Laura Brand 07/06/2018
Nostalgia Cinza
Já faz algum tempo que venho me aventurando por diferentes gêneros literários e cada livro que ganha um espaço na minha estante é uma conquista em busca de mais conhecimento. Logo, logo é um dos lançamentos mais recentes da Intrínseca e me chamou a atenção de cara. É um livro que trata a ciência e a tecnologia de uma maneira acessível, didática e divertida, mesmo para aqueles que não têm o hábito de consumir esse tipo de leitura.
Logo, logo aborda dez tecnologias ou invenções que você provavelmente já ouviu falar ou já pensou a respeito, mas que ainda não foram concretizadas com excelência. Algumas já são de conhecimento público como viagens espaciais, outras aparecem como uma novidade, é o exemplo da bioimpressão.
Além da pesquisa por parte dos próprios autores, principalmente da Dra. Kelly Weinersmith, pesquisadora, o livro é baseado em entrevistas com especialistas nas áreas abordadas em cada capítulo, sejam eles cientistas, médicos, engenheiros ou pesquisadores. A variedade de fontes e pensamentos ajuda a enriquecer ainda mais o conteúdo do livro e não é difícil entender porque ele foi considerado um dos melhores livros de 2017 pelo The Wall Street Journal.
O livro é todo ilustrado com charges irônicas e bem humoradas, tendo os próprios autores como protagonistas de diversos desenhos. Foi um ótimo recurso usar charges para quebrar a leitura ao longo do livro. Praticamente a cada duas páginas temos uma ou duas charges relacionadas ao assunto abordado nos parágrafos anteriores. É ótimo porque, apesar da linguagem didática, os temas tratados são complexos e exigem certo grau de atenção para que o leitor (especialmente aquele que não está habituado a ler matérias científicas) consiga realmente compreender e absorver as informações passadas. Ao colocar charges sempre bem cômicas é mais fácil não cansar da leitura e visualizar as piadas presentes ao longo de todo o texto. Como os traços também não são tão elaborados e cheios de detalhes, o leitor pode realmente descansar os olhos nas ilustrações e se divertir com os diálogos, que são o foco das charges de Zach Weinersmith.
A linguagem cômica é o ponto mais alto do livro. Kelly Weinersmith e Zach Weinersmith tem uma escrita bem-humorada que cativa e torna acessíveis assuntos que parecem intocáveis ao leitor comum. Além do cuidado com o próprio texto, as notas de rodapé são um atrativo à parte e reunem comentários hilários que foram poupados ao conteúdo principal. As notas de rodapé são como parênteses engraçados que não apenas ajudam a contextualizar determinados nomes ou assuntos, mas também ajudam a criar uma aproximação preciosa com o leitor, o que faz com que Logo, logo se destaque em meio a outros livros do gênero.
É possível perceber o cuidado com a edição do livro. Além das ilustrações distribuídas ao longo de todo o livro, a impressão foi feita em papel couché fosco e em folhas brancas, o que combinou bastante com o conteúdo do texto.
Por ser um livro de tamanho razoável que trata de apenas dez invenções e tecnologias futurísticas, cada capítulo é extenso para conseguir abordar todos os temas propostos de forma profunda. Cada capítulo é composto dos subtítulos "em que pé estamos agora?", "como isso mudaria o mundo", "nota bene" etc, o que dá margem para explicações acerca dos temas e reflexões sobre seu uso, o que envolve implicações éticas e morais.
Ao longo da leitura tive a impressão de que estava lendo uma coletânea de reportagens de revistas como a Superinteressante e a Mundo Estranho devido à linguagem próxima do leitor e termos exemplificados para facilitar a compreensão mesmo quando se trata de assuntos como bioimpressão. Apesar de ser uma leitora assídua de ambos oa veículos, em Logo, logo senti certo desconforto por causa do nível de detalhamento das informações, mas acredito que esse seja um aspecto extremamente positivo para quem gosta de mergulhar nessas temáticas científicas e tecnológicas.
Não é um daqueles livros para ler apenas para relaxar, também não é uma daquelas leituras que nos prendem de tal forma que não conseguimos fazer nada além de passar as páginas curiosos para saber o que guarda o livro. Os autores conseguiram compactar conteúdos densos e bem técnicos de uma forma simples e extremamente didática com uma linguagem prazerosa. A tradução conseguiu manter o tom coloquial mesmo com gírias ou referências norte-americanas. Entretanto, é uma leitura que demanda tempo, certo esforço para se concentrar e assimilar as informações da melhor forma possível. Por causa disso a leitura não é a mais intuitiva, o que diminui um pouco a velocidade de leitura.
Ao final do livro os autores ainda complementam o conteúdo do livro com algumas tecnologias que foram foco de suas pesquisas, mas que, por diversos motivos, não resistiram ao corte final. Mesmo não estando entre as dez selecionadas, essas inovações ganham espaço ao final do livro. Mesmo que em menções mais breves, ainda são invenções interessantes e que valem a leitura.
Logo, logo é um livro diferente do que estamos acostumados a ver, que trata a ciência e a tecnologia de uma maneira acessível, didática e divertida. Apesar de não ser uma leitura tão empolgante e capaz de nos prender o tempo todo, é um livro interessante e valioso que merece ser revisitado no futuro.
site: http://nostalgiacinza.blogspot.com/2018/06/resenha-logo-logo.html