Rumo à Estação Finlândia

Rumo à Estação Finlândia Edmund Wilson




Resenhas - Rumo à Estação Finlândia


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Irina.Alfonso 21/02/2024

Rumo à Estação Finlândia
Um conjunto de biografias utilizadas como fio condutor para contar a história da revolução comunista soviética. O livro se inicia contando sobre o historiador Michelet e o plano de fundo da Revolução Francesa, daí, ele segue para as biografias de Marx, Engels, Lenin e Trotski. Conta sobre a história de cada um, um pouco de seus escritos e teorias, cartas trocadas, etc. Tudo isso vai culminar no momento em que Lenin pega o trem na Suíça - local onde ele estava exilado - até a estação Finlândia, em Petrogrado, onde fez um discurso que definiu o curso da Revolução Russa.
É um livro interessante para se ter uma introdução histórica. Existem momentos meio lentos e tediosos (o início principalmente). Mas foi uma leitura interessante, no geral.
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@bibliotecagrimoria 16/01/2024

A proposta do livro é interessante. Basicamente um apanhado de toda a tradição revolucionária desde a Revolução Francesa até a Revolução Russa de 1917. O autor reúne, sintetiza e comenta os principais pensadores, começando com Michelet e indo até Lênin e Trotski, que se ocuparam com pensar a necessidade de uma transformação social na Europa e, consequentemente, no mundo.
Edmund Wilson destaca o quanto a tradição revolucionária francesa entrou em decadência após o estabelecimento da burguesia como classe dominante, cabendo posteriormente às vertentes socialistas o inconformismo que levaria a continuidade da luta pelas transformações sociais que a Revolução Francesa, de caráter burguês, não foi capaz de realizar. Nesse sentido, o autor traça um panorama das várias vertentes do socialismo, dos utópicos à Marx e Engels e, depois, o movimento bolchevique na Rússia.
Um ponto forte do livro são as abordagens biográficas das personalidades retratadas. Michelêt, Fourier, Owen, Renan, Bakunin, Lênin, Trotski, entre vários outros, são retratados em detalhes pelo autor a partir de relatos de cartas, anotações de diários, entrevistas e também de suas obras que ajudam o leitor a compreender seus pensamentos e o contexto de suas épocas.
Já o ponto fraco do livro é que nem sempre o autor deixa claro a fonte de onde tirou detalhes tão minuciosos. Além do que. na parte sobre os fundamentos da teoria e do método de Marx, especificamente no capítulo "O Mito da Dialética", as conclusões a que chega deixam a desejar. O autor, me parece, força muito ao tentar interpretar a obra de Marx a partir das suas origens judaicas. Para mim, e do contato que já tive com a obra do autor, sua luta pela emancipação do proletariado está para além da mera identificação que Marx poderia ter feito entre a situação deste com o povo judeu que, tal qual os proletários, também tiveram uma história de reclusão e marginalização social.
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Carol 05/08/2023

O livro tem narrativa histórica densa que explora o desenvolvimento do socialismo e do comunismo na Europa. Wilson faz uma análise profunda dos teóricos revolucionários, como Jules Michelet, Hegel, Karl Marx, Friedrich Engels, Mikhail Bakunin, e Vladimir Lenin.
O autor fornece uma análise detalhada de pensadores, políticos, e eventos históricos, tornando este livro uma referência útil para quem deseja entender o desenvolvimento das ideias socialistas. Porém, sua simpatia pelas ideias socialistas pode, em alguns momentos, influenciar o equilíbrio e a objetividade da análise.
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Claudia.livros 22/07/2023

Comecei a ler Rumo à Estação Finlândia aceitando o convite para participar de uma leitura conjunta a fim de conhecer as origens das ideias revolucionárias.
O autor, profundamente (e põe profundamente nisso) dedicado a defender as ideias socialistas, nos mostra o desenrolar dessas ideias começando com Michelet e seguindo na história até chegar em Lenin, na Rússia. Foi a primeira vez que li sobre Vico e alguns outros autores do passado que seguiram ideias não apenas revolucionárias, mas profundamente materialistas.
Todo esse povo vem tirando Deus da jogada há muito tempo para colocar no lugar o homem ou o Estado.
Para essas ideias funcionarem, a transcendência tem que morrer.
Deus e o Cristianismo não fazem parte dessa temática. Alguns até tentaram descrever um Jesus revolucionário, mas não é a ideia geral. Enquanto as pessoas acreditarem em Deus, em Jesus, numa espiritualidade superior, o materialismo não avança. E o comunismo também não.
Wilson faz o possível e o impossível para demonstrar alguma coerência nas ideias de Marx e Engels, embora ele mesmo tenha dificuldade nessa empreitada. Lá pelas tantas coloca a herança judaica de Marx na conta, rs
Sinceramente? Tem passagens difíceis de engolir, principalmente quando o autor "passa aquele pano" nas monstruosidades realizadas pelos socialistas, mas gostei demais da escrita dele. Apesar da ânsia de vômito em várias ocasiões, ele cumpre o papel de dar uma resumida geral nessa história toda.
Para dar uma aliviada, tem muita fofoca ?
Roberta 22/07/2023minha estante
Fiquei com vontade de ler!




Marion 01/07/2023

Big bem do marxismo
O livro conta toda a história de todos que tiveram ideias sociais até chegar em Marx e depois como Lenin e Trotsky começaram a difundi-las na Rússia.
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Vinícius 02/01/2023

Rumo à estação Finlândia, de Edmund Wilson
O autor faz uso da historiografia ao buscar as linhagens do pensamento revolucionário da revolução francesa até a revolução russa por meio dos seus principais atores.

No entanto, quando parte para suas avaliações pessoais dos fatos, é um total desastre. Não compreende a dialética hegeliana. Logo nos primeiros parágrafos do capítulo destinado a ela, reduz de forma manualesca a dialética de Hegel à fórmula tríplice "tese-antitese-síntese"; o que compromete a sua avaliação e entendimento e o faz buscar incessantemente enquadrar as coisas nessa fórmula.

Da mesma forma, não compreende a assim chamada teoria do "valor-trabalho". Faz simetrias rasas entre o socialismo e o nazifascismo. Sem contar a insistência na ideia de que o marxismo é uma espécie de seita religiosa que tem como fundador um judeu (esquecendo-se do fato de que Marx era ateu de origens judaícas).

A fundo, o que o autor almeja é atacar justamente os fundamentos do marxismo (a dialética, o valor-trabalho e a perspectiva revolucionária).

A obra é fruto do tempo histórico do seu autor e das contradições da atmosfera que estava inserido. Isso fica evidente não apenas nas suas avaliações e considerações que faz entre os capítulos, como também nos prefácios das edições seguintes, em que o autor faz pouco caso da importância da descoberta dos manuscritos preparatórios para 'O capital' (Grundrisse). De certa forma, o autor nesses textos posteriores estava sob efeito dos acontecimentos do desfecho da segunda guerra e do stalinismo.

Por sorte outros documentos vieram à luz e novas análises puderam ser feitas, o que faz do livro de Wilson um trabalho que reflete as circunstâncias histórias e objetivos que o autor estava circunscrito.
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pedro villar 14/05/2022

História das ideias que deram origem ao marxismo e, por consequência, à revolução russa de 1917.

A graça do livro é justamente esse exercício de buscar ligações entre os pensadores através dos tempos e suas influências em movimentos políticos de
esquerda.

Interessante como panorama geral desse tipo de pensamento.
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Volnei 21/04/2018

Rumo à estação Finlândia
Este é um livro que não me agradou em nada. Sua leitura é muito entediante . Não o recomendo
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Gervasio 19/12/2017

Rumo à estação Finlândia
Magnífico!!! Dá uma visão histórica do início do socialismo, passando por quase todos os personagens. Recomendo a leitura! Embora tenha sido escrito e publicado na década de 1940 o historicismo dá uma perfeita ideia dos ideais dos primeiros socialistas.
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Che 28/11/2017

HOMENS QUE FIZERAM HISTÓRIA
Depois de várias indicações recebidas, decidi ler a obra cuja tradução (muito boa, por sinal) para o português foi o marco inaugural da editora paulistana Companhia das Letras​, com grande sucesso comercial. Na verdade se trata de um livro clássico do crítico literário, jornalista e historiador Edmund Wilson que na época da edição brasileira já tinha um bom tempo de existência.

O assunto central do livro é a escalada revolucionária rumo à outubro de 1917, porém o autor narra cronologicamente, alternando entre capítulos sobre figuras histórias diferentes ao longo de três partes, o período entre a Revolução Francesa e a Revolução Russa, sem narrar especificamente os episódios que caracterizaram as duas, portanto se focando no ínterim entre elas e não nelas propriamente. Começa por versar pela contribuição do historiador francês Jules Michelet, nascido quase junto com a revolução francesa, atravessa todo o século XIX para terminar junto com Lênin na estação que dá título à obra, às vésperas da derrocada do governo provisório de Kerensky, tal como descrito com brilhantismo por John Reed em Os dez dias que abalaram o mundo​. Aliás, pra quem não conhece nenhum desses dois livros, sugiro fortemente que se leia o de Wilson antes e na sequência o de Reed, porque o impacto tanto emocional quanto narrativo e histórico deste será amplificado pela contextualização feita por aquele.

Logo e cara, tomei um susto topando com tantos capítulos sobre gente (que eu nem conhecia) como Michelet, Renan e Taine na primeira parte, não tocando no nome de Marx e Lênin, uma vez que fui ler o livro esperando que fosse apenas sobre marxismo. A narrativa de Wilson, entretanto, é tão saborosa que essa surpresa (a priori negativa) não me afugentou em nenhum momento do interesse vibrante que tive na leitura desde o primeiro capítulo, já que o autor mescla funções de historiador e crítico literário, pra não dizer de biógrafo, com brilhantismo, numa estética primorosa que narra ao mesmo tempo a vida e a obra desses homens de importância teórica fundamental, a ponto de suas personas e contribuições literárias serem entrelaçadas tanto entre si quanto com o contexto histórico, político e ideológico que tem nessas pessoas apenas um 'rosto' que, na verdade, é a ponta do iceberg de manifestações de época muito maiores do que eles individualmente.

Quando passei para a segunda e maior parte do livro, dedicada a Marx e Engels, compreendi perfeitamente o propósito da primeira e ela cresceu a posteriori no meu entendimento. Wilson vinha narrando a 'estagnação' da revolução francesa e do potencial que ela tinha - só parcialmente concretizado - para então evidenciar como ela vai aos poucos se inscrevendo nas bases que servirão para os revolucionários europeus de outra vertente, na qual o marxismo é dominante. Karl Marx é sem sombra de dúvida a maior figura das muitas descritas no livro, mais até do que Lênin, despertando um interesse pungente em Wilson, que versa longamente sobre como o filósofo germânico era como pai, marido e amigo. É particularmente intensa sua relação na prosa do livro a relação de Marx com outros revolucionários contemorâneos (especialmente Mikhail Bakunin​, Ferdinand Lassalle e, claro, o próprio Engels), sem jamais omitir - pra não dizer que busca com avidez - os conflitos entre eles, incluindo o breve contratempo entre Engels e Marx por conta da amante do primeiro.

A mesma pegada crítica, que se refere tanto às obras quanto ao comportamento pessoal dos grandes homens analisados minuciosamente por Wilson, é estendida para todos os demais, incluindo Lênin e Trotski - personagens maiores da terceira parte, já entrando no século XX. O autor alterna entre momentos de críticas mordazes e deslumbramento pela coragem dessas pessoas, sem perder jamais o fio da meada.

Em quase todas as ocasiões, mesmo suas ressalvas a todos eles - que variam de estilo literário adotado em seus escritos a algum erro estratégico que impediu ou adiou revoluções - são tão elegantes e bem expostas que não incomodarão mesmo seus maiores admiradores. A metáfora sobre a escada rolante no capítulo do "mito da dialética", por exemplo, por mais que se questione a validade da ponderação teórica do autor, é narrativamente genial. E também indo para o outro pólo, pra quem não gosta de um ou mais dos personagens descritos no livro (eu, por exemplo, detesto a figura pessoal do 'esnobista blasé' Leon Trótski​, ou a emotividade irresponsável de Bakunin), os elogios soarão pertinentes e sinceros. Em termos rigorosamente de estética narrativa, é até melhor que o livro de John Reed e por pouco não alcança a maestria deslumbrante da prosa de Eduardo Galeano no irretocável As Veias Abertas da América Latina​, ainda o melhor livro de não-ficção que li até hoje. Vai agradar tanto leigos completos na história dos revolucionários do século XIX quanto os que já conhecem algo sobre eles.

Como nem tudo são flores, Wilson acaba deixando escapar alguns maneirismos de sua filiação ideológica liberal, os quais comprometem um pouco a apreciação de uma obra que, de outro modo, seria perfeita. A insistência de tratar marxismo como seita religiosa (sempre aludindo a Marx como "judeu" e a suposta influência dessa 'condição' em sua obra, sendo que o alemão era ateu e eu não consigo de modo algum entender judaísmo como 'etnia') é maniqueísta e hipócrita, como se o liberalismo e a ditadura do capital não "endeusassem" o dinheiro e a sociedade de consumo.

Mas o que me incomodou mais sua tentativa de tratar o fascismo alemão e italiano de 1940 como - nos termos dele - 'socialismos de Estado' (um erro conceitual gravíssimo), a ponto de chegar às beiras de nivelar Marx com Hitler no capítulo sobre a dialética, além das alfinetadas rasas e estereotipadas em Stalin, o qual Wilson claramente odeia (diferente de Trotski e Lenin), muito embora felizmente ele quase não fale nada sobre o georgiano, já que a cronologia de sua narrativa não alcança seu governo. De todo modo, um ano depois de publicado Rumo à Estação Finlândia, eclode a Operação Barbarossa e dali em diante são os mesmos "religiosos da seita marxista" - assim tratados por Wilson - que livraram o mundo do nazi-fascismo do Eixo. Ou seja, a História tratada com tanto esmero pelo autor no transcorrer do livro fez questão de puni-lo e desdizer alguns de seus erros conceituais ideologicamente enviesados ao liberalismo, embora pra sorte dele (e do leitor) esses erros sejam escassos no todo da obra.

Seja como for, apesar de alguns erros que impedem a perfeição, Rumo à Estação Finlândia é uma narrativa deliciosa, lindamente escrita numa prosa magistral e recheada de ótimas informações biográficas sobre os revolucionários que ela busca investigar.
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Exusiaco 06/02/2015

Um belo panorama do socialismo, desde seus gérmens com, entre outros, Michelet, Graco Babeuf, Saint-Simon, Fourier, Owen, Enfantin e os socialistas americanos, a sistematização do marxismo com a simbiose Marx-Engels, até sua aplicação de fato, com Lenin rumo à estação Finlândia, instaurando o poder bolchevique na Rússia via sovietes e interferindo na História. Wilson resgata os grandes ícones tais como Marx, Engels, Lenin, Trotski, entre outros, para o mundo dos mortais, contextualizando-os em seus momentos históricos e humanizando-os ao indicar seus vícios, virtudes e contradições.

Marx fundamentou seu sistema em torno do materialismo dialético, pautando-se e invertendo a dialética de Hegel. Para este, com seu idealismo, a providência divina antecedia as mudanças da sociedade que se dava em tese, antítese e síntese. Com Marx, a dialética abraça um fenômeno imanentemente social em torno da luta de classes, com a história sendo feita por ação humana, não aprioristicamente como providência divina, mas impulsionada para o futuro. Batendo de frente com a exploração capitalista e subsidiado pela experiência industrial de Engels em Manchester, os dois parceiros construíram um pensamento filosófico anti-idealista, tendo por foco a intervenção filosófica na história e na sociedade, com fortes atuações militantes e pagando altos preços, principalmente Marx, com exílios, perseguições políticas, com este chegando a viver miseravelmente com sua família num subúrbio inglês e passando por tragédias pessoais.

Marx levava uma vida austera, formou e liderou algumas organizações comunistas e acompanhou atentamente os conflitos entre as classes burguesas e de trabalhadores, com destaque para a rebelião de 1848 na França, terminando com um massacre sobre estes, e a comuna de Paris, resultando em um massacre ainda pior dos trabalhadores pela classe dominante (alta burguesia).


O dogma marxista, pautado na dialética, preconizava um desenvolvimento pleno do capitalismo burguês, se desvencilhando totalmente da idade média para que se configure a tese.
A antítese seria a classe proletária reagindo contra a exploração e a situação miserável e sofrida de suas vidas, sem poderem evoluir humana e espiritualmente. Após um esgotamento do capitalismo em suas contradições, estes fariam a revolução e implantariam um ditadura do proletariado. O foco era atingir uma igualdade social, com o proletariado segurando as rédeas, que culminaria numa sociedade plena de paz, configurando a síntese.

Essa idéia de materialismo dialético generalizante em que toda a explicação da sociedade, em bases econômicas, se dava em tese, antítese e síntese, com o homem fazendo sua história sem intermediação divina, pelo seu aspecto redutor, chega a ser devedor de antigas mitologias germânicas, como aponta Wilson, não escapando, portanto, do campo da divindade. O marxismo exige muita fé e crença em seus dogmas, não se diferenciando de outras religiões, principalmente a cristã. O grau de utopia no marxismo, pelo menos o ortodoxo, podem levar até mesmo às raias da superstição e do fanatismo.

Marx acreditava que a humanidade, principalmente os proletários, viviam se corrompendo graças ao capitalismo e que esta mesma classe de expropriados, considerada essencialmente boa, colocaria naturalmente as coisas no eixo. Vemos nisso muito de Rousseau e suas idéias sobre o bom selvagem. Marx ingenuamente, pelo que consta, considerava a natureza humana essencialmente boa, que o mal não era inerente à humanidade, mas nela introjetado historicamente via sociedade. O desenlace na Rússia abalaria totalmente tais convicções.

A situação na Rússia foi se tornando cada vez mais propícia para a instalação do comunismo, principalmente com a Grande Guerra e o crescente desgaste do Czar. Na Alemanha e em outros centros, a social-democracia ganhava força e a luta de classes, caro ao dogma marxista, já vinha sendo fortemente contestada, principalmente pelo revisionismo de Edward Bernstein. A internacional socialista, que pregava a união de todos os proletários do mundo contra a burguesia, era apátrida num momento em que o sentimento nacionalista ganhava cada vez mais força na Europa.

A Rússia já tinha sido palco de alguns movimentos anarquistas e terroristas que incluíam atentados contra o Czar (com êxito sobre Alexandre II), movimentos irradiados a partir de nomes como Bakunin (que viveu mais fora da Rússia e travou contatos com Marx) e Netchaiev. O irmão de Lenin foi enforcado ainda jovem por participar de atos terroristas. Isso abalou Vladimir Ilitch (Lenin) tanto psicológica quanto socialmente, não sendo admitido mais em nenhuma escola. Com o tempo livre, ele passou a estudar "O Capital" de Marx, foi participando em círculos socialistas clandestinos, chegou a ser preso e exilado. Foi no exílio, em Stuttgart, que ele concebeu o livro "Que Fazer", um importante documento que viria a ser relevante para a consecução da revolução russa e do regime comunista. O livro pregava uma classe de poucos intelectuais que, na surdina, iria orientar e conduzir a massa, passiva, ignara e sem meios de agir por si própria, para a ação revolucionária. Entrevemos aí fortes elementos autocráticos que engendrariam o stalinismo.

No começo do século XX, a derrota na guerra para o Japão foi desgastando em muito a credibilidade imperial. Já em 1905, a Rússia foi convulsionada por maciças greves e fortíssimas repressões, com milhares de mortes. Nesse ínterim, Lenin, com o acréscimo também de Trotski, conspirava do exterior e ia orientando os caminhos para uma provável revolução. A Grande Guerra foi um fator determinante para que tal fato ocorresse, particularmente na Rússia. Na Europa o choque de nacionalismo estorvava a internacional socialista ao mesmo tempo em que um grande contingente de trabalhadores das potências envolvidas eram convocadas para lutar e morrer em nome da pátria. Lenin alertava que tal contingente morria em prol dos grandes capitalistas e ressaltava a falácia patriótica. Isso era contrário à união de todos os proletários do mundo. Na Rússia, os Mencheviques, que abraçavam a burguesia, preconizavam uma solução pacífica para a tomada do poder que fatalmente entraria em choque com a visão bolchevique em torno da luta de classes.

O certo é que o povo foi aderindo em massa à causa Bolchevique. Vários setores, cada vez mais descontentes, seja com burgueses, seja com o Czar, foram sendo cooptados e se alinhando com o pensamento bolchevique, capitaneado por Lenin. Uma grande massa que incluía trabalhadores e exército, formou uma milícia que enfim, em outubro de 1917, a custo de milhões de litros de sangue derramado, tomou o poder.

Quando Lenin desembarcou de trem na estação Finlândia, vindo do exílio, o povo se viu em segurança para o porvir dado o seu carisma e liderança e uma nova etapa na História mundial se iniciava. Lenin começou implantando os sovietes que eram vários conselhos que representavam, com mão forte, os vários setores e instituições da sociedade. As associações de bairros ocorrida na Comuna da Paris influenciou o modelo dos sovietes. Além disso, o pano vermelho como bandeira dos communards, que simbolizava o sangue do povo derramado na luta, foi adotado por todos os agrupamentos socialistas na Europa.

O que se viu depois, como se verificava implicitamente no livro "Que Fazer", foi que uma outra pequena classe dirigente veio substituir as oligarquias dominantes do império e a situação de exploração do povo não só continuou como piorou, pois o aparelho do Estado burocrático, principalmente a partir de Stalin, passou a perseguir impiedosamente os dissidentes políticos, sobrando até para correligionários que geravam incômodo ao poder stalinista, entre os quais Trotski, que acabou morto no México, a mando de Stalin.

Edmund Wilson demonstra que a idéia socialista é um princípio que visa ao bem estar da humanidade contra a exploração e a parasitagem do homem pelo homem, mas que a sistematização política e sua implantação de fato, esbarra na intermediação do homem e sua maldade inerente. O homem carrega dentro de si instintos bons e péssimos, sendo que os péssimos são mais sobressalentes. Marx já apontava, em seus escritos iniciais, que o liberalismo de Adam Smith, David Ricardo, entre outros, nada mais era que uma racionalização de instintos escabrosos e mesquinhos da espécie humana.

O socialismo falhou em ser uma alternativa e uma antítese ao capitalismo, visto que não teve condições de se desvencilhar do homem e seus vícios que o colocou em prática. Isto não exime o capitalismo do fato de ser uma desgraça que aniquilou, direta ou indiretamente, centenas de milhões de vidas a partir da era moderna. O capitalismo, assim sendo, ainda se encontra no espaço da tese.
Leon 28/07/2019minha estante
Comunismo desgraça que aniquilou diretamente centenas de milhões de vidas e ainda o faz nos países que se mantêm ditaduras do proletariado********


moraes_psi 12/06/2023minha estante
Desculpe, mas após falar do socialismo, comunismo, dizer que foi o capitalismo que matou? Nossa, que ideia invezada. O comunismo foi o regime que mais matou no mundo e segue matando, como disse o outro amigo aqui.




jmrainho 27/01/2013

Rumo à estação Finlandia
Rumo à Estação Finlândia. Edmund Wilson. Companhia das Letras, 1986, 470 páginas.

Primeiro livro da Companhia das Letras. É um estudo crítico e histórico das teorias revolucionárias européias que estabeleceram as bases do socialismo bolchevique. Desde a Revolução Francesa até a Russa, em 1917. O autor utiliza um método para que o leitor não incorpore o erro de imaginar que as grandes idéias são geradas por uma raça especial de grandes homens.
O nome da obra (Estação Finlândia) homenageia exatamente o momento em que Lenin chega à Rússia no início da revolução, desembarcando em São Petersburgo na estação que leva este nome.
Livro escrito em 1940 durante a aliança Hitler/Stalin.
Edmund Wilson (1895 - 1972), jornalista e crítico literário norte-americano. Escreveu também O Castelo de Axel.

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Excelente resenha no blog de Marcelo Campos, que cito trechos.
http://historiaeautoconhecimento.blogspot.com.br/2011/07/rumo-estacao-finlandia-edmund-wilson.html

Edmund Wilson faz um panorama da história social, do contexto social, político e econômico que está por traz das transformações protagonizadas por grandes personagens históricos, e principalmente os teóricos que influenciaram o marxismo e foram influenciados por ele até finalizar com LENIN. Traz biografias de todos.
Edmund Wilson faz uma análise crítica do pensamento marxista, e de como Marx/Engels foram mal interpretados por muitos marxistas; toma por exemplo a questão da dialética; Marx usa o termo não como o método argumentativo de Sócrates, mas a partir do principio da mudança proposto por Hegel. Para o filósofo alemão a dialética é uma lei que rege tanto os domínios da lógica como o mundo natural e a história; segundo ela todos processos de mudança possuem um elemento de uniformidade: atravessam um ciclo de três fases; a primeira fase (tese) é o processo de afirmação e unificação; em seguida vem a dissociação e negação da tese (antítese); por fim ocorre uma conciliação entre tese e antítese (síntese). Marx e Engels adotam o mesmo principio, e diferente de Hegel o projetam para do futuro: a sociedade burguesa é a tese; a antítese é o proletariado; e para eles a síntese seria a sociedade comunista.
Enquanto Hegel vê um principio que ele denomina Idéia Absoluta se auto-realizando através do mundo material, Marx inverte essa lógica de ponta cabeça: as idéias são humanas, e traduzem a matéria dentro da mente humana. Daí materialismo dialético, e o entendimento simplista de que a economia é a grande mola do esforço humano, e tudo ocorre por conta de uma motivação econômica; para Edmund Wilson isso é uma leitura equivocada do próprio Marx. Engels esclarece que não há essa prevalecência do fator econômico
O autor considera irônico que o pensamento marxista, ao afastar-se da metafísica hegeliana, terminará construindo uma mística materialista; há uma trindade sagrada (tese-antitese-sintese), e a dialética torna-se um espécie de demiurgo (188), uma força divina irresistível que move a história; os marxistas se esforçam na crença de que são agentes dessa força sobre-humana.
Marx é completamente cético em relação à democracia; foi criado num país autoritário e sempre imprimiu uma administração profundamente autoritária ao movimento socialista; só concebe transformações a partir de revoluções sangrentas. Ignorou completamente a eleição de deputados socialistas para o Reichstag, a partir de 1867, e o caminho intermediário de conquistar direitos e concessões a partir de pressão eleitoral.
Como salienta o autor, o pensamento marxista não é um sistema acabado: os dois últimos livros de O Capital saíram postumamente, quase 12 anos após a morte de Marx (1883). Engels terminou a série do Capital.
O conjunto de idéias de Marx é para o autor uma mistura de judaísmo tradicional, rousseaunismo do século XVIII e utopismo do início do XIX (444); e arremata:
“Não basta que o Estado assuma o controle dos meios de produção e se estabeleça uma ditadura que defenda os interesses do proletariado para que esteja garantida a felicidade de ninguém – exceto a dos próprios ditadores.”

O método marxista só leva a resultados válidos quando aplicado de modo novo por homens realistas o bastante para verem com seus próprios olhos – e corajosos o bastante para pensarem com suas próprias cabeças.
Este livro parte da premissa de que um passo importante foi dado, que uma “ruptura” ocorreu, que nada na história da humanidade jamais seria como antes.
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O livro Inicia com as idéias do Italiano GIOVANI VICO, ou Giambattista Vico,(1668 - 1744), filósofo que elaborou uma teoria crítica da história e influenciou JULES MICHELET. Criticava Descartes. Vico passou anos elaborando a idéia de que a abordagem histórica da lei como desenvolvida nas diferentes sociedades, aliada à visão metafísica da lei divina imutável, poderia delinear uma ciência que compreendesse as verdades conhecíveis pelo homem.
JULES MICHELET (1798-1874), filósofo e historiador Frances, introduziu a pesquisa histórica com fontes manuscritas extensas, e ênfase nos grupos e não nos líderes, sendo o autor principal o povo. Sua grande obra é História da Revolução Francesa; nela ressalta as contradições fundamentais: solidariedade de classe x dever patriótico; individualismo x solidariedade. Denunciou a traição da igreja católica romana frente ao povo. Queria combinar história e filosofia. Tinha 10 anos quando seu pai foi preso por não poder pagar as dívidas. Aos 17 anos perdeu a mãe, vítima de câncer. A fome e o frio o obrigava a procurar alimento e calor na própria mente e imaginação.
Até então (Vico e Michelet) a história sempre fora escrita como uma série de biografia de grandes homens, ou como uma crônica de acontecimentos notáveis, ou como um grande préstito comandado por Deus. Mas agora podemos ver que o desenvolvimento de uma sociedade foi afetado por suas origens, seus contexto; que, assim como os indivíduos, as sociedades passam por fases regulares de crescimento.
Vico: “O mundo social é certamente obra dos homens. Os governos se adaptam necessariamente à natureza dos governados; são resultado mesmo dessa natureza” . Para Vico, a meta do aperfeiçoamento é o Céu, sendo portanto, a salvação divina uma questão individual, que depende da graça divina.
Para Michelet, os indivíduos notáveis só interessavam na medida em que eram representativos de grupos e movimentos. Ele tornou Joana d´Arc popular e famosa, porém ela o interessava como portadora da voz do sentimento nacional do povo e não como mística ou santa. “Preciso transmitir a ele o que meus pais fizeram por mim, dando-me, através de sacrifícios inauditos, liberdade, a liberdade de ter tempo para dedicar a meu trabalho. Que não nos entreguemos a atitudes falsamente democráticas. O trabalhador é escravo ou da vontade alheia ou do destino. Disso escapei, graças a meu pai e minha mãe”. “Aquele que sabe ser pobre sabe tudo”. O leitor tem impressão de que Michelet é o próprio espírito humano em sua luta secular – suportando prolongados períodos de degradação, triunfando em extáticos renascimentos, dilacerado por terríveis conflitos interiores. O contexto era a revolução de 1848 em vários países da Europa. Na obra Da servidão e do ódio, analisa as classes da rede sócio-econômica, cada uma delas exploradora ou explorada. O camponês, eternamente devendo dinheiro ao agiota ou ao advogado, sempre com medo de ser despejado, inveja o operário da indústria. O operário, praticamente confinado e desprovido de vontade própria devido a sua subjeção à máquina, desmoralizando-se ainda mais, nos poucos momentos de liberdade que lhe permitem, na dissipação, inveja o artesão. Este quando aprendiz, pertence a seu mestre, é ao mesmo tempo criado e trabalhador, e tem inquietantes aspirações burguesas. Na burguesia, o industrial, tomando dinheiro emprestado do capitalista, sempre ameaçado de ser arruinado pela superprodução, comanda seus empregados como se o demônio o comandasse. Passa a odiá-los, por serem os únicos elementos incertos que impedem o funcionamento perfeito do mecanismo. Os empregados, detestam o capataz. O comerciante, pressionado por seus fregueses, que estão sempre tentando levar vantagem, pressiona o industrial para que este lhe forneça produtos malfeitos. É ele talvez que ele a via mais infeliz de todos, obrigado a ser servil para com seus fregueses, odiado por seus concorrentes, e odiando-os também, sem produzir nada nem organizar nada. O funcionário público, mal pago, também certifica-se de que suas idéias políticas e religiosas não desagradam o governo. O burguês perdeu o contato com o povo, diz Michelet. Todas as classes se odeiam mutuamente. Os ricos e os pobres devem freqüentar as mesmas escolas. Os pobres devem esquecer sua inveja, e os ricos devem deixar de lado o orgulho. O homem foi levado a moldar sua alma conforme sua situação material. Michelet rejeita o socialismo: para ele, a propriedade da França já foi demasiadamente subdividida. Nós mesmos somos o último capítulo da história, e que o próximo capítulo cabe a nós escrever.
Ernest RENAN (1823-1892) coloca o santo em primeiro lugar e o homem de ação em último. Michelet rechaçava o amigo Renan, pela liberdade interior passiva, que se preocupa com sua própria salvação e entrega o mundo ao mal. Marco Aurélio: “Resignar-se, enquanto se passa a vida em meio a homens falsos e injustos – era este o programa de vida do sábio. E tinha razão. A mais sólida bondade é a que se baseia no tédio perfeito, na constatação inequívoca de que tudo neste mundo é frívolo e sem bases reais”.
Quando François BABEUF, ou Graco Babeuf (jornalista, 1760-1797) estava na prisão, sua filha de sete anos morreu de fome. Ele conseguira permanecer pobre durante toda a vida. Sua popularidade era somente entre os pobres. Seus cargos públicos só lhe trouxeram problemas. Assim que saiu da prisão, fundou a Sociedade dos Iguais e foi executado por isso. Para ele, propriedade é roubo. Todas as nossas instituições civis, nossas transações comerciais normais, são atos de latrocínio, perpetuados e autorizados por leis bárbaras.
As revoluções ocorrem quando as molas humanas da sociedade são esticadas além do que podem suportar.
Conde de SAINT-SIMON.(1760-1825), filósofo e economista francês, um dos fundadores da sociologia. Passou por dificuldades financeiras, tentou suicidar-se. Propõe um novo tipo de cristianismo. O princípio básico de Cristo de amar ao próximo, aplicado à sociedade moderna, nos obriga a reconhecer que a maioria de nossos semelhantes são miseráveis e infelizes. Criou o sansionismo. Auguste Comte foi discípulo de Saint Simon e pregou o positivismo.
ROBERT OWEL (1771-1858), um dos fundadores do socialismo e do cooperativismo . Socialismo utópico. Filho de uma família de modestos artesãos. Após galgar diferentes degraus da produção, a partir do aprendizado, tornou-se, aos 30 anos, co-proprietário e diretor de importantes indústrias escocesas de fiação, em New Lanark. Ali reduziu a jornada de trabalho para 10,5 horas diárias - um avanço para a época, já que a jornada de trabalho de um típico operário têxtil era de 14 a 16 horas diárias. . Preocupou-se ainda com a qualidade de vida dos seus empregados, construindo casas para as famílias dos operários, o primeiro jardim-de-infância e a primeira cooperativa. Fundou, nos Estados Unidos, a colônia socialista de New Harmony (Nova Harmonia) que funcionou nos primeiros anos. Logo se deu conta que terrível discrepância entre a grande atenção dada à máquinas inanimadas e o descaso e desprezo com que se tratavam as máquinas vivas. E percebeu que por pior e mais insensata que seja a escravidão existente na América, a escravidão branca das fábricas inglesas era, nesse período em que tudo era permitido, coisa muito pior que os escravos domésticos. E não apenas os trabalhadores que sofriam: os próprios patrões eram degradados. “Eu estava absolutamente farto de s[ócios que eram treinados apenas para comprar barato e vender caro. Esse trabalho faz deteriorar e muitas vezes destrói, as melhores e mais elevadas faculdades da natureza. Com base na longa experiência de uma vida em que passe opor todos os níveis de comércio e manufatura, estou absolutamente convicto de que é impossível formar um caráter superior dentro desse sistema absolutamente egoísta. A verdade, a honestidade, a virtude continuarão a ser apenas palavras, tal como o são agora e sempre foram. Sob esse sistema não pode haver civilização digna desse nome; pois todos são treinados pela sociedade para entrar em conflito uns com os outros e mesmo destruírem-se mutuamente pela oposição de interesses que eles próprio criaram. É uma forma mesquinha, vulgar, ignorante e inferior de conduzir os negócios da sociedade; e nenhum melhoramento permanente, geral e substancial poderá surgir enquanto não for adotada uma maneira superior de formar o caráter e gerar riquezas.
Se as massas vivessem bem e fossem independentes, como as classes dominantes poderiam controlá-las?
As comunidades da época eram prejudicadas pela falta de fé quando se tinham fundos, e a falta de fundos quando se tinha fé. (Cabet)
KARL MARX, em 1835, na escola (Friedrich-Wilhelm Gymnasium, em Trier) escreve a composição para exame final “Reflexões de um jovem a respeito da escolha de uma profissão”. Com 17 anos. “Deve-se ter certeza de não se estar colocando na posição de mero instrumento servil nas mãos de outrem: o indivíduo deve manter sua independência em sua própria esfera, e certificar-se de que está servindo à humanidade – caso contrário, ainda que venha a se tornar famoso como erudito ou poeta, não será jamais um grande ser humano. Nunca nos realizamos verdadeiramente a menos que estejamos trabalhando pelo bem de nossos semelhantes; nesse caso, não só nosso fardo não será pesado demais, como também nossas satisfações não serão apenas alegrias egoístas.
“Não é bom trabalhar para a liberdade como escravo, e lutar com alfinetes em vez de porretes”.
Para ENGELS, os operários embriagavam-se todas as noites. Viviam brigando, e vez por outra chegavam a se matar. Desde os seis anos de idade haviam feito com eles todo o possível para minar sua força e roubar-lhes a alegria de viver. Para eles, só restavam o evangelismo e o conhaque. Em 1841, na Universidade de Berlim leu A essência do Cristianinismo, de Ludwig Feuerbach (1804-1872, obra que o libertou da teologia e o colocou no mundo da ação humana.
Nos anos de depressão, o superávit de mão-de-obra, que era tão útil nos anos em que a economia ia bem, era despejado nas cidades; estas pessoas tornavam-se mascates, varredores, lixeiros ou simplesmente mendigos – viam-se às vezes famílias inteiras mendigando nas ruas. Numa vez em que chegou a Manchester acompanhado de um burguês inglês, Engels mencionou a miséria terrível da cidade e disse que amais vira uma cidade tão mal construída; o inglês ouviu seus comentário sem dizer nada; ao chegarem na esquina onde se separariam, porém, o homem saiu-se com esta: “E, no entanto, aqui se ganha um bom dinheiro, até logo, meu senhor. Engels afirmava que as teorias de Adam Smith, MacCulloch e James Mill, eram basicamente racionalizações hipócritas dos impulsos gananciosos subjacentes ao sistema de propriedade privada que estava destruindo os povos britânicos; o Livre-Câmbio, e a Livre-Concorrência não impediam que o povo continuasse escravizado, e consolidavam o monopólico da burguesia sobre tudo que valia a pena possuir – todas as filosofias do comércio não faziam senão santificar as fraudes de comerciantes inescrupulosos.
Marx e Engels extrraíram da filosofia de HEGEL o conceito de transformação histórica, e que revelara que aas grandes figuras revolucionárias da história não eram apenas indivíduos extraordinários, que moviam montanhas simplesmente com a força de vontade, e sim agentes através dos quais as forças das sociedades em que eles se inseriam realizavam seus propósitos inconscientes.
Era impossível, para eles, que pequenas unidades comunistas por si só conseguissem salvar a sociedade, ou mesmo sobreviver em desafio ao sistema comercial;… porque esse movimento (comunista Americano, de Humphrey Noyes) ignorava o mecanismo da luta de classes. Um advogado Frances chamado Antoine Barnave, que fora presidente da assembléia revolucionária de 1790 afirmara que a diferença entre as classes era resultado das desigualdades econômicas; que a classe no poder numa determinada época não apenas fazia leis pra toda a sociedade com o fim de garantir o domínio de suas propriedades, mas também “orientava os hábitos e criava os preconceitos” da sociedade; que a sociedade estava constantemente mudando sob a pressão das necessidades econômicas; e que a burguesia ascendente e triunfante que substituíra a nobreza feudal terminaria produzindo uma nova aristocracia. (145)
A teoria marxista, segundo a qual a história era uma sucessão de conflitos entre uma classe exploradora e uma classe explorada. Esses conflitos eram resultados dos métodos de produção prevalecentes durante diversos períodos. No final do Manifesto Comunista (1848, pouco lido na época): “Que as classes dominantes tremam ante a idéia de uma revolução comunista. Os proletários nada tem a perder a não ser suas correntes. Tem um mundo a ganhar. Proletários de todo o mundo, uni-vos.” A idéia de Guerra justa, juntamente com a idéia de ódio justificado, veio substituir o socialismo de Saint-Simon, que se apresentara como um novo tipo de cristianismo. Agora os homens não são mais todos irmãos; não há mais uma solidariedade meramente humana. O verdadeiro humano será concretizado quando tivermos chegado à sociedade sem classes.
Gottschalk, que já havia sido solto, atacou Marx em termos semelhantes aos empregados por Weitling: “Eles não estão realmente interessados em salvar os oprimidos. Os sofrimentos dos trabalhadores, a fome dos pobres, para eles, só tem interesse científico e doutrinário.
Marx e Engels denominavam sua filosofia de materialismo dialético – um nome que tem o efeito indesejável de fazer com que o leigo tenha uma idéia errada do que é o marxismo, pois nele nem a palavra materialismo nem a palavra dialético são empregadas no sentido comum. A dialética de Platão era uma técnica de se chegar a verdade através da conciliação de duas afirmativas opostas. A dialética a que se referiam não era o método argumentativo de Sócrates e sim o princípio de mudança proposta por Hegel, uma lei que envolvia contradição e conciliação. O mundo está sempre mudando, diz Hegel, porém há nessas transformações um elemento de uniformidade: o fato de que cada processo de mudança atravessa necessariamente um ciclo de três fases: tese, antítese e síntese. Para Marx a tese era a sociedade burguesa, que constituíra uma unificação em relação a o regime feudal que desintegrava. A antítese era o proletariado, que fora gerado pelo desenvolvimento da indústria moderna. A síntese seria a sociedade comunista que resultaria do conflito entre a classe operária e as classes proprietárias e patronais. O que há neles de importante é a idéia de que o espírito humano virá a dominar sua natureza animal através da razão, e não o contrário, como muita gente pensa deles.
Marx havia tentado explorar as dificuldades de se estabelecerem relações entre arte e condições econômicas. E observa que os períodos de maior desenvolvimento artístico não coincidem com os de maior progresso da sociedade. Como as epopéias gregas.
Feuerbach: os homens fazem sua própria história, qualquer que seja seu resultado, na medida em que cada pessoa procura o objetivo que ela própria deseja conscientemente; e é precisamente a resultante dessas inúmeras vontades que atuam em diferentes direções e de seus efeitos diverso sobre o mundo externo que constitui a história. Assim, também entra em jogo aquilo que os inúmeros indivíduos desejam. A vontade é determinada pela paixão ou pela deliberação.
Contra a crença de um poder divido na história, Marx tentou afastar a idéia de uma Providência. “A História não faz nada, não possui riquezas colossais; não luta em nenhum combate. É o homem – o homem real vivo – que age, possui e luta sempre. A doutrina da salvação pelas obras, conforme mostra a história do cristianismo, com muita facilidade se transforma na doutrina da salvação peça graça. Identificando-se que a antítese da Dialética.
Engels demonstra que a revolta de LUTERO fora transformada num movimento de classe média com objetivo de derrubar a autoridade política e expropriar as riquezas do clero.
Marx consegue acesso à sala de leitura do Museu Britânico e lá passou a estudar diariamente das dez às sete. Foi despejado do elegante subúrbio de Camberwell em 1850 e se mudaram para uma rua pobre no Soho, com a família em dois cômodos. E com a empregada Helen Demuth, chamada Lenchen, que fora dada a esposa Jenny por sua mãe e acompanha os Marx por toda a vida. O menino que havia nascido alguns dias antes da mudança para Londres morreu nesse apartamento em novembro. O despejo ocorreu quando Jenny estava amamentando a criança. Dois oficiais de justiça se apossaram de todas as poucas coisas que tinham – cama, roupas de cama, roupas, até o breco e os brinquedos. Um amigo acudiu a dívida. Uma das mais notáveis contradições de Marx é o fato de que o homem que, mais do que ninguém, chamou a atenção para a motivação econômica, era incapaz de fazer o qu quer que fosse para ganhar dinheiro. Em 30 anos que viveu em Londres, só uma vez ele tentou arranjar um emprego regular. Vivia da publicação de artigos, muitos escritos por Engels e da ajuda financeira deste. Engels escrevia com facilidade e Marx tinha dificuldades para escrever. Quando jovem Marx escreveu: “O escritor tem de ganhar dinheiro para poder viver e escrever, mas ele não deve jamais viver e escrever a fim de ganhar dinheiro”. “Não deixarei que a sociedade burguesa me transforme numa máquina de ganhar dinheiro”. Porém, o fato é que ele está confinado neste mundo por suas necessidades e desejos humanos, e se ele não vai deixar que o transformem numa máquina de ganhar dinheiro, alguém terá que sofrer essa transformação para ganhar dinheiro por ele.
Relato do local onde Marx vivia em Londres, feito por um policial:
“Marx vive num dos bairros piores, e portanto dos mais baratos, de Londres. Ocupa dois aposentos. O que dá para a rua é a sala, sendo o dos fundos o quarto. Não há um móvel limpo nem apresentável em nenhum dos dois cômodos: tudo está quebrado, rasgado, e esfarrapado; a poeira cobre todas as coisas, e a bagunça é completa. No meio da sala há uma mesa grande e antiga coberta com oleado. Sobre ela há manuscritos, livros e jornais, bem como brinquedos, utensílios de costura de sua esposa, xícaras desbeiçadas, talheres sujos, lamparinas, um tinteiro, copos, alguns cachimbos, cinzas – tudo empilhado na mesma mesa.”.
Marx sofria de hemorróidas e furúnculos que o impediam de freqüentar a biblioteca. Em março de 1851 tiveram mais uma filha, porém, morreu de bronquite um ano depois. Jamais teve berço. Quando morreu sua mãe pediu duas libras a um refugiado francês para comprar o caixão. Marx recitava trechos de Fausto e a Divida Comédia. Marx saiu de Soho em 1856, quando a mãe de Jenny falecera legando a filha 120 libras esterlinas.Mudaram para uma casa de quatro andares em Haverstock Hill. Laura Marx casou com um jovem médico cubano chamado Paul Lafarge (que escreveu O Direito a Preguiça). Jenny casou-se com um socialista Frances chamado Charles Longuet. Em 1867 terminou o primeiro volume de O Capital. Marx afirma que o livro é “a tarefa pela qual sacrifiquei minha saúde, minha felicidade e minha família”. Sua esposa Jenny Longhet morreu em janeiro de 1883. Em março Marx descobre que está com abscesso pulmonar. Dia 14 Lenchen encontrou seu patrão desacordado no gabinete. Engels tomou-lhe o pulso e viu que havia morrido. Morreu trabalhando. Lenchen foi tomar conta de Engels. O Capital foi terminado por Engels (que morreu em 1895) e depois Kautsky. Eleanor Marx, sua filha, continuou atividades revolucionarias. Escreveu ela: “Cada vez mais me convenço de que os comportamentos errôneos nada mais são que uma doença moral”. Eleanor, que herdou dinheiro de Engels, tomou veneno e morreu quando descobriu que o homem que vivia, Aveling, casou com uma jovem artriz. Aveling herdou o que restou do dinheiro de Engels e foi viver com a nova esposa. Paul e Laura Lafargue perderam todos os filhos que tiveram. Lafargue fechou o consultório e virou fotógrafo, vivendo em dificuldades. Laura também herdou dinheiro de Engels, e ela e seu marido decidiram suicidar-se em 1912 quando já tinham 70 anos. Os dois injetaram morfina e foram encontrados mortos em suas camas. Os Marxs tiveram 5 filhos, dos quais 3 homens e uma mulher sobreviveram. Um deles Jean Longuet, tornou-se líder da ala esquerdista dos socialistas franceses. Seu filho, Robert-Jean Longuet, bisneto de Marx, está (no momento deste livro) editando uma revista em Marrocos em defesa dos interesses dos nativos contra o regime militar frances. Karl-Jean Longuet escultor francês (1904, 1981 Paris). É bisneto de Karl Marx. Passou a militar no campo simbólico da cultura enunciado pelo Bourdieu através das artes plásticas. Juliette Longuet é neta de Karl-Jean Longuet e, por consequência, tataraneta de Karl Marx. É uma estilista francesa que deixou Paris em 2003 para morar em Nova York. É famosa por ter criado o vestido do tipo Longuet. O paisagista Roberto Burle Marx, sobrinho-neto do Marx, viveu no Brasil. Marx teve um filho ilegítimo com Lenchen e registrado com o sobrenome da mãe, como Henry Frederick Demuth (1851) e ele foi provavelmente entregue a uma família proletária e só reapareceu em 1880, foi motorista de táxi, depois emigrou para a Austrália. Deixou na Inglaterra esposa e os quatro filhos que Marx cuidou.
A intuição psicológica de Marx: ninguém jamais enxergou com olhos tão implacáveis a infinita capacidade humana de não perceber ou encarar com indiferença a dor que infligimos aos outros quando temos oportunidade de tirar dela algum lucro.
Marx nos apresenta a imagem de um mundo em que as mercadorias mandam nos seres humanos. “ Todas as nossas invenções e progressos parecem ter a consequência de atribuir às forças materiais uma vida intelectual e reduzir a existência humana à condição de força material”. Esses princípios econômicos que se prestam a demonstrações tão elegantes provêm simplesmente das leis do egoísmo humano. Enquanto as massas humanas do mundo industrial são escravizados apenas para “transformar uns poucos novos-ricos vulgares e semi-instruídos em eminentes produtores de algodão, grandes fabricantes de salsichas e influentes comerciantes de graxa. O sistema feudal ao menos garantia certos direitos em troca de certos deveres.
Mais-valia. O trabalhador vende sua capacidade de trabalho como qualquer mercadoria. Seu valor é determinado pela quantidade mínima para mante-lo vivo e em condições de trabalhar e gerar uma nova oferta de trabalhadores. É obrigado, para não perder o emprego, a trabalhar, oito, dez horas por dia. Desse modo, o padrão rouba do trabalhador de duas a quatro horas de trabalho e vende o produto desse trabalho por seu valor. Esse valor do trabalho roubado é a mais-valia e seria o lucro do industrial. É esse valor que lhe permite tornar-se gordo e insolente, enquanto o trabalhador é reduzido ao mínimo necessário a sua subsistência. Os fabinanos ingleses, com base em Stanley Jevons, elaboraram uma teoria contrária fundamentada na demanda: o preço de qualquer mercadoria é determinado pelo seu grau de utilidade para as pessoas que a ela tem acesso, e isto, por sua vez, pode ser considerado o determinante do valor do trabalho necessário para produzi-la Quanto ao comerciante, ele não produzia valor do mesmo modo que o trabalhador, apenas economizava dinheiro para o industrial, ao distribuir as mercadorias por ele produzidas, e recebia uma parte da mais-valia do industrial.
Marx e Engels leram obras de antropólogos que os convenceram de que uma gens comunista fora a verdadeira forma primitiva de organização social. No livro A origem da família, da propriedade privada e do Estado, Engels (após a morte de Marx) tenta, com base em Lewis Morgan (que viveu entre os índios iroquis), demonstrar que a singela grandeza moral da velha sociedade pagã sem classes fora minada e destruída pelos meios mais desprezíveis – roubo, violência, astúcia, traição, e o novo sistema de classes fora instituído pelos impulsos mais mesquinhos.
Se orgulhavam de ter elaborado um novo socialismo científico em contraste com o velho socialismo utópico.
Para Marx é direito para os proletários expropriar os burgueses, e até mesmo aprisioná-los e matá-los. Uma contradição entre o bem que ele propõe a humanidade e a crueldade e o ódio que deu origem a muitas confusões morais.
Marx passaria o resto da vida afirmando que todo ser humano era dotado – para usar a terminologia de Thomas Jefferson – do direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Com 60 anos aprendeu russo.
Diz Marx no Capital, que “no sistema capitalista todos os métodos de incrementar a produtividade social da força de trabalho atuam em detrimento do trabalhador individual: que todos os meios de desenvolver a produção são transformados em meios de dominar e explorar o produtor; que eles mutilam o trabalhador e o reduzem a um fragmento de ser humano, à condição degradada de acessório da máquina, fazem de seu trabalho um tormento tamanho que seu significado essencial é destruído; isolam-no das potencialidades intelectuais do processo de trabalho na medida exata em que a ciência é a ele incorporada como força independente: que distorcem suas condições de trabalho, sujeitando-lo, durante o processo de trabalho, a um despotismo que é tão mais odioso quanto mesquinho; que transformam toda a sua vida em expediente e arrastam sua mulher e filhos ao holocausto do ídolo do capital”.
Marx escreve a Engels: “Sofro tantas desgraças quanto Jó, embora não seja temente a Deus”. E Prometeu continua sendo seu herói predileto. O herói que trouxe a luz foi torturado por Zeus por meio de uma águia que lhes bicava precisamente o fígado devorado, como o do pai, pelo câncer. E no entanto, se o pai Zeus enviou uma ave voraz para torturar o rebelde, é também um devorador voraz e destruidor o fogo que Prometeu deu aos homens. E nesse ínterim, o salvador jamais é salvo. É esse o trauma responsável pela angústia e pelo desafio que reverberam por todas as páginas de O Capital. Chamar atenção a ele não é diminuir a autoridade da obra de Marx. Pelo contrário, na história, como em outras áreas, a importância de um livro depende não apenas da abrangência da visão e da quantidade de informação nele contidas, mas também das profundezas de onde ele foi arrancado. As obras mais cruciais do pensamento humano – excluída as das ciências exatas – são sempre as que exprimem em obras os resultados de experiências novas e fundamentais às quais os seres humanos tiveram de se adaptar. O Capital é um desses livros.
A proletariado não soube administrar uma nova sociedade. Quando, através das negociações sindicais, o proletariado obtinha melhores salários e mais horas de lazer, ele não pensava numa revolução mundial; quando gerava um líder parlamentar de valor, este era comprado ou absorvido pela classe governante. E o homem comum quer uma casa com confortos possibilitados pela máquina (enquanto Marx jamais se preocupara em garantir para a mulher e as filhas um mínimo de condições de vida decentes em seu lar).
Hoje em dia parece claro que apenas o homem que já desfrutou de um bom padrão de vida e uma certa segurança financeira é realmente capaz de lutar pela segurança e pelo conforto. Mas , quando ele obtém essas coisas, ele se transforma em algo muito diferente da concepção que Marx tinha de proletário. Não há limites ao processo pelo qual as pessoas que vivem de lucros continuarão indiferentes ou ignorantes em relação à miséria daqueles que lhe garante o sustento.
Marx e Engels eram revolucionários até o âmago. Sua visão revolucionária sempre os colocava num plano acima dos azares do destino e dos atos dos homens.

Embora não tente e não consiga explicar a excelência dos poemas homéricos como produtos de uma cultura que deveria ter sido primitiva – problema esse que Marx jamais viria a resolver.

MIKHAIL BAKUNIN, anarquista, fora um súdito fiel do Czar na juventude e em Berlim, sob influência dos jovens hegelianos, foi caminhando para a esquerda. Ficou oito anos preso. Em um bilhete à sua irmã durante a época da prisão, acorrentado na parede: “Você jamais compreenderá o que significa ser enterrado vivo, dizer a si próprio a cada momento do dia e da noite: sou um escravo, estou aniquilado, reduzido à condição de impotência pelo resto de meus dias.” A questão central da luta entre os seguidores de Bakunin e os de Marx foi a abolição do direito de herança. Era uma medida que Bakunin exigia com veemência, talvez porque ele estava tentando sem sucesso, convencer os irmãos a lhe enviarem uma parte dos bens da família. Segundo Bakunin, o revolucionário é um condenado, sem interesses nem sentimentos pessoais, sem sequer um nome que seja seu. Morreu em 1876 anunciando sua desilusão com as massas.

VLAIMIR ULIANOV(LENIN) – Líder do movimento social-democrata da Rússia ainda jovem. Sofrendo de tuberculose gástrica, habituou-se a poupar energias e adaptar-se às vicissitudes da vida. Foi preso e na prisão fazia 50 reflexões todos as noites antes de deitar. Escreveu entre outros, Um passo a frente, dois passos atrás. Para ele, “os escritores, jornalistas e artistas representam um mundo mais atraente do que qualquer outro, um mundo reservado apenas para os eleitos”. Ele escrevia textos de critica literária e pequenos ensaios, que eram publicados num jornal siberiano, durante seu exílio. Ficou na sua cabeça o refrão de Antonio Labriola (1843-1904) – “as idéias não caem do céu”. Ao contrario de Marx, Lênin não tinha muitos livros, estudava mais nas bibliotecas. Escreve Lênin em seu panfleto O colapso da Segunda Internacional: “A experiência da guerra, como a experiência de qualquer crise na história, de todo grande desastre e toda súbita virada numa existência humana, atordoa e destrói alguns, porém (o grifo é de Lênin) ilumina e endurece outros. Os grandes lucros, enquanto isso, tinham sido usados para seduzir a camada mais privilegiada do proletariado, e os socialistas haviam virado imperialistas também.Tinha convicção candente de que o sofrimento não era uma parte essencial e inevitável da vida, porém uma abominação que as pessoas podiam e deviam eliminar.

LEV DAVIDOVITCH – ou TROTSKI (1879-1940) adotou esse que era o nome de um carcereiro.
Leon Trótski foi um intelectual marxista e revolucionário bolchevique, fundador do Exército Vermelho e rival de Stalin na tomada do PCUS à morte de Lênin
Trotski não é como Marx, um grande pensador original, não é nem um grande estadista original, como Lênin; talvez não fosse sequer inevitavelmente um grande rebelde: é como se ele se visse jogado no mundo da revolução. É um desses homens superiores que prosperam dentro de uma escola, sem criar um sistema nem tampouco romper com ele. Trotski não arriscou coisas como seu conforto e paz de espírito, mas também a própria vida e as vidas de seus seguidores e seus familiares, mais o desfrute do pode político que é a única satisfação material que o marxismo permite a seus sacerdotes. (é o personagem do filme Dr. Jivago que se encontra com o protagonista num trem blindado). Como comissário de guerra em 1918-19 ele conseguiu, viajando em seu trem blindado, deslocar-se tão depressa de um front a outro... É a teoria do marxismo, o diagrama do desenvolvimento social, e não as vicissitudes imediatas das vidas de seus semelhantes, que está presente na mente de Trotski. Para ele, meios tais como a mentira e o assassinato em si não são nem bons nem maus. Ambos são necessários em tempo de guerra, e os aprovamos ou reprovamos dependendo do lado cuja vitória desejamos.
MÁXIMO GÓRKI (1868-1936), pseudônimo de Aleksei Maksimovich Peshkov, foi um escritor, romancista, dramaturgo, contista e ativista político russo. Gorki sempre levou a sério a religião – embora não se considerasse cristão – e falava sobre a busca de Deus, algo que tornava Lenin furioso. Seu livro Meus dias com Lenin sofreu modificações consideráveis no tempo de Stalin. O texto original terminava assim: “No final das contas, o que terminava vencendo é o que há de honesto e direito naquilo que o homem faz, aquilo sem o qual ele não seria homem”.
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Silvio 13/09/2012

Um brilhante estudo sobre a história do pensamento socialista, desde os seus prímórdios com o francês Jules Michelet (o primeiro a criar um método para analisar a história como um processo integrado entre as várias classes e atividades humanas), culminando com o marxismo e a revolução soviética em 1917.

O fascínio desse livro está na habilidade de Edmund Wilson dar vida e intensidade a um tema aparentemente tão árido e de interesse específico. Talentoso tanto como historiador quanto jornalista e biógrafo, Wilson nos apresenta, como num romance, os personagens que, com suas ideologias, influenciaram profundamente o século 19 e o 20, ecoando até os dias de hoje: Fourier, Marx, Engels, Proudhon, Bakunin, Lenin, Trotsky.

Grande parte do livro é dedicada à vida e a obra da dupla Carl Marx e Friedrich Engels e é realmente fascinante acompanhar suas vidas enquanto desenvolviam uma filosofia que tanto influenciou as décadas seguintes. E aqui, na minha opinião, está o grande mérito do livro, mostrar os personagens como realmente eram, seres humanos com suas virtudes, defeitos e enormes contradições.
Modesto 31/03/2018minha estante
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Leon 28/07/2019minha estante
Filosofia que tanto matou nas décadas seguintes***


Lucas.Cunha 22/04/2024minha estante
É Leon, como se outras "filosofias" não matassem tanto quanto, ou até mais, né?




Deini 22/02/2010

Ótimo relato histórico
Recomendo muito a leitura deste livro para aqueles que gostam de estudos de história política.
Edmund Wilson sumariza neste livro a evolução do pensamento socialista, desde sua concepção primordial iniciada pelos franceses até o ápice de sua influência no desfecho da Revolução Russa e surgimento da URSS.
Discorre sobre vários autores franceses, com suas ideias gerais e suas bases de influência (de onde vieram essas ideias, suas motivações, raízes, etc.).
Em alguns momentos ele pode descrever um personagem da história com tintas muito fortes (o que faz com que gostemos ou desgostemos do mesmo) entretanto, é um relato memorável para quem quer conhecer linhas gerais e depois se aprofundar no assunto.
Um guia de referência para bibliografias e pessoas. Recomendadíssimo.
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