouvi-la, há de se ajustar os ouvidos internos, silenciar a legião de vozes que nos coabitam, perceber o claro-escuro das vibrações, permanecer em recolhimento à escuta.
De onde vem, de dentro? Mas de que dentro? Do centro, mas de que centro? Seu acontecimento, pura revelação do espírito? Como reconhecê-la em sua essência auspiciosa, infinita, finita?
Manifestou-se, após delicada cirurgia oncológica na região do pescoço e garganta que, em nome da necessidade da vida, extirpou a malignidade de glândulas, invadiu a traquéia, decretou vazios cervicais, diminuiu espaços, alterou funções, desarticulou escápulas, acentuou distorções da coluna e me fez perder a voz durante oito meses, a capacidade de pensar poeticamente por mais de um ano – além da necessidade de múltipla ação médico-terapêutica”.
O poema “4” é simplesmente maravilhoso, pleno de percepção que é, porque nos mostra o que Cassas fez de sua dor.

“então / a despeito da voz / e o seu exílio / disse-me o anjo:
‘a palavra / permanecerá / parada no ar / aquecidos / os reatores / até que todos / a vejam /girar / as hélices / rumo / ao eterno’
e concluiu / o enviado:
‘a beleza / se aperfeiçoará / na tua fraqueza / cultiva a brasa / na concha / das mãos / sopra a luz / e afugentarás / a escuridão!”

Foi exatamente o que Cassas fez, e muito bem feito. Trecho do poema “O pássaro entubado”.

“mas a força do espírito / e a arquitetura das asas / dilatam a gaiola do peito / e libertam o sopro amordaçado / fazendo o pensamento circular / desenhando estrelas no ar
ainda que asas e canto / feridos estejam às duras penas / e pequena voz silenciosa / ergue aos homens a sua tenda / e o poema se faz homem / e o homem torna-ser poema”.

É assim que o poeta sublima seu sofrimento e reinaugura “novos tempos no sopro das epifanias” para nos alertar mais uma vez.

“somos todos sonhadores / salvamos o mundo / a beleza a natureza / o futuro das nações / mas não salvamos / sequer a nós mesmos”. Poema “O amor tem um bilhão de anos!:

No poema “O Irmão”, já citado, há uma estrofe que sintetiza de maneira cabal o futuro que nos está reservado, e que virá, doa a quem doer, literalmente.

“das rachaduras do humano / emergiu figura luminosa / e tocou-lhe o coração / então deu um salto quântico / à estação do espírito”

E afinal reproduzimos mais um poema que sintomaticamente é o primeiro do livro, com o sugestivo título de 21. O numeral 21 traz em si uma simbologia que reflete justamente a intenção deste livro. O de trazer “Novos Mundos”, atrair vibrações positivas para nossas vidas.

Poema “21”
“razão vibra / e ruge / a espada mercurial / mas não esquece / a fé / irmã siamesa / acusada de perjuro / e lesa-majestade / em cuja balança / pesa o coração / dos simples.

Ai está a voz interior de um homem, um poeta na mais profunda expressão da palavra. Porque ser poeta é profissão de fé. Em entrevista que deu, Cassas afirmou: “A poesia foi minha vida e minha vida se tornou poesia. Aceitei a minha cota de humanidade e me tornei um inventor de horizontes, pelo menos para mim”.
Com efeito. Cassas é poeta daqueles essenciais. Em que pese o oceano das vibrações comuns da vida, que são densas, sufocantes e cegas ele atua como antena lançada no céu dos antecipadores da evolução. Seu grande mérito literário a nosso ver, para além de um belo e simples estilo, consiste em provocar o pensamento, as reflexões do leitor, em lhe criar uma atmosfera mental que contribua para desenvolver, para enriquecer suas faculdades, suas forças morais. Embora, muito embora, estejamos cercados de dor e sofrimento, há um ciclo que se prepara e que virá – debaixo de dor que parece ser a nossa opção, pois fazemos tudo, tudo, menos congregar paz e harmonia. No dia em que positivamente descobrirmos pelas vias da intuição e da inspiração, as fontes das correntes que animam o Universo, o ideal divino estará pronto para reflorir sobre a Terra e aí sim, a evolução humana terá dado um grande passo.

Livro: A pequena voz interior & outros comícios do vento – Poesias, de Luís Augusto Cassas. Editora Penalux, Guaratinguetá-SP, 2017, 160p.
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