Leila 06/11/2019
Enredo Lindíssimo e Riqueza de Temas
A vida é uma loteria, uns tem tanto, outros tão pouco, e quanto mais a gente vive, mais vemos que a vida não tem sentido. Então, meu bem, são os momentos que importam, são esses que dão um pouco de sentido à nossa vida.
[Citação Capítulo 37]
Rosa e Mariana são mulheres fortes, admiráveis, que tiveram uma trajetória bastante difícil, cheia de encontros e desencontros. Suas histórias têm início na década de 1980 e vão alternando passado e presente conforme conhecemos todo o drama envolvendo essas baianas que me conquistaram desde a primeira página.
Os capítulos que nos apresentam uma Rosa ainda criança, narrados em primeira pessoa, trazem a infeliz realidade de muitas mulheres e meninas, vítimas da exploração sexual. Para mim, os momentos mais perturbadores da leitura. Entretanto, apesar de trazerem grande carga emocional, são capítulos que nos mostram a força e a luta de uma jovem pela sobrevivência com dignidade.
Mariana também não teve uma infância nada fácil e o destino acabou separando-a de sua mãe ainda muito nova. Por sorte, foi adotada por uma família alemã e, embora tenha tido uma vida cheia de amor e não sofrer privações, uma mágoa do passado a impede de viver plenamente.
O que mais me apaixonou nesta trama foi a riqueza de temas que a autora traz dentro da história dessas mulheres incríveis. Temas atuais, importantes, além de críticas sociais bastante pertinentes. Além de abordar a exploração sexual de mulheres e meninas, Encontro de Marés nos fala sobre maternidade, família, choque de culturas, a situação da população que vive nas favelas, o descaso das autoridades, a existência de instituições que trabalham em prol de pessoas que vivem constantemente em vulnerabilidade social, entre outras coisas.
A trama, embora ambientada especialmente em Salvador, perpassa em diversos lugares do nosso Brasil e, também, na Alemanha, onde a Manu reside atualmente. A autora traz de maneira muito bela a riqueza da nossa cultura, desde os lugares, pontos turísticos e a culinária, até o vocabulário e o sotaque de quem vive naquele determinado local. Ela descreve lindamente cada aspecto da nossa diversidade, agregando valor a algo que nem sempre paramos para observar e admirar.
Outra coisa que a autora aborda é a questão da religiosidade, algo tão presente na vida dos brasileiros. O enfoque é em torno das religiões de matriz africana, considerando a naturalidade das protagonistas. Na Bahia essas religiões são muito praticadas e, geralmente, sofrem com a intolerância gerada pelo preconceito e racismo, então achei muito bacana ela trazer a beleza da fé de quem faz parte desse universo.
Indico sua leitura com todo meu coração. Que livro, minha gente!