Marcos N. 25/06/2018
Um ?novo? ?Velho? Marx
Oportunidade de encontrar novos nomes, influências e interlocutores da obra marxiana não são fáceis... Que se diga assim: tão bem escritas... Musto é bom escritor, sem abdicar de rigor acadêmico (suas referências são exemplares: realmente interessantes; e dificilmente atrapalharão, mesmo uma leitura leiga). A tradução não parece ter deixado a desejar (como de costume à Boitempo).
Trata-se de um livro que vale pelo menos duas leituras: a segunda necessariamente com mais minuciosidade sobre os tantos personagens que compuseram esta remontagem dos últimos anos do ?Mouro?.
Talvez aí, finalmente uma crítica possível ao livro. Tivesse trazido pequenas notas sobre as tantas personagens, a leitura fosse ainda mais palatável e atraente aos públicos não especializado e não marxista ? embora; como Marx ainda em vida pôde perceber, não sendo ?marxista?...: nem sempre o público militante ou espalhatosamente fã dignifique-se aos seus textos... Que se dirá a tais notas...
Ponto destacável da primeira parte do livro: surpreende a afinidade entre Lewis Morgan e Marx. A pecha de evolucionista dada ao primeiro nas graduações de Ciências Sociais pode ajudar estudantes a construir nexos cronológicos e geracionais razoáveis, mas não dá dimensão fiel à genialidade do antropólogo... Menos ainda do quão úteis seguem seus apontamentos sobre a organização da ?gens? e da ?família?.
Quem estuda por valores não conservadoristas ?as novas configurações familiares? (as do final do século XX em diante nos centros ricos do ?Ocidente?) deverá encontrar aí supresas e/ou interlocutores gratificantes.
Na última parte, o destaque desta resenha centraliza importância nas cartas pessoais. Sem que fosse esta a intenção (obviamente), o livro aponta ser alvissareiro que as editoras brasileiras cumpram o papel de traduzir por completo todos os escritos de Marx, o que necessariamente inclui suas cartas (inclusive pessoais), conforme a MEGA faz na Alemanha ? infelizmente pela primeira vez. A Editora Boitempo, da estimada Ivana Jinkings presta-se, hoje, ao glório papel no Brasil. Sozinha... (Que não falte sucesso, dada a urgência da empreitada, bem como sua grandeza ? com a qual Musto nos brinda com rápido vislumbre)...
Os trechos de cartas nos revelam chaves não convencionais ao pensamento e legado marxiano e dicas de novos caminhos a investigar. Alguns: um possível afastamento práxis-teórico entre Engels e Marx e entre Marx e seus genros; os limites e os avanços de Marx nas luta antiopressivas (anticoloniais, feministas, antirracistas) em contexto com sua época e seus recursos de pesquisa; sua influência direta (e documentada em cartas) sobre líderes políticos com quem manteve contato. Et caetera.
{ Esta resenha já será bem sucedida se despertar nova(s) leitura(s) da obra; afinal foi fruto apenas de leitura rápida e sem pretensões rigorosas, de umas poucas horas de um final de semana. Ressalte-se: muito menos que o livro merece de marxistas e gente estudiosa de Marx. }