Bullshit Jobs

Bullshit Jobs David Graeber
David Graeber




Resenhas - Bullshit jobs


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Paulo 03/10/2021

Observações sobre a sociedade atual
Esse livro parece ser uma continuação mais elaborada de um ensaio que o autor escreveu para um jornal em 2013 sobre um fenômeno que ele observou e chamou de Bullshit Jobs. O ensaio na época rendeu alguns boatos, e isso talvez tenha inflamado Gaeber a continuar escrevendo sobre o tema. Digo isso pois vejo que o livro não se baseia em dados estatísticos para suas argumentações, pelo menos não em sua maior parte, até porque o autor mesmo diz que não há muitos estudos realizados sobre esse tema. Assim, o livro se baseia mais nas observações do autor, o que se percebe pela quantidade de vezes que eu li frases que começam com “I think that…” ou semelhantes; já ele próprio chama o assunto de “collaborative project”, pois também se baseou em relatos de pessoas do mundo inteiro que se declararam trabalhar em um Bullshit Job. Deve-se levar em conta que Graber é antropólogo e que, portanto, ele sabe observar a humanidade e elaborar análises com base nisso - e de fato este livro apresenta um assunto interessante e que vale a pena parar para pensar um pouco se você trabalha.

Sobre o tema em si, resumidamente: o termo “Bullshit Jobs” se refere a um serviço cujo sentido de existência nem mesmo o trabalhador que o executa consegue explicar bem, embora ele nem sempre admita isso publicamente; um serviço que, ele sabe, se desaparecesse da sociedade ela nem sentiria a falta, um serviço serve para dificultar a vida de outros, ou alimentar burocracias inúteis, ou resolver problemas que nem deveriam existir, ou manter fúteis aparências etc. Há diferença, no entanto, de um serviço ruim (shit job), que são aqueles que embora sejam percebidos como úteis pelos trabalhadores, eles sejam mal remunerados ou mal tratados.

Dada a definição, o autor tenta tratar o porquê dos BS existirem, porque eles aumentam, os malefícios que eles causam nos trabalhadores, o porquê da sociedade não ver esse fenômeno como um problema (ou nem sequer ver o fenômeno), e por que o autor vê esse problema como “ultimately political”, como se fosse do interesse de um grupo de pessoas manter boa parte da sociedade trabalhando mesmo que inutilmente.

Entre outros assuntos, achei interessante quando ele comentou a respeito do desenvolvimento tecnológico humano, que em tese serviria para otimizar os serviços e assim diminuir tempo gasto pelas pessoas em trabalhos, o que lhes permitiria mais tempo para outras coisas de sua vida, mas que, pelo contrário, a tecnologia otimizou o serviço para que o ser humano trabalhasse mais produzindo ainda mais do que antes. Ou como eu mesmo assimilei, é como correr numa esteira de academia onde não importa o quão rápido você corra você nunca chegará ao fim da esteira.

Li esse livro com o intuito de saber como outra pessoa descreveria o que eu vinha percebendo há um tempo, mas sem saber como definir. Um sentimento de que boa parte de nossos serviços sejam uma perda de tempo que nos deixa infelizes com o passar dos anos, sem agregar em nada nas nossas habilidades e prazeres, enquanto a vida passa e a única coisa que nos foi dado a fazer é estar preso num escritório fazendo serviços irrelevantes para sustentar um consumismo sem sentido até o dia de nossa morte. Vou além do termo Bullshit Job, pois creio que mesmo um emprego que tenha um sentido para o trabalhador pode lhe trazer infelicidade a depender das circunstâncias, por ser algo que o consome aos poucos como uma doença.

O livro não se trata de um solucionador do problema, mas tão somente uma apresentação do problema, uma observação da sociedade atual. Algo para se pensar.
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