Os Loucos da Rua Mazur

Os Loucos da Rua Mazur João Pinto Coelho




Resenhas - Os Loucos da Rua Mazur


6 encontrados | exibindo 1 a 6


Fabiana 01/08/2023

Outro olhar sobre a Guerra
Não é uma leitura fácil, tanto pela crueza da história, quanto pelo vocabulário (português de Portugal) e quantidade de personagens. Confesso que ter lido no Kindle ajudou muito: eu consultava as palavras que não entendia e pesquisava o nome de um personagem para lembrar o arco dele. Mas vale MUITO a pena!

O livro tem a vantagem de narrar uma história sobre a 2ª GM sem focar nos alemães. Aqui o foco é no impacto da guerra sobre uma aldeia polonesa, onde viviam cristãos e judeus de forma amistosa, mas talvez não amigável. Inveja, vingança, disputa por poder nas lideranças das duas comunidades vão fazendo aflorar o medo, a desconfiança e a loucura entre vizinhos.
Invadida inicialmente por alemães e depois pelos russos, a sobrevivência física não significava a sobrevivência emocional e os impactos disso são mostrados ao leitor através de três amigos, sobreviventes da barbárie.
Os capítulos se alternam entre a Polônia da Guerra e a Paris de 2001.

A história é ficcional, mas inspirada, conforme o próprio autor, no massacre de Jedwabne, cidadezinha no nordeste polonês, que em 1941 varreu a existência judaica de seu território.
comentários(0)comente



Pablo Paz 17/04/2022

As loucas pessoas de bem
Esse é o segundo romance do autor, que ganhou o Premio Leya 2018. O primeiro livro - "Perguntem a Sarah Gross" - foi finalista do mesmo prêmio em 2016. Ambos tratam do mesmo tema, o antissemitismo europeu e a violência coletiva (pogroms) sofrida pelos judeus na época da II Guerra Mundial, e seguem uma estrutura: personagens contemporâneos marcados por experiências daquela época, quando eram jovens, onde cada capítulo se alterna entre hoje e ontem, numa espécie de flashback. Os loucos a que se refere o título trata-se de moradores de uma rua chamada Mazur - duma cidade nordestina da Polônia, na qual as 'pessoas de bem', cristãos em sua maioria, cercadas por nazistas ao sul e comunistas ao norte, culpam os judeus por suas desmazelas e os incendeiam sem dó nem piedade (pogroms). O triste é saber que, embora seja obra de ficção, é tudo baseado em fatos reais. Livro pesado, mas cuja leitura é enriquecedora.
Ana Sá 18/04/2022minha estante
Estava sentindo falta das suas resenhas, Pablo!@




Camila Faria 19/08/2019

Eryk é um escritor famoso, mas está doente e precisa da memória do seu amigo de infância Yankel, um livreiro judeu, idoso e cego, para escrever o seu último livro. Os dois não se viam desde um terrível incidente na Segunda Guerra, durante a ocupação alemã na pequena cidade polonesa onde viviam. Ao longo do livro somos levados à sua comunidade natal, uma cidade, até então pacata, de cristãos e judeus, cujos habitantes revelam facetas cruéis, surpreendentemente mais bárbaras do que as de seus ocupantes soviéticos e alemães. Inspirado num episódio ocorrido em Jedwabne, pequena cidade do nordeste da Polônia, em julho de 1941 (e em tantas outras cidades com um similar antissemitismo), o livro é duro como o tema sugere. O tema em si já é sofrido demais ~ e talvez eu tenha escolhido uma época não muito adequada para ler: estava SUPER grávida, com os hormônios a mil. Aí já viu, né? Fiquei ainda mais fragilizada com a crueza da narrativa. Os acontecimentos retratados são altamente visuais ~ a gente demora a esquecer algumas “cenas”, especialmente as mais violentas. Levou (merecidamente) o Prêmio Leya em 2017.

site: http://naomemandeflores.com/os-quatro-ultimos-livros-25/
comentários(0)comente



Val 12/01/2019

A loucura onde menos se espera.
Uma das causas dos baixíssimos índices de leitura da população brasileira é o erro fundamental de impor títulos, autores e gêneros às crianças iniciantes em leitura principalmente nas escolas. Não vou entrar aqui no mérito das obras, mas todos sabem – ou tem ainda uma ideia – do que se obrigam os alunos a ler.

Para mim, o método ideal seria o do critério de escolha da própria criança dando-lhes sim alternativas de escolha. Enquanto minha professora me obrigava a ler Senhora, de José de Alencar e Dom Casmurro, de Machado de Assis, minhas leituras favoritas perambulavam entre Tarzan, de Edgar Rice Burroughs, A Cabana do Pai Thomaz, de Harriet Beecher Stowe, Bom dia, Tristeza, de Françoise Sagan, O Cortiço, de Aluísio Azevedo e A Carne, de Júlio Ribeiro. Hoje leio com prazer o Memorial de Aires, do Machado, e estou achando excelente.

Ou seja, o fundamental para a leitura é a descoberta do prazer de ler. Com certeza, muitas pessoas que não gostam de ler nunca tiveram a oportunidade de ter em mãos ou diante dos olhos um livro que pudesse lhes dar prazer, seja pelo texto, seja pelo assunto ou a história.

Hoje por exemplo, aos 70 anos, vivo descobrindo leituras prazerosas. A surpresa mais recente deu-se com a obra Os Loucos da Rua Mazur, do premiado escritor português João Pinto Coelho. Sua grande qualidade é a construção do texto e a linguagem realista e fluente onde coloca-nos trechos enigmáticos, ironias precisas e preciosas, assim como a convivência de protagonistas e personagens díspares que enriquecem sobejamente a obra.


Polônia dividida em 1939

Mas seu estilo vigoroso e único lembra-nos em alguns aspectos e na qualidade seus compatrícios José Saramago e Walter Hugo Mãe. Senão, veja: “E depois havia Dreide, a louca. Ninguém lhe sabia pai, mãe ou nação. Chegara acompanhada por um cigano, duas mulas e uma miúda nas entranhas. O cigano desaparecera, levara uma das mulas e ficaram as três. Desde então, fixara-se ali, chegada ao vilarejo, mas ainda na floresta, por cautela.”.


Consegue colocar-nos em meio a cenas pesadas, como a descrição sucinta e precisa, meticulosa e eficaz, do búnquer onde lutam personagens, levando-nos a sentir com exatidão o clima ambiente com todos os seus fedores repugnantes e a lama e fezes grudando em nossos pés. Descreve com realismo absoluto as cenas, os locais e as reações, coadunantes ou não, numa atmosfera tétrica como: “Depois passou o cabo Marek; já sem chorar ou rezar, agarrava contra o peito uma mão decepada na esperança de que fosse a sua; logo atrás, amparado por dois companheiros, um rapazinho. Erik fixou-lhe mais os olhos esbugalhados do que as tripas que abraçava, aparvalhado.”

A obra desenvolve-se frenética proporcionando-nos protagonistas que são simultaneamente autores e personagens. São basicamente dois livros em um, ambos regados intermitentemente à prosa poética, história, religião, amor e paixão. A narrativa da primeira relação sexual de um adolescente cego é brilhantemente sublime e poética.


Cidade de Jedwabne inspirou a obra
A ajustada trama da tolerante e até pacata convivência entre judeus e cristãos num vilarejo à nordeste da Polônia só é desconjuntada, juntamente com a cidade, pelos sinistros bolcheviques soviéticos e sua cega obediência e ignorante idolatria ao líder genocida Stálin (efetivamente e fora do romance, os bolcheviques, como uma praga, destruíram tudo por onde passaram ao longo da história). A partir daí e sem a interferência dos nazis, instala-se o tétrico. E o livro transforma-se numa obra-prima do terror, com pessoas comuns promovendo - num rompante de ignorância, intolerância e crendice - um fratricídio que jamais sairá da mente dos leitores. Pinto Coelho, como já o fizera em todo o texto, prima, então, de forma descomunal nos detalhes. E como descrito na capa do livro da edição brasileira: “Na Polônia ocupada por soviéticos e alemães, o horror vem de quem menos se espera.”.


João Pinto Coelho
Um livro arrebatador, Prêmio Leya de 2017, pouco divulgado e de incomensurável valor literário para a língua portuguesa, seja pelo enredo e escrita, quer por sua estruturação e pela capacidade de fabulação de João Pinto Coelho.

Valdemir Martins
12/01/2019.

Os Loucos da Rua Mazur - Romance português de João Pinto Coelho - Editora Casa da Palavra – Rio de Janeiro, 2018.

site: https://contracapaladob.blogspot.com/
comentários(0)comente



DanuzaEosLivros 16/09/2018

Outro olhar sobre a II Guerra
Sabe quando você pensa que já leu sobre todas as atrocidades cometidas na II Guerra? Essa era eu - que leio sobre o assunto desde a adolescência - antes de ler o livro em questão.
Pois bem estava muito enganada.
A história do livro se passa numa cidadezinha do interior da Polônia que tinha a peculiaridade de ser dividida ao meio com metade dos habitantes judaicos e metade cristãos. Acompanhamos a história em dois lapsos temporais, capítulos se alternam entre os anos de 2002 e o fim dos anos 30 passando pelos 40 e 50, o que torna a leitura ainda mais rica.
Temos três personagens centrais, as criancas Yankel, judeu e cego, Eryk, cristão e Shionka, menina que está sempre calada e é filha da feiticeira da cidade. Eles constroem uma amizade sólida apesar das diferenças religiosas. O livro tem início muitos anos após a guerra quando os amigos já estão separados e Erik que se tornou um escritor famoso vai a Paris procurar Yankel que é dono de uma livraria para que este possa ajudá-lo a escrever a história deles desde a infância com todos os detalhes da ocupação da pequena codade onde viviam ora pelos russos ora pelos alemães. E nós vamos acompanhar essas lembranças dos dois amigos que contam o que aconteceu naqueles tempos sombrios.
O livro é de uma crueza impactante no que diz respeito a narrativa doq ue se passou naquela comunidade entre vizinhos que apesar das diferenças religiosas viviam relativamente em harmonia, mas que durante a ocupação mostraram um lado desconhecido e cruel. Durante a ocupação russa os perseguidos eram os cristãos muitas vezes delatados pelos judeus e logo em seguida com a ocupação nazista foi a vez dos judeus sofrerem as agruras da perseguição, porém pasmem os alemães são meros coadjuvantes nesta história porque os próprios cristãos vizinhos que cesceram juntos dos judeus se encarregam de todas as maldades. Sinceramente? Fiquei de estômago embrulhado em várias partes. Tanto que já terminei a leitura há uma semana e só hoje consegui pensar nele outra vez pra escrever a resenha. É uma nova visão sobre a II Guerra. Um detalhe é que o livro é escrito em português de Portugal, estranhei um pouco no início, mas nada que comprometa a compreensão da trama.
Leiam e descubram mais um lado dessa história que jamais deverá ser esquecida.
comentários(0)comente



Pri 05/08/2018

Um livro sobre o Mal
Em Paris, 2001, Eryk, um escritor famoso, procura Yankel, judeu, livreiro cego e seu melhor amigo de infância (a quem não via desde a Guerra), para, com sua ajuda, escrever o livro que irá redimi-lo. Ao lado de Vivienne, editora, esposa de Eryk e parte viva da história contada, a trama vai se desenrolando enquanto o novo romance vai ganhando forma.

A sinopse já me agradou, bem como a capa, desde a primeira vez que vi a obra exposta em uma livraria. Algo me dizia que este seria daqueles livros que somos incapazes de ler com indiferença. Minha intuição não falhou, mas, ao me deparar com a advertência do autor de que esta é uma obra sobre o Mal, não podia me antecipar ao que estava por vir.

De fato, esta é uma história sobre o Mal, sobre seres humanos e, sobretudo, sobre a face mais obscura de cada um de nós e de toda a humanidade. De muitos livros que já li sobre a II Guerra, este revela uma perspectiva completamente diferente da usual. Tão ou mais terrível, tão ou mais perturbadora.

Eis um livro para figurar certamente entre os meus favoritos. Denso, pesado, arrebatador. Escrito em um estilo próprio, com personagens marcantes, Os loucos da rua Mazur, trata da loucura, do ódio e do Mal que se sobrepõem à fraternidade e à compaixão. Leitura necessária quando o mundo volta a ficar de cabeça para baixo sem (quase) ninguém reparar.
comentários(0)comente



6 encontrados | exibindo 1 a 6


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR