A Alma da Marionete

A Alma da Marionete John Gray




Resenhas -


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Dalmo 23/03/2021

A ilusão da liberdade
John Gray utiliza conceitos de gnosticismo, ficção científica e ocutismo, misturando-os com tradições religiosas, filosóficas e fantásticas, para provocar em nós o questionamento sobre a ideia de liberdade humana. Com citações a obras de diversos autores, escritores e filósofos que bebiam destas fontes, ele nos convida (ou empurra) a uma reflexão instigante sobre as visões clássicas a respeito das incertezas do mundo e a ilusão moderna de que temos o controle sobre o destino de nossas vidas.

O título do livro foi inspirado na obra "O teatro de marionetes", de Heinrich von Kleist (1777-1811), escritor e dramaturgo alemão. Um fantoche, ou uma marionete, pode parecer a própria encarnação da falta de liberdade, pois não tem vontade própria, mas para Heinrich von Kleist, os fantoches representavam um tipo de liberdade que jamais estaria ao alcance dos seres humanos. Por não possuírem pensamento autorreflexivo ou autoconsciência, não encontram obstáculo para viver em liberdade. Os humanos, presos entre os movimentos mecânicos da carne e a liberdade do espírito, não estão realmente livres. Para Kleist, e outros que pensavam como ele, a liberdade não é simplesmente uma relação entre seres humanos: é, acima de tudo, um estado da alma em que o conflito foi deixado para trás.

Nas crenças monoteístas, como Gray cita no livro, a ânsia dos seus discípulos não seria pela liberdade de escolha, mas por se libertar da escolha. Por outro lado, se o desejo de liberdade de escolha é um impulso universal, ele está longe de ser o mais forte. Considerando o fato de que temos necessidades básicas para suprir antes da liberdade, sempre haverá muitos que se sintam felizes sem ela. Afinal, liberdade significa deixar que os outros vivam como quiserem e muitos desejam, como no passado, serem dominados por um tirano que possa prove-los destas necessidades.

(leia o resto da resenha em redumbrella.me)





site: https://www.redumbrella.me/post/a-ilusão-da-liberdade
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Murilo Xavier 21/07/2020

O que é o homem senão escravo de escolhas?
O ensaio sobre a Liberdade, apresentado por Gray, traz um texto carregado de contexto histórico acerca do tema central, e reflexões e questionamentos acerca de autores e ideias (como de costume, sejam elas religiosas ou científicas).

O livro é dividido em três capítulos, dos quais, em resumo:

- O primeiro (A fé dos fantoches), brinca com uma perspectiva da liberdade da marionete e a liberdade do homem (baseada na obra de Kleist - "O Teatro de Marionetes"). Seria a marionete livre por não carregar o peso do autoconhecimento, ou das escolhas humanas? O gnosticismo é apresentado e debatido por boa parte do capítulo.

- O segundo (No Teatro de Marionetes), Gray passeia pelos planos humanos de busca a liberdade. É apresentado a perspectiva asteca de liberdade (por meio de suas tradições), e como a morte é relacionada a tal. É apresentado sobre o "privilégio do absurdo" (de Hobbes), onde homens, no intuito de conferir sentido à vida, "tendem a criar palavras sem sentido e começam a agir de acordo com elas".
(Em especial, o que me marcou foi a seguinte frase: "Os seres humanos são os únicos dentre os animais a buscar significado para a sua vida matando e morrendo em nome de sonhos sem sentido. Na época moderna, destaca-se entre esses absurdos a ideia de uma nova humanidade").

- O terceiro (Liberdade para as Uber-marionetes), o tema retorna para as marionetes, porém trazendo reflexões sobre os capítulos anteriores. Seria a busca pelo conhecimento uma forma de alcançar a liberdade? Ou é nada além de complicar ainda mais a vida? (Ou tornar-se escravo da busca pela compreensão do incompreensível?). Gray finaliza o capítulo com a mensagem de que "aceitar o fato do não saber possibilita uma liberdade muito diferente da perseguida por outros". (PS: neste contexto, entenda 'conhecimento' como a busca pela compreensão da própria existência, e a própria liberdade no mundo).

É um livro que abre horizontes, também, para outros questionamentos como a morte (sugiro a leitura de "A Busca pela Imortalidade", também de Gray), ou a interpretação humana do mundo, do universo e dos fatos.
Afinal, o mundo só é mundo porque o enxergamos assim, não? =)
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Paulo Victor 15/06/2020

Grata surpresa
Ao iniciar a leitura não esperava em cento e poucas páginas uma análise tão profunda e constrangedora. Sem viés ideológico o autor nos faz questionar até mesmo nosso apego a razão.
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pedrocipoli 31/03/2019

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“A alma da marionete” causa um verdadeiro “mindf*uk” logo de cara, em especial pela abordagem do autor em buscar a verdade sem concessões de qualquer espécie. É um livro curto, porém denso, sobre o livre-arbítrio, tratando de temas complexos com uma linguagem acessível e direta.
John Gray não paga pedágio ideológico para ninguém, analisa de forma crítica desde de Jeremy Bentham até Pinker com sua “conclusão” de que o mundo está ficando menos violento. O repertório de autores aqui é enorme e de alto gabarito, com nomes como Jorge Luis Borges, Poe, Mary Shelley, Philip K. Dick e Leopardi, que são utilizados para formar a visão do autor sobre o livre-arbítrio. Falando deste último:

“não resta dúvida que o progresso da razão e a eliminação das ilusões gera barbárie [...]”

John Gray critica (acertadamente) o iluminismo e o seu “credo secular”, visto como uma “meia-filosofia” e uma “barbárie da razão” segundo Leopardi. Explora o conceito do “pan-óptico” e os seus paralelos com a vida de hoje de uma forma fantástica. Enfim, são 100 e poucas páginas que levam a anos de reflexão.

Algumas passagens:

“Formados em uma mistura coagulada de socratismo e retalhos de cristianismo deteriorado, os pensadores modernos condenam aí a suposta voz do desespero. No mundo antigo, ela expressava saúde e clareza mental. Se essa sanidade não pode ser resgatada hoje, é porque a crença monoteísta de que a história tem um significado continua a moldar a maneira moderna de pensar, mesmo depois da rejeição do próprio monoteísmo.” - Sobre o modernismo.

“nenhum avanço da ciência será capaz de nos dizer se o materialismo é verdadeiro ou falso, ou se seres humanos são dotados de livre-arbítrio.”

“Acreditando que os seres humanos podem ser plenamente entendidos pelos termos do materialismo científico, rejeitam qualquer ideia de livre-arbítrio”

Entre outras inúmeras reflexões poderosas presentes em abundância neste pequeno livro.
Agora é uma questão de correr atrás do “Missa negra” e do “Cachorros de palha” do mesmo autor, que são bastante difíceis de encontrar, onde espero ainda mais do autor.
De qualquer forma, merece cada uma das 5 estrelas.
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