spoiler visualizarmauuagouro 27/05/2024
Pior que ele era consciente de tudo
Quando uma pessoa inegavelmente babaca morre, geralmente há uma tentativa da família, amigos, sociedade no geral de tornar os atos que a pessoa cometeu em vida em atos inconscientes, sem a intenção de fazer o mal, para amenizar o caráter péssimo e fazer o cara ser lembrado de maneira menos pior. Mas o que vemos nesta obra é Machado esmagando essa visão; com a franqueza do personagem Brás Cubas, narrando a própria vida pomposa e miserável, que no máximo, numa pequena tentativa de alívio de consciência, faz analogias bizarras para justificar opiniões e atitudes despresíveis que ele toma ao longo da sua trajetória.
As pessoas entravam e saíam de sua vida e ele continuava inabalável, ele tem consciência disso, mas para além de inabalável, ele continuava vazio.
Ele nunca se importou em ser uma pessoa boa ou ruim, mas com a idade começou a ter medo de morrer miserável, e tentou burlar esse sentimento com algumas ambições e projetos rasos.
Além de escancarar a podridão narrada pelo próprio canalha do Brás, Machado também escancara a podridão da burguesia brasileira, que vive de aparências e para aparências, apenas parasitando; esse cenário triste e nojento de puro suco de Brasil infelizmente não mudou muita coisa até hoje. Nessa boa aparência também reside um conforto inabalável, esse conforto (privilégio na sua essência mais pura) gera e é gerado por pessoas sem empatia nenhuma, nenhuma comoção, nem por dor e nem por amor, o máximo que Brás sente por alguns personagens é apego.
Ele é tão carente de sentir algo mais profundo que mesmo sabendo os nomes de todos os grandes filósofos, com grande bagagem intelectual por ter estudado nos lugares mais caros, sabendo falar de maneira requintada etc, ele adota a primeira "filosofia" que vê pela frente, com o Quincas Borba; facilmente capturado pelo sentimento de exclusividade, de algo novo, diferente (que de diferente não tem nada) e superior (típico da burguesia), talvez na esperança de ser lembrado como um projeto de Platão e Sócrates.
Brás Cubas foi um grande vazio recheado de frustrações!
Resenha boba minha na tentativa de enaltecer o Machado. Com certeza um dos livros mais importantes da minha vida!?