livrosepixels 12/12/2023A herança de quem mesmo?A Herança dos Fantasmas era um dos lançamentos mais aguardados por mim, mas ao longo da leitura senti que poderia ter tido menos expectativas sobre o conteúdo.
A trama acompanha Aster, uma garota negra órfã, escravizada e autista. É aprendiz de médico da nave, e seu único amigo fora de sua situação de pobreza e servidão é o Cirurgião, que é das classes mais altas da nave. Por conta de seu autismo, costuma viver mais reclusa, fechada e de poucos amigos. Além dela, também fazem parte da narrativa outras mulheres, como Tia Melusine, Gisele e Pipi.
O livro segue a trilha de um possível segredo escondido na Matilda, a nave onde estão, e que a sua mãe - Lune - pode ter descoberto e por isso se su1cid0u (se isso também for mesmo verdade). Então a protagonista aos poucos vai encontrando pistas deixadas por sua mãe, enquanto busca pela verdade sofre torturas, perseguições e conflitos emocionais.
A trama de Rivers Solomon trás várias críticas sociais, como segregação racial, escravidão, religião como arma de manipulação, etc. E também busca dar mais representatividade a personagens não-binários, não héteros, não brancos, etc. Mas.. é nessas questões que Rivers esqueceu os detalhes principais: contexto, lógica e coerência.
Contexto: por qual motivo eles estão em uma nave buscando um novo lar? Não se sabe, só é dito que perderam a Terra. Por qual motivo quem comanda a nave a dividiu em níveis, indo dos mais ricos (topo) para os mais pobres (embaixo)? Não se sabe. Por qual motivo só essa nave que restou? Vai saber...
Enfim, há muitas coisas que não dão contexto suficiente para sustentar a história. Nem mesmo a representatividade aqui é eficiente, já que a personagem que faria isso, é uma criança que aparece logo no começo da trama e depois, desaparece por completo (só volta a aparecer perto do final)
Vários autores souberam expor críticas sociais e raciais de forma mais coerente, como Octavia Butler em seus livros Kindred e A Parábola do Semeador e Samuel Delany com seus Estrela Imperial, Babel-17 e Nova. Outros autores também souberam tratar a questão de gênero melhor, como Órbita de Inverno, de Everina Maxwell.
E o final... só posso dizer que é péssimo, anti climático e descarta toda a jornada da personagem. Uma pena, pois o final ainda poderia salvar a narrativa de alguma certa forma, mas do jeito que é feito, joga fora todas as boas ideias deixadas ao longo das mais de 300 páginas e termina com aquele gosto amargo de "terminou de qualquer jeito".
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