Tauana Mariana 09/01/2021
“Sem Exu não se faz nada”
Livro é muito esclarecedor, a cada capítulo eu tomava um tapa na cara. Isso porque tinha uma visão distorcida de quem é Exu, apesar de ter a companhia dos meus.
O título já mostra qual o viés de raciocínio de Alexandre Cumino. Para pontuar, de uma vez por todas, que Exu não é Diabo, o autor explicou quem é de fato o dito cujo. Deste modo, a primeira parte do livro se dedica a explicar quem é o Diabo e suas múltiplas facetas. A história da criação do demônio é extremamente interessante e o autor explica qual a origem de diversos nomes atribuídos a ele, tal como Satã, Belzebu e Lúcifer. Também mostra por que o diabo é relacionado a figura do bode.
Duas coisas, ao menos, são muito claras:
1) O Diabo é uma invenção do catolicismo. Afinal, não se pode vender um remédio (um lugarzinho no céu) sem um mal a combater (o lugar ruim e seu rei). Nós judeus, inclusive, não acreditamos na ideia de diabo, nem na de inferno.
2) A ignorância é um grande mal da sociedade, é isso também se reflete na distorção contínua dos escritos religiosos. Ocorreram ao longo dos anos diversas traduções mal feitas ou tendenciosas, que foram mudando gradativamente o sentido do que foi escrito. O legítimo “telefone sem fio”.
A segunda parte do livro fala sobre o Orixá Exu e foi escrito no estilo psicográfico, como se o próprio estivesse contando sua história. Assim ele fala:
Eu sou Orixá Exu. Dizem que faço bem e faço mal; no entanto, aqueles que assim afirmam não sabem realmente a diferença entre bem e mal, entre certo e errado. O bem e o mal são concepções exclusivamente humanas. Faço, sim, do certo o errado, e do errado o certo. De uma forma muito simples retira o véu que cobre seus olhos (p. 95).
Na terceira parte há uma explanação sobre quem é o Exu na Umbanda. Aqui descobrimos, inclusive, que pesquisadores umbandistas foram algumas das pessoas que compartilharam essa relação entre Exu e Diabo.É importante pontuar que Exu é Orixá e Guardião (p. 113). Segundo Cumino (2019, p. 115), “na Umbanda, Exu é um espírito guardião, protetor, um sentinela, um guarda, a polícia do astral; é nosso guia assim como Caboclo e Preto-Velho”. Exu e Pombagira “são espelhos de nós mesmos” (p. 128).
Ainda que a gente tente entender quem é Exu, ele transcende ao nosso conhecimento, pois “Exu é algo que nosso racional procura entender, mas que com certeza não pode dar conta em sua totalidade. Exu é anterior à razão” (p. 107).
E pra quem tem medo de Exu, fica mais um esclarecimento:
“Umbanda é religião, portanto só pode praticar única e exclusivamente o bem. Não se engane nem se deixe enganar, o contrário do bem não é Umbanda” (p. 131).
Referência:
CUMINO, Alexandre. Exu não é Diabo. São Paulo: Madras, 2019.