As luas de Júpiter

As luas de Júpiter Alice Munro




Resenhas - As Luas De Júpiter


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Alberto 12/02/2022

Contos autobiográficos escrito por uma perita na descrição de sentimentos e relacionamentos.
Alice Munro é uma das minhas favoritas. Esse é um dos seus livros mais antigos, e tem um tom bastante autobiográfico. São 12 contos, e como é costume da autora as protagonistas são sempre mulheres. Os dramas e conflitos que elas vivem são em geral familiares e pessoais, a autora gosta de enfatizar as dores e dificuldades do convívio entre parceiros amorosos, pais e filhos, irmãos, amigos de longa data. Talvez por ser livro do começo da carreira, e mais autobiográfico, aqui há também ênfase na luta dos mais antigos contra o meio e a pobreza, e os resultados e marcas dessa luta nas gerações mais novas, e nos laços entre velhos e jovens. É no estudo de sentimentos que Munro é perita, e seu olhar é muito arguto, muito sensível. Interessante como a "voz" da autora muda conforme a situação: quando narra sua adolescência os pontos de vista, imagens e sensações da narradora são bem distintos dos que aparecem quando narra as histórias da vida adulta, da meia-idade. Não é um livro otimista, os personagens de Munro sofrem, principalmente porque não conseguem se comunicar com os outros e nem consigo mesmos. É uma permanente fadiga em busca de contato, de proximidade, de entendimento. E o melhor é que a voz de Munro é sempre contida, sóbria, cabe ao leitor perceber as tristezas e frustrações apenas insinuadas. Livro especial, para reler muito.
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Gustavo Pio 14/01/2021

Uma lupa nos sentimentos humanos
Fiquei fascinado com a habilidade da autora em traçar perfis psicológicos complexos em apenas poucas páginas.

Trata-se de um livro de contos que retrata situações cotidianas da vida dos personagens, sem grandes reviravoltas ou acontecimentos. O valor aqui está justamente nas sutilezas e na descrição das pequenas coisas que, apesar disso, são bastante significativas. O livro revela com maestria os sentimentos humanos que muitas vezes não transparecem na superfície.
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Lara2076 17/04/2020

"Há um limite para a quantidade de sofrimento e caos que você aguenta, por amor, assim como há um limite para a quantidade de bagunça que dá para aguentar numa casa. É impossível saber o limite de antemão, mas a gente sabe quando chegou lá. Acredite nisso."
(As Luas de Júpiter - Alice Munro)
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Higor 22/09/2019

Sobre sentimentos femininos, e como homens e mulheres reagem a eles
Eu queria que Alice Munro fosse minha avó, porque é sempre bom ‘ouvir’ suas histórias. Dona de uma carreira sólida - e encerrada - no gênero conto, suas histórias mexem com o leitor, confrontando-o sobre o comportamento humano. Os contos são, aparentemente, tão comuns e banais, que parece não se tratar de cidades pacatas do Canadá, mas que podem acontecer em nossa cidade, bairro, ou até mesmo nossa casa. Mas junto a isso, temos a complexidade do convívio social, das relações humanas, e do que somos e poderíamos ser com nossas escolhas.

‘As luas de Júpiter’, de 1982, não fugindo de todas as outras coletâneas, explora o sentimento feminino, assim como suas personalidades, de mulheres aparentemente frágeis e cegamente submissas, mas que detém, na verdade, vozes fortes, lúcidas, corajosas.

‘Chaddeley e Fleming I: A ligação’ - Fascinada com as presenças vibrantes de suas tias "titias" maternas, velhas, gordas e solteiras, a sobrinha, tempos depois, longe da cidade pacata e já casada com um homem da cidade, se vê confrontada com o passado: uma das tias decide visitá-la, quando ela já achara que o passado estava esquecido.

‘Chaddeley e Fleming II: A pedra no campo’ – Já puxando para o lado paterno, a mesma sobrinha decide visitar a antiga fazenda onde o pai cresceu, onde suas irmãs solteironas viveram parte da vida.

‘Dulse’ – Intrigante de início, fala sobre Lydia, que diz que deixou de ser uma mulher e se tornou outra. Deixa a correria da cidade grande e decide viver em uma cidade pequena, pacata; essa é apenas uma das mudanças em sua vida. É então que descobre que a vencedora do Pulitzer de Ficção Willa Cather esteve naquela cidade em um período de sua vida, escrevendo especificamente um livro. Trata de maneira inteligente sobre a persuasão masculina diante de pensamentos, ações e opiniões femininas.

‘A temporada de Peru’ – Lembrando de um emprego aos14 anos, a protagonista fala sobre como era machista e arcaico os pensamentos da época, em que mulheres não podiam trabalhar fora de casa, sob a chance de ser falada na vizinhança. Sob esse prisma e o de fofocas de colegas de trabalho, Munro aborda o comportamento conservador e antiquado de um pequeno vilarejo.

‘Acidente’ - O caso extraconjugal entre Frances com seu colega de trabalho, Ted, sai dos trilhos com a morte do filho. O relacionamento, aparentemente secreto, na verdade é de conhecimento de toda a cidade, e o casal logo se questiona se tal acidente fora castigo divino ou acaso.

‘Bardon Bus’ – Com uma incomum tensão sexual, já que não é típico de Munro abordar o sexo de maneira explicita, temos uma escritora trabalhando na história de uma família rica, o que faz com que tenha de passar um tempo na Austrália, onde conhece o que ela chama de X. Um grande conto que faz o leitor refletir sobre mulheres e atrações puramente sexuais.

‘Prue’ – Talvez o conto mais curto de Munro, Prue é angustiante quando pensamentos que nós, assim, como Prue, somos usados como um tapa-buracos em momentos de solidão.

‘Jantar no Labor Day’ – Um jantar confuso mostra que Roberta e George vivem um relacionamento tenso, em que até o corpo dela é alvo de críticas; todos ao redor percebem que o caos está imperando, embora não saibam exatamente do que trata. Com um final chocante, o conto vai ficar no limiar entre o bom e o desagradável.

‘A Sra. Cross e a Sra. Kidd’ – Adoro os contos de Munro sobre velhice, e este aqui, embora apele mais para a tragicomédia que para o drama, que eu li e adorei, consegue ser uma boa história sobre o valor da amizade entre duas mulheres.

‘Histórias de azar no amor’ – Embora eu estivesse inexplicavelmente ansioso por esse conto, ele se mostrou uma decepção. Talvez seja o plot sem um motivo aparente, ou a justificativa um pouco difícil de falar sobre o quanto mentimos, enganamos ou nos camuflamos para ser amados.

‘Visitas’ – Wilfred e Mildred são um casal de aposentados bem comuns; com o pouco que recebem conseguem viver bem e feliz. Porém, essa felicidade é destruída com a presença do cunhado de Mildred. Ela, filha única, não consegue lidar com esses sentimentos de Wilfred com o irmão, e passa a compará-los, com suas diferenças bruscas. Aborda de maneira intensa os laços familiares.

‘As luas de Júpiter’ – O menos empolgante dos contos, fala sobre Jane, uma escritora que está acompanhando seu pai doente, que não quer fazer uma cirurgia que pode dar a ele três meses a mais de vida; paralelo a isso se preocupa com uma de suas filhas, que mão quer manter contato com a mãe. Embora aborde decisões que tomamos e que podem mudar o tempo, a história se perde com a inserção da metáfora.

Com altos e baixos, está com certeza não é a coletânea a ser indicada ou lembrada quando se pensar em sua vasta obra, mas ainda assim são bons contos que abordam o feminino além de seus paradigmas tradicionais. Munro sempre vai além, entrando nos subterfúgios do ser humano.

Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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