bobbie 19/05/2020
Bem-intencionado.
Este livro é muito bem intencionado. Esforçado. Foi escrito por um homem heterossexual, cis, casado, pai de família, e até bem conhecido da mídia: filho da atriz Lucélia Santos, chegou a atuar em produções globais. Sabia que há alguns anos vinha publicando livros, mas nunca me interessei, até encontrar este aqui gentilmente cedido gratuitamente na Amazon (imagino que num gesto para ajudar as pessoas a ficarem em casa durante a pandemia). O livro é correto. Bem escrito, nada excepcional. História simples, apesar de trama complicada. Um jovem advogado reencontra o melhor amigo de escola mais de 20 anos depois da última mais que se viram. Agora, o amigo é uma mulher. Então o protagonista embarca em uma teia de redescoberta, tanto de si mesmo, como do "mundo", um "mundo paralelo" que ele achava que existia apenas no imaginário coletivo (palavras minhas), mas que, da noite para o dia, percebe existir, de fato. Helena (a ex-amigo) ajuda Beto (o protagonista) a redefinir conceitos e a enxergar o Outro de maneira respeitosa. Neschling fez seu dever de casa muito bem feito (posso dizer isso; para quem não sabe, sou Doutor - com doutorado mesmo - em estudos de gênero e sexualidade): estudou direitinho, conversou com as pessoas certas, e fez um trabalho correto. O livro só fica aquém em seu desenvolvimento. Seu mundinho não convence e o final é extremamente anticlimático. O leitor espera, espera, espera e... o livro acaba. Outro ponto que me incomodou (não muito) é a impressão de que o livro foi escrito para reproduzir letras de músicas queridas do autor. Não me levem a mal: o trabalho é louvável e, como disse, bem escrito. Serve mais como uma "bula" para jovens que estão se esforçando para aprender sobre respeito ao próximo. Se você é transgênero, transexual, gay, lésbica, bissexual ou apenas se interessa pelo assunto, além de ter uma boa dose de conhecimento sobre ele, como eu, o livro deixa a desejar.