Paulo 11/09/2020
Demolidor O Demônio do Pavilhão D é a continuação do arco de histórias iniciado em Demolidor Revelado, e encerra a passagem do escritor Brian Bendis pelo personagem, dando início a fase escrita por Ed Brubaker. Este 4º Vol. apresenta 3 sagas completas: "Dossiê Murdock ", " The Devil in Cell-Block D " e “The Devil Takes a Ride”.
Em "Dossiê Murdock", Wilson Fisk, em custódia do F.B.I. desde a surra aplicada por Murdock no 2º encaderno desta coleção, propõe um acordo a agência: tudo o que sabe sobre o Demolidor em troca do perdão de seus crimes e uma passagem para fora do país. E é assim que Bendis encerra sua passagem pelo personagem, em uma narrativa cinematográfica onde a tensão e o suspense vão aumentando a níveis cataclísmicos, com um Rei do Crime que demonstra claramente o motivo de ser o inimigo definitivo do Demolidor: o antagonista manipula os acontecimentos de um modo tão genial quanto em "A queda de Murdock", colocando todo sistema em cheque, obrigando jornalistas, agentes federais e policiais a agirem como suas marionetes. Um final apoteótico de tirar o fôlego, com reviravoltas inesperadas. Leitura indispensável.
Em seguida, ao assumir o lugar de Bendis, Brubaker pega o protagonista em situação inédita: Murdock está preso. Em seu primeiro arco, “The Devil in Cell-Block D”, Brubaker utiliza um tema aparentemente batido para desenvolver a nova vida de Murdock: o limite entre lei e justiça. A questão é que, dessa vez, o advogado vigilante está preso e é obrigado a somar em seus dilemas o limite do que pode ser feito para sair da cadeia. Brubaker resgata a mesma paranoia e raiva que levou o herói a se declarar o Rei da Cozinhar após destruir Wilson Fisk com os punhos, algumas edições atrás: um caminho semelhante entre o pessimismo inerte ou o ódio provocador de ações. Alternando uma narrativa com um ritmo de tirar o fôlego a diálogos naturais e ácidos entre políticos, diretores do FBI e o responsável pela Ilha Ryker, Brubaker entrega o que eu vinha esperando desde o início do arco de Bendis, com a revelação da identidade do herói: o que aconteceria se Matt Murdock fosse preso? E Brubaker mostra bem o inferno de seu aprisionamento, mexendo ainda numa ferida do "american dream": a podridão do sistema, em que fica claro que lei e justiça nem sempre andam de mãos dadas.
Por fim, em "The Devil Takes a Ride”, Brubaker apresenta a caçada de Murdock atrás da pessoa que esteve manipulando eventos desde que ele foi mandado para a penitenciária, após sua fuga da prisão. França, Portugal, Espanha... O Demolidor faz um "tour" pela Europa juntando pistas, interrogando criminosos e trapaceando em cassinos até descobrir que alguém do passado está com uma sede insaciável de vingança, no mais fraco dos arcos deste encadernado. Apesar do final digno, com uma grande amostra de profundidade de um vilão clássico do personagem e do diálogo memorável que fecha a edição, a ida de Matt à Europa, ainda que em um tom mais investigativo, não funcionou tão bem pra mim. Ainda que concorde com quem diz que seja uma espécie de calmaria necessária após tantos chocantes acontecimentos nas edições passadas.
Enfim, Demolidor Vol. 4 é um deleite para qualquer leitor de quadrinhos. Depois de um fraco “Decálogo” (comparado ao que vinha sendo feito), Bendis encerra magistralmente sua passagem pelo personagem em uma das melhores edições desta coleção, dando continuidade ao que tinha sido inicialmente desenhado, e parecia ter sido deixado de lado. E Brubaker assume o personagem de maneira não menos impactante, já deixando suas credenciais e entregando algumas cenas memoráveis. Demolidor continua sendo uma história de super-heróis muito acima da média, abordando temas pra lá de interessantes pra uma história de herói.
PS: Esse encadernado encerra tudo o que se iniciou lá no primeiro Volume. De certa forma, você poderia parar por aqui. Mas depois do impressionante arco inicial de Brubaker, fica difícil não ficar ansioso pelo que está por vir.