Helder 20/01/2019Você acredita em milagres?Lib Wright é uma enfermeira de alto desempenho. Treinada pela equipe de Florence Nightingale, já esteve até em front de guerra. Ela é viúva, inglesa e acha o povo irlandês do final do seculo XIX extremamente atrasado.
Porém é justamente para a Irlanda que ela é enviada com uma missão: Fazer uma vigília para uma menina de 11 anos que diz estar há 4 meses sem comer e já vem sendo considerada um Milagre no pequeno vilarejo irlandês extremamente católico onde vive.
Ela é contratada por um grupo de pessoas influentes do vilarejo, dentre eles o velho médico do local, que vem acompanhando a menina e informa que ela vem se mantendo saudável nestes quatro meses de jejum e o padre da igreja católica local, que tem duvidas se está realmente presenciando um milagre ou uma fraude de uma família fanática.
A função de Lib é ficar de olho na menina para ter certeza de que realmente ela não está se alimentando. Além dela, o conselho do vilarejo também “contrata” uma freira.
Ambas deverão trabalhar em turnos e manter a vigília durante 15 dias, para comprovar o milagre ou a fraude. Religião X Ciência.
O Milagre é o segundo livro da autora Emma Donoghue lançado no Brasil, após o mega sucesso Quarto, que gerou o filme Quarto de Jack que ganhou prêmios no Oscar de 2016.
Enquanto em Quarto tínhamos um thriller eletrizante que não nos permitia parar de ler, aqui temos um livro muito mais lento, e no começo é difícil o leitor de afeiçoar a Lib, pois ela é extremamente pedante, tendo certeza absoluta de que ali existe uma fraude, mesmo sem encontrar nenhuma prova que aponte a isso. Ela simplesmente é cética e não acredita em milagres. Mas Anna é um milagre. Ela é fofa, gentil e como diz, se alimenta do mana dos céus.
Ao ler a sinopse do livro, penso que a intenção da autora era que o leitor ficasse na duvida entre Ciência X Religião. Fraude ou Milagre? Mas a autora se perde um pouco em nos trazer esta duvida. Até a metade do livro, Lib é tão chata que queremos que Anna seja um milagre.
No terço final, o livro fica bem mais interessante e aos poucos a autora vai mostrando as cartas que tinha na manga. Ela aproveita sua estória para expor até onde o fanatismo pode levar as pessoas, e para isso ela criou personagens que nos dão muita raiva. A criança, a mãe, o pai, o padre, o médico, a prima, o barão. A maneira como cada um, com seu próprio objetivo ou crença, segue aceitando o que está acontecendo é extremamente cruel. A maneira como as pessoas fecham os olhos e seguem acreditando em suas verdades criadas sobre preconceitos, é terrível. O que menos importa ali é a vida da pequena Anna. E que pena daquela menina!
Eu imagino que a autora não seja católica, pois o seu livro faz uma critica muito pesada à Igreja Católica e em como às vezes ela tem interesse em manter o fanatismo das pessoas sobre seus dogmas. Até onde a Igreja pode ir para salvar alguém? O que é pecado? O que absolvição?
Se você for ateu, ou católico não praticante, passará a ter ainda mais raiva da igreja. Se for católico praticante, talvez queira botar fogo neste livro e prega-lo numa cruz, por considerar muitas partes como extremamente blasfemas.
Eu, durante a leitura só pensava em uma música da Banda Depeche Mode chamada Blasphemous Rumours
I don´t want to start any blasphemous rumours
But I think that God, got´s a sick sense of humour
And when I die, I hope I´ll find Him laughing
O final arruma uma solução para o problema que traz um pouco de esperança, mas que a mim não me convenceu muito, pois o meu lado cético não me permite acreditar que a destruição causada pelo fanatismo possa ser resolvida tão facilmente.
E você, em que acredita? Que tal ler para tirar suas próprias conclusões?