spoiler visualizarTOF 04/04/2023
Raiva em cima de ódio
Nesse livro, temos uma autobiografia da autora **Tara Westover**, ela nos trás sua história com base em suas memórias e anotações em seus diários junto com a ajuda de alguns dos seus irmãos. Gostei muito dessa autobiografia no estilo de romance, há momentos que sério, eu pergunto se realmente é real essa história, até porque é uma história triste e cheia de violência, inacreditável pensar que a mesma mulher que fala com você em 1° pessoa nesse livro passou por tudo isso e se superou. Aliás, essa é a parte que mais me consolava em todo o livro, saber que ela saiu, se livrou de tudo aquilo e se tornou uma mulher guerreira e renomada.
Tara nos conta como foi criada e toda sua jornada até se tornar doutora. Porém, não é nada fácil de se acompanhar quando você percebe que ela não cresceu apenas em uma família fundamentalista, mas em um ambiente muito tóxico e cheio de violências físicas e psicológicas. Seu **irmão Shawn** pra mim é o ser mais desprezível da face da terra; machista, abusador, agressor, manipulador, **um baita de um sóciopata**. Juro pra vocês que toda vez que vinha uma cena com ele eu me arrepiava toda de raiva e angústia. Cheguei a ficar com muita raiva até mesmo de Tara por se deixar ser subjugada e submissa no meio de tudo aquilo, mas sabemos que não é bem assim, quando você cresce com seu agressor, seu agressor se torna algo normal para vítima e, isso é triste demais nessa história.
Vemos no final o quanto foi difícil para Tara sair disso, podemos até dizer que ela desenvolveu a famosa **Síndrome de Estocolmo** para poder sobreviver nesse ambiente.
O pai dela nem se fala, outro agressor machista ao qual leva toda essa família a um ambiente de tensão e catastrófico. O pai de Tara se baseia na sua religião - **Mórmon** - para dar significado a tudo, usa da religião da pior forma possível para controlar o ambiente familiar e a vida da esposa e dos filhos, um homem cheio de **teorias conspiratórias** que leva sua família a viver de forma decadente e sempre sobre tensão.
O mais absurdo de tudo isso, é o fato de ele querer viver isolado do mundo e não aceitar que sua família tenha acesso a saúde e educação por conta das suas paranoias. E a mãe, subjugada desde sempre faz disso uma normalidade ao qual não pode ser contestada. Um absurdo!
A mãe de Tara que fica responsável em trazer a maior renda para casa, já que o pai dela tem um ferro-velho que mal trás sustento para essa família de 7 filhos. E mesmo ela se tornando uma mulher empreendedora e trazendo o maior sustento para sua família seu marido mantém o machismo enraizado sempre a diminuindo e subjugando-a.
Sinceramente, nunca peguei um livro que me trouxesse tanto o sentimento de raiva, é revoltante a cada capítulo desse livro você ler e saber que tudo isso realmente aconteceu e nos lembra o quanto toda essa violência pode estar acontecendo em muitas casas até hoje, e como Tara nos mostra não se consegue ajuda de fora, as pessoas não se mobilizam, até porque as próprias vítimas escondem essa realidade já que esse tipo de ambiente pode ser levado a normalidade por muitas pessoas que crescem sujeitos a ambiente violentos como o da família de Tara.
É muito comovente e triste de se acompanhar a luta interna de Tara para conseguir se afastar da família, em conseguir não se sentir culpada e por aceitar que a família dela que é a errada e não ela. Quando trazemos reflexões sobre ser errado obrigar as pessoas a olharem para família como pessoas que temos que aceitar tudo **por que é família**, é disso que estamos falando, estamos falando de ambiente familiares tóxicos e violentos que levam a degradação das pessoas que ali vivem mas que aceitam tudo de cabeça baixa porque é FAMÍLIA.
Tara trás múltiplas reflexões nesse livro na questão de familiar, crenças, doenças psicológicas e o quanto elas importam - já que se descobre mais tarde que seu pai sofria de Transtorno de Bipolaridade - e isso trás todo um sentido dos exageros do pai dela, porém não tira a responsabilidade dele de nada e de ninguém para mim.
Também é gratificante o momento que ela entra para a universidade e começa a descobrir o mundo e a ganhar conhecimento. Você acaba aprendendo e reaprendendo muitos assuntos com ela, essa parte foi a que compensou meus surtos de ódio.
E a questão da religião de sua família, nos trás bastante curiosidade sobre os mórmons, porém não é o foco do livro, com isso, é importante ressaltar que o livro não olha para a religião de sua família de uma forma crítica, por que ela sabe que o problema era em questão do seu pai e sua família que tinha problemas aos quais levava a uma interpretação totalmente errada sobre isso. O que pode trazer também muitas reflexões sobre religião e seus níveis de impacto e interpretação.
E é sobre isso minha gente, eu poderia passar horas escrevendo sobre tudo que esse livro me proporcionou, porém para tudo temos limites, principalmente aqui. Então chega de Tara por hoje e vamos em busca a um livro fofinho agora, por favor.
Bom, nada como um bom livro para render uma resenha imensa. Obrigada a quem leu até aqui.
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