Resenhas - A Barca dos Homens

Karolline.Campos 31/12/2022

De dentro...
Escolhi a leitura de A Barca dos Homens de maneira completamente aleatória. A sinopse me prometia uma cidade em alerta por causa de um garoto e uma arma desaparecidos. Austran Dourado entrega muito mais que um mistério a ser solucionado. Há uma incrível escolha de estilo narrativo que nos permite conhecer os habitantes da Ilha de Boa Vista, diretamente de suas mentes. Melhor, diretamente de seus corações e de suas almas.

Como amante da obra de Graciliano Ramos, certamente, sou suspeita ao elogiar a leveza e profundidade da literatura brasileira. Esse livro nos fala muito sobre poder, sobre masculinidade e sobre os mais básicos insintos do Ser.

Foi uma leitura rápida, mas bastante reflexiva. Que ótima descoberta... daquelas que dá vontade de juntar pra ler mais e mais livros do autor. Ótima escolha para última leitura do ano.

Thaísa G. 21/12/2022

Quase dá para sentir a areia carregada pelo vento e a maresia
Gostei muito desse livro (apesar do fim que parece ter sido feito aos trambolhões...).
O ambiente de praia é bem diferente de outros romances do Autran Dourado, mas justamente isso achei uma das coisas mais marcantes da história. Aliás, para mim o grande personagem da história é a praia.

E a cena do Tonho lutando contra o mar durante um sonho/tempestade, ele e seu barquinho chamado Madalena, é a melhor. Achei tão vívida que deu até vontade de sair desenhando, com todos os detalhes.

Duas coisas me decepcionaram um pouco:
1) Achei o fluxo de consciência do Fortunato bem pouco caótico, considerando que ele possuía uma deficiência intelectual severa (me pareceu que o Autran Dourado tentou muito dar uma de Faulkner em "O som e a fúria", mas não deu certo).

2) Senti falta de saber o que houve com alguns personagens no fim, que foram completamente abandonados conforme a narrativa se encaminhava para o fim, algo que não vi acontecer nos romances posteriores do autor.

Apesar desses pontos, acho que acabou se tornando um dos meus livros preferidos do autor. :)

Frankcimarks 16/04/2022

Há um texto sob o texto
Livro maravilhoso.

Autran é mestre em codificar seus textos. Tenho plena convicção de que esta ficção está embanhada de simbolismo. O mar, a fé, os pescadores, a ilha, a mãe aflita, o filho perseguido, o ódio dos homens, os pecados da carne, a prostituição, a prisão, um casamento em ruínas, os nomes das personagens, o cemitério: tudo remete a algo mais, o dito pelo não dito. Portanto, só cabe um adjetivo para Autran Dourado: gênio

Ricardo 11/06/2021

Extraordinário... Autran Dourado consegue escrever de dentro dos personagens, em torno deles, olhando em perspectiva, enquanto a história de uma perseguição puxa o dia para a noite e depois para um outro dia. É introspectivo e social ao mesmo tempo; sensorial e crítico. Em cada detalhe faz vibrar as questões essenciais de cada morador envolvido no drama. Embarca no estilo de Faulkner mas o incorpora com uma voz local, toda pessoal. Mais do que em 'Ópera dos mortos' aqui brilha a arte de um grande escritor.

Raquel Lima 21/01/2009

Simples...
Confesso que me pareceu meio...Jorge Amado... talvez um pouco melhorado ou fiquei influenciado pelo cenário de praia.Não tenho certeza...