Tupinilândia

Tupinilândia Samir Machado de Machado




Resenhas -


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Luiz 11/02/2021

Duas ótimas estórias condensadas num livro mediano
Tenho sentimentos contraditórios em relação a esse livro. As estórias é incríveis e as personagens são super cativantes, mas quando vc acha que tá no ponto alto, o livro vira pra outro universo pra começar outra estória igualmente interessante.

Poderiam ser dois ou três livros nota 5, mas é um livro nota 3,5.
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Jackie! 07/05/2023

Detalhes e mais detalhes!
O talento de escrita e criação de ambientação do Samir é indiscutível. Mesmo as vezes achando que ele excede em detalhes, é inegável o poder que isso tem de fazer o leitor imergir nesses cenários tão bem descritos.

Eu gostei muito das referências a "cultura pop" e a forma como o autor lidou com o cenário político da época aqui descrita. Mas confesso que achei um tanto quanto cansativo essa enxurrada de fatos históricos e coisas do tipo. Sinto que se a história fosse de fato separada em dois livros, também tornaria a leitura mais gostosa. Nada me quebra mais do que perder os personagens quando finalmente estou gostando deles e essa troca de protagonismo me incomodou bastante.
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zoni 05/03/2020

"Gabriela, traz o meu mingau"
Esse livro começa extremamente chato, chatão mesmo. Entendo que é necessário tudo que o autor está explicando naqueles primeiros capítulos, mas caramba, esse começo da história quase me fez abandonar, pois é totalmente arrastado, tem muita informação e muitos detalhes, e todos esses detalhes e citações sobre o Disney me deixaram muito confuso, desconfortável e cansado da leitura, não foi nada fácil manter o ritmo, e só fiquei firme porque gosto muito da escrita do Samir, e sabia que o livro iria render algo muito mais interessante do que estava sendo apresentado até então. O trabalho de pesquisa de Samir foi incrível pra cacete, e o poder de escrita desse homem na criação de todo esse universo... ele é Deus e pronto. O homem consegue fazer várias referências a Jurassic Park e outros vários filmes sem parar de soar original nem por um momento.

Não consigo dar mais que três estrelas, já que apesar do livro ser interessante e inteligente, não me causou tanto prazer em ler. É um livro bom, e é muito bem escrito, sem contar na pesquisa e nas referências impecáveis, mas que não me marcou como deveria, me cansou e me fez seguir arrastando as páginas. Homens Elegantes segue sendo meu favorito dele.

site: www.instagram.com/nomeiodatravessia
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Andreia Santana 28/06/2020

Sobre memória afetiva, história e a capacidade de rir da própria miséria
Tupinilândia é uma colagem de referências culturais, históricas e afetivas. Para aqueles leitores que já chegaram ou estão próximos dos 40 anos, o livro é um deleite e uma forma divertida de revisitar o passado com um olhar mais crítico e, ao mesmo tempo, debochado. O público mais jovem também pode se envolver com a história de Samir Machado de Machado, porque a prosa do autor tem doses de humor, aventura e sarcasmo que são atemporais. Além disso, mesmo com graça, o livro joga na cara de quem lê algumas verdades inconvenientes sobre a natureza humana e sobre o Brasil, esse país continente cheio de peculiaridades.

Na essência, é um livro para quem foi criança ou adolescente nos anos 1980 e para quem é leitor tanto das distopias clássicas - ‘Admirável Mundo Novo’ (Aldous Huxley) e ‘1984’ (George Orwell) - quanto das modernas - ‘A caverna’ (José Saramago) e ‘O Conto da Aia’ (Margareth Atwood). Também contempla os fãs de Steven Spielberg - faz referências maravilhosas a ‘Jurassic Park’ - e de clássicos da Disney, como o magnífico ‘Fantasia’.

A nostalgia dita o ritmo da história, mas nem essa “saudade idealizada” é isenta de uma interpretação mais irônica dos fatos. Quem sobreviveu aos anos 1980, uma década irresponsável em diversos sentidos, como bem lembra o autor, sabe bem. O contexto é o Brasil desde os últimos anos da ditadura militar e a expectativa pela primeira eleição democrática depois de 21 anos de regime repressor, até os dias atuais.

Na verdade, a história se divide em três tempos históricos e mistura personagens reais e fictícios: o Estado Novo, ao relembrar os anos 1940 e a visita de Walt Disney e de El Grupo - os artistas de animação que embarcaram com o chefe para uma turnê na América Latina - ao Rio de Janeiro, durante a II Guerra, quando o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt buscava aliados contra o Eixo e flertava com Getúlio Vargas que, por sua vez, arrastava as asas para os nazistas; os anos 1980, com toda a efervescência das Diretas Já, o começo da epidemia de AIDS e os anseios da juventude da época; e 2016, pouco depois do impeachment de Dilma Rousseff, com as consequências desastrosas para o país a partir daí, inclusive a ascensão de grupos de inspiração fascista que transformaram o debate político no país em campos de ódio.

Tupinilândia prende o leitor tanto pela seriedade com que trata os temas históricos, mas sem ser sisudo, quanto pela grande aventura, com ritmo de filme de ação, que tira o fôlego. O fato do autor conseguir costurar tantas referências e ao mesmo tempo criar uma história nova, fresca e divertida é um bônus nessa leitura que certamente vai enriquecer o olhar do leitor sobre o Brasil e suas dicotomias. Não somos uma nação para amadores, como bem dizem os muitos memes que pipocam na internet. E o humor de Tupinilândia é aquele extraído tanto das bizarrices dos anos 1980 quanto da linguagem digital atual.

O livro conta a história do empresário João Amadeus Flynguer, cinéfilo e apaixonado pelas obras de Walt Disney. Ele decide construir um complexo de parques de diversão e uma cidade futurista e utópica no coração da Amazônia, no final da ditadura militar e com a tecnologia da época, o que por si só já garante boas risadas, se compararmos o que era a ideia de futuro dos anos 1980 (basta lembrar as geringonças de ‘De Volta para o Futuro’) com o que sabemos hoje. Ex-pracinha da FEB (Força Expedicionária Brasileira) durante a II Guerra Mundial e megalomaníaco, além de podre de rico, Flynguer quer construir um Brasil idealizado e perfeito na sua Tupinilândia, uma Disney particular onde pretende experimentar um modelo de civilização que, embora vise neutralizar a tirania, não deixa também de ser tirânico.

A inspiração de Flynguer para construir a cidade idealizada é uma utopia real que deu errado, Fordlândia, a cidade que Henry Ford construiu na Amazônia no final dos anos 1920 para explorar a borracha nativa. Samir Machado de Machado, por sua vez, se inspira no livro ‘Fordlândia’, de Greg Grandin para escrever Tupinilândia. E, assim como Fordlândia, que é um livro-reportagem, ele foi criterioso na pesquisa.

O livro traz uma miríade de personagens, alguns fascinantes, outros admiráveis, e também os execráveis, como os generais integralistas que não querem o fim da ditadura. João Amadeus é pai de Helena, executiva que é uma versão brazuca da ex-premiê britânica Margareth Tatcher, e de Beto, o jovem cinéfilo e amante das artes e da boa vida de milionário e a quem o autor entrega as melhores tiradas do livro.

Beto é o ex-namorado de Tiago Monteiro, um jornalista investigativo que perdeu o pai para os porões da ditadura e é contratado por Amadeus para escrever a ‘biografia’ da sua cidade idealizada. Flynguer tem ainda três netos, trigêmeos de 11 anos e filhos de Helena. As crianças são o resgate da memória real e da idealização de Samir para a infância nos anos 1980.

Na terceira parte do livro, já nos dias atuais, completam o time de protagonistas, o arqueólogo Arthur, pai da destemida Lara (a referência a Lara Croft não é mera coincidência) e de Arthurzinho, que namora o geek Benjamim, um garoto irritantemente inteligente e lutador de artes marciais. Arthur, na casa dos quarenta e poucos anos, foi uma criança dos anos 1980 e é especialista em arqueologia urbana e em estudos sobre nostalgia. Obcecado pela história de Tupinilândia, ele envolve a família em uma conspiração hollywoodiana, ao decidir investigar o que aconteceu com a cidade utópica e os parques construídos por Flynguer.

Os personagens coadjuvantes, tanto mocinhos, quanto vilões, em outra clara referência ao maniqueísmo oitentista, também são muito bem construídos pelo autor. Nenhuma referência a livros, filmes, brinquedos, animações ou aspectos culturais em Tupinilândia é feita ao acaso e sem a contextualização que encaixa cirurgicamente na narrativa, dando agilidade à história e passando a quilômetros de distância do didatismo pedante.

Samir é um bom leitor de livros, gibis, filmes, músicas, como ele mesmo admite nos agradecimentos do livro, e da realidade que o cerca desde a infância. Esse acervo mental do autor é definitivo na composição de seu romance. Um leitor mais atento percebe as entrelinhas de uma história bem contada, principalmente quando o autor tem confiança no que diz. Já comentei em outras ocasiões e volto a afirmar que livro bom também é aquele em que percebemos que o autor se divertiu muito escrevendo, mesmo que dê um trabalho enorme costurar com perfeição e sem pontos aparentes como Samir faz. Também nesse quesito, Tupinilândia tem um trabalho de alfaiataria que beira a perfeição e nem de longe lembra as esquisitas e cafonas ombreiras de antigamente.
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Arthur 02/10/2021

Meu sonho é ver esse livro adaptado pra filme/série
Muito bom a forma como o autor recria todos os elementos de uma "aventura de sessão da tarde" nesse livro, só que com elementos muito brasileiros, é um livro muito divertido de se ler.

Antes de começar a ler eu procurei resenhas que diziam que a leitura as vezes ficava cansativa por causa de tanta referência tanto históricas quanto a cultura pop, mas eu não concordo com essas críticas. Todas essas referências tornaram a narrativa mais crível e mais imersiva, um trabalho incrível de pesquisa do autor.

A segunda parte do livro que se passa em 2015, parece esses reboots/continuações de franquias famosas antigas que se passam no mesmo universo que a original, e alguns dos personagens principais tem participações importantes e curtas.

Se eu fosse mudar alguma coisa no livro eu só dividiria a parte dos anos 80 e de 2015 em dois livros diferentes.

Essa é uma história perfeita para adaptação, queria muito poder ver uma produção audiovisual muito bem feita contando essa história, ainda mais pelo apelo dos anos 80 que as séries e filmes internacionais estão tendo nos últimos anos.
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Maikel.Rosa 06/01/2021

quando que sai a minissérie?
fora essa dúvida, só terminei a leitura de "Tupinilândia" com ainda mais certeza do talento do Samir Machado de Machado pra contar histórias envolventes, em narrativas ricas em detalhes e conexões extremamente inteligentes.

foi como voltar no tempo, não só pelo cenário histórico, mas principalmente pela sensação de estar assistindo a um filme da Sessão da Tarde ou lendo uma história em quadrinhos do Tio Patinhas: o livro é um imenso caldeirão de referências à cultura pop dos anos 80, trazidas sempre em momento oportuno e com um graciosidade que é muito a cara do Samir.

por exemplo, são flagrantes no enredo, e totalmente propositais, as semelhanças com o filme Jurassik Park e o desenho animado Duck Tales, com direito a "dinossauros" atacando versões humanas de Huguinho, Zezinho e Luizinho, os famosos sobrinhos do Pato Donald nos gibis.

além de suscitar esse saudosismo pueril, no entanto, Tupinilândia também denuncia um período obscuro da história do Brasil e algumas das suas heranças mais absurdas, apresentando como vilão não uma pessoa, mas uma ideologia que, embora aparentemente condenada, é muito familiar a diversos movimentos atuais.

Tupinilândia é um ingresso pra um parque de diversões, uma entrada pra um filme de aventura a la Indiana Jones, uma volta na montanha russa do "jeitinho" brasileiro de criar e esconder elefantes brancos. mas, acima de tudo, um alerta sobre como podemos usar a nostalgia pra inventar um passado supostamente glorioso - e nele se afogar.

bem, como comecei a ler antes da virada e terminei esse ano, já posso dizer que foi umas das melhores leituras de 2020 & de 2021 ?
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EduardoCDias 22/12/2023

Sonho amazônico
Um milionário que decide construir na América do Sul um parque temático nacionalista, que seja páreo para o de Walt Disney, seu ídolo na infância. Envolvendo política, disputa entre militares e civis e bastidores podres, com toques reais, este livro é surpreendente. Felizmente seus traços ideológicos são sutis, deixando a narrativa, dividida em duas épocas, mais agradável. Merece ser lido.
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clarakairos 16/01/2022

Paranoias atualizadas
Tupinilândia foi o segundo livro que li de Samir e apenas concretizou minha ideia de que ele é um dos autores brasileiros que mais deveria encontrar mais lugar nas mídias. Seu conhecimento histórico e a capacidade de envolver ficção com a realidade fizeram com que Tupinilândia fosse um livro ao mesmo tempo prazeroso e aterrorizante de se ler, em especial ao lembrarmos que algumas das atrocidades relatadas no livro não foram mera invenção do autor, mas momentos reais da ditatura militar no Brasil.
A primeira parte do livro é muito envolvente e nos dá tempo de conectar com os personagens, o que senti falta na segunda parte. Além disso, senti falta dos personagens da primeira parte na segunda, a maioria apenas desapareceu e voltou de forma abrupta na minha opinião. Gostaria muito que o autor tivesse gasto um pouco mais de tempo para explicitar a Tupinilândia da parte dois e explorar os novos personagens, embora eles tenham sido bem construídos pelo pouco tempo de aparição.
Um livro que indico especialmente para amantes da história Brasileira e de distopias, com ressalvas para aqueles que se sentem desconfortáveis: há cenas de extrema violência, homofobia e machismo.
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D.J. Alves 10/01/2022

Brasil, meu Brasil brasileiro
Imagine Jurassic Park, mas o invés dos dinossauros aterrorizando e devorando os personagens por puro instinto de predador, houvesse nazistas, ou melhor integralistas.

O movimento integralista brasileiro, foi um movimento de extrema direita que vigorou durante o primeiro governo Vargas e aparentemente foi dissolvida no Estado Novo. Mas o autor de maneira maestral, resgata esses personagens hediondos da história brasileira e usa nesse romance de ficção que tem tanto em comum com a nossa época.

O livro fala do sonho e da imaginação de construir um Parque Temático, conta sobre Disney e a sua vinda ao Brasil, de como um nacionalista decide construir Tupinilândia para comemorar a infância vivida e de como esse sonho é deturpado depois.

É uma leitura leve, fácil, agradável, cômica, cheia de referências a músicas e a cultura nacional além de explicações bem detalhadas sobre arqueologia e parques temáticos. Gostei bastante. Termino com a música que foi recorrente no livro, Aquarela do Brasil.

Brasil, meu Brasil brasileiro
Mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de nosso senhor

SEGUEM ALGUMAS FRASES E TRECHOS INTERESSANTES DO LIVRO:

Rir é o melhor remédio

Mas a vida carrega o mesmo drama de todo cinéfilo: você não pode repetir a experiência de ver um filme pela primeira vez.?

Seria isso uma prova de unidade no pensamento humano, de que aquilo que a imaginação de um homem concebe, a de outro é capaz de produzir?

?O esperto acredita em metade da história, mas o gênio sabe em qual metade acreditar.?

onde só se tem martelos, tudo o que se vê vira prego.

O sujeito tinha os mesmos ares boçais de toda aquela tigrada, de quem nunca leu um livro porque acha que já sabe tudo o que precisa, que prende o Ferreira Gullar por achar que seus livros sobre cubismo falavam de Cuba.

Que Deus tenha piedade de nós, pelo que fizemos com este país. Quando nos tornamos piores do que aquilo que combatemos, há coisas que não podem ser perdoadas.

Os governos passam, o povo fica. Eu sou apenas um brasileiro

Acho que ele tem razão. É o que eu sempre digo: se não passou na Globo, nem aconteceu.

E lá se foram vinte anos? disse João Amadeus, servindo as três taças.? Começou como reação a uma ameaça comunista que nem sequer existia, quis ser modernizante à la Juscelino mas regrediu pro estatismo do Getúlio, agora morre sem ter dito a que veio, porque quebrou o país, e era isso.? Apontou as taças aos rapazes.? Um brinde.? A que brindaremos?? perguntou Tiago.? Aos recomeços? propôs o velho.? Ao país do futuro.

Tu estás sendo elitista? criticou Tiago.? Se as pessoas vão ao cinema ver filmes bobos, ou leem um romance barato pra se distrair da rotina, eu entendo que isso pode ser raso, que deveriam acrescentar algo à vida e não só anestesiá-la, mas a vida não é um eterno cursinho de vestibular. O divertimento simples tem a sua função,

pirarucu assado ao molho de tangerina, com risoto ao leite de coco e castanhas.

Por trás de tudo, aquela sensação otimista de que, no futuro, a indústria privada poderá superar todos os problemas da sociedade, mesmo que fosse ela própria a causa geradora deles.

Você pode perceber um equilíbrio quase simétrico entre uma tensão realista e um humor pastelão, que faz com que você não só se prepare pra próxima loucura, como se predisponha a aceitá-la, a aceitar o que a história te trouxer contanto que fuja sempre à normalidade. Porque a normalidade são as horas perdidas no trânsito, subindo no elevador, obedecendo à rotina diária, a burocracia do trabalho, a previsibilidade da vida doméstica.

Quem desdenha dos prazeres da imaginação são eunucos mentais, castrados que creem que a sua castidade provém de uma escolha elevada, e não de uma limitação intelectual. Gado pra abastecer essa grande máquina de moer gente que é o nosso país.

a terra que lhe deu a oportunidade de ser uma pessoa, e não uma estatística.

o regime militar vai acabar, mas a mentalidade autoritária e paranoica que gerou tudo isso é atemporal.

Mas eu poderia tê-lo salvado, se tivesse chegado antes. Se tivesse me importado antes. Eu poderia? ter feito mais.

Homens não gostam de receber ordens de uma mulher, isso é um fato. Se o meu pai eleva a voz, ele é firme e determinado. Se eu faço o mesmo, sou a louca insensível.

?o poder corrompe??

O poder atrai os corruptíveis. E poder pelo poder se torna um? um exercício de força. Se não houvesse o comunismo? teriam que inventar outra coisa. Pra justificar o desmando

Sinais de vida no país vizinho Eu já não ando mais sozinho Toca o telefone Chega um telegrama enfim

Não existe cultura inútil, inútil é quem não tem cultura.

A verdade é que somos todos escravos do mesmo sistema. Vocês foram criados pra pensar como escravos e louvar o esforço que os oprime como se fosse o trabalho que os liberta.

Para esse fenômeno, a medicina da época tomou emprestado do grego homérico os conceitos de nostós? ?reencontro, retorno ao lar?? e álgos? ?dor, sofrimento??, e cunharam a palavra ?nostalgia?.

Somos mais do que animais, somos animais com cultura. É por isso que ela é tão vigiada, resguardada, reconstruída e, no caso do Brasil, intencionalmente negligenciada por sucessivos governos. Sem contexto, a nostalgia se torna uma ferramenta de alienação e autoritarismo. Façam o teste e percebam: o ataque à memória e à cultura é o primeiro passo de um governo autoritário, em todas as épocas, qualquer que seja a posição ideológica. Porque nossa memória cultural é um material tão sensível e volátil quanto combustível. Esse combustível alimenta o sistema, mas também pode se tornar o coquetel molotov que o incendiará.

Adoro como você faz parecer que tudo se encaixa, como se fosse inevitável? Lara disse.? Sim, mas a vida só faz sentido quando começa a ser narrada.

?Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá??. Aos olhos de Donald, tudo aquilo era uma declaração de amor ao caos urbano brasileiro, uma representação de sua capacidade afetiva e acolhedora. Era a mesma impressão que teve na primeira vez que veio ao Brasil, no final dos anos 90. Claro que era um país mais pobre do que sua terra, e mais pobre do que era o Brasil de agora, mas havia uma cordialidade que não encontrava em sua terra natal. Um lugar onde seus filhos cresciam longe da competitividade social agressiva de seus compatriotas, cultivada desde o berço no ambiente segregado das high schools, onde ninguém nunca era branco o bastante, vencedor o bastante para ser deixado em paz. Pois eram ensinados que deviam ser sempre os melhores em tudo, já que viviam no melhor país do mundo; onde se devia desprezar os perdedores, pois só deve haver vencedores no melhor país do mundo; e constantemente saudar a bandeira e idolatrá-la, aquela que é a bandeira do melhor país do mundo; e entregar redações na escola justificando por que viviam no melhor país do mundo? mesmo que ninguém ali tenha visitado outro país, alguns nem mesmo outros estados. E caso ocorresse de seu país entrar em guerra, algo tão certo quanto o sol nascer, nunca, jamais questionar por que se estava em guerra eterna. Porque quando sua identidade cultural se ancora na supremacia, você já chegou ao fascismo sem passar pela autocracia. Por isso ele amava o Brasil. Ali não precisava trabalhar oitenta horas por semana e abdicar de uma vida pessoal. E seus amigos brasileiros ainda perguntavam por que saiu de lá, por que decidiu vir logo para cá, neste lugar perdido e violento.

a frustração e a raiva violentas derivadas de uma existência controlada e miserável precisam ser canalizadas para algum lugar, de modo a entregar à população uma válvula de escape, mesmo que fosse um inimigo muitas vezes inexistente? a lógica que guia o mundo desde sempre, do ódio religioso ao político.

É a única coisa que não podem controlar, porque é a única coisa que eles não têm. Por isso que eles sentem tanto medo disso. E no final das contas, é o que vai acabar com eles. ? E o que seria isso, posso saber? ? Senso de humor, dona ? ele sorriu.
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Murilo 17/07/2020

Uma aventura brasileira
Tupinilândia é um romance de aventura, escrito por Samir Machado de
Machado, autor, roteirista, tradutor e design gráfico porto alegrense,
vencedor de vários prêmios nacionais.
A história é sobre a construção de um grandioso parque temático, a la
Disneyland, em meio a floresta amazônica tendo como pano de fundo as
narrativas sobre as misteriosas cidades fantasmas.
Escrito de forma a ter um resgate histórico da década de oitenta do Brasil,
cada página é carregada com detalhes nostálgicos sobre a ambientação da
trama que te envolvem até o final da narrativa.
O tamanho do livro pode assustar, mas o autor é premiado pelo seu estilo de
escrita, e este é sem dúvida um dos maiores e melhores romance de aventura
contemporânea da língua portuguesa.
?Em sua ignorância, chamavam de civilização a tudo que era parte de sua
escravidão.?
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Léo 06/09/2020

Ideia boa, história ruim
É bacana ver tantas referências nacionais numa ficção, mas é em excesso. A leitura fica pesada.
A narrativa é mastigada. É adequada aos ouvidos do leitor, mas soa falsa (e chata).
As personagens são planas e desinteressantes. Não há laço, não há envolvimento com nenhuma delas.
Vários cliffhangers e resoluções deus ex machina. Torna a história previsível, vazia e juvenil.
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Giu 08/05/2021

Mistura de história com realidade, atmosfera cinematográfica... se eu tivesse que definir o estilo de Samir Machado de Machado com base nesse livro, seria algo como: "tipo um Dan Brown brasileiro". Quem gosta das histórias do Robert Langdon vai adorar essa leitura, com temas brasileiríssimos - ditadura militar, geopolítica atual etc.

Pessoalmente, achei a primeira parte do livro bem melhor do que a segunda. O João Amadeus Flynguer é um personagem super interessante - cheio de contradições, mas ao mesmo tempo espirituoso. Mas a leitura, no geral, é divertida.
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Tay 15/05/2022

* É uma obra repleta de elementos históricos e culturais do Brasil.

* Primeiro trabalho que leio do autor.

* É um livro cheio de referências, robusto em informações. Entretanto, justamente por isso se torna às vezes uma leitura cansativa.

* A obra tomou um caminho inesperado, algo que não caiu bem. As exaustivas frases tratando sobre a invasão de Tupinilândia foram fatores consideráveis para a nota que dei.

* Falta de protagonismo feminino e negro (explicitamente).
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mr_reedies 25/03/2019

Interessante
O livro em si, como todos os do Samir, é bem rico em contexto histórico brasileiro, e isso é maravilhoso de ler, especialmente quando incluído numa história fictícia! É por essas e outras que continuo voltando aos livros dele.

Porém, eu não achei Tupinilândia tão divertido. E não sei se toda a bagagem histórica tão bem retratada e o debate político que o livro propõe são suficientes para compensar isso.
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de Paula 18/02/2023

Este nacional todos precisam ler
Nostalgia é um sentimento muito forte. Vários autores já exploraram essa temática. Temos exemplo disso na literatura, como o Jogador Número 1, por exemplo, ou aquele trecho de Índios, do Legião "É só você que tem a cura para o meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo o que eu ainda não vi". Tudo isso resume um pouco a megalomania do criador de Tupinilândia, dono de uma empreiteira, herdeiro de uma rede de cinemas no Brasil da década de 30, cujo grande herói é o Walt Disney, que conheceu quando este veio ao Rio de Janeiro negociar com o governo Vargas propagandas políticas com a turma do Mickey. A partir da sua vivência na Segunda Guerra Mundial, lutando pelo exército brasileiro na Itália para combater o fascismo mundial. Esse homem decide, com base no conhecimento do projeto de EPCOT (cidade na Flórida que o Disney idealizou para ser uma utopia planejada - corre aqui Olívia Wilde!), criar a sua própria cidade com parque de diversões completamente nacional no coração da Amazônia, perto da cidade de Altamira, no Pará. Isso começou durante a Ditadura, nem preciso dizer que no meio da alta liderança do país tinha gente obsoleta que pensava ser Tupinilândia um risco "comunista" para o país. E aí começa a grande aventura.

O autor se aplicou na pesquisa sobre o Brasil dos anos 1980, detalhes que já caíram no esquecimento, principalmente de quem não viveu esta década. Muita realidade é jogada na cara do leitor, muita reflexão histórica e política, além da história que flui de forma deliciosa. A história tem uma divisão e retomamos Tupinilândia a partir do fatídico ano de 2016. Não foi uma escolha ao acaso, mas, talvez se o autor soubesse dos eventos de 2018 a janeiro de 2023, trouxesse para o leitor que não houve o fim de uma consciência integralista e o choque do lançamento já não causa um efeito de absurdo, considerando tudo o que vivemos em questão de narrativa histórica e até sobre Ratanabá (o que Tupinilândia passaria tranquilamente pela cidade perdida amazônica). Delírios e muita loucura contra um vilão que não existe permeiam a segunda parte do livro.

Eu surtei com todas as menções a 1984 e Admirável Mundo Novo (ah, se Huxley e Orwell soubessem dessa conexão entre suas histórias) e em como o autor traz reflexões sobre contextos em que esses livros são empregados em momentos do cotidiano, como o minuto do ódio em que muitas religiões se usam da narrativa para que os fiéis gritem e briguem com um inimigo invisível, a fim de alimentar a raiva das pessoas e por consequência, manipular sua percepção da realidade e até a própria pessoa. Nunca tinha pensado nisso, mas achei muito perspicaz do Samir analisar este aspecto, considerando que ele conta sobre os integralistas, os fascistas brasileiros do século XX, mas que sabemos que não desapareceram, principalmente na fala de Kruel, que fala que todos são gados prontos para o abatedouro, não importa quando ou pelo quê, vão morrer. Coisas que ouvimos muito nos últimos anos.

Érico Veríssimo é muito citado, mas, mesmo sem estar claro, Samir deu um tom de Pedro Bandeira (Os Karas) na segunda metade do livro, com as aventuras que acontecem. Não tinha o peso que uma história dessas teria escrita por um autor de outro país, era leve e por vezes, divertido. Conversas muito legais misturadas ao horror das mortes e maldade extremas. Sensacional o uso de marcas e personagens da nossa infância para criação desse mundo, como a Estrela e a Grow. Se o parque existisse com a única ideia de diversão, seria incrível, mas, sabemos que megalomaníacos nunca se restringem a coisas tão mundanas.

Essa é uma leitura que todo brasileiro deveria fazer, é importante pela análise do nosso país perpassando mais de trinta anos, mas também pela valorização de Samir Machado de Machado.
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