Resenhas - Sombras de Reis Barbudos

@apilhadathay 16/05/2014

Instigante
As pessoas falam muito de felicidade, se atropelam para serem felizes, mas poucos se interessam pela felicidade dos outros. É um erro porque a felicidade de um beneficia a todos. (p. 20)

Dependendo do que você entende por spoilers, esta resenha pode contê-los.
Conheci o livro por intermédio da minha professora de Teoria da Literatura e por ocasião do nosso projeto de pesquisa sobre o insólito, o realismo mágico e as distopias. Foi uma surpresa maravilhosa encontrar um livro autenticamente nacional, que surgiu entre as minhas leituras como quem não quer nada, resolvi comprar e que conta com um narrativa tão boa quanto a nossa Literatura pode produzir. Vejam o nosso passado: nosso país é o berço de Machado, Alencar, Raquel, Vinícius, Veríssimos, Braga, Rey, Veiga... Para começar! Nada devemos a quem quer que seja.

O livro é narrado por Lucas, um homem que conta um recorte de sua infância no interior, quando recebe a visita do popular Tio Baltazar - que trouxe, na bagagem, as ideias para fundar a tal "Companhia", uma fábrica que viria a transformar a vida dos cidadãos daquela pacata cidade.

O livro dialoga com as distopias quando retrata as imposições e absurdos que a Companhia impôs aos habitantes daquela cidade - que foi cercada por muros, vigiada por fiscais de plantão. Ali, as pessoas deviam seguir determinadas normas de comportamento, e os desobedientes pagariam com prisão. Vemos nitidamente a influência do contexto histórico na criação da obra: publicado pela primeira vez em 1972, em plena ditadura militar, esse livro sutil, de mensagens tão leves quanto profundas, veio transmitir um recado claro sobre o totalitarismo durante a Ditadura Militar, que perdurou até 1984.

O livro tem uma linguagem deliciosa, muitos momentos engraçados e também nos provoca aquelas reações tão óbvias, de quando nos deparamos com o Realismo Mágico: o estranhamento, o franzir de sobrancelhas, o revirar do cérebro. Ele inquieta, diverte, critica gentilmente o sistema ditatorial através da Companhia, mas não se trata de uma distopia: os eventos não se passam em um mundo futurístico, com tecnologia de ponta, acima do que a ciência nos permite atualmente.

Não: ele é mais bucólico, simples, inserindo no cotidiano o elemento do mágico, do insólito. Foi um livro muito gostoso de se ler, rápido, de linguagem acessível e um trabalho que deveria ser adotado em todas as escolhas de ensino fundamental e médio.
Recomendo!!

Luiz Gustavo 29/08/2020

José J. Veiga nasceu em Corumbá de Goiás, e é considerado um dos maiores autores em língua portuguesa do realismo fantástico. Em “Sombras de reis barbudos”, publicado em 1972, Veiga apresenta a instauração de um regime de opressão em uma pequena cidade do interior do país. Uma tal Companhia Melhoramentos de Taitara chega à cidade prometendo modernização, mas, com o passar do tempo e a ampliação de seu poder, estabelece regras cada vez mais absurdas para manipular, controlar e oprimir os cidadãos. Muitos afirmam que a narrativa é uma alegoria da ditadura civil-militar da época, mas há controvérsias. O tema central do livro é, sem dúvidas, a opressão – e esse é um tema recorrente na obra de J. J. Veiga. A opressão pode ser implantada de muitas formas diferentes, sob muitas justificativas igualmente diversas. Na narrativa, temos uma empresa, que promete “avanços” e “modernização”, subjugando a cidade com os poderes que adquire. A meu ver, há muito mais uma crítica sistêmica ao capitalismo ao invés de uma crítica a um regime político específico; no caso, a ditadura civil-militar. O narrador é um adolescente que assume uma voz infantil para contar, de uma perspectiva futura, os acontecimentos que levaram à instauração da opressão na cidade durante sua infância. E, é claro, há muitos acontecimentos alegóricos/simbólicos sobre os quais é difícil definir um significado, e são esses acontecimentos que tornam a história assustadora e interessante. Apesar de ser um livro curto, "Sombras de reis barbudos" é, sem dúvidas, uma grande leitura.

Marcio Monteiro 01/03/2009

Ditadura !
Fábula angustiante que me ensinou muito sobre a ditadura militar. Deveria ser obrigatório no ensino médio ou pré vestibular !

Tito 25/07/2010

Uma parábola angustiante.

Thyago 22/12/2014

SOMBRAS DE REIS BARBUDOS: UMA ALEGORIA À DITADURA MILITAR NO BRASIL
Sombras de reis barbudos é o quarto livro de José J. Veiga, publicado em 1972 durante a Ditadura Militar no Brasil.

A história é ambientada em uma cidadezinha chamada Taitara e é narrada em primeira pessoa e protagonizada por Lucas um adolescente que conta toda a história da chegada da Companhia (Fabrica de melhoramentos) à pequena cidade e toda a opressão instalada por ela aos moradores.

A história começa com a chegada do Tio de Lucas, Baltazar, que com a ajuda do pai de Lucas, Horacio, seu cunhado, se unem para criarem uma firma, uma companhia. Após muitas negativas, finalmente encontram sócios que os ajudam com o financiamento. Baltazar se torna presidente-diretor da companhia. Porém após alguns anos algo acontece na companhia, Tio Baltazar perde o posto e tem que partir imediatamente da cidade por uma grande enfermidade.
A partir daí as coisas começam a acontecer na cidade. Como por exemplo, da noite para o dia aparecem muros altos brancos pela cidade toda, cortando as ruas, formando labirintos. Um caminho que levaria minutos para ser percorrido agora levaria uma hora para fazer o mesmo trajeto. Infelizmente não posso dar mais spoilers, mas como podem ver José J Veiga se utilizará de muitos símbolos em sua obra afim de tecer a história baseada na vida vivida durante a ditadura militar. Os muros são só o começo, e representam o fim da liberdade, liberdade de se locomover abertamente, de enxergar ao longe.

A partir daí a companhia começa a criar muitas outras proibições, muitas delas sem pé nem cabeça. O medo, pânico e a opressão começa aos poucos e se instauram cada vez mais pela cidade.

O livro retrata também no mesmo tom de alegoria e símbolos do realismo mágico e distopia de forma muito sutil as Inúmeras proibições, as perseguições, torturas, o poder e respeito pelos militares, as mazelas e a pobreza, as prisões etc que ocorreram durante a ditadura militar... Tudo escrito de uma forma belíssima e sutil de disfarçada ficção.

O Final é de uma beleza impar. Embora o J. J Veiga tenha lançado o livro em 1972, a ditadura ainda não havia acabado. Mas o final é belíssimo. É um vislumbre de esperança.

A história é uma metáfora, uma alegoria à ditadura militar que começou no Brasil em 1964. Portanto é muito difícil não mencionar spoilers quando na verdade o realismo fantástico que o autor cria na história, dialoga com a realidade vivida na época da ditadura.

Através do realismo fantástico mesclado à distopia presente na ditadura o autor se utiliza dessa ferramenta para criticar o totalitarismo vivido por ele na época.

O Romance possui apenas nove capítulos. E flui muito rapidamente. É um ótimo livro para adolescentes ou até mesmo adultos interessados em saber mais sobre a ditadura militar no Brasil. Embora o livro possa também ser lido e apreciado sem os conhecimentos prévios da ditadura. Um ótimo livro para estudantes do ensino médio, Obrigatório em toda biblioteca.

C r i s 07/09/2015

Uma excelente história de distopia e uma leitura brilhante da ditadura militar.

douglaseralldo 12/03/2017

10 Considerações sobre Sombras de Reis Barbudos, de José J. Veiga ou como ver urubus no céu
1 - Sombras de Reis Barbudos é a reunião do insólito e do fantástico numa obra de linguagem escamoteada construindo uma metáfora interessantíssima sobre poder e autoridade que não sem motivos é vista também como alegoria ao regime ditatorial do país ao tempo de seu contexto histórico;

2 - Aliás, o escamoteamento do texto narrativo faz bastante sentido em virtude de seu narrador, o jovem Lucas que pelas armadilhas da memória resgata os acontecimentos na cidade de Taitara, principalmente as mudanças advindas com a chegada da Companhia, uma instituição que dominará o lugar de tal forma que a narrativa aprofunda-se sempre cada vez mais na opressão;

3 - E não faltam na obra elementos para instigar a opressão de tal forma que se torna perceptível ao leitor, muitas vezes de forma sufocante com seus personagens aprisionados por muros, na impossibilidade de pensar, sempre num retirar de liberdade mais e mais profundo e usando-se da violência como instrumento de repressão, tanto a física quanto a psicológica;

*Resenha completa no blog

site: http://www.listasliterarias.com/2017/03/10-consideracoes-sobre-sombras-de-reis.html

Vitor 08/05/2017

Livro parecido com a reunião dos bichos
Esse livro é bem parecido com a reunião dos bichos, pois assim como esse livro, se uma criança o lê, ela adquire certo conhecimento. Quando um adolescente que não tem muito conhecimento sobre a ditadura militar, adquire outro conhecimento. E por fim, o adulto ou adolescente que sabe sobre a ditadura, tem a chance de refletir sobre seus conhecimentos.

Gladston Mamede 13/11/2017

Em 1981, primeiro ano do segundo grau, o prof. José Nani nos pediu para ler este livro. Foi uma revelação, já que fugia de tudo o que já tinha lido e, mais do que isso, falava de coisas que a gente tinha ouvido falar, mas ainda temia. Um livro muito triste e muito bem escrito. E minha gratidão ao prof. Nani.

Daniel 13/04/2018

É proibido olhar para cima ou Só não voa quem não quer
O enredo se passa numa pequena cidade do interior de Goiás, que da noite para o dia vê sua rotina modificada pela chegada da Companhia Melhoramentos de Taitara, uma empresa que surge prometendo o bem estar e o progresso, mas que aos poucos e sem nenhuma cerimônia impõe um regime tirânico sobre a população, levando às consequências mais absurdas.

Narrado em primeira em pessoa, é pela ótica de um jovem cujo pai se torna fiscal da Companhia que toda a realidade se descortina aos olhos do leitor. As transformações no cotidiano da cidade, inicialmente sutis e sem grande alarde, vão se tornando cada vez maiores e mais funestas. Muros surgem do dia pra noite separando ruas, nuvens de urubus infestam os céus da cidade, pessoas são punidas por infrações banais como cuspir para o alto, cumprimentar os vizinhos ou rir em público, a memória coletiva desaparece e incidentes cada vez mais estranhos e inverossímeis tomam conta da narrativa, chegando em alguns momentos ao limiar do surrealismo.

A obra é uma alegoria sutil, mas não menos incisiva, sobre a Ditadura militar no Brasil, representada magistralmente pela Companhia e seus desatinos, que levam a um crescente de dominação, submissão e violência, a ponto de transformar a vida dos habitantes da cidade em um verdadeiro inferno.

Em um determinado momento da obra, o protagonista se pergunta: o que é o absurdo? Seria aquilo que foge à realidade ou aquilo que aceitamos como a realidade? Não é a própria realidade, com todas as injustiças que somos obrigados a aceitar passivamente, absurda? Não estamos vivendo o absurdo nesse exato momento?

Com fortes traços do realismo mágico, uma linguagem simples e toques de lirismo, José J. Veiga criou uma obra prima da literatura fantástica no Brasil, cuja temática continua (infelizmente) bastante atual.

Flavio.Gabriel 09/01/2020

Infelizmente, achei bobo
O livro trata de fato de estruturas de repressão institucionalizadas sob a ótica de uma criança que viu de perto o que é a construção de uma instituição, do poder de dominação dela sobre adultos, das estruturas de poder aplicadas dentro da própria sociedade, tudo aos olhos de um menino que, embora passem os anos, ainda é um menino.

Sob esse aspecto, o livro é bem legal, mas infelizmente achei bobo, porque o livro não evolui em seus desafios, as coisas vão acontecendo simplesmente por acontecer e deixam de acontecer sem que tenham significado algo. Talvez seja eu que esperava algo explodidor de cabeças, mas achei o texto belo e simples, porém bobo. Vou guardar na memória pra indicar pra minha filha ler quando ela crescer.

filhodepeterpan 26/08/2020

Uma alegoria política de prosa deliciosa.
"Sombras de Reis Barbudos" traz semelhanças inevitáveis com "Revolução dos Bichos" logo de cara. Ambos os romances (ou até mesmo fábulas) trazem uma narrativa simples cheia de camadas de significado. Qualquer um pode ler e aproveitar a narrativa gostosa que o Veiga proporciona nesse livro. Entretanto, estar ciente do contexto histórico com certeza enriquece a história.
Apostando em uma espécie de realismo mágico reinventado, Veiga traz o protagonista "Lucas" como nossos olhos e ouvidos. Tudo que ele sabe, nós sabemos; tudo que para ele é um mistério, também é um mistério para a gente. Cabe ao leitor encontrar conexões e significado na busca de estruturar um sentido à história.
O prefácio da edição da Companhia das Letras, escrita por Luiz Roncari, é ótimo porém expositivo. Recomendo a leitura apenas após a finalização da história.

arielyccs 23/11/2020

a narrativa e construção desse livro é muito boa; muito fácil de se ler, além de ser cativante.
o livro fala bastante sobre política de uma forma bem fluída. o protagonista é uma criança, o que deixa a história muito mais interessante.
recomendo esse livro muito.

Ronaldo Thomé 29/01/2021

Sob a Sombra do Autoritarismo
Grande livro e grata surpresa! José J. Veiga é um bom autor nacional, que ficou por bastante tempo esquecido e voltou ao radar literário, nas últimas décadas.

Veiga é reconhecido por fazer parte do Realismo Fantástico, embora muitos de seus textos tenham menos elementos desse estilo (por exemplo, o insólito, o fantasioso unido ao dia a dia) do que em outros autores. Dito isto, este é um dos trabalhos em que essa característica é bem evidente, e sem dúvida cumpre o que propõe: reflexão em meio ao estranhamento.

A história acompanha a vida de um jovem, morador de uma cidade típica do interior de Goiás. Embora o texto não indique a idade com a qual escreve, é fácil perceber que o narrador fala sobre sua juventude e adolescência.

No enredo, seu pai e seu tio Baltazar (esse, um homem de posses) iniciam o processo para trazer uma empresa, identificada como Companhia, para a cidade. O evento é comemorado com pompa e alegria, pelo menos até que Baltazar seja expulso do comando da empresa. O pai do garoto, então, torna-se fiscal da Companhia, ocasionando uma mudança abrupta e agressiva em seu comportamento. A partir daí, coisas estranhas começam a acontecer na cidade; temos uma distopia, na qual aparecem sentimentos fortes de medo, apreensão e, por fim, desprezo. Fica claro, até pelo ano (1972), que o autor queria mostrar o desnorteamento que a nossa Ditadura causou na sociedade.

O texto é leve, lembrando autores como Jorge Amado (é uma típica história de um bom prosador), e nunca fica tão pesado a ponto de causar repulsa; mas é fato que Veiga provoca inquietação e ótimos questionamentos: a formação da masculinidade, a rebeldia adolescente, a descoberta da sexualidade precoce (e, por que não, o abuso juvenil).

O final do livro segue em direção a uma reviravolta interessante, embora (na minha opinião) um tanto abrupta. Esse é daqueles livros que me fez querer ser mais longo, com mais detalhes e densidade; no entanto, é fato que é uma ótima obra, e uma boa opção se você quiser conhecer o que se escreveu sobre esse assunto em nosso país. Definitivamente recomendado!

Indicado para: quem quer saber quais são as marcas que o autoritarismo nos causa.

Nota: 9,5 de 10.

Bianca 06/07/2021

Sombras de reis barbudos é um livro q fala (de uma forma "escondida") da ditadura militar.
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É um livro com uma linguagem bem fácil de ler e não é um livro chato, eu gostei da ação e da narrativa dele.
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Com relação as analogias da ditadura eu não tenho oq falar, muito bom véi, vc fica pensando e tentando entender oq elas querem dizer e nossa... É um livro meio cabeça nesse aspecto.
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Algumas questões do livro ficaram em aberto, mas confesso q eu fiquei bem agoniada pq eu não entendi o pq o autor escolheu esse nome pro livro (o pq desse título não foi explicado na história) vc q vai imaginar o pq o autor escolheu esse nome.