Steph.Mostav 19/08/2022"Você precisa sair dessa. Tem que quebrar o ciclo."Ai, ai, por que eu continuo dando chance pra YA mesmo? Como já fica evidente no título, a protagonista enfrenta um relacionamento abusivo com a namorada. E não é só no título: o texto sempre deixa claro o quão tóxica Laura Dean é e o fato de que Freddy é uma vítima desse abuso. Não vejo nenhum problema em tratar de relacionamentos abusivos na ficção, mas o tema exige não só responsabilidade, como também perspicácia - ou então sua história mais parece uma cartilha educativa. E é essa a impressão dessa HQ: um manual para reconhecer sinais de abuso, disfarçado com um enredo repetitivo. Repetitivo porque todas as cenas, mesmo que em cenários diferentes, com protagonistas secundários diferentes, servem ao mesmo propósito: mostrar como Laura Dean faz mal a Freddy, como a afasta das pessoas que realmente se importam com ela. Isso reduz todos os personagens aos seus papéis mais básicos: Laura Dean é apenas a vilã, a menina escrota com carisma altíssimo; Freddy é a vítima que sofre nas mãos dela. Até os amigos de Freddy só existem em função da narrativa dela: mesmo seus conflitos próprios tem como propósito transparecer o quanto ela os negligencia quando está com Laura Dean, para voltar a apoiá-los quando se afasta dela. Além disso, a história já começa muito mal. Freddy, desde o início já cansada desse abuso, decide pedir ajuda a uma colunista, descrevendo sua vida amorosa para ela. Esses trechos nos inserem no contexto dos problemas dela da maneira mais expositiva e preguiçosa possível e fica óbvio que esse é um recurso narrativo pobre quando essa mesma colunista não faz nenhuma diferença para o enredo, a não ser quando responde no momento mais conveniente possível, oferecendo a resolução para o conflito da protagonista. Mesmo o final decepciona, porque é banal demais depois de construir nossa expectativa durante todas as mais de 300 páginas até este momento. E a pior parte, para mim, é o fato de que não existe nenhuma nuance. A intenção dessa HQ é educar e isso fica explícito até mesmo na fala dos personagens, que soa tão artificial que chego a sentir vergonha alheia. Ao menos o traço e o uso do rosa são bonitos.