spoiler visualizarAndréia 18/08/2024
Passei a minha vida toda ouvindo falar em Graciliano Ramos, e agora eu entendo o porquê. Ele é simplesmente um autor maravilhoso, cuja maestria na escrita e profundidade na construção de personagens são verdadeiramente impressionantes. Já comecei lendo "Vidas Secas", me emocionando e ficando admirada com a ambientação da caatinga, que ele descreve com uma precisão e sensibilidade única. Os personagens são incríveis e marcantes. Fabiano, com seu jeito de "cabra" que para muitos seria um sujeito ignorante, na visão de Graciliano se torna o juazeiro oprimido pela vida. Ele foi ensinado a ser um homem que é criador de fazendas, e a sociedade mostra que ele e os seus descendentes e antecedentes nasceram e vão morrer assim, presos a um ciclo de opressão e sobrevivência.
Sinhá Vitória, cuja única coisa que deseja é uma cama melhor (uma vida melhor), representa a esperança e o desejo de mudança, mesmo em um ambiente tão hostil. Os filhos, o mais velho e o mais novo, que apesar de parecerem irrelevantes na história, se tornam a chave principal dela com suas personalidades distintas e fascinantes. O mais velho, com seu jeito curioso, em um certo momento do livro fica intrigado com a palavra "inferno", mas é trazido de volta à realidade pelo seu pai: "Bota o pé aqui." Essa cena mostra a constante tensão entre a curiosidade infantil e a dura realidade do sertão. O mais novo, com seu jeito aventureiro, quer ser igual ao pai e desbravar o sertão e sua fauna, demonstrando a admiração e o desejo de seguir os passos do patriarca.
E a maravilhosa Baleia, que apesar dos cascudos que levava, demonstrava uma lealdade inabalável aos juazeiros, principalmente aos filhos mais velho e mais novo. Até nos seus últimos momentos, ela delirou não só com as tarefas que realizava para os donos, mas também com os próprios donos, mostrando um amor incondicional e uma dedicação que comove o leitor. Posso até ter ficado um pouco indignada com a morte da Baleia, mas entendo que era necessária, não só para o alívio do seu sofrimento, mas pela saúde dos filhos e de Sinhá Vitória, e até mesmo para o crescimento pessoal de Fabiano, que precisou lidar com essa perda de forma impactante.
Enfim, o livro tem uma leitura gratificante que te envolve na história dos juazeiros até o fim, fazendo o leitor refletir sobre a condição humana, a luta pela sobrevivência e a busca por uma vida melhor em meio a tantas adversidades. Graciliano Ramos, com sua prosa rica e envolvente, nos entrega uma obra-prima que irá permanecer na memória por muito tempo.