Auristela 12/02/2024
PELO PRAZER QUE ME DÁ APRESENTAR: NASSIM NICHOLAS TALEB
Tenho por fim lidos –revisitados, vez por outra relidos - os quatro ensaios desse autor: Iludidos pelo acaso: a influência da sorte nos mercados e na vida (2001); A lógica do Cisne Negro (2007); Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos (2012) e Arriscando a própria pele: assimetrias ocultas no cotidiano (2018). Ainda não li: A cama de Procusto: aforismos filosóficos e práticos.
Imagine que eu quisesse resenhar o último dos quatro livros do projeto acima, que o autor intitulou de Incerto. Ao fazê-lo eu estaria arriscando a minha própria pele, me expondo. Algumas pessoas podem criticar a minha percepção - justifico e não resenho. Fujo do desafio. Acontece que eu não sei resenhar, nunca estudei uma técnica, estou só me protegendo. É uma escolha simples e assim não me equivoco. Nem tampouco aprendo, compartilho conhecimento, ou invento a minha maneira de - me resigno a minha incompetência.
Mas se eu ao menos tentar, posso contribuir para que outras pessoas conheçam o autor. Talvez pesquisem conceitos apresentados. Sejam mais tolerantes. Passem a perceber os perigos do universalismo levado ao pé da letra. Busquem compreender: os dilemas éticos, o princípio da intervenção, o problema de agência, a transferência e/ou compartilhamento de riscos. O que significa a via negativa (e utilidade negativa), a teoria da complexidade. O que é simetria, ergodicidade, estado absorvente. A regra da minoria, o problema da escala, do dimensionamento.
Ou quem sabe se interessem por saber mais das questões sobre a inveja (o inverso de empatia) e o ressentimento. E por que eu deveria me preocupar com treinos de força? Onde e como procurar vulnerabilidades? O que é o efeito Lindy? Taleb nos explica novamente: o tempo equivale à desordem e a resistência aos estragos causados pelo tempo. Sobrevivência é a capacidade de lidar com o caos diário, as mudanças, o que aconteceu ou que ainda está por vir.
Dando sequência ao insight extraído de Antifrágil, aqui o autor nos diz, resumidamente e explicitamente o seguinte: Não te tornarás antifrágil às custas dos outros. A virtude e a honradez genuínas são necessárias. Logo, evitar: a falsa solidariedade, a sinalização de virtude.
As ideias todas nesse livro parecem de início ser tão sintetizadas que é impossível acompanhar. Mas a cada página são resgatadas com outros exemplos, explicadas nas notas. É o caso do dilema viés-variância, da racionalidade limitada, da racionalidade ecológica, das preferências reveladas. A diferença entre a probabilidade de conjunto e de tempo. Essas últimas vão nos ensinar como os “testes estatísticos” e “científicos” são insuficientes na presença de problemas de ruína e repetição de exposições.
Você sabia que não existe isso de crença irracional? Tem a ver com o princípio da precaução e o robusto entendimento do risco. “... na vida real, cada pedaço de risco que a pessoa assume contribui para reduzir sua expectativa de vida. Se alguém escala montanhas e dirige uma motocicleta e pilota seu próprio avião e fuma cigarros e pratica parkour nas noites de quinta-feira, sua expectativa de vida é consideravelmente reduzida, embora nenhuma ação isolada tenha um efeito significativo.” É justamente a ideia de repetição que torna a paranoia com relação a alguns eventos perfeitamente racional: todos esses riscos se somam.
O autor incita a cada um que busque, na vida, a coragem necessária e que aja, mas seja prudente. Nos remete a Warren Buffett: “A diferença entre as pessoas bem-sucedidas e as pessoas realmente bem-sucedidas é que as pessoas realmente bem-sucedidas dizem não para quase tudo”.