Pablo 13/06/2020
O submundo americano dos anos 60
Hollywood me apresentou James Ellroy com um dos melhores filmes policiais de todos os tempos: Los Angeles - Cidade Proibida. E isso me levou a comprar Tablóide Americano num sebo, que entre pilhas de leituras e mudanças de cidade, só tive oportunidade de conferir agora. Como diz o ditado, antes tarde do que nunca. Que leitura! Ellroy tem um estilo seco e sem firulas, jogando o leitor no meio de uma teia complexa de interesses e personagens dúbios, capazes de tudo para atingirem seus objetivos. São 700 páginas de história que passam voando. Só não espere por atos de heroísmo nem procure mocinhos por quem torcer. Neste romance, quem toma conta da trama são os vilões.
Tablóide Americano oferece um tour de force pelo o início dos anos 60, acompanhando a a ascensão de John F. Kennedy nos EUA e de Fidel Castro em Cuba, com a máfia e o FBI a ditarem as regras dos jogos em narrativas múltiplas que se entrelaçam com maestria na jornada de três personagens em comum. Em primeiro lugar, temos Kemper Boyd, um agente federal encarregado de se infiltrar entre os Kennedys como um espião de J. Edgar Hoover, o mandachuva do FBI. Em segundo lugar, temos Ward Littell, outro agente do FBI especializado em grampos e que deseja ajudar os Kennedys a derrubarem mafiosos como Jimmy Hoffa. Por fim, temos Pete Bondurant, o braço direito do excêntrico Howard Hughes que faz uns bicos para mafiosos no tempo livre e decide trocar Los Angeles por Miami.
Logo, estes três personagens mergulham numa série de esquemas e conspirações que jogam uns contra os outros, numa dança complexa onde as alianças mudam de modo flexível e surpreendente que vão culminar num dos maiores traumas da história americana. Ellroy mistura realidade e ficção com naturalidade, criando um retrato vívido e funesto dos anos 60. Violento demais? Talvez. Ainda assim, uma leitura instigante que exige a atenção constante dos leitores.