Coisas de Mineira 05/11/2018
Sara Shepard é uma autora que ficou famosa por sua série de livros Pretty Little Liars, lançado nos Estados Unidos em 2006 e aqui no Brasil em 2010. Essa série é destinada para jovens adultos, contudo nunca me chamou a atenção, e só conhecia de ouvir falar. Na capa de "As Elizas" o nome da autora é associado à série, acredito eu, que como um chamariz, uma vez que por esses 16 obras divididas em 4 arcos, ela se tornou uma autora best-seller.
Assim, essa é minha primeira experiência com Shepard, e devido sua fama eu me senti muito atraída a conhecer sua forma de escrita, uma vez que a sinopse de As Elizas me entregou uma trama bem misteriosa e um tanto perturbadora. Um estratagema e tanto para chamar minha atenção... A resenha de hoje nos levará a conhecer uma personagem confusa, uma narradora não confiável, mas que é possível criarmos interesse em acompanhar seus passos, mesmo que às vezes, trôpegos.
Então, temos uma escritora iniciante chamada Eliza Fontaine, que começa o livro – que é narrado na primeira pessoa – contando-nos sobre sua estadia conturbada no Tranquility Resort, em Palm Springs. Ela nos conta uma história de assassinato que fofocas dizem ter acontecido nesse resort nos anos 60 envolvendo duas atrizes; um caso misterioso que ainda continua sem solução. Eliza relata também o quanto estava ingerindo álcool, e como sua mente estava ‘viajando’ sobre as formas que o assassino da atriz e aspirante a estrela, poderia ter executado a mulher.
Porém, sem mais nem menos, tudo se torna muito confuso, e Eliza acorda em um quarto de hotel, rodeada por sua mãe, seu padrasto e por sua “meia-irmã” chamada Gabby. Sem conseguir se recordar de qualquer acontecimento que possa tê-la levado ao hospital, ela exige de sua família respostas às suas questões. Sua mãe, em um misto de decepção e impaciência não explica nada a ela. Mas, seu padrasto informa que ela foi encontrada no fundo da piscina (de mais uma piscina, outra vez). Eliza tem recorrentes episódios de tentativas de suicídio por afogamento. No entanto, ela afirma que não estava tentando se matar, e que alguém a empurrou na água. Ela tem essa sensação – a de mãos a projetando para dentro da piscina – mas, ela não é confiável, e seu padrasto afirma que ela realmente pulou.
“Somos apenas falsidade, duplicidade e contradição; nos escondemos e nos disfarçamos de nós mesmos.
– Blaise Pascal”
Eliza nos explica que ela foi operada de um tumor em sua amígdala, que pressionava essa parte de seu cérebro, e fazia com que ela agisse de forma imprudente. Mas, com esse histórico de 4 ou 5 resgates de dentro de piscinas e até do mar, ela não tem credibilidade alguma perante sua família, nem com o investigador que a visitou no hospital. Frente a isso, decide que se quer saber o que aconteceu de verdade, e o motivo de alguém estar tentando matá-la, precisará investigar por conta própria. E é isso o que ela faz, procurando em primeiro lugar, o rapaz que a resgatou da água. Seu nome é Desmond Wells, e ele é um cara muito peculiar, mais ou menos da altura de Eliza; apaixonado por encenar, trabalha como “Júlio César” em uma feira.
Ele visita Eliza quando ela retorna para casa, e enquanto estão no quintal se conhecendo melhor e trocando informações sobre os acontecimentos da noite do resgate da piscina e da prestação dos primeiros socorros, ela conta a Desmond sua sensação (e praticamente certeza) de ter sido empurrada. Nisso, ele afirma que realmente teve a impressão de ver alguém fugindo logo que ele ouviu o ‘splash’ da moça dentro da água.
“Isso era apenas o mito em que ela queria que eu acreditasse, não a realidade.”
Os capítulos de As Elizas são intercalados com capítulos do livro que Eliza está prestes a lançar. O livro dela chama ‘As Dots’, e conta a história de duas Dorothys. Uma mulher adulta, que é referencial de tudo que possa existir de mais divertido, sofisticado, corajoso e ousado. E a outra Dot é a sobrinha, uma garotinha apaixonada por essa tia, e que tem um relacionamento meio complicado com sua mãe que está sempre trabalhando e pouco presente. A garota tem um tumor no cérebro e passa muito tempo em hospitais sendo pajeada o tempo todo por sua super tia. A mãe de Dot, embora sinta muito pesar por esse tipo de relacionamento entre sua filha e sua irmã, acompanha um pouco mais distante, pois ela precisa trabalhar, uma vez que Dot só a têm para cuidar das contas do hospital e de tudo mais em sua vida.
Com esses capítulos intercalados, foi bem fácil perceber o quanto Eliza trouxe de sua vida pessoal para a ficção propriamente dita de seu ‘As Dots’. Será que ela não percebia isso? Não se deu conta enquanto escrevia e lia o que havia feito? Eu achei que Shepard deixou os detalhes bastante aparentes para que o leitor pudesse ir fazendo essa junção de fatos no decorrer da narrativa. Foi uma jogada interessante, perspicaz, mas perigosa, uma vez que poderia ter gerado um desânimo no leitor caso ele sentisse que estava desvendando a história toda antes do fim da mesma. Pra mim deu certo, as coisas realmente não eram da forma que eu esperava e consegui ser surpreendida com os caminhos que Eliza seguiu adiante.
“Recebi um recado de voz esquisito desta mulher que diz ser sua mãe?! Ela não quer que a gente publique o livro!”
O que teremos à vontade nesse livro é essa busca incessante de Eliza por respostas. Ela consegue um aliado muito interessado em ajudá-la a descobrir o que aconteceu na fatídica noite. Nessa busca, Eliza precisa confrontar sua mãe, sua meia-irmã, o barman que atendeu ela em dos bares do resort (e possivelmente foi uma das últimas pessoas que a viram antes do acidente)... Ela precisa lidar com sua agente, com a editora, e com um programa famoso de televisão! Pra mim o mais interessante foi que mesmo sofrendo, e precisando lidar com um tipo de amnésia, ela foi resiliente.
Às vezes passou por sua cabeça que o tumor havia voltado. Ela duvidava de sua própria sanidade, já que tinha certeza que alguém a estava perseguindo. Seus amigos diziam tê-la encontrado em lugares que ela não se lembrava de ter ido. E a polícia não se interessou por seu caso, nem ao menos retornou suas inúmeras ligações. Ou seja, ela estava praticamente sozinha para desvendar esse mistério – praticamente sozinha, se Desmond não há apoiasse.
Enfim, a autora conseguiu responder aos questionamentos levantados durante o enredo. Não saímos com dúvidas dessa história. Descobriremos se Eliza tem algum problema de saúde, se o álcool pode estar afetando a mente dela com ilusões ou se tem mania de perseguição. Descobriremos os segredos sobre ‘As Dots’, e como foi incrível ler um livro dentro de outro. Foi uma ótima sacada de Shepard! Eu me envolvi bastante com essa narrativa, e atribui 3,5 estrelas em 5. Como eu adoro um thriller psicológico, e sou chegada a uma teoria da conspiração, me senti bastante satisfeita com o fechamento que Shepard trouxe para seu As Elizas.
“Deixar que ela se vá não significa amar ou odiar, significa não sentir nada.”
A edição de As Elizas está muito bonita. A capa brasileira ficou muito melhor do que a gringa, em minha humilde opinião. As cores escolhidas pela editora deixaram em evidência a dualidade e ambivalência existente na personalidade de Eliza, e ainda acrescentou a impressão de estar submersa, dentro de uma piscina. Nota 10 para essa capa, de uma edição em brochura, com 384 páginas em folhas amareladas e fontes bastante confortáveis. Uma edição simples e bastante agradável. A revisão e tradução também foram de ótima qualidade, uma vez que não pude perceber erros crassos durante a leitura.
A autora é norte americana, tem 41 anos, e é nascida na Pensilvânia. Vive com seu marido e seus cachorros. Sua série Pretty Little Liars – que é o maior motivo de todo seu sucesso – foi vagamente baseada em sua juventude passada na Filadélfia.
Por: Carol Nery
Site: http://www.coisasdemineira.com/2018/11/resenha-as-elizas-sara-shepard.html