Cartas de um Estoico

Cartas de um Estoico Sêneca




Resenhas -


8 encontrados | exibindo 1 a 8


Bruno Gil 14/01/2024

O Volume 1 é bem melhor
Poucas cartas nesse volume dão vontade de seguir até o fim. A maioria é bem sem graça e em alguns momentos chegam a se perder.
comentários(0)comente



Thalita Teixeira 08/01/2024

Nesse segundo livro, as cartas são mais direcionadas aos assuntos relacionados a virtude, razão e morte. Sêneca fala os princípios da sabedoria, e o que de fato é a felicidade. Para quem leu o primeiro livro, pode pular a introdução, pois nesse segundo livro a introdução é a mesma. Para quem não leu o primeiro, é extremamente importante a leitura da introdução, pois nela temos informações que nos auxiliam na interpretação das cartas.
comentários(0)comente



Palomasm 15/01/2023

Estoicismo
Não canso de ler Sêneca, os pensamentos e a filosofia de vida compartilhada com sei amigo Lucílio é muito rica.
comentários(0)comente



Alane.Sthefany 22/11/2022

Cartas de Um Estoico - Sêneca (Vol. II)
Cartas de Um Estoico II

LXVI. Sobre vários aspectos da virtude

A virtude não precisa de nada para compensá-la; é sua própria glória, e santifica o corpo em que habita.

A alma não é desfigurada pela feiura do corpo, mas pelo contrário, que o corpo é embelezado pela beleza da alma.

O que pode ser acrescentado ao que é perfeito? Nem se pode acrescentar nada à virtude, pois, se alguma coisa puder ser acrescentada a ela, seria necessária alguma imperfeição.

A capacidade de melhorar é a prova de que uma coisa ainda é imperfeita.

Nenhum ato é honrado quando é feito por um agente involuntário, quando é obrigatório. Cada ato honorável é voluntário. Misture-o com relutância, queixas, covardia ou medo, e perde sua melhor característica ? auto aprovação. O que não é livre não pode ser honrado; pois medo significa escravidão.

Assim como o brilho do sol escurece todas as luzes menores, assim a virtude, por sua própria grandeza, quebra e abranda todas as dores, aborrecimentos e erros; e onde quer que seu brilho chegue, todas as luzes que brilham sem a ajuda da virtude são extintas; e os inconvenientes, quando entram em contato com a virtude, não desempenham um papel mais importante do que uma nuvem de tempestade no mar.

Isto pode ser provado para você pelo fato que o bom homem apressar-se-á sem hesitação a qualquer ação nobre; mesmo que seja confrontado com o carrasco, o torturador e o pelourinho, ele persistirá, não quanto ao que ele deve sofrer, mas quanto ao que deve fazer; e desempenhará tão prontamente a uma ação honrosa quanto a um homem bom; ele o considerará vantajoso para si mesmo, seguro e propício. E ele manterá o mesmo ponto de vista sobre uma ação honrosa, ainda que seja carregada de tristeza e dificuldades, como sobre um homem bom que é pobre ou desperdiçado no exílio.

Agora, compare um bom homem extremamente rico com um homem que não tem nada, exceto que em si mesmo tem todas as coisas; eles serão igualmente bons, embora experimentem fortuna desigual. Este mesmo padrão, como tenho observado, deve ser aplicado tanto às coisas quanto aos homens; a virtude é tão louvável se ela habita num corpo sadio e livre, como em alguém que está doente ou em escravidão.

Portanto, quanto à sua própria virtude, não a louvará mais, se a fortuna a favorecer, concedendo-lhe um corpo sadio, do que se a fortuna lhe der um corpo que é mutilado em algum membro, pois isso significaria classificar inferiormente um mestre porque ele está vestido como um escravo. Pois todas aquelas coisas sobre as quais a fortuna tem influência, bens materiais, dinheiro, posses, posição; elas são fracas, inconstantes, propensas a perecer, e de posse incerta. Por outro lado, as obras da virtude são livres e insubmissas, nem mais dignas de ser procuradas quando a fortuna as trata com bondade, nem menos digna quando alguma adversidade pesa sobre elas.

A amizade no caso dos homens corresponde à desejabilidade no caso das coisas. Você não gostaria, eu imagino, de amar um bom homem, se ele fosse rico, mais do que se fosse pobre, e não amaria uma pessoa forte e musculosa mais do que uma pessoa delgada e de constituição delicada. Assim, nem procurará nem amará uma coisa boa que seja divertida e tranquila mais do que uma que é cheia de perplexidade e labuta.

Ou, se você fizer isso, você vai, no caso de dois homens igualmente bons, gostar mais de quem é limpo e bem-asseado do que daquele que é sujo e despenteado. Você chegaria ao ponto de se importar mais com um homem bom que é são em todos os seus membros e sem defeito, do que com alguém que é fraco ou cego; e gradualmente sua exigência alcançaria tal ponto que, de dois homens igualmente justos e prudentes, você escolheria aquele que tem cabelos longos e ondulados! Sempre que a virtude em cada um é igual, a desigualdade em seus outros atributos não é aparente. Pois todas as outras coisas não são partes, mas apenas acessórios.

Qualquer homem julgaria seus filhos de modo tão injusto a fim de se preferir mais um filho saudável do que um doente, ou a um filho alto, de estatura incomum, mais do que a outro de pouca ou de baixa estatura? Os animais selvagens não mostram nenhum favoritismo entre sua prole; eles se deitam para amamentar todos igualmente; aves fazem a distribuição justa de seus alimentos. Ulisses apressa-se de volta às rochas de sua Ítaca tão ansiosamente quanto Agamenon acelera até as majestosas muralhas de Micenas. Porque nenhum homem ama a sua terra natal porque é grande; ele a ama porque é sua.

E qual é o propósito de tudo isso? Que você saiba que a virtude considera todas as suas obras sob a mesma luz, como se fossem seus filhos, mostrando a mesma bondade a todos e ainda mais profunda bondade para aqueles que encontram dificuldades; pois mesmo os pais inclinam-se com mais afeição para filhos de quem sentem piedade. A virtude, também, não necessariamente ama mais profundamente aquelas de suas obras que vê em problemas e sob pesados fardos, mas, como bons pais, ela lhes dá mais de seus cuidados de acolhimento.

Por que nenhum bem é maior do que qualquer outro bem? É porque nada pode ser mais apropriado do que aquele que é apropriado, e nada mais nivelado do que aquilo que está nivelado. Você não pode dizer que uma coisa é mais igual a um objeto determinado do que outra coisa; daí também nada é mais honrado do que aquilo que é honroso.

Assim, se todas as virtudes são iguais por natureza, as três variedades de bens são iguais. Isto é o que quero dizer: há uma igualdade entre sentir alegria com autocontrole e sofrer dor com autocontrole. A alegria em um caso não ultrapassa no outro a firmeza da alma que afoga o gemido quando está nas garras do torturador; são desejáveis os bens do primeiro tipo, enquanto os do segundo são dignos de admiração; e, em cada caso, não são menos iguais, porque qualquer inconveniente atribuído a este último é compensado pelas qualidades do bem, que é muito maior.

Qualquer homem que os julgue desiguais está se afastando das próprias virtudes e está examinando meras exterioridades; os bens verdadeiros têm o mesmo peso e a mesma largura.

O bem que a verdadeira razão aprova é sólido e eterno; fortalece o espírito e exalta-o, para que ele esteja sempre nas alturas; Mas as coisas que são irrefletidamente elogiadas, e são bens na opinião da multidão meramente nos enchem de alegria vazia. e, novamente, aquelas coisas que são temidas como se fossem males apenas inspiram ansiedade na mente dos homens, pois a mente é perturbada pela aparência do perigo, assim como os animais também o são perturbados.

A razão não é um escrava dos sentidos, mas uma governante sobre eles.

Da mesma forma, todos os homens bons, na medida em que são bons, são iguais. Há, de fato, diferenças de idade, um é mais velho, outro mais jovem; do corpo, ? um é agradável, outro é feio; da fortuna, ? este homem é rico, esse homem pobre, este é influente, poderoso e conhecido pelas cidades e povos, aquele homem é desconhecido para a maioria, e é obscuro. Mas todos, em relação àquilo em que são bons, são iguais.

Você diz; "alguma coisa que é contrária à natureza pode ser um bem?" Claro que não; mas aquela em que esse bem eleva-se a sua origem é por vezes contrária à natureza. Por estarem feridos, esvaindo-se sobre um fogo, aflitos com má saúde, ? tais coisas são contrárias à natureza; mas é de acordo com a natureza que um homem preserve uma alma indomável em meio a tais aflições.

Um homem morre jovem, outro na velhice, e ainda outro na infância, tendo desfrutado nada mais do que um simples vislumbre na vida. Todos eles foram igualmente sujeitos à morte, embora a morte tenha permitido a um avançar mais ao longo do caminho da vida, cortou a vida do segundo em sua flor, e quebrou a vida do terceiro em seu início.

Alguns recebem sua quitação na mesa do jantar. Outros prolongam seu sono na morte. Alguns são eliminados durante a devassidão. Agora, compare essas pessoas com aquelas que foram perfuradas pela espada, ou levadas à morte por cobras, ou esmagadas em um desabamento, ou torturadas até a morte pela torção prolongada de seus tendões. Algumas dessas partidas podem ser consideradas melhores, outras piores; mas o ato de morrer é igual em tudo. Os métodos de acabar com a vida são diferentes; mas o fim é um e o mesmo. A morte não tem graus maiores ou menores; pois tem o mesmo limite em todos os casos, ? o fim da vida.

LXVII. Sobre a doença e a resistência ao sofrimento

Não que as dificuldades sejam desejáveis, mas que a virtude é desejável, pois nos permite pacientemente suportar dificuldades

Se a virtude é desejável, e se nada que é bom carece de virtude, então tudo o que é bom é desejável

O estoico Átalo costumava dizer: "Eu prefiro que a Fortuna me mantenha em seu acampamento em vez de no luxo, se sou torturado, mas suporto corajosamente, tudo está bem, se morrer, mas morrer corajosamente, também está bem." Ouça Epicuro; ele irá dizer-lhe que isso é realmente agradável. Jamais aplicarei uma palavra afeminada a um ato tão honroso e austero. Se eu for para a fogueira, devo ir invicto.

Por que não consideraria isto desejável ? não porque o fogo me queime, mas porque não me vença? Nada é mais excelente ou mais belo do que a virtude; tudo o que fazemos em obediência às suas ordens é bom e desejável

LXVIII. Sobre Sabedoria e Aposentadoria

Fale mal de si mesmo quando está sozinho; então você vai se acostumar a falar e ouvir a verdade.

LXIX. Sobre estar quieto e Inquietação

Assim como aquele que tenta livrar-se de um amor antigo deve evitar todo lembrete da pessoa que antes era querida (pois nada cresce tão facilmente como o amor), da mesma forma, aquele que deixaria de lado o seu desejo por todas as coisas que costumava desejar tão apaixonadamente, deve afastar olhos e ouvidos dos objetos que abandonou.

Não há mal que não ofereça incentivos. A Avareza promete dinheiro; Luxo, variado sortimento de prazeres; a Ambição, um manto roxo e aplausos, e a influência que resulta dos aplausos, e tudo que essa influência pode fazer.

LXX. Sobre o momento adequado para fazer a derradeira viagem

A essa vida, como você sabe, nem sempre devemos nos apegar. Pois meramente viver não é um bem, mas sim viver bem. Por conseguinte, o sábio viverá o tempo que for necessário, não tanto quanto puder.

Ele vai lembrar em que lugar, com quem, e como deve conduzir a sua existência, e o que está prestes a fazer. Ele sempre reflete sobre a qualidade, e não sobre a quantidade, de sua vida.

Não se trata de morrer mais cedo ou mais tarde, mas de morrer bem ou mal. E morrer bem significa escapar do perigo de viver mal.

Uma vida prolongada não significa necessariamente uma melhor

Nenhum homem é infeliz, exceto por sua própria culpa.

Você gostaria de estar livre da limitação de seu corpo? Viva nele como se estivesse prestes a deixá-lo. Continue pensando no fato de que algum dia você será privado dessa posse; então você será mais corajoso frente a necessidade de partir. Mas como um homem tomará o pensamento de seu próprio fim, se ele anseia todas as coisas sem fim?

É a razão que nos ensina que o destino tem várias maneiras de abordar, mas o mesmo fim, e que não faz diferença em que ponto o inevitável evento começa.

LXXI. Sobre o Bem Supremo

Sempre que você quiser saber o que deve ser evitado ou o que deve ser buscado, considere sua relação com o Bem Supremo, com o propósito de sua vida. Pois tudo o que fazemos deve estar em harmonia com isso; nenhum homem pode pôr em marcha os detalhes a menos que já tenha colocado diante de si o objetivo principal de sua vida. O artista pode ter suas tintas todas preparadas, mas ele não pode produzir nada a menos que ele já tenha decidido o que quer pintar. A razão pela qual cometemos erros é porque consideramos as partes da vida, mas nunca a vida como um todo.

O arqueiro deve saber o que ele está tentando atingir; então deve apontar e controlar a arma por sua habilidade. Nossos planos malogram porque não têm objetivo. Quando um homem não sabe a qual porto ele está indo, nenhum vento é o vento certo. A fortuna deve necessariamente ter grande influência sobre nossas vidas, porque vivemos por sorte.

Tudo o que foi tocado pela virtude será repleto de bênção e prosperidade para você, não importa como seja considerado pelos outros. Tortura, se apenas, ao sofre-la você estiver mais calmo em mente do que seu próprio torturador; enfermidade, se você não amaldiçoar a Fortuna e não ceder à doença ? em suma, todas aquelas coisas que os outros consideram como doenças tornarse-ão manejáveis e terminarão bem, se você tiver sucesso em subir acima delas. Que isto seja claro, que não há nada de bom senão o que é honroso, e todas as dificuldades terão um rótulo com o justo nome de "bens", uma vez que a virtude os tenha tornados honrosos.

Muitos pensam que nós estoicos estamos mantendo expectativas maiores do que a nossa sina humana admite; E eles têm o direito de pensar assim. Pois eles só têm respeito ao corpo. Mas voltemos para a alma, e logo medirão o homem pela régua de Deus.

O que é livre do risco de mudança? Nem a terra, nem o céu, nem todo o tecido do nosso universo, embora sejam controlados pela mão de Deus. Não preservarão sempre sua ordem atual; serão desestabilizados em dias futuros.

Todas as coisas se movem de acordo com os tempos designados; elas estão destinadas a nascer, a crescer e a serem destruídas. As estrelas que você vê se movendo acima de nós, e esta terra aparentemente imóvel à qual nos apegamos e sobre a qual estamos posicionados, serão consumidas e deixarão de existir. Não há nada que não tenha sua velhice; os intervalos são meramente desiguais em que a Natureza envia todas essas coisas para o mesmo fim. O que quer que seja cessará de ser, e, no entanto, não perecerá, mas será transformado em seus elementos.

Para nossas mentes, este processo significa perecer, pois só vemos o que está mais próximo; Nossa mente lenta, sob lealdade ao corpo, não penetra a fronteiras além. Se não fosse assim, a mente suportaria com maior coragem o seu próprio fim e o de suas posses, se ao menos pudesse esperar que a vida e a morte, como todo o universo que nos rodeia, se alterna, que tudo o que foi quebrado é reunido novamente, e que a habilidade eterna de Deus, que controla todas as coisas, está trabalhando nessa tarefa.

Portanto, o sábio dirá exatamente o que um Marco Catão diria, depois de revisar sua vida passada: "Toda a raça humana, tanto os que estão como os que virão, está condenada a morrer. Todas as cidades que tem dominado o mundo, e todos os que foram os esplêndidos ornamentos de impérios, os homens um dia perguntarão onde estão, e eles serão varridos por destruições de várias espécies, alguns serão arruinados por guerras, outros serão desperdiçados pela inatividade e pelo tipo de paz que termina na preguiça, ou por esse vício que é repleto de destruição, mesmo para poderosas dinastias, ? o luxo. Todas estas planícies férteis serão enterradas por um repentino transbordamento do mar, ou pelo deslizamento de terra, à medida que o solo se instala a níveis mais baixos. Por que então eu deveria estar com raiva ou sentir tristeza, se eu anteceder a destruição geral por um pequeno intervalo de tempo?"

Que grandes almas cumpram os desejos de Deus e sofram sem hesitação o destino que a lei do universo ordena; pois a alma na morte ou é enviada para uma vida melhor, destinada a habitar com a divindade em meio a uma maior radiação e calma, ou então, pelo menos, sem sofrer nenhum dano a si mesma, ela será misturada com a natureza novamente e voltará o universo. Portanto, a honrosa morte de Catão não foi menos boa do que sua vida honrada, já que a virtude não admite nenhum estiramento. Sócrates costumava dizer que a verdade e a virtude eram idênticas. Assim como a verdade não cresce, assim também a virtude não cresce; pois têm suas corretas proporções e são completas.

A sabedoria trará a convicção de que só há um bem ? o que é honroso

Para um homem luxuoso, uma vida simples é uma penalidade; para um homem preguiçoso, o trabalho é castigo; O fanfarrão tem pena do homem diligente; Para os preguiçosos, os estudos são tortura. Da mesma forma, consideramos essas coisas com que todos nós somos deficientes de disposição, tão duros e além da resistência, esquecendo que tormento é para muitos homens absterem-se de beber vinho ou ser arrancados de suas camas ao amanhecer. Essas ações não são essencialmente difíceis; somos nós mesmos que somos macios e flácidos.

Devemos julgar grandes coisas com grandeza de alma; caso contrário, o que é realmente nossa culpa parece ser culpa dos outros. Assim é, que certos objetos que são perfeitamente retos, quando afundado em água aparecem ao espectador como dobrados ou quebrados. Não importa apenas o que você vê, mas com que olhos você o vê; nossas almas são muito fracas de visão para perceber a verdade.

Mas dê-me um jovem imaculado e robusto; Ele pronunciará mais afortunado aquele que sustenta nos ombros inflexíveis todo o peso da adversidade, aquele que se destaca superior à Fortuna. Não é motivo de admiração que alguém não se agite quando o tempo está calmo; Reserve o seu assombro para casos onde um homem mantem-se erguido quando todos os outros afundam, e mantém-se em pé quando todos os outros estão prostrados.

Que elemento do mal há na tortura e nas outras coisas que chamamos de dificuldades? Parece-me que há esse mal, que a mente afunda, se dobra e desmorona. Mas nenhuma dessas coisas pode acontecer ao sábio; Ele fica ereto sob qualquer carga. Nada pode subjugá-lo; nada que deva ser suportado o irrita. Pois ele não se queixa de ter sido atingido pelo que pode atacar qualquer homem. Ele conhece sua própria força; Ele sabe que ele nasceu para suportar cargas.

Eu não retiro o homem sábio da categoria dos homens, nem lhe nego o sentido da dor como se ele fosse uma rocha que não tem nenhum sentimento. Eu me lembro que ele é composto de duas partes: a uma parte é irracional, ? é isso que pode ser mordido, queimado ou ferido; A outra parte é racional, ? é isso que resiste resolutamente às opiniões, é corajosa e inconquistável. Nesta última está situado o Bem Supremo do homem. Antes que isso seja completamente alcançado, a mente vacila na incerteza; somente quando é totalmente alcançado a mente torna-se fixa e estável.

O homem feliz, cuja virtude é completa, ama-se sobretudo quando sua bravura é submetida à mais severa prova, e quando ele não só, suporta, mas acolhe o que todos os outros homens consideram com medo, se é o preço que deve pagar pelo cumprimento de um dever que a honra impõe, e ele prefere que os homens digam dele: "quão nobre!" Em vez de "como tem fortuna!"

Você não deve pensar que nossa virtude humana transcende a natureza; O homem sábio vai tremer, vai sentir dor, vai ficar pálido, pois tudo isso são sensações do corpo. Onde, então, é a morada da angústia total, daquilo que é verdadeiramente um mal? Na outra parte de nós, sem dúvida, se é a mente que essas provações arrastam para baixo, forçam uma confissão de sua servidão, e causam a lamentar a sua existência.

O sábio, de fato, vence a Fortuna por sua virtude, mas muitos que professam a sabedoria às vezes são assustados pelas ameaças mais insubstanciais. E nesta fase é um erro de nossa parte fazer as mesmas exigências sobre o homem sábio e sobre o aprendiz. Ainda me exorto a fazer o que recomendo; mas as minhas exortações ainda não foram seguidas. E mesmo se fosse esse o caso, não deveria eu ter esses princípios tão prontos à prática, ou tão bem treinados, que eles iriam surgir em minha assistência em todas as crises.

Sigamos e perseveremos. Resta muito mais da estrada do que colocamos atrás de nós; mas a maior parte do progresso é o desejo de progredir.

Vamos, então, apressar; somente nestes termos a vida será uma bênção para nós; caso contrário, haverá atraso, e até mesmo atraso vergonhoso, enquanto nos ocupamos com coisas repugnantes. Vamos cuidar para que todo o tempo pertença a nós. Isso, no entanto, não pode acontecer, a menos que, em primeiro lugar, nossos próprios seres comecem a pertencer a nós.

E quando será nosso privilégio desprezar ambos os tipos de fortuna? Quando será o nosso privilégio, depois que todas as paixões forem subjugadas e trazidas sob nosso próprio controle, pronunciar as palavras "Eu conquistei"? Você me pergunta quem eu conquistei? Nem os Persas, nem os remotos Medos, nem qualquer raça guerreira que se encontre além do Dahae; não estes, mas a ganância, a ambição e o medo da morte que conquistou os conquistadores do mundo.

LXXII. Sobre os negócios como inimigo da filosofia

A alegria de um homem sábio, por outro lado, é um tecido entrelaçado, quebrada por nenhum acontecimento casual e ou mudança de sorte; em todos os momentos e em todos os lugares ele está em paz. Pois a sua alegria não depende de nada externo e não busca nenhuma bênção do homem ou da fortuna. Sua felicidade é algo dentro de si mesmo; ele se afastaria de sua própria alma se ela tivesse vindo de fora; contudo ela nasce dentro.

Se a mente está contente com seu próprio eu; se tiver confiança em si mesmo; se compreender que todas as coisas pelas quais os homens oram, todos os benefícios que são concedidos e pedidos, não são importantes em relação a uma vida de felicidade; sob tais condições é boa. Pois qualquer coisa que pode ser acrescida é imperfeita; qualquer coisa que possa sofrer perda não é duradoura; mas deixe o homem cuja felicidade é duradoura regozijar-se no que é verdadeiramente seu. Agora tudo o que a multidão se embasbaca, mais tarde decai e escoa. A fortuna não nos dá nada que possamos realmente possuir. Mas mesmo esses presentes da Fortuna nos satisfazem quando a razão os tem temperado e misturado a nosso gosto; pois é a razão que nos torna aceitáveis até mesmo bens externos que são desagradáveis usar se os absorvemos com avidez.

Átalo costumava empregar a seguinte analogia:

"Você alguma vez já viu um cachorro que pula com mandíbulas abertas em pedaços de pão ou carne que seu mestre atira a ele? Seja o que for que pegar, imediatamente engolirá tudo e sempre abre suas mandíbulas na esperança de algo mais, assim é com nós mesmos, ficamos expectantes, e tudo o que a Fortuna nos lança, abocanhamos imediatamente sem nenhum prazer real, e logo ficamos atentos e frenéticos por algo mais a arrebatar".

Mas não é assim com o sábio; ele está satisfeito. Mesmo que lhe seja oferecido algo, ele simplesmente o aceita descuidadamente e o deixa de lado.

A felicidade que ele desfruta é supremamente grande, é duradoura, é sua própria.

LXXIII. Sobre Filósofos e Reis

Não há mal maior na cobiça do que na ingratidão.

Além disso, nenhum homem na vida pública pensa nos muitos que ele superou; ele pensa antes naqueles por quem é superado. E esses homens acham menos agradável ver muitos atrás deles do que irritante ver alguém à frente deles. Esse é o problema com toda espécie de ambição; não olha para trás. Não é só a ambição que é inconstante, mas também todo tipo de desejo, porque sempre começa onde deveria terminar.

LXXIV. Sobre a Virtude como Refúgio de Distrações Mundanas

O principal meio de alcançar a vida feliz consiste em acreditar que o único bem está naquilo que é honroso.

Um homem se entristece quando seus filhos morrem; outro fica ansioso quando adoece; um terceiro é amargurado quando faz algo vergonhoso, ou sofre uma mancha em sua reputação. Um homem, você observará, é torturado pela paixão pela esposa de seu vizinho, outro pela paixão por si mesmo. Você vai encontrar homens que ficam completamente chateados por falhar em ganhar uma eleição, e outros que são realmente atormentados pelos postos que ganharam.

Mas a maior multidão de homens infelizes entre o exército dos mortais é aquela que a expectativa da morte, que os ameaça continuamente, desespera. Pois não há um canto do qual a morte não possa aproximar. Assim, como os soldados que patrulham no país do inimigo, devem olhar em todas as direções e virar a cabeça em cada som; a menos que o peito se livre desse medo, vive-se com um coração palpitante.

Quem se entregou em grande parte ao poder da Fortuna fez para si mesmo uma enorme rede de inquietação, da qual não pode se libertar

Esses chamados bens não são bens, ou então o homem é mais afortunado do que Deus, porque Deus não usufrui das coisas que nos são dadas. Pois a luxúria não pertence a Deus, nem banquetes elegantes, nem riquezas, nem nenhuma das coisas que atraem a humanidade e a conduzem pela via do prazer degradante. Portanto, não é incrível que haja bens que Deus não possua, senão que o próprio fato de que Deus não os possua é em si mesmo uma prova de que essas coisas não são bens.

Além disso, muitas coisas que costumam ser consideradas como bens são concedidas aos animais em maior quantidade do que aos homens. Os animais comem o seu alimento com melhor apetite, não são em mesmo grau enfraquecidos pela indulgência sexual, e têm uma constância maior e mais uniforme em sua força. Consequentemente, eles são muito mais afortunados que o homem. Porque não há maldade, nem ofensa a si mesmos, no seu modo de viver. Eles desfrutam de seus prazeres e os aproveitam com mais frequência e facilidade, sem qualquer medo que resulte da vergonha ou do arrependimento.

Assim sendo, você deve considerar se alguém tem o direito de chamar qualquer coisa boa naquilo em que Deus é superado pelo homem.

A soma total de nossa felicidade não deve ser colocada na carne; os bens verdadeiros são aqueles que a razão concede, substanciais e eternos; eles não podem decair, nem podem decrescer ou serem diminuído.

As outras coisas são bens de acordo com a opinião, e embora sejam chamadas pelo mesmo nome dos bens verdadeiros, a essência da bondade não está nelas. Vamos chama-las, portanto, de "vantagens"

Reconheçamos, contudo, que elas são nossa mobília, não partes de nós mesmos; e deixe-nos tê-las em nossa posse, mas tome cuidado para lembrar que elas estão fora de nós. Mesmo que elas estejam em nossa posse, elas devem ser contadas como coisas subordinadas e insignificantes, cuja posse não dá a ninguém o direito de se gabar. Pois o que é mais tolo do que ser autocomplacente sobre algo que não foi realizado por seus próprios esforços?

Que tudo isso seja acrescentado a nós, mas não nos apeguemos, para que, se for retirado, possa ir embora sem rasgar qualquer parte de nós. Vamos usar essas coisas, mas não nos gloriemos delas, e vamos usá-las com moderação, como se fossem dadas para guarda e sabendo que serão retiradas. Qualquer um que não empregar a razão em sua posse dessas coisas nunca as mantém por longo tempo; porque a prosperidade, se não controlada pela razão, se sobrepõe. Se alguém depositar sua confiança em bens que são fugazes, logo é privado deles.

O uso desmedido subverte e destrói sua própria abundância. Aquilo que não tem limite nunca resistiu, a menos que a razão, que estabelece limites, tenha mantido o controle.

Devemos nos fortalecer contra tais calamidades. Mas nenhum muro pode ser erguido contra a Fortuna que ela não possa tomar por tempestade; fortaleçamos nossas defesas internas. Se a parte interna estiver segura, o homem pode ser atacado, mas nunca capturado.

O que é reto não é julgado pelo seu tamanho, nem pelo seu número, nem pela sua duração; não pode ser mais longo do que pode ser feito mais curto. Reduza a vida honrosa dos cem anos completos a um único dia; é igualmente honrada.

Assim como no corpo, os sintomas não manifestos de saúde ruim precedem a doença ? há, por exemplo, uma certa fraqueza lenta, uma lassitude que não é o resultado de qualquer trabalho, um tremor e um calafrio que permeia os membros, ? assim, o espírito fraco é abalado por seus males muito tempo antes de ser superado por eles. Antecipa-os, e cambaleia antes de seu tempo. Mas o que é maior loucura do que ser torturado pelo futuro e não guardar sua força para o sofrimento real, mas convidar e provocar a miséria? Se você não pode se livrar dela, você deve pelo menos adiá-la.

Você não acredita que nenhum homem deve ser atormentado pelo futuro? O homem a quem foi dito que terá de suportar a tortura daqui a cinquenta anos não fica perturbado, a menos que tenha saltado ao longo dos anos que se passaram e se projetado no problema no qual está destinado a chegar uma geração mais tarde. Da mesma forma, as almas que gostam de estar doentes e que se aproveitam de desculpas para tristeza ficam tristes com os acontecimentos passados e apagados dos registros. Passado e futuro estão ambos ausentes; não sentimos nenhum deles. Mas não pode haver dor exceto como resultado do que você sente.

LXXV. Sobre as Doenças da Alma

Nossas palavras devem ter como objetivo não agradar, mas ajudar.

Quando você aprenderá tudo o que há para aprender? Quando você plantará em sua mente o que aprendeu, que não pode escapar? Quando você deverá colocar tudo em prática? Pois não basta apenas enviar essas coisas à memória, como outras coisas; elas devem ser praticamente testadas. Não é feliz quem só as conhece, mas sim aquele que as faz.

É um bem inestimável ser mestre de si mesmo.

LXXVI. Aprendendo Sabedoria na Idade Avançada

Você deve continuar aprendendo enquanto você é ignorante, ? até ao fim de sua vida

"Enquanto você viver, continue aprendendo a viver".

Até um velho deveria continuar aprendendo.

O prédio está lotado; os homens estão decidindo, com enorme zelo, quem tem direito a ser chamado de um bom flautista; mesmo o gaiteiro grego e o arauto atraem suas multidões. Mas no outro lugar, onde a questão discutida é: "O que é um homem bom?" E a lição que aprendemos é "como ser um bom homem", muito poucos estão presentes, e a maioria pensa que mesmo estes poucos estão envolvidos em atividade inútil; eles são chamados de desocupados de cabeça vazia. Espero que eu possa ser abençoado com esse tipo de zombaria; pois devemos escutar em espírito sereno as injúrias do ignorante; quando alguém está marchando em direção ao objetivo da honra, deve-se desprezar o desprezo.

Apresse-se, para ser compelido a aprender em sua velhice.

Por que você espera? A sabedoria vem ao acaso para nenhum homem. O dinheiro virá por si mesmo; títulos serão dados a você; influência e autoridade serão talvez impelidos sobre você; mas a virtude não cairá sobre você por acaso. Nem o conhecimento dela pode ser ganho por esforço leve ou pequeno trabalho; mas trabalhar vale a pena quando se está prestes a ganhar todos os bens em um único golpe.

Pois não há senão um único bem, isto é, o que é honroso; em todas aquelas outras coisas que a opinião geral aprova, você não encontrará nenhuma verdade ou certeza.

Tudo é estimado pelo padrão de seu próprio bem. A videira é valorizada pela sua produtividade e o sabor do seu vinho, o veado pela sua velocidade. Nós perguntamos, com respeito às bestas de carga, quão resistente são suasancas; pois seu único uso é carregar fardos. Se um cão é usado para encontrar a trilha de um animal selvagem, a agudeza do olfato é de primeira importância; se para pegar sua presa, a rapidez; se para atacar e lutar, coragem. Em cada coisa que a qualidade deve ser a melhor para a qual a coisa é trazida a existência e pela qual ela é julgada.

E qual qualidade é melhor no homem? É a razão; em virtude da razão ele supera os animais, e é superado apenas pelos deuses. A razão perfeita é, portanto, o bem peculiar do homem; Todas as outras qualidades ele compartilha em algum grau com animais e plantas. O homem é forte; assim é o leão. O homem é bonito; assim é o pavão. O homem é rápido; assim é o cavalo. Não digo que o homem seja superado em todas essas qualidades. Eu não estou procurando encontrar o que é maior nele, mas o que é peculiarmente seu. O homem tem corpo; assim também têm a árvores. O homem tem o poder de agir e mover-se à vontade; Assim como animais e vermes. O homem tem uma voz; mas quão mais alta é a voz do cão, quão mais estridente a da águia, quão mais profunda a do touro, quão mais doce e melodiosa aquela do rouxinol!

O que então é peculiar ao homem? Razão. Quando é certa e atingiu a perfeição, a felicidade do homem está completa. Assim, quanto tudo é louvável e tenha chegado ao fim pretendido por sua natureza, quando trouxer seu bem peculiar à perfeição, e se o bem peculiar do homem é a razão; então, se um homem trouxer sua razão à perfeição, ele é louvável e preparou o fim adequado à sua natureza. Esta razão perfeita é chamada virtude, e é também o que é honroso.

Se qualquer homem é mau, ele será, eu suponho, considerado com desaprovação; se bom, eu suponho que será considerado com aprovação. Portanto, esse atributo do homem pelo qual ele é aprovado ou desaprovado é o seu principal e único bem.

Se um homem possui todas as outras coisas, tais como saúde, riquezas, linhagem, um salão de recepção lotado, mas é confessadamente ruim, você vai desaprová-lo. Da mesma forma, se um homem não possui nenhuma das coisas que eu mencionei, e não tem dinheiro, ou uma escolta de clientes, ou uma posição social e uma linha nobre de avôs e bisavôs, mas é confessadamente bom, você vai aprová-lo. Portanto, este é o único bem peculiar do homem, e o possuidor dele deve ser louvado mesmo que lhe falte outras coisas; mas aquele que não o possui, embora possua tudo o mais em abundância, é condenado e rejeitado.

O mesmo vale para os homens quanto para as coisas. Diz-se que um navio é bom não quando está decorado com cores caras, nem quando a sua proa está coberta de prata ou ouro ou a sua carranca esculpida em marfim, nem quando está carregado com as receitas imperiais ou com a riqueza dos reis, mas quando está firme e seguro e teso, com linha de junção que mantêm fora a água, robusto o suficiente para suportar o esbofetear das ondas, obediente ao seu leme, rápido e impassível frente aos ventos.

Irá falar bem de uma espada, não quando o seu cinto é de ouro, ou a sua bainha cravejada de pedras preciosas, mas quando a sua borda é fina para cortar e sua ponta pode perfurar qualquer armadura. Pegue a régua do carpinteiro: não perguntamos como é bonita, mas quão reta é. Cada coisa é elogiada em relação a esse atributo que é tomado como seu padrão, em relação ao que é a sua qualidade peculiar.

Portanto, no caso do homem também, não é pertinente para a questão saber quantos acres ele ara, quanto dinheiro ele tem a juros, quantos convidados comparecem às suas recepções, quão cara é a carruagem em que ele se encontra, quão transparente são os copos de onde ele bebe, mas como ele é bom. Ele é bom, no entanto, se sua razão é bem-ordenada e direita e adaptada ao que sua natureza tem decidido.

É isso que se chama virtude; é isso que entendemos por "honroso"; é o único bem do homem. Pois, já que só a razão traz o homem à perfeição, só a razão, quando aperfeiçoada, torna o homem feliz. Este, aliás, é o únicobem do homem, o único meio pelo qual ele é feito feliz. Nós realmente dizemos que essas coisas também são bens que são promovidos e reunidos pela virtude, isto é, todas as obras da virtude; mas a própria virtude é por isso o único bem, porque não há bem sem virtude.

Se todo bem está na alma, então tudo que fortifica, eleva e amplia a alma, é um bem; a virtude, no entanto, torna a alma mais forte, mais elevada e maior. Pois todas as outras coisas que despertam os nossos desejos, deprimem a alma e a enfraquecem, e quando pensamos que elas estão elevando a alma, elas simplesmente a estão soprando e enganando-a com muito vazio. Portanto, só isso é bom, o que torna a alma melhor.

Todas as ações da vida, tomadas como um todo, são controladas pela consideração do que é honrado ou vil; é com referência a estas duas coisas que nossa razão é governada em fazer ou não fazer uma coisa particular. Explicarei o que quero dizer: Um homem bom fará o que julgar que será honrado fazer, mesmo que envolva labuta; o fará mesmo que envolva dano a ele; o fará mesmo se envolver perigo; novamente, ele não fará o que é vil, mesmo que lhe traga dinheiro, ou prazer, ou poder. Nada o afastará daquilo que é honroso, e nada o tentará à infâmia.

Portanto, se for determinado invariavelmente a seguir o que é honrado, invariavelmente evitar baixeza, e em cada ato de sua vida ter respeito por estas duas coisas, não considerando nada mais como bom senão o que é honroso, e nada mais como ruim exceto o que é vil; se a virtude sozinha não é pervertida nele e, por si mesma, mantém seu curso uniforme, então a virtude é o único bem do homem, e nada mais pode acontecer a ele que possa torná-lo outra coisa senão o bem. Ele escapou a todo o risco de mudança; a estupidez pode evoluir em direção à sabedoria, mas a sabedoria nunca escorrega de volta à estupidez.

A virtude em si é, portanto, o único bem.

Um bom homem, você admitirá, deve ter o mais alto senso de dever para com os deuses. Por isso ele suportará com espírito imperturbável o que quer que lhe aconteça; pois ele saberá que isso aconteceu como resultado da lei divina, pela qual toda a criação se move. Sendo assim, haverá para ele um bem, e apenas um, ou seja, o que é honroso; pois um de seus ditames é que obedecer aos deuses e não resplandecer em raiva por infortúnios repentinos ou lamentar nosso destino, mas aceitar pacientemente o destino e obedecer aos seus mandamentos.

Se qualquer coisa, exceto o honroso for bom, seremos perseguidos pela ganância por vida, e pela ganância pelas coisas que fornecem vida com seus acessórios, um estado intolerável, não sujeito a limites, instável. O único bem, portanto, é o que é honroso, o que está sujeito a limites.

Tenho declarado que a vida do homem seria mais abençoada do que a dos deuses, se as coisas que os deuses não desfrutam são bens, tais como dinheiro e cargos de dignidade. Há esta consideração adicional: se somente é verdade que nossas almas, quando liberadas do corpo, ainda permanecem, uma situação mais feliz está na guardada para elas então do que enquanto permanecem no corpo. E ainda, se essas coisas são bens que usamos para o bem dos nossos corpos, nossas almas estão piores quando libertadas; e isso é contrário à nossa crença, dizer que a alma é mais feliz quando é confinada e aprisionada do que quando é livre e se lançou para o universo.

Eu também disse que se essas coisas que os animais estúpidos possuem igualmente como o homem são bens, então os animais estúpidos também levarão uma vida feliz; que é naturalmente impossível. É preciso suportar todas as coisas em defesa daquilo que é honroso; mas isso não seria necessário se existisse qualquer outro bem além do que é honroso.

Exalte a sua mente e se pergunte se, no chamamento do dever, você está disposto a morrer pelo seu país e comprar a segurança de todos os seus concidadãos ao preço de si próprio; se ofereceria o seu pescoço não só com paciência, mas também com alegria. Se faria isso, não há nenhum outro bem em seus olhos. Pois está desistindo de tudo para adquirir este bem. Considere quão grande é o poder daquilo que é digno de honra: você morrerá por seu país, mesmo que sem aviso prévio, quando sabe que deve fazê-lo.

Às vezes, como resultado de uma conduta nobre, ganha-se grande alegria, mesmo em um espaço de tempo muito curto e fugaz; e embora nenhum dos frutos de uma ação feita será entregue para o executor depois que ele está morto e removido da esfera dos assuntos humanos, ainda a simples contemplação de uma ação que deve ser feita é um deleite, e os
corajosos e o homem reto, imaginando para si as recompensas de sua morte, ? recompensas como a liberdade de seu país e a libertação de todos aqueles para quem está pagando a sua vida, ? participa do maior prazer e goza do fruto do seu próprio risco.

Mas aquele homem que também está privado dessa alegria, a alegria que é oferecida pela contemplação de algum último esforço nobre, saltará à sua morte sem hesitar um momento, contente em agir com justiça e obediência. Além disso, pode confrontá-lo com muitos desencorajamentos; você pode dizer: "Seu ato será rapidamente esquecido", ou "Seus companheiros cidadãos lhe oferecerão escassos agradecimentos". Ele responderá: "Todas estas coisas estão fora da minha incumbência, meus pensamentos estão na ação em si, eu sei que isso é honroso, portanto, onde quer que eu seja levado e convocado pela honra, irei".

Nenhum dos que vemos vestidos de púrpura é feliz, como qualquer um desses atores sobre os quais a peça concede um cetro e um manto enquanto no palco; eles passam empertigados a sua hora diante de uma casa abarrotada, com o peito estufado e saltos altos; mas quando uma vez que eles fazem a sua saída o salto alto é removido e eles retornam à sua própria estatura. Nenhum daqueles que foram elevados a uma altura mais alta pelas riquezas e honras é realmente grande. Por que então parece grandioso para você? É porque você está medindo o pedestal junto com o homem. Um anão não é alto, apesar de estar em pé sobre uma montanha; uma estátua colossal ainda será alta, mesmo que você a coloque em um poço.

Este é o erro em que trabalhamos; esta é a razão pela qual somos enganados: não valorizamos ninguém no que ele é, mas acrescentamos ao próprio homem as armadilhas em que está vestido. Mas quando você quiser investigar o verdadeiro valor de um homem, e saber que tipo de homem ele é, olhe para ele quando estiver nu; faça-o desistir de sua propriedade herdada, seus títulos, e os outros enganos da fortuna; deixe-o mesmo sem seu corpo. Considere sua alma, sua qualidade e sua estatura, e assim aprenda se sua grandeza é emprestada, ou se é sua propriamente.

Se um mal foi considerado de antemão, o golpe é suave quando ele vem. Para o tolo, porém, e para aquele que confia na fortuna, cada evento à medida que chega "vem de uma forma nova e súbita", e uma grande parte do mal, para os inexperientes, consiste em sua novidade. Isto é provado pelo fato de que os homens resistem com mais coragem, quando se acostumaram a elas, as coisas que tinham no início considerado como dificuldades.

Às vezes ouvimos o inexperiente dizer: "Eu sabia que isso estava reservado para mim". Mas o sábio sabe que todas as coisas lhe estão reservadas. O que quer que aconteça, ele diz: "Eu sabia disso.?

LXXVII. Sobre Tomar a própria vida

A vida não é incompleta se for honrada. Em qualquer ponto que você deixe de viver, desde que você saia nobremente, sua vida é completa.

Ninguém é tão ignorante a ponto de não saber que devemos morrer em algum momento; no entanto, quando alguém se aproxima da morte, alguém se vira para fugir, treme e lamenta. Você não o consideraria um completo tolo aquele que chorasse por não ter estado vivo por mil anos? E não é tanto quanto um tolo aquele que chora porque não estará vivo daqui a mil anos? É tudo o mesmo; você não será, e você não era. Nenhum destes períodos de tempo pertence a você.

Você foi lançado sobre este ponto do tempo; se você o pudesse fazer mais longo, por quanto tempo você o faria? Por que chorar? Por que rezar? Você está tomando dores sem propósito.

Desista de pensar que suas orações podem dobrar Decretos divinos de seu fim predestinado.

Estes decretos são inalteráveis e fixos; eles são governados por uma compulsão poderosa e eterna. Seu objetivo será o objetivo de todas as coisas. O que há de estranho nisso para você? Você nasceu para estar sujeito a esta lei; este destino aconteceu ao seu pai, à sua mãe, aos seus antepassados, a todos os que vieram antes de você; e sucederá a todos os que vierem após. Uma sequência que não pode ser quebrada ou alterada por qualquer poder liga todas as coisas e arrasta todas as coisas em seu curso.

Pense na multidão de homens condenados à morte que virão depois de você, das multidões que irão contigo! Você morreria mais corajosamente, suponho, na companhia de muitos milhares; e ainda há muitos milhares, tanto de homens como de animais, que neste exato momento, enquanto você é irresoluto sobre a morte, estão respirando pela última vez, de várias maneiras. Mas você, ? você acreditou que algum dia não alcançaria o destino para o qual você sempre viajou? Toda viagem tem seu fim.

Infeliz companheiro, você é um escravo dos homens, você é um escravo do seu negócio, você é um escravo da vida. Pois a vida, se a coragem para morrer faltar, é escravidão.

Você tem algo que vale a pena esperar? Seus próprios prazeres, que fazem com que você se demore e lhe segura, já estão exaustos. Nenhum deles é uma novidade para você, e não há nenhum que não tenha se tornado odioso porque já está enfastiado por ele. Você sabe o sabor do vinho e dos tônicos. Não faz diferença se centenas ou milhares de medidas passam por sua bexiga; você não é nada senão um coador de vinho. Você é conhecedor do sabor da ostra e do salmonete; o seu luxo não deixou nada a ser desbravado em anos vindouros; e ainda assim estas são as coisas das quais você é arrancado involuntariamente.

O que mais você lamentaria ter retirado de você? Amigos? Mas quem pode ser um amigo para você? País? O que? Você considera o suficiente seu país para se atrasar para o jantar? A luz do sol? Você iria extingui-la, se pudesse; pois o que é que você já fez que estivesse apto a ser visto na luz? Confesse a verdade; não é porque você almeja a câmara do senado ou o fórum, ou mesmo pelo o mundo da natureza, que você gostaria de adiar a morte; é porque você é relutante em deixar o mercado de peixe, embora você tenha esgotado seus estoques.

"Mas," diz um, "eu desejo viver, pois estou empenhado em muitas buscas honrosas. Eu sou relutante em deixar os deveres da vida, os quais estou cumprindo com lealdade e zelo." Certamente você está ciente de que morrer também é um dos deveres da vida? Você não está abandonando nenhum dever; porque não há um número definido estabelecido que você seja obrigado a completar.

Não há vida que não seja curta. Comparado com o mundo da natureza, mesmo a vida de Nestor era curta, ou Sátia, a mulher que mandou esculpirem sua lápide que tinha vivido noventa e nove anos. Algumas pessoas, veja, vangloriam-se de suas longas vidas; mas quem poderia ter suportado a velha senhora se ela tivesse tido a sorte de completar seu centésimo ano? É com a vida como é com uma peça de teatro, ? não importa por quanto tempo a ação é tecida, mas quão boa é a atuação. Não faz diferença em que ponto você parar. Pare quando quiser; apenas providencie que o ato de encerramento seja bem realizado.

LXXVIII. Sobre o Poder Curativo da Mente

Por vezes é um ato de bravura até mesmo viver.

"Despreze a morte". Não há sofrimento no mundo, quando escapamos do medo da morte.

Há três elementos sérios em cada doença: medo da morte, dor corporal e interrupção dos prazeres. Sobre a morte já foi dito, e eu vou acrescentar apenas uma palavra: este medo não é um medo da doença, mas um medo da natureza.

Você vai morrer, não porque você está doente, mas porque você está vivo; Mesmo após você tiver sido curado, o mesmo fim o espera; quando você se recuperar, não será da morte, mas da má saúde, que você escapou.

Um homem é tão miserável como se convenceu que seja.

Que benefício há na revisão de sofrimentos passados, e em ser infeliz, só porque uma vez que você esteve infeliz? Além disso, todos acrescentam muito aos seus próprios males e contam mentiras para si mesmo. E o que era amargo de suportar é agradável de ter suportado; é natural regozijar-se com o fim dos males. Dois elementos devem ser erradicados de uma vez por todas: o medo do sofrimento futuro e a lembrança do sofrimento passado; já que este último não me preocupa mais, e o primeiro não me preocupa ainda.

Um homem já provou o gosto de tudo o que uma vida mais longa poderia dar. Tal homem, em grande medida, chegou a compreender o universo. Ele sabe que as coisas honrosas não dependem do tempo para o seu crescimento; mas qualquer vida deve parecer curta para aqueles que medem seu comprimento por prazeres que são vazios e por isso sem limites.

Chegará um tempo em que nos uniremos novamente; por mais curto que este tempo possa ser, vamos fazê-lo longo, sabendo como empregá-lo. Pois, como afirma Posidônio: "Um só dia entre os sábios dura mais do que a vida mais longa dos ignorantes".

Agarre-se a este pensamento e abrace-o de perto: não ceda à adversidade; não confie na prosperidade; mantenha diante de seus olhos todo o alcance do poder da Fortuna, como se ela certamente fosse fazer tudo o que pode fazer. Aquilo que há muito tempo se espera vem mais suavemente.

LXXIX. Sobre as Recompensas da
Pesquisa Científica

Virtude nunca é perdida de vista; e ainda ter sido despercebida não é perda. Chegará um dia que a revelará, mesmo escondida ou reprimida pelo despeito de seus contemporâneos.

A virtude nunca falhou em recompensar um homem, tanto durante a sua vida como depois da sua morte, desde que a tenha seguido fielmente, desde que não se tenha enfeitado ou pintado a si próprio, mas tenha sido sempre o mesmo, quer tenha aparecido perante os olhos dos homens depois de ser anunciada, ou de repente e sem preparação. O fingimento não realiza nada. Poucos são enganados por uma máscara que é facilmente retirada do rosto. A verdade é a mesma em cada parte. As coisas que nos enganam não têm substância real. Mentiras são coisas franzinas; elas são transparentes, se você as examinar com cuidado.

LXXX. Sobre Decepções Mundanas

Quantos homens, digo a mim mesmo, treinam seus corpos, e quão poucos treinam suas mentes! Que multidões se
reúnem aos jogos, espúrios como são e dispostos apenas para o passatempo, ? e que solidão reina aonde as artes boas são ensinadas! Como são imbecis os atletas cujos músculos e ombros nós admiramos!

A questão que eu mais pondero é a seguinte: Se o corpo pode ser treinado a tal grau de resistência que vai suportar os golpes e chutes de vários oponentes de uma só vez e em tal grau que um homem pode durar o dia e resistir ao sol escaldante no meio da poeira ardente, encharcado todo o tempo com seu próprio sangue, ? se isso puder ser feito, quanto mais facilmente a mente poderia ser endurecida para que pudesse receber os golpes da Fortuna e não ser conquistada, para que pudesse lutar novamentedepois de ser derrubada, depois que foi pisada e espezinhada? Pois, embora o corpo precise de muitas coisas para ser forte, a mente cresce de dentro, dando-se nutrição e exercício. Os atletas de lá devem ter comida abundante, copiosa bebida, quantidades copiosas de óleo, e longo treinamento também; mas você pode adquirir virtude sem equipamento e sem despesas. Tudo o que vai fazer de você um homem bom está dentro de você.

Se você soubesse quão pouco mal há na pobreza; compare os rostos dos pobres com os dos ricos; o homem pobre sorri com mais frequência e mais genuinamente; seus problemas não vão em profundidade; mesmo que alguma ansiedade vá de encontro com ele, passa como uma nuvem agitada. Mas a alegria daqueles a quem os homens chamam de feliz é fingida, enquanto sua tristeza é pesada e supurada, e mais pesada, porque eles não podem, entretanto, exibir sua tristeza, mas devem fingir o papel da felicidade no meio das aflições que devoram seus próprios corações.

(...) em todos os casos sua felicidade é vestida como a máscara do ator. Rasgue-a, e você vai desprezá-los.

Se você deseja definir um valor em si mesmo, coloque ao lado seu dinheiro, suas propriedades, suas honrarias, e olhe para sua própria alma. No momento, você está tomando a palavra dos outros pelo o que você é.

LXXXI. Sobre Favores e sua Retribuição

Você se queixa de ter encontrado com uma pessoa ingrata. Se esta é a sua primeira experiência desse tipo, você deve agradecer a sua boa sorte ou a sua cautela. Neste caso, entretanto, o cuidado não pode fazer nada além de torná-lo pouco generoso. Pois se quiser evitar tal perigo, não vai conferir benefícios; E assim, que os benefícios não possam ser perdidos com outro homem, eles serão perdidos para si mesmo. É melhor, porém, obter nenhum retorno do que não conferir benefícios. Mesmo depois de uma colheita ruim deve-se semear de novo; Pois muitas vezes as perdas devidas à aridez contínua de um solo improdutivo são compensadas por um ano de fertilidade.

Para descobrir uma pessoa grata, vale a pena julgar muitos ingratos.

Quando o resultado de qualquer empreendimento é incerto, deve-se tentar novamente e novamente, a fim de se ter sucesso em última instância.

É o papel da justiça dar a cada um o que é seu devido.

O sábio investigará em sua mente todas as circunstâncias: quanto ele recebeu, de quem, quando, onde, como. E assim declaramos que ninguém, a não ser o sábio, sabe como retribuir por um favor; além disso, só o sábio sabe conferir um benefício, aquele homem, quero dizer, que goza do dar mais do que o destinatário goza do recebimento.

A essência da honra reside no homem sábio, enquanto entre a multidão encontramos apenas o fantasma e a semelhança de honra.

Qualquer um que receba um benefício mais alegremente do que o retribua está enganado. Tanto quanto aquele que paga é mais alegre do que aquele que pede emprestado, por tanto deve ser mais alegre aquele que se desembaraça da maior dívida ? um benefício recebido ? do que aquele que incorre nas maiores obrigações.

Devemos tentar por todos os meios ser o mais grato possível. Pois a gratidão é uma coisa boa para nós mesmos. A gratidão retorna em grande medida a si mesma. Não há um homem que, quando tenha beneficiado o seu próximo, não se tenha beneficiado, ? não quero dizer que quem você ajudou desejará ajudá-lo, ou que aquele quem você defendeu desejará proteger você, ou que um exemplo de boa conduta retorne em círculo para beneficiar o executor, assim como exemplos de má conduta retrocedem sobre seus autores e como os homens não sentem piedade se sofrem injustiças que eles mesmos demonstraram a possibilidade de cometer; Mas que a recompensa por todas as virtudes está nas próprias virtudes. Pois elas não são praticadas com vista a recompensa; o salário de uma boa ação é tê-la executado.

Sou grato, não para que meu vizinho, provocado pelo ato de bondade anterior, esteja mais pronto a me beneficiar, mas simplesmente para que eu possa realizar um ato muito agradável e belo; sinto-me grato, não porque me beneficie, mas porque me agrada.

Você pergunta o que é que nos faz esquecer os benefícios recebidos? É a nossa cobiça extrema por receber outros. Consideramos não o que obtivemos, mas o que estamos a procurar. Somos desviados do curso certo por riquezas, títulos, poder e tudo o que é valioso em nossa opinião, mas desprezível quando avaliado em seu valor real.

Devemos nos aconselhar sobre eles, não por sua reputação, mas por sua natureza; essas coisas não possuem grandeza para encantar nossas mentes, exceto pelo fato de que nos acostumamos a maravilhar-se com elas. Pois não são louvadas porque devem ser desejadas, mas são desejadas porque foram louvadas

Nada é mais honrado do que um coração grato.

Alguns elogiam o prazer, alguns preferem o trabalho; alguns dizem que a dor é o maior dos males, alguns dizem que não é mal algum; alguns incluirão riquezas no Bem Supremo, outros dirão que sua descoberta significou dano à raça humana, e que ninguém é mais rico do que aquele a quem a Fortuna não encontrou nada para dar.

LXXXII. Sobre o medo natural da morte

Tempo livre sem estudo é a morte

Como se as verdadeiras causas de nossas ansiedades não nos seguissem através dos mares! Que esconderijo existe, onde o medo da morte não possa entrar? Que covil pacífico existe, tão fortificado e até agora seguro que a dor não o encha de medo? Onde quer que você se esconda, os males humanos farão um alvoroço ao redor. Há muitas coisas externas que nos cercam, para nos enganar ou pesar sobre nós; há muitas coisas dentro das quais, mesmo em meio à solidão, se preocupam e fermentam.

A alma permanece em terreno inatacável, quando abandona as coisas externas; é independente em sua própria fortaleza; e cada arma que é atirada fica aquém do alvo. A fortuna não tem o longo alcance com que creditamos a ela; ela não pode agarrar ninguém a não ser aquele que se apega a ela.

Vamos então recuar dela o mais que pudermos. Isso só será possível para nós por via do autoconhecimento e da natureza. A alma deve saber para onde vai e de onde veio, o que é bom para ela e o que é mau, o que procura e o que evita, e o que a razão distingue entre o que é desejável e indesejável e, assim, domina a loucura de nossos desejos e acalma a violência de nossos medos.

Não é a pobreza que louvamos, é o homem a quem a pobreza não pode humilhar ou dobrar. Nem é o exílio que louvamos, é o homem que se retira para o exílio no espírito em que teria enviado outro para o exílio. Não é a dor que louvamos, é o homem a quem a dor não coagiu.

Todas estas coisas não são em si nem honradas nem gloriosas; mas qualquer uma delas que a virtude tem visitado e tocado é feita honrada egloriosa pela virtude; elas se limitam ao meio, e a questão decisiva é apenas se a maldade ou a virtude tem sobrepujado sobre elas.

A morte em si não é nem um mal nem um bem. Tudo, se você adicionar virtude, assume uma glória que não possuía antes.

A morte é honrosa quando relacionada com aquilo que é honroso; como honroso quero dizer virtude e uma alma que despreze as piores dificuldades.

A morte pertence àquelas coisas que não são realmente más, mas ainda têm nelas uma aparência de mal; pois há arraigado em nós o amor próprio, o desejo de existência e autopreservação, e também a aversão pela extinção, porque a morte parece roubar-nos de muitos bens e nos retirar da abundância a que nos acostumamos. E há outro elemento que nos distingue da morte, jáestamos familiarizados com o presente, mas ignoramos o futuro em que nos transferiremos, e nos afastamos do desconhecido. Além disso, é natural temer o mundo das sombras, onde a morte supostamente nos conduz.

A mente nunca se elevará à virtude se acreditar que a morte é um mal; mas ela se elevará se considerar que a morte é uma questão indiferente. Não é natural que um homem proceda de bom grado a um destino que acredita ser mau; ele irá lentamente e com relutância.

Leônidas: quão bravamente ele discursou aos seus homens! Ele disse: "Companheiros, vamos ao nosso café da manhã, sabendo que vamos jantar no Hades!"

Pense também no famoso general romano; seus soldados haviam sido enviados para ocupar uma posição e, quando estavam prestes a atravessar um enorme exército do inimigo, dirigiu-se a eles com as palavras: ?Vocês devem ir agora, companheiros soldados, para o outro lugar, de onde não há "obrigação" sobre o seu retorno!"

Não são os trezentos, é toda a humanidade que deve ser aliviada do medo da morte.

É preciso grandes armas para derrubar grandes monstros.

LXXXIII. Sobre a embriaguez

É assim que devemos viver, como se vivêssemos à vista de todos os homens; e é assim que devemos pensar, como se houvesse alguém que pudesse olhar para nossas almas mais íntimas; e há quem possa assim olhar. Pois que beneficio há em algo escondido do homem? Nada escapa da visão de Deus.

Como um homem subjugado pelo licor não pode manter a sua comida quando ele exagera no vinho, assim também ele não pode manter um segredo. Derrama imparcialmente tanto os seus próprios segredos como os de outras pessoas".

Mostre como é vil beber mais licor do que se pode suportar, e não saber a capacidade de seu próprio estômago; mostre quantas vezes o bêbado faz coisas que o fazem corar quando está sóbrio; afirmam que a embriaguez não é senão uma condição de insanidade propositadamente assumida. Prolongue a condição do bêbado a vários dias; terá alguma dúvida sobre sua loucura?

A embriaguez acende e revela todo o tipo de vícios, e elimina o sentimento de vergonha que encobre nossas ações perversas. Pois mais homens se abstêm de ações proibidas porque têm vergonha de pecar do que porque suas inclinações são boas.

Quando a força do vinho se torna muito grande e ganha o controle sobre a mente, todo mal escondido sai do seu esconderijo. A embriaguez não cria vícios, apenas os trazem à vista; nessas ocasiões o homem luxurioso não espera até a privacidade de um quarto, mas sem postergação dá carta branca às exigências de suas paixões; em tais ocasiões o homem sem castidade proclama e publica sua doença; nessas ocasiões seu companheiro intratável não restringe sua língua ou sua mão. O homem pedante aumenta sua arrogância, o homem cruel sua crueldade, o caluniador seu veneno. A cada vício é dado liberdade.

Que glória há em beber muito licor? Quando você ganha o prêmio, e os outros convidados do banquete, escarrapachados adormecidos ou vomitando, recusam seu desafio a ainda mais brindes; quando você é o último sobrevivente da orgia; quando vence cada um por seu magnífico espetáculo de proezas e não há nenhum homem que tenha se provado de tão grande capacidade como você, você é vencido pelo barril.

Crueldade geralmente segue a bebedeira, pois a solidez mental de um homem é corrompida e tornada selvagem. Assim como uma doença persistente faz os homens ranzinzas e irritáveis e os faz selvagens na mínima oposição de seus desejos, assim também ataques contínuos de embriaguez bestializam a alma. Pois quando as pessoas estão frequentemente fora de si, o hábito da loucura perdura, e os vícios que o licor aflora retêm seu poder mesmo quando o licor se vai.

O que os homens chamam de prazeres são punições assim que ultrapassarem os limites devidos.

LXXXIV. Sobre recolher ideais

Abandone as riquezas, que são um perigo ou umfardo para o possuidor. Abandone os prazeres do corpo e da mente, eles apenas o amolecem e o enfraquecem.... Abandone sua busca por cargos, é uma coisa inflada, ociosa e vazia, uma coisa que não tem objetivo, tão ansiosa em ver ninguém a ultrapassar como para não ver ninguém em seus calcanhares. É aflita pela inveja, e com uma inveja dupla: veja quão miserável é a situação de um homem, se é objeto de inveja e também sente inveja".

LXXXV. Sobre Silogismos Vazios

A virtude é por si só suficientemente capaz de obter a vida feliz.

Se a razão prevalecer, as paixões nem sequer começarão; mas se elas se encaminharem contra a vontade da razão, elas se manterão contra a vontade da razão. Pois é mais fácil detê-las no começo do que controlá-las quando ganham força.

O medo crescerá em proporções maiores, se o que causa o terror é visto como de maior magnitude ou em maior proximidade; e o desejo se tornará cada vez mais intenso na medida em que a esperança de um ganho maior o convoca à ação.

A existência das paixões não está no nosso próprio controle, nem está também a extensão de seu poder; pois se uma vez permitir que elas comecem, elas aumentarão juntamente com suas causas, e serão de qualquer tamanho que quiserem crescer. Além disso, não importa quão pequenos esses vícios são, eles crescem. O que é prejudicial nunca se mantém dentro dos limites. Não importa quão insignificantes sejam as doenças no começo, elas se arrastam rapidamente; e às vezes o menor aumento da doença derruba o corpo enfraquecido!

Mas que loucura é, quando o começo de certas coisas está situado fora de nosso controle, acreditar que seus fins estão sob nosso controle! Como terei eu o poder de trazer algo ao fim, quando eu não tive o poder de interromper isso no começo? Pois é mais fácil evitar uma coisa do que mantê-la sob controle após ela ter se estabelecido.

Se uma pessoa é menos feliz do que outra, segue-se que deseja ansiosamente a vida desse outro homem mais feliz do que a sua. Mas o homem feliz prefere a vida de nenhum outro homem a sua.

"Será que o homem corajoso não tem medo dos males que o ameaçam?" Esta seria a condição de um louco, um lunático, em vez de um homem corajoso. O homem corajoso, é verdade, sentirá medo em apenas um leve grau, mas ele não está absolutamente livre de medo."

"É a doutrina de vocês estoicos, então," eles respondem, "que um homem corajoso se exponha a perigos." De jeito nenhum; ele simplesmente não os temerá, embora os evite. É bom para ele ter cuidado, mas não ter medo. "E então, não temerá a morte, o aprisionamento, a queima, e todos os outros ataques da Fortuna?" De modo nenhum; pois ele sabe que eles não são males, mas só parecem ser. Ele considera todas essas coisas como os fantasmas da existência do homem.

O homem sábio não é prejudicado pela pobreza, pela dor ou por qualquer outra tempestade da vida.

Ele mesmo está sempre em ação, e é maior em desempenho no momento em que a fortuna bloqueia seu caminho.

Ele não está impedido de ajudar os outros, mesmo no momento em que as circunstâncias restritivas o pressionam. Por causa de sua pobreza, ele é impedido de mostrar como o Estado deve ser governado; mas ele ensina, não obstante, como a pobreza deve ser governada. O seu trabalho continua durante toda a sua vida. Assim, nenhuma fortuna, nenhuma circunstância externa, pode isolar o sábio da ação.

Ele está pronto para qualquer resultado: se traz bens, ele os controla; se males, ele os conquista.

Ele se treinou a demonstrar sua virtude tanto na prosperidade quanto na adversidade, e mantém seus olhos na própria virtude, não nos objetos com os quais a virtude trata. Daí que nem a pobreza, nem a dor, nem qualquer outra coisa que desvie os inexperientes e os conduz ao fracasso, o impede de seguir seu curso.

Você acha que ele está sobrecarregado por males? Ele faz uso deles. Não era só de marfim que Fídias sabia fazer estátuas; ele também fez estátuas de bronze. Se você tivesse lhe dado mármore, ou um material ainda pior, ele teria feito dele a melhor estátua que o material permitiria. Assim, o sábio desenvolverá a virtude, se puder, no meio da riqueza ou, se nã
Maria.Clara 26/11/2022minha estante
Muito boa sua resenha, já adicionei na minha lista de leitura de 2023.


Maria.Clara 26/11/2022minha estante
*já adicionei o livro


Alane.Sthefany 26/11/2022minha estante
Obrigada !!! ???

Esse é o volume 2, o primeiro consegue ser melhor que o segundo.

Sêneca está sendo o meu Estoico preferido ?




Rafael.Silveira 22/11/2022

Cartas de um Estoico - II
Sêneca foi simultaneamente dramaturgo de sucesso, uma das pessoas mais ricas de Roma, estadista famoso e conselheiro do imperador. Sêneca teve que negociar, persuadir e planejar seu caminho pela vida. Ao invés de filosofar da segurança da cátedra de uma universidade, ele teve que lidar constantemente com pessoas não cooperativas e poderosas e enfrentar o desastre, o exílio, a saúde frágil e a condenação à morte tanto por Calígula como por Nero. Sêneca correu riscos e teve grandes feitos
comentários(0)comente



Marcos774 18/03/2022

Boa continuação
Assim como o primeiro volume, esse segundo contém muitos pensamentos interessantes de Sêneca. Gostei bastante e pretendo ler o próximo.
comentários(0)comente



Amanda 20/11/2021

Adoro o tio Seneca
Sou apaixonada por cada carta que ele escreveu. Posso até não concordar com o que ele diz em algumas, mas sempre tento meditar sobre o assunto. O homem dá diversas aulas sobre a vida, a morte, coragem... Enfim, ele é o maximo! Ja li os vol I e II, agora so falta o III.
comentários(0)comente



8 encontrados | exibindo 1 a 8


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR