Ao Farol

Ao Farol Virginia Woolf




Resenhas - Rumo ao Farol


242 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


3.0.3 27/03/2024

O tempo passa: vida, fica parada aqui
“As noites estão agora cheias de ventania e destruição; as árvores cedem e se curvam, e suas defloradas folhas voam a torto e a direito até cobrirem todo o gramado e acabarem aos montes nas bocas de lobo, e entupirem os bueiros, e inundarem as úmidas trilhas. O mar também se agita e rebenta, e caso algum adormecido, imaginando que possa encontrar na praia uma resposta para suas dúvidas, um comparsa para sua solidão, se desfaça de suas roupas de cama e desça sozinho para caminhar na areia, nenhuma imagem, com atitude de ajuda e divina presteza, acorre prontamente para trazer a noite à ordem e fazer o mar refletir a bússola da alma. A mão encolhe-se em sua mão; a voz grita em seu ouvido. Parece quase inútil fazer à noite, nessa confusão, estas perguntas referentes ao quê, e ao porquê, e ao para quê, que tiravam o adormecido de seu leito para buscar uma resposta.”

Escritora à frente de seu tempo, Virginia Woolf (1882-1941) deixou um legado literário impressionante. Ela começou a sua carreira em 1904 como crítica literária, mas foi por meio de seus romances que demonstrou sua sensibilidade e conhecimento. No princípio do século XX, Virginia Woolf defendeu a causa das mulheres, lutando contra a opressão e a ignorância. O compromisso da autora com o esclarecimento e com a inclusão é digno de nota. Ela não se encastelou nos estreitos limites do elitismo.

A leitura de Ao farol (1927) requer atenção, pois não é uma obra simples. Virginia Woolf catalisa as exigências artísticas de sua época de forma criativa. Embora a sua escrita seja comparada a de James Joyce (1882-1941), cabe ressaltar que a abordagem de Woolf é diferente: ela se vale da consciência narrativa (fluxo de consciência) para lançar o leitor no íntimo das personagens durante o desencadear da trama. Assim, o texto apresenta monólogos num fluxo contínuo de consciência e, nesse processo, é como se habitássenos a mente das personagens. Além disso, a obra usa frequentemente parênteses para indicar movimentos silenciosos e vislumbres de perspectiva. O resultado é inefável. Virginia Woolf mergulha nas profundezas do nosso ser e desvenda as complexidades do reino interior.

A história se desenrola em uma estrutura narrativa não linear. Enquanto alguns momentos acontecem no presente, outros são lembranças. A ênfase que Virginia Woolf dá à vida interior de seus personagens alinha-se com a exploração da mente consciente e inconsciente, estudada pelo médico Sigmund Freud (1856-1939). Em seu romance, Woolf desvia sua atenção dos eventos externos para adentrar no labiríntico e multifacetado mundo da psique humana. Em outras palavras, é a consciência das personagens quem dita a passagem do tempo. Por exemplo, uma simples tarde ocupa mais da metade do livro, enquanto os dez anos subsequentes são condensados ​​em poucas páginas. O extenso desenvolvimento de pensamentos nos dá uma perspectiva da Sra. Ramsey e também sublinha o impacto que o tempo exerce sobre as coisas, as forças da natureza e o incessante esforço da humanidade para suportar as provações da vida.

“Como, então, perguntou-se, conhecíamos uma coisa ou outra sobre as pessoas, fechadas como elas eram? Tão-somente como uma abelha, atraída por alguma doçura ou acritude no ar, intangível ao tato ou ao paladar, visitávamos a colmeia em forma de cúpula, percorríamos, sozinhos, as vastidões do ar por sobre os países do mundo, e então visitávamos as colmeias com seus murmúrios e fervilhamentos; essas colmeias que são as pessoas.”

A narrativa está estruturada em três seções: “A Janela”, “O Tempo Passa” e “O Farol”. "A Janela" se desenrola antes do início da grande guerra, apresentando aos leitores os Ramseys e seus oito filhos enquanto recebem alguns convidados em sua casa na Ilha de Skye, na Escócia. Situado no lado oposto da ilha, ergue-se um farol. O jovem James Ramsey, de apenas seis anos, deseja visitar o farol, mas a sua mãe diz que só irão se o tempo melhorar. O Sr. Ramsey, seu pai, rejeita as aspirações de seu filho, que fica bem chateado. Virginia Woolf transforma um acontecimento aparentemente trivial em algo extraordinário. Cada palavra ressoa em nossos sentidos. A essência indescritível e melancólica que paira sobre as coisas é deixada à interpretação do leitor – é o inexplicável que tem mais significado.

Os convidados são: Charles Tansley, um indivíduo que tem grande respeito e admiração pelo trabalho filosófico do Sr. Ramsey; Lily Briscoe, uma pintora que resolve pintar um retrato da Sra. Ramsey, mas que enfrenta obstáculos devido aos comentários de Charles Tansley, que mina a sua confiança ao afirmar que as mulheres não têm habilidade para pintar ou escrever; William Bankes, um botânico conhecido por sua gentileza; Paul Rayley e Minta Doyle, que atenderam aos desejos da Sra. Ramsey e se casaram; e o enigmático poeta Augustus Carmichael, que habita as sombras de seus pensamentos, até que os seus poemas são amplamente reconhecidos durante o período de guerra.

Anfitriã notável, a Sra. Ramsey quer garantir que seus convidados tenham momentos inesquecíveis. Embora seja uma esposa dedicada e carinhosa, frequentemente enfrenta desafios para administrar as mudanças de humor e o egocentrismo do marido. A Sra. Ramsey lida com as dificuldades de seu papel como anfitriã, mãe e esposa, equilibrando as complexidades domésticas e sociais. No meio de tudo isso, ela triunfa ao transformar um simples jantar em algo extraordinário.

“Tricotando sua meia peluda de um marrom avermelhado, com sua cabeça absurdamente recortada pela moldura dourada, pelo xale verde que ela tinha jogado sobre a quina do quadro e pela obra-prima autenticada de Michelangelo, a Sra. Ramsay amaciou o que tinha havido de ríspido em sua atitude um momento antes, levantou a cabeça de seu garotinho e beijou-o na testa.”

Filósofo metafísico, o Sr. Ramsay nutre profundo afeto pela sua família. Ele reconhece os seus próprios limites intelectuais e entende que suas contribuições não terão qualquer significado para as gerações futuras. Naturalmente, essa constatação tem consequências, e é a sua família quem acaba suportando o fardo de sua índole egocêntrica e dura, decorrente de suas incessantes preocupações pessoais e profissionais. Embora reconheça e aprecie a dádiva de ter uma família, ele espera empatia, atenção e assistência incondicionais ​​tanto de seus familiares quanto daqueles que visitam a sua casa.

Na segunda parte, “O Tempo Passa”, o tempo acelera. A guerra irrompe por toda a Europa, trazendo consigo uma série de acontecimentos trágicos. A morte da Sra. Ramsey, a morte de seu filho Andrew em batalha e a perda de Prue Ramsey devido a complicações no parto acontecem no espaço de dez anos. Esses momentos são apresentados entre colchetes. Um capítulo conciso cujo foco é a casa de verão abandonada e as transformações que acontecem dentro e fora de suas estruturas.

“Nada parecia conseguir quebrar esta imagem, corromper esta inocência, ou perturbar o oscilante manto de silêncio que, semana após semana, na sala vazia, tecia em si mesmo os gorjeios cadentes dos pássaros, os navios apitando, o zumbido e o zunzum dos campos, o uivo de um cão, o grito de um homem, e os drapeava em volta da casa em silêncio. Apenas uma vez, uma tábua estalou no patamar; apenas uma vez, no meio da noite, com um estrondo, com um rasgão, tal como, após séculos de repouso, uma rocha se desprendeu da montanha e caiu ruidosamente no vale, uma dobra do xale se afrouxou e ficou balançando. Então a paz voltou a descer; e a sombra tremulou; a luz curvou-se em adoração à sua própria imagem sobre a parede do quarto.”

No capítulo intitulado "O Farol", o Sr. Ramsey, acompanhado por seus filhos James e Cam, retorna para sua casa de verão após o fim da guerra. Apesar das tentativas do Sr. Ramsey de preencher as lacunas entre ele e os filhos, ainda há vestígios de ressentimento devido à sua natureza dominadora. Outros convidados também se juntam a eles, incluindo Lily Briscoe, que não simpatiza com o Sr. Ramsey, embora ele faça um esforço para se conectar com ela. Finalmente, começa a tão esperada viagem ao Farol. É durante a viagem que Lily decide terminar a pintura que começou há uma década. A importância desse último capítulo reside no fato de a pintura não ser apenas uma pintura e o farol não ser apenas um farol. Ambos servem como interseções simbólicas do passado, representando as perdas sofridas ao longo dos anos devido aos vários caminhos da vida, à guerra e ao tempo.

“Onde começar? Essa era a questão; em que ponto fazer o primeiro traço? Uma única linha colocada na tela atrelava-a a inúmeros riscos, a frequentes e irrevogáveis decisões. Tudo que, em ideia, parecia simples, tornava-se imediatamente complexo na prática; tal como as ondas se formam simetricamente desde o alto do rochedo, mas aos olhos do nadador nelas mergulhado se dividem em profundos abismos e cristas espumantes. Mas deve-se correr o risco; dar o primeiro traço.”

Durante a leitura, pode-se pensar o significado do feixe de luz do farol. Ele atravessa as várias emoções interpessoais, esclarecendo como são influenciadas pelas normas sociais e pelas pressões externas. O farol, isolado em sua solidão, é o símbolo da negligência emocional que impomos aos outros e, em última análise, do qual somos vítimas – como navios que naufragam em noite tempestuosa. Não importa o que aconteça, o tempo nos atravessará, como o feixe de luz de um farol que nos ilumina e nos chama das sombras por um breve momento e depois passa novamente para nos lançar sem forma à escuridão. O romance revela que a nossa jornada vai além do que temos pela frente, pois ela também envolve atravessar o passado múltiplas vezes, criando uma reviravolta temporal. Para avançar, é preciso navegar pelas águas do passado. Além disso, a obra também diz respeito aos vários caminhos que os indivíduos percorrem para enfrentar a sua dor.

Ler Virginia Woolf é ler um extenso poema em prosa. Enquanto cada palavra brilha na página, cada frase incendeia as cavernas do coração. Ela ressalta os seus temas por meio de imagens cuidadosamente escolhidas ou aludindo à passagem do tempo por meio de cortinas desgastadas e móveis envelhecidos. Há no romance a noção de que cada personagem é uma ilha: enquanto as ondas dão de encontro a rochedos, acompanhamos a colisão de figuras que interagem e procuram se entender. Assim como a repetição de ideias e símbolos é usada como maneira de reforçá-las, as personagens repetem suas próprias crenças, como um mantra, para se certificarem de quem são. Elas se aproximam como se fossem botes salva-vidas, precisando de algo para se agarrar e prendê-las ao presente. Cada personagem tenta à sua maneira deixar sua marca no rosto da eternidade – seja a filosofia do Sr. Ramsey, a poesia do Sr. Carmichael, as pinturas de Lily ou a mão orientadora da Sra. Ramsey. Elas estão separadas pelo fato de que as suas almas nunca poderão se fundir e se tornar uma. A verdadeira tragédia é que essas personagens, embora desejem compreender e ser compreendidas, quase sempre se machucam, muitas vezes por medo e insegurança, ao tentar alcançar a alma do outro. Elas estão obcecados em criar imagens a partir de um universo termodinâmico. Uma personagem se deleitará com a beleza e a maravilha de um único momento, apenas para vê-lo escapar e ser levado pelo mar da experiência consciente. Embora nossas mentes criem imagens estáticas a partir da constante transformação da matéria, elas saltam para o passado antes que possam ser compreendidas, tornadas totalmente inteiras.

Ao farol declina nos pensamentos caóticos de suas personagens, explorando suas memórias, hesitações, contradições e fraquezas. Nesse sentido, a trama é um complexo jogo cujo foco está mais no exercício mental das personagens do que na disposição das peças. Isso cria uma imersão intensa com um ritmo narrativo que reflete o pensamento humano. Alternando entre emoções subjetivas e acontecimentos concretos, Virginia Woolf descreve a experiência sensorial das personagens e aborda temas como a passagem da vida e a longevidade do pensamento, proporcionando reflexões sobre a natureza humana.

Ao Farol é uma obra que provoca profundos pensamentos e sensações. Enquanto aborda os medos da morte e do tempo, Virginia Woolf lida com questões emocionais e intelectuais. A narrativa, que confronta a fragilidade da existência e explora as verdades da mudança e da morte, também nos dá um vislumbre de esperança por meio da união e do amor. O livro carrega imagens impactantes, como a água representando a experiência consciente e o farol simbolizando as esperanças e os desejos das personagens. Ao longo da narrativa, o leitor navega pela prosa marítima de Virginia Woolf para buscar a recompensa prometida no fim.

Virginia Woolf se destaca ao se afastar das tradições literárias de seu tempo, priorizando os sentimentos e as percepções em vez de narrar fatos externos. Ler suas obras é uma experiência incomparável, pois ela cadencia o movimento da consciência humana com maestria, criando uma narrativa que se desdobra internamente. Enquanto a ação exterior é breve, sendo interrompida para explorar os pensamentos das personagens, a perspectiva do tempo se volta para a consciência. Por fim, a prosa de Woolf é um farol que ilumina as trevas e dá direção aos nossos passos. Sem dúvida, a sua escrita é marcante e definitiva.

“Qual é o significado da vida? Isso era tudo – uma questão simples; uma questão que tendia a nos envolver mais com o passar dos anos. A grande revelação nunca chegara. A grande revelação talvez nunca chegasse. Em vez disso, havia pequenos milagres cotidianos, iluminações, fósforos inesperadamente riscados na escuridão; aqui estava um deles. Isto, aquilo, e mais aquilo; ela própria e Charles Tansley e a onda quebrando; a Sra. Ramsay reunindo os dois; a Sra. Ramsay dizendo: “Vida, fica parada aqui”; a Sra. Ramsay fazendo do momento algo permanente (tal como, numa esfera diferente, a própria Lily tentava fazer do momento algo permanente) – esta era a natureza da revelação. Em meio ao caos, havia forma; este eterno passar e fluir (olhou para as nuvens se movendo e para as folhas se mexendo) entrava em estado de estabilidade. Vida, fica parada aqui, disse a Sra. Ramsay.”
comentários(0)comente



Arsenio Meira 21/12/2013

O FACHO QUE NAO CESSA DE VIRGINIA WOLF

Virginia Woolf foi uma escritora a frente, bem a frente do seu tempo. Deixou uma grande herança literária, dividida em diversos âmbitos. Iniciou seu trabalho em 1904 como crítica literária; no entanto, revelou sua apuradíssima sensibilidade e erudição em seus romances. Ela escreveu nove romances, entre os quais estão: Mrs Dalloway (1925), Ao Farol (1927), Orlando (1928) e As Ondas (1931), mas também ensaios feministas, obras críticas, além dos diários, cartas e demais escritos autobiográficos. Tomou partido das mulheres (no início do século XX, época difícil para todos, exceto para o homem branco abastado e socialmente bem posto.) Defendeu-as da opressão e da ignorância. E defendendo-as, defendeu a todos nós. Seu senso de humanidade não admitia obscurantismo. Virginia não ficou confinada no claustro dos eleitos.

Considerada uma das principais escritoras modernistas, cujo espírito criativo refrata e reflete as demandas artísticas do seu tempo, sua obra é frequentemente relacionada à de James Joyce. Embora não de modo idêntico a Joyce, Woolf utiliza a narrativa da consciência ou o fluxo de consciência, técnica pela qual a escritora ficou mais conhecida. Nesse processo de escrita, o pensamento flui, mergulha-se no interior do personagem e pode-se acompanhar o caminho traçado por seus pensamentos, lembranças, ações e reflexões, ao mesmo tempo em que se desenvolve a trama. Devaneios e monólogos são representados no texto num fluxo contínuo. E sensação que nos invade é indescritível. Grandes escritores são assim. Gênios vão além. Penetram nessa camada aparentemente inescrutável que há em nós, e dissecam pacientemente alguns desvãos labirínticos.

"Ao Farol" é o quinto romance de Virginia Woolf e foi publicado em 1927. A narrativa deste romance divide-se em três partes: A janela, O tempo passa e O Farol. O enredo começa com a ida da família Ramsay, um casal com seus oito filhos e seus convidados às Ilhas Hébridas, Escócia. Os acontecimentos ocorrem no período de dois dias longínquos entre si. Entretanto os dois dias situam-se no início do século XX. "A Janela" é o capítulo mais longo do romance, no qual se passam os episódios de um dia, apenas um dia, em que se retrata a família com seus convidados. A Sra. Ramsay diz que, se o tempo estiver bom no dia seguinte, eles farão uma visita ao Farol, o que traz uma imensa alegria ao seu filho mais novo, James.

No entanto, esse sentimento é destruído pelo Sr. Ramsay, que diante da janela assegura que não fará tempo bom. Ideia reforçada pelo arrogante personagem Charles Tansley, com observações meteorológicas. Ainda assim, a Sra. Ramsay continuou a tecer a meia que enviaria ao menino de Sorley (que mora no Farol). A posição irascível do Sr. Ramsay cria um embate entre ele e a esposa, que ainda acreditava na possibilidade do tempo melhorar. Parece banal, mas nas mãos de Virginia, nada é banal. Nada. As palavras ecoam, mesmo após degustadas, em nossos sentidos. A fatalidade e a melancolia poucas vezes tangível ou descrita por quem quer que seja, salvam o leitor. Só não sei bem de que. E o que não pode ser explicado, muitas vezes é o que importa.

A figura da Sra. Ramsay aparece como principal organizadora da felicidade de sua família. Ela é uma mulher muito bela e que já não é jovem. Seu marido, um professor de filosofia, é representado por um intelectual inseguro que possui uma dependência constante de sua esposa. A personagem Sra. Ramsay tenta lidar com a condição de ser anfitriã, mãe e mulher, assim como com as relações sociais e domésticas.

Escrever mais sobre a trama seria fatal (spoilers). Ler Virginia Woolf é uma dessas felicidades que o mundo proporciona. Woolf teceu o movimento da consciência dos personagens, representado por motivos simples ou casuais, como um levantar de olhos, criando uma narrativa aprimorada, com acontecimentos externos bastante próximos. A perspectiva do tempo nos romances de Woolf está mais voltada para o conteúdo interior, o da consciência. A ação exterior é breve e as longas interrupções para expor o que se passa nos pensamentos dos personagens é o que enriquece ainda mais a narrativa.

A prosa de Virginia Woolf é um Facho de luz perene. Um farol que encadeia as nossas sombras e dá sentido aos nosso trôpegos passos.
É uma escritora definitiva.
Daniel 10/01/2014minha estante
As relações familiares, a passagem do tempo, as mudanças, as perdas, está tudo aqui com precisão e modernidade.
Dos livros que li da Virginia Woolf, este é o mais comovente.


Arsenio Meira 10/01/2014minha estante
Exato! Tudo isso. E com uma elegância, uma dor quase palpável. Eu ainda não li Mrs Dalloway, mas Ao Farol foi um dos melhores livros de 2013. O melhor, sem dúvida.


@livreirofabio 16/11/2014minha estante
2 dias separados por 10 anos. "A manhã mais comum..." Linda resenha, Arsenio!


Carlos Patricio 28/11/2014minha estante
RESENHA GENIAL, COMO SEMPRE. GRANDE ARSENIO!


Cristian Bianchini de Athayde 27/06/2021minha estante
Parabéns pela resenha, e essa obra, ah sim, como é bela!


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
Bela resenha! Com belos trechos como "Gênios vão além. Penetram nessa camada aparentemente inescrutável que há em nós, e dissecam pacientemente alguns desvãos labirínticos." e "As palavras ecoam, mesmo após degustadas, em nossos sentidos". Também fiquei surpreso com o pouco que eu sabia da vida de Virginia Woolf.


Nati 04/01/2024minha estante
Tendo muita dificuldade com a leitura. Vou tentar não desistir! Só elogios da obra




marina.siqueira 12/01/2022

Foi um livro diferente do que estou acostumada, que inicialmente não parece ser sobre nada além de rotina, mas acaba apresentando várias camadas. Uma leitura agradável, embora às vezes um pouco cansativa.
Foi em partes confuso, com uma grande quantidade de personagens que vão sendo introduzidos muitas vezes sem grandes explicações. Os diálogos são triviais, enquanto os pensamentos e falas mostram como inveja, ciúmes, egocentrismo, ambição, orgulho e luto podem ser encontrados nos lugares mais comuns.
A escrita é diferente de tudo que eu já li, com um fluxo contínuo de palavras, garantindo uma leitura fluida. Esse é o ponto forte de Ao Farol e é o motivo pelo qual vou tentar ler outro livro da autora.
Num geral, foi uma experiência que me provocou muitas sensações antagônicas. Ao mesmo tempo que é um livro sensível e com certa profundidade (nem sempre aparente), foi um pouco chato de se ler em alguns momentos, o que explica essa nota. Por fim, achei a escrita incrível, mas o livro em si nem tanto.
Pedro 13/01/2022minha estante
É incrível como uma boa escrita consegue compensar as falhas de uma narrativa, não é mesmo? Já li alguns livros assim.


marina.siqueira 13/01/2022minha estante
Sim! Faz toda diferença


Leandro.Bonizi 19/12/2022minha estante
A maioria das pessoas são desacostumadas com este estilo de escrita, a prosa-poética. Um estilo que gosto muito mas que, além dela, só encontrei em Rimbaud e no "Livro do Desassossego" de Bernardo Soares (Fernando Pessoa). Nem pesquisando no Google achei outros autores de prosa-poética!




Michela Wakami 08/07/2021

Vago ou profundo?
Terminei o livro sem saber, parece maluquice, mas é essa a resposta.
Só sei que é assim.
Um livro fluido e gostoso de se ler, que retrata momentos do dia a dia de uma família e seus amigos.
Que faz reflexões sobre as atitudes alheias, e poucas vezes sobre a de si próprio. Algumas partes são confusas.

Sobre o final?! Não sei dizer.
Gleidson 25/02/2024minha estante
Ta no meu radar...




Rafa 28/05/2022

O retrato de uma família, o enredo de vários núcleos
A leitura é lenta, mas atravessa a mente de diversos personagens. Ao mesmo tempo em que explora a autoafirmação e a prepotência masculina, também permeia a implacável passagem do tempo.
Daniel 28/05/2022minha estante
Que legal, Rafa!




dani 27/05/2022

"Nós perecemos, cada qual a sós"
"Ao farol" é uma obra impactante que deixa uma impressão profunda, um desalento ambíguo. Ao mesmo tempo que a vontade é de jogar o livro no chão (não fiz isso porque li no Kindle) e se afastar, também exerce uma atração, semelhante àquela que faz Lily Briscoe permanecer "sentada no chão, com os braços ao redor dos joelhos da Sra. Ramsay [...]" e apenas contemplar essa obra transcendental. Mais um ponto para Virginia Woolf! Mais um livro que drena a energia emocional e superestima o intelecto dos leitores.
 
O cenário é a casa de férias dos Ramsay nas Ilhas Hébridas onde a família e alguns amigos passam o verão. Mas os diálogos e ações na vida real ficam em segundo plano, "como o contrabaixo que, ao acompanhar uma composição, entrava, inesperadamente, de vez em quando, na melodia". O verdadeiro protagonista da obra é o fluxo de consciência que perscruta a mente dos diversos personagens.
 
Já que Virginia fez a metáfora musical primeiro, tomo a liberdade de comparar a narrativa aos três movimentos de um concerto. A primeira parte, "A Janela", é animada, até frenética: muitos personagens sendo apresentados, o ritmo do fluxo de consciência, algumas lembranças do passado e vislumbres do futuro. A segunda parte, "O Tempo Passa", passa calmamente, sustentando uma serenidade melancólica que beira o sublime. Enfim, "O Farol" acelera novamente o ritmo da narrativa. Essa parte abarca um combate simbólico e intermitente entre os ocupantes da praia e os que navegam as ondas do mar.
 
O posfácio de Hermione Lee e as notas do tradutor Tomaz Tadeu ampliam a experiência de leitura. Permitem uma olhada nos "bastidores" da narrativa ao compartilhar trechos de cartas e diários de Virginia Woolf, além de informações sobre o contexto histórico e os locais citados.
 
Ao mergulhar na narrativa, é possível perceber o papel do feixe de luz ofuscante do Farol. Ele perscruta os sentimentos e as relações interpessoais de diferentes naturezas, enquanto revela como estas são afetadas pelas convenções patriarcais e expectativas externas. O Farol, em sua solidão de concreto, é um monumento ao isolamento e abandono emocional que infligimos uns aos outros, e pelo qual sucumbimos, como os navios que afundam em uma noite de tempestade.
 
"Nós perecemos, cada qual a sós", talvez ninguém venha para nos levar ao Farol. De qualquer modo, o que encontraríamos ao chegar lá?
Julia Mendes 29/05/2022minha estante
Que resenha maravilhosa! ??


dani 29/05/2022minha estante
Muito obrigada, Julia ? Esse livro foi muito especial.




skuser02844 07/05/2023

Ao farol
Eu queria poder conseguir escrever o tanto que foi maravilhoso viver essa história. Mas acho que não vou conseguir, então vou deixar que você, caro leitor, tire suas próprias impressões, porque as minhas eu vou guardar só pra mim. Só posso adiantar que se vive uma epifania a cada página. Sem mais!
comentários(0)comente



Caroline1091 26/05/2021

Virginia Woolf foi uma das maiores escritoras do século XX e até hoje suas obras perpetuam no tempo. No ano de 1927 lançou "Ao Farol", aquele que seria o seu livro com maior teor autobiográfico, mas Virginia, astuta como uma loba, encobre qualquer vestígio de sua vida pessoal.

Em "Ao Farol" a escritora revisita o passado, organiza suas memórias de infância, revê seus pais, e tenta seguir em frente. Nele ela cria o retrato de uma família, as nuances de seus sentimentos, e se debruça sobre as mudanças que o tempo acarreta consigo. Com uma escrita poética e envolvente, ela retira o véu que encobre as tensões e fraquezas existentes em uma família.
comentários(0)comente



Pedro.Martins 25/03/2024

Não estava preparado
Mais um livro para o qual eu não estava preparado, não desfrutei o tanto que eu deveria e tenho consciencia disso.
Porém gostei mto da vibe q o livro passa
comentários(0)comente



caspaeletrica 29/03/2023

6/10: Rumo ao Tédio
Começo confessando que não compreendo o "hype" sobre esse livro. Parece uma grande crônica sem propósito. É claro que a grande sacada é a personalidade complexa de cada personagem, que nem é tão assim, sendo muitas vezes até fora da realidade. Entretanto, não posso dizer que é um livro ruim, tendo alguns pontos bonitos e legais, é ok.
comentários(0)comente



aninha karol 02/01/2023

esse livro parece um quadro, uma fotografia, ou qualquer tipo de arte que aparenta ser diferente da arte da palavra. e foi por isso que ele se tornou o livro da minha vida.
comentários(0)comente



Matheus 06/09/2020

Um livro encharcado de emoções profundas
Caso “Ao Farol” seja sua primeira experiência com as obras de Virgínia Woolf, tenha em mente, antes de se aventurar neste breve romance, que esta é uma história sobre fatos corriqueiros e tempestades interiores.

Num obstinado exercício de afastamento para com as tradições literárias de seu tempo, Woolf, cuja obra é comumente classificada como “modernista”, desloca para segundo plano a narrativa dos fatos (exteriores, visíveis), e se detém aos sentimentos e percepções das personagens acerca dos acontecimentos à sua volta.

Conforme a síntese de Tomaz Tadeu no ensaio “Mrs. Dalloway e Mrs. Brown: a arte de Virgínia”, a estética da autora, consolidada no presente romance, se propõe a “captar os recônditos da mente, os labirintos da memória, as hesitações e as incertezas, as contradições e as fraquezas da ‘natureza’ humana”.

Dessa forma, caso se esbarre com esse título na estante e venha a se lançar na empreitada de desbravá-lo, é provável que encontre um intricado jogo de xadrez em que o foco não é a disposição das peças, mas o exercício mental de seus jogadores. Woolf não apenas apresenta suas personagens, como nos mergulha na desordem caótica de suas consciências.

O efeito é altamente imersivo, o ritmo da narrativa se assemelha à forma como nós (leitores) realmente pensamos, e o intercalar entre as ebulições subjetivas e o desenrolar concreto dos fatos é feito de maneira impressionante. A familiaridade com o fluxo e detalhamento dos sentidos, após um tempo, nos faz ver o que os personagens veem, ouvir o que ouvem, sentir o que sentem, identifica-los através de suas personalidades, opiniões, manias.

Num simples passeio à casa de praia da família Ramsay, eventos corriqueiros como o jantar adquirem grande profundidade, tornam-se o recorte de uma época e exame minucioso dos comportamentos humanos. Em especial, o reflexo da Grande Guerra na sociedade inglesa durante os anos 10 e 20.

Além disso, a obra propõe excelentes reflexões sobre a transitoriedade da vida e a longevidade do pensamento humano - "a própria pedra que se chuta com a bota sobreviverá a Shakespeare".

É uma experiência literária fascinante.
comentários(0)comente



Tiago 14/07/2021

Amanhã visitaremos o passado
Ao Farol, o quinto romance de Virginia Woolf, me ensina, entre tantas coisas, duas que aqui eu destaco: a primeira é que se atravessa não apenas o que está adiante, no futuro. Atravessa-se também, e várias vezes, o que está no passado. Fazendo uma torção no tempo: para seguir adiante, rumo ao futuro, a estrada a ser atravessada cruza o passado. A segunda é sobre os caminhos que um sujeito toma para tratar seu sofrimento. Virgínia, até a conclusão da escrita do romance, alucinava ouvindo a voz da mãe chamando-a. É após conclui-lo que escreve em seu diário que as vozes cessaram. Detenhamo-nos aqui, consideremos a grandeza deste feito, que é em si uma grande lição para um discurso científico que hoje considera os fenômenos psíquicos reduzidos a um tratamento de mediação puramente química. A escrita, e sobretudo a letra, serviu de matéria concreta para uma amarração do que inundava Virginia por meio das vozes da mãe morta. A amarração da qual a escrita de Ao Farol é efeito entretanto não é permanente, mas em todos os episódios de alucinação e delírio, o tratamento que Virginia dá é o mesmo: a escrita. Uma pena que ainda assim falhe. No período que antecede seu suicídio, ela considerava catastroficamente que já não havia mais nada a dizer.

Ao Farol não é uma obra em estilo clássico, como não o é toda a obra da autora. Não há uma divisão compartimentada em começo, meio, fim. O livro já inicia com a resposta para uma pergunta que não é escrita: "Sim, é claro, se amanhã fizer um bom tempo". Como se o leitor tivesse aberto a porta da casa de um anfitrião e entrado, vendo-se no meio de uma conversa. A partir dali o narrador conduz o leitor, saltando da mente de um para a mente de outro personagem num fluxo de consciência que não é contínuo como não é contínua nossa consciência, que incontáveis vezes tem o pensamento cortado pela lembrança de uma conta para pagar, um compromisso que é necessário fazer.

Na primeira parte do romance a família Ramsay está passando uma temporada em sua casa de veraneio. Há a promessa de uma ida ao farol feita pela mãe da família e um quadro sendo pintado por uma das hóspedes. A segunda parte do livro é uma espécie de prelúdio, como que narrada pelo próprio Tempo, trazendo os efeitos de dez anos que separam e ligam a primeira e a terceira parte do livro. Nesses dez anos, há uma guerra mundial, a morte da mãe e de um dos filhos. Na terceira parte, a família retorna para a casa de veraneio. Em busca do que?

De atravessarem o passado. A hóspede retorna para finalmente, depois de dez anos, concluir quadro que pintava, onde representava a mãe da família segurando o filho no colo. Os filhos agora órfãos acompanham o pai agora viúvo para finalmente fazer o passeio ao farol que não pudera ser feito há dez anos. Aqui, nem o quadro é apenas um quadro nem o farol é apenas um farol. São ambos pontos de chegada, ou de atravessamento mesmo das marcas do passado, dos familiares mortos e do que com eles, ao longo dos anos, foi tomado pela guerra, pelo tempo, pelos caminhos da vida.
comentários(0)comente



Nati 19/12/2021

Ao farol foi minha porta de entrada na literatura de Virginia Woolf, através da leitura coletiva do literatura-se.
Nesse livro, que dizem ser bastante autobiográfico, Virginia vai trazer uma família tradicional inglesa do meado do século vinte, os Ramsay, o Sr. Ramsay um professor famoso, a Sra. Ramsay a que cuida de todos e seus 8 filhos. O livro começa com essa família recebendo amigos na casa de verão na Escócia, que será o cenário para toda trama dividida em três partes. Ao longo de uma narrativa vai ser explorado o processo do pensamento dos personagens mais do que os acontecimentos exteriores e assim vamos conhecendo cada um dos personagens e a teia que os ligam.

🗣OPINIÃO💬

Foi uma leitura no início muito desafiante, porque eu não estava nada acostumada com narrativas que exploravam o fluxo de pensamento, então eu voltava toda hora porque havia me perdido, porque não tinha certeza de qual personagem era o pensamento que eu estava lendo, pois, os pensamentos dos personagens se sobrepõem ou começam e não terminam e depois pode ser retomado alguns parágrafos adiante. Tudo isso é bem desafiante, contudo a medida que fui me acostumando com essa narrativa da Virgínia fui me desprendo da narrativa para mergulhar na história e então a magia acontece.

A narrativa dessa família que vai passar por momentos difíceis na segunda parte para ressurgi com suas feridas abertas na terceira parte para acertar as pendências da primeira com alguns dos convidados da primeira parte.

É um livro que vai falar muito mais com as emoções dos leitores do que envolver os leitores com os acontecimentos. Os acontecimentos externos são só uma forma de mostrar a maneira que esses personagens pensam e reagem às situações na vida deles. É uma conversa do Eu dos personagens para o Eu dos leitores em que Virgínia vai passear através de vários temas enquanto ela mostra o relacionamento do James Ramsay com seus pais, quando ela traz a visão da Sra. Ramsay de sua vida e de sua condição de mãe, de esposa e a visão de Lily Briscoe, uma pintora que é uma das convidadas, de todos e principalmente da anfitriã.
Esses não são únicos personagens que vamos acompanhar, mas para mim, são os mais importantes, que condessam toda a trama em suas vivências.

É uma leitura bem bonita depois que se supera o modo da narrativa, Virginia é uma artista ao compor essa narrativa e levei vários dias digerindo a história. Essa edição tem a vantagem de trazer um texto de posfácio muito completo acerca da obra e da vida da autora que traça paralelos entre sua vida e Ao Farol, mas também suas diferenças, bem como também traz trechos dos diários de Virginia sobre o processo de produção da obra e sobre a vida pessoal da autora.

Uns trechos dessa escrita maravilhosa:

" Que arte havia aí, conhecida do amor ou da astúcia, pela qual se forçava o caminho através desses compartimentos secretos? Qual o ardil para se tornar, como águas vertidas numa jarra, inextricavelmente a mesma coisa, uma coisa só, com o objeto que se adora? Poderia o corpo consegui-lo, ou a mente, sutilmente imiscuindo-se nas intrincadas passagens do cérebro? ou o coração? "

" Ali estava diante dela – a vida. A vida, pensava ela – mas não completou o pensamento. Lançou um olhar à vida, pois tinha ali uma ideia clara dela, algo de real, algo de privado, que ela não partilhava nem com os filhos nem com o marido. Uma espécie de negociação ocorria entre as duas, na qual ela estava num lado, e a vida no outro, e ela estava sempre tentando extrair o melhor da vida, como a vida, dela; e, às vezes, parlamentavam (quando estava sentada sozinha); havia, lembrava-se, grandes cenas de reconciliação; mas, na maior parte das vezes, ela devia admitir, muito estranhamente, que achava esta coisa que ela chamava de vida, terrível, hostil e pronta para saltar sobre a gente, se lhe fosse dada a oportunidade".

"Tudo que, em ideia, parecia simples, tornava-se imediatamente complexo na prática; tal como as ondas se formam simetricamente desde o alto do rochedo, mas aos olhos do nadador nelas mergulhado se dividem em profundos abismos e cristas espumantes. Mas deve-se correr o risco; dar o primeiro traço".
comentários(0)comente



Amora 13/01/2021

Incrível
Primeiro livro da Virgínia q eu li, mto linda a forma que a autora aborda temas filosóficos tão complexos relacionados à vida. Fluxo de consciência não é uma técnica fácil de ser entendida, mas isso faz o livro ser ainda mais especial
comentários(0)comente



242 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR