Ana 15/01/2014
Depois do cliffhanger do primeiro livro da série, eu precisei pegar o segundo direto. Mas infelizmente, só cheguei lá pelos 5% do livro antes de largar e esquecer por um tempo. O peso que eu estava sentindo por causa dessa série era demais, e eu senti que não ia conseguir ler o segundo TODO imediatamente após o primeiro sem entrar em algum tipo de depressão literária. Principalmente se o segundo fosse tão deprimente quanto o primeiro.
E é.
Na verdade, esse é ainda MAIS deprimente. Começamos, de um lado, com Todd dizendo para o Prefeito que fará tudo para ele contanto que ele salve a Viola. Do outro, temos Viola de cama com uma bala em sua barriga, tentando se recuperar.
No primeiro livro, nós tínhamos Manchee (ainda estou fula com a morte dele). Nós tínhamos a relação entre Todd e Viola, que estavam juntos praticamente o tempo todo. Nós tínhamos bons personagens que faziam a estória parecer mais leve. Nesse, nós não temos nada disso. Os únicos personagens além de Todd e Viola que me deixaram "feliz" foram Wilf e Lee. Aliás, nem o Todd me deixou tão feliz assim.
É muito difícil quando seu personagem principal é um criança que não sabe controlar seus sentimentos. Todd faz tantas escolhas erradas, tem tantos pensamentos estúpidos, reage de forma tão mal-pensada à certas coisas, que eu HONESTAMENTE considerei largar a série.
A única coisa que me manteve lendo o livro foi a Viola, a luz dessa trilogia toda que merece tudo de bom. Para as pessoas que me dizem que Todd faz tantas escolhas erradas por causa da sua idade ("ele é uma criança, praticamente" gritam os defensores) eu digo: e a Viola? Ela é, tecnicamente, mais nova que ele. Eu vi em algum lugar que ela tem só 13 anos (dos nossos anos), nem sei mais se vi isso no livo ou na wikipédia. Idade não é desculpa para nada. Eu concordo que o Todd foi criado nesse lugar horrível que deu forma à uma personalidade ruim, principalmente por ele ser o mais novo e o mais maltratado de toda a cidade em que cresceu, e que ele faz o melhor que acha que pode na situação extremamente difícil em que foi colocado, mas sério, gente, sério. O Todd me deixa muito frustrada. Eu não aguentava mais ler seus surtos de raiva, seus ataques e agressões (à outros e à si mesmo), e seus pensamentos maliciosos.
E isso me fez refletir: no primeiro livro, e no início desse segundo, eu achava que o que todos diziam, sabe, aquela famosa frase "Todd não pode matar"?, eu achava que isso fosse porquê ele era bom demais. Eu fui levada à crer que Todd Hewitt era um homem bom demais para matar outro homem, ou qualquer outra criatura. Mas o que eu percebi foi que suas ações não correspondem com as ações de um homem que não mataria alguém por bondade. Não só porque ele mata aquele Spackle no primeiro livro, mas porquê seus pensamentos são de uma pessoa irritada que parte para qualquer briga que puder. Pode uma pessoa asim ser boa? Talvez. Mas eu acho que o real motivo de Todd não conseguir matar nenhum outro homem é a covardice. O medo. Do remorso, das consequências, de sua própria consciência. Enquanto um homem bom não mataria outro homem para preservar a vida em si, Todd não mataria para manter sua consciência limpa. Sim, o Todd é covarde. Fazer a coisa certa pelos motivos errados ainda faz com que você esteja errado. Ele pode ser muito corajoso em certos aspectos (quando Viola está imediatamente envolvida em perigo, por exemplo), mas a maioria de suas ações nos mostra que não é tão simples assim.
É claro que até aqui eu estou apenas reclamando do Todd como personagem, e aplaudo Patrick Ness pela complexidade de suas criações, mas é aqui que a coisa entra no ramo da escrita. Vamos falar de desenvolvimento.
No final desse livro, eu não vou dar spoilers significativos, mas Todd se encontra em uma certa posição de liderança. E para a minha surpresa, naquela cena, ele parecia ter nascido para isso. E ei, eu aceitaria isso super bem, mas a transição do menino que ele havia sido para esse homem que vemos no final do livro foi quase... desenvolvimento demais. Eu não senti que Todd estava naquele ponto ainda, não senti que ele havia se desenvolvido o suficiente como pessoa, ou aprendido o suficiente, para chegar naquele momento e fazer as coisas que fez. Não que ele tenha feito muita coisa, mas ainda assim, a passagem de um para o outro não me convenceu.
De qualquer forma, chega de falar sobre o Todd. Vamos falar sobre o enredo.
Nesse livro, enquanto eu estava lendo, parecia que nada estava acontecendo. Como o primeiro livro foi só correria o tempo todo, e nesse nós ficamos praticamente no mesmo lugar o livro inteiro, eu fiquei um pouco entediada. Mas nada muito sério, o livro ainda tinha a narrativa rápida que me manteve lendo até o final, apesar de minhas inúmeras frustrações. Coisas acontecem, sim, mas é difícil prestar atenção nelas quando você está se afogando em um mar de depressão e raiva. Mas, no final, tudo estava diferente. Foi mais ou menos como aquela citação, "Dia-a-dia nada muda, mas quando você olha pra trás, tudo está diferente."? Bem isso aí.
Só que a atmosfera continua muito deprimente. Eu sei que estou usando essa palavra à beça, mas é isso, o livro me deprimiu. Nada de bom parecia acontecer, sempre que parecia que alguma coisa feliz ia surgir, ela era destruída. Eu não tenho nenhuma esperança que de as coisas terminem bem no próximo livro, nenhuma mesmo.
Pra ser honesta, nem sei porquê vou ler Monsters of Men. Não consegui me apegar aos personagens direito, sei que o próximo vai ser só guerra e desgraça, e ainda assim, eu decidi ler o próximo. Eu devo ser algum tipo novo de masoquista.
O que me motiva nesse ponto é a simples e pura curiosidade. Eu realmente quero saber o que vai acontecer agora. Como essa série termina? Porquê todos a amam tanto? Será que o final é bom?
E também, a vontade de não largar uma trilogia quando só falta uma pequena parte do caminho para seguir é muito forte. Odeio largar qualquer coisa que seja.
Gostaria de dizer, aqui, que esse livro não é ruim, apesar da minha resenha desencorajadora. É uma boa sequência para o primeiro, apesar de ser super diferente, e prepara um bom terreno para o terceiro. Eu só senti que, salvo algumas ocorrências, ele cai um pouquinho na síndrome do segundo livro. Nada que você perceba enquanto lê, mas algo que você vê depois que termina e reflete. Ou pelo menos foi assim que me senti, claro que várias pessoas vão discordar.
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